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Theambedo
ID: 183821
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  • 27/07/2012


  • "Como poderia decifrá-la? Uma insana? Um anomia? Algo relativamente estranho, alienado? O que ela era? Nem se quer ela conseguia dizer, ele apostava. Não havia categoria plausível para ela, nenhuma delas lhe agradava, todas a deixava com um gosto ruim na boca e um estômago vazio revirando-se com os exemplos. Teria sentado com ela algum dia em frente a uma mesa redonda branquinha em alguma cafeteria da cidade, tentando seduzi-la uma deliciosa boa conversa sobre ela mesma com um copo de café –o qual ela era apaixonada.

    Que algum dia Deus invente uma palavra para te decifrar.

    Sabia muito bem que um dia ela iria acabar tomando jeito. Estaria com alguém, talvez grávida, talvez deixasse o cabelo crescer, faria uma franja delicada, vestiria vestidos longos, compraria livros de receitas a livros de guerra, história, terror/suspense ou bibliografias idiotas.

    Nas sextas a noite ela passava a noite navegando na internet, lendo artigos, jogando jogos idiotas, suspirando, bebendo café ou caindo de sono no sofá da sala. De manhã cedo, ela fazia uma faxina inteira na casa, deixava brilhante, quieta, apenas com seu fone de ouvido, desta vez sem fazer barulho se comparado com a força que expelia em gritos ao atingir seu alvo.

    Ela sentia raiva, muita raiva. Era um pouco hipócrita, ela quase confundia aquilo com inveja, mas ela sabia muito bem que não era. Conhecia seu interior para saber que não era daquilo que se tratava, mas desconhecia sua raiva, tornando-se muitas vezes preconceituosa sobre algo ou alguém. Era muito mais fácil para ela identificar alguém que recebe uma elevada mesada no começo do mês. Ou quem ganha um vestido caríssimo, daquela grife estúpida que ela havia visto naquele shopping desconfortável, apenas por que tirou a nota 10 em uma prova de Geografia.

    Como se ela ganhasse algo por todos os favores, todos os elogios, todas as notas.

    Não, ela era bonita, tinha um corpo feminino (apesar dos músculos), e ainda tinha uma doce voz que podia ser grossa quando irritada e doce quando tinha dó de algum amigo próximo. As vezes gostava de usar camisolas, as vezes gostava de um pouco de carinho (que ganhava conversando consigo mesmo). Ele realmente não entendia. Ao mesmo tempo em que usava uma calcinha, ela parecia comprar camisas apenas em lojas masculinas. Ela alegava que eram muito mais bonitas que “aqueles pedaços de pano que você enrola em si mesma na esperança que tape seus seios”. Era interessante como ela parecia ter dois lados totalmente diferentes, que ela parecia prestar atenção a cada dia, escolhendo como seria."

    (The people we used to be)



    FatHero mudou seu nome para Theambedo14/04/2013