E eles se amavam. Caramba, como se amavam. Se amavam muito, tanto, forte. Se amavam mais do que qualquer um poderia saber, mais do que poderiam sequer imaginar. Só sabiam que era amor porque não conseguiam - nem se tentassem - ficar longe; perder as notícias do dia ou não conversar sobre coisas banais, como: o filme que tá passando na Disney é ridículo, vamos assistir juntos?

Se amavam muito e talvez nunca vão deixar de se amar. Mas a vida acontece. Os amigos novos acontecem. Os problemas acontecem. Os desencontros acontecem. E com isso, aquele amor gigante que exigia um dia inteiro de conversa para se sentir saciado, virou algumas poucas conversas depois da tarde. Virou um "Tudo bem?" seguido por uma resposta e um fim. Aos poucos, não sabem mais o que o outro comeu de almoço, nem qual a primeira música da playlist. Não sabem qual a opinião sobre o filme, nem as novidades, nem as coisas engraçadas ou irritantes. O amor enorme, que consumia não só mente como também a alma, se recolheu envergonhado; hesitante de estar atrapalhando. Virou ideias silenciosas, perguntas nunca expostas e um aperto no coração. Porque dói sim. Dói muito, santo Deus. Dói mais ainda saber que as coisas nunca vão ser como antes, que as conversas nunca vão durar um dia inteiro, que agora os dois juntos são só isso: um grande pretérito perfeito. Sim, isso sim. Um passado perfeito.