Os olhos intensos de Livia costumavam vagar despreocupados pelos cantos da casa onde vivia com seus pais ou ainda pelas velhas ruas da cidade, abastadas de multidão. A moça costumava seguir tranquila em sua quase eterna mesmisse até que sua rotina fora drasticamente quebrada.
Fora uma noite apenas em que tudo mudara. Fora uma ocasião simples, pequenas de poucos minutos. Fora um mera visita. Mas fora capaz de transformar totalmente a sua forma de ver o mundo, de trazer desconfiança aos olhos tão opacos da mulher.
Até mesmo o barulho do vento rugindo entre as árvores começou a parecer intidimidador e já lhe trazia grande medo. As mãos passaram a estar constantemente trêmulas, as pernas bambas e os pelos eriçados.
Estava a todo instante pronta para se defender, caso fosse possível; em uma loucura tão pessoal que era impossível ajuda-la. Independete do que se dizia, Livia não respondia com mais que um balançar de ombros e a mesma temorosa frase: morrerei, muito em breve.

Era invejável observar uma menina tão pequena guardando um segredo tão grande. Era abominável a forma como confiava em qualquer um, o modo como parecia ser capaz de compartilhar todo o poder, que deveria vir daquele livro, com o mundo inteiro. A menininha não parecia ter passado de seus dez anos de idade ainda e já poderia conseguir qualquer coisa que quisesse, por pura sorte. Mas, com aquela mente, era capaz de desperdiçar uma chance única, trocá-la por uma boneca que fala... ou por qualquer outro brinquedinho inútil. Eu precisava detê-la antes que fosse tarde demais. Lexi não tinha noção do que estava fazendo, nunca teve. Eu teria. Salvaria uma vida com aquilo, a minha vida. Seria capaz de calcular cada movimento dado, com uma atenção que nunca, na vida, tive... analisar cada ação. Teria um trabalho árduo, mas valeria a pena. Posso te garantir algo: terei aquele livro em mãos, o mais rápido possível, ou não me chamo Anne.