Suspiro Fatal escrita por Elisabeth Ronchesi


Capítulo 3
Capítulo III




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  Os dois rapazes haviam recebido ordem de deter quem ousasse pesquisar a fundo sobre o gás que o laboratório CLP criou. Nada deveria impedir a produção do gás. O laboratório irá ganhar muito dinheiro com a novidade, pois estaria substituindo o neônio para diversas utilidades.

  Mattias se habilitou a prender o policial de cabelos cheios em uma caixa de vidro retangular, com algumas tiras e uma tampa do mesmo material. O mesmo fazia Anderson do outro lado da sala.

  Anderson, com seus 37 anos, era um homem de músculos fartos e um dos funcionários que mais tem afinidade com o diretor do laboratório. Seus cabelos curtos reluziam à luz baixa daquela sala, que continha algumas caixas de vidro, uns tambores mais ao fundo e um painel com câmeras numa mesa bege.

- Acha mesmo que deveríamos fazer isso? - Mattias perguntara meio abalado, certificando-se de ter apertado bem as tiras no corpo do policial. 

- Nada é demais para o sucesso do CLP.

  O pesquisador raquítico trancara a tampa do vidro e dirigiu-se à porta, observando Anderson que terminava de ajustar o delegado numa outra caixa de vidro. O ajudante fechara a tampa e dirigiu-se até um dos tambores, girando um dos quatro registros. Um ruído era então audível e o gás passou a preencher a caixa onde o delegado Gerard estava repousado.

- Saiu sem ligar o registro desse policialzinho, não é?

- Deixei as honras para você - Mattias quase gritava do outro lado da sala, por conta do ruído.

  Anderson girava outro registro e o gás também passou a vazar para a caixa de Scott. Deu meia volta e se aproximou do pesquisador, lhe dando um tapa no ombro. Mattias o encarou, esfregando a área atingida. Vira o homem cruzar seu caminho e se distanciar pelo corredor. Ele levantara uma mão, balançou-a e enfiou no bolso da calça branca.

- Vá brincar, garota.

  Mattias resmungou. Esfregou mais uma vez o ombro que doía e virou-se para trancar a porta também de aço.

- Quem ele acha que é?

  Fez uma careta. Espiou mais uma vez Anderson se afastar e pensou em lhe dar um soco. Achou melhor não. Seguiu andando para a direção oposta, esfregando mais uma vez o ombro dolorido.

  Numa das caixas retangulares, o policial Scott abrira os olhos, confirmando a saída dos dois comparsas de Vera. Ainda bem que o disfarce adiantou. Quando a mulher pulou para cima de si, injetara apenas uma pequena quantidade do tranquilizante, pois havia afrouxado as mãos quando Scott lhe agarrara e só de vê-lo desmaiando lhe foi o suficiente, nem se importando com a quantidade injetada do líquido.

  Então me colocaram em um aquário? Scott franzia o cenho de dor, sentindo a pele do rosto e das mãos queimando. Seus olhos localizaram um tipo de tubo ligado ao que estava repousado e, percebera então que ele despejava algo no interior. Não era água. Parecia um tipo de gás. Oh, não...

- Socor...

  O policial percebera que sua garganta ardia e estava quase sem voz. A frente havia uma outra caixa de vidro e parecia ter alguém lá dentro. Era Gerard. O policial percebera também que sua visão estava turva e que de seu nariz escorria sangue. Respirar estava impossível. A medida que mais inspirava, mais sentia dificuldade.

  De repente a pele das mãos de Scott começava a ficar avermelhadas, e depois de alguns minutos começou a perder o tecido superficial, mostrando aos poucos seu interior. Lembrou-se então da resposta de Vera sobre a composição.

- É uma mistura de dióxido de enxofre, nitrogênio e ácido sulfúrico.

  A única causa seria o ácido. Scott não tinha mais forças para respirar. Seus últimos batimentos cardíacos eram abafados pelo ruído que o gás emitia e seu corpo continuou a se deteriorar, até que a pele fosse completamente derretida pela substância.

  Do outro lado da rua, Marlene continuava na ponta dos pés, debruçada na janela da sala do delegado. Depois que o policial Scott e Gerard haviam entrado no laboratório, não sabia de mais nada que havia acontecido por lá. A maioria dos policias e das pessoas que haviam saído correndo para bisbilhotar o que havia acontecido, já tinham retornado à delegacia.

  O laboratório CLP é um prédio de 2 andares, com uma pintura gasta pelo tempo e os funcionários evitavam conversar. Milagre do Scott e do Gerard ser bem acolhido. Mas também pode estar associado ao fato deles serem da polícia...

- Ainda xeretando?

  Uma voz masculina lhe pegara de susto, quase tombando para trás. Ao virar-se deparou com o policial Henry encostado na porta da entrada com os braços cruzados. Henry era o típico galã-vilão da delegacia. Seus cabelos desfiados negros e seu rosto com traços fortes e sérios, deixam qualquer mulher orgulhosa de ser salva em um roubo. Quando distraído, Marlene lhe lançava uns olhares maliciosos, perguntando a Deus o porquê de não tê-lo lhe presenteado com um homem destes.

- Aquele local me dá medo - a faxineira dissera ajeitando sua postura.

- Se desse medo não ficaria o observando.

  O policial arqueara uma de suas sobrancelhas, fitando-a sério. Marlene dera um riso forçado, tentando quebrar o clima tenso.

- Pois é, pois é - a mulher o encarou de volta, exibindo um sorriso de canto. - Posso lhe fazer uma pergunta Henry?

- Já fez.

- Certo... então, o senhor é comprometido? - Seus lábios se apertavam um contra o outro em uma pequena expectativa.

- Não é de sua conta.

  Ríspido, lhe deu as costas, caminhando de volta para a sala de espera. Marlene seguia atrás, se desculpando e convidando-o para um café, mas depois de ignorada desistiu. Deu meia volta e fora limpar os toaletes, desapontada.

  No corredor deserto, Anderson virara à direita deparando-se com a mini-biblioteca do laboratório. Sacou um celular do bolso da calça e digitou alguns números no painel luminoso. Alguns toques eram audíveis e então alguém atendeu.

- Alô?

- Anderson. Para ligar a esta hora deve ter algo errado - uma voz grossa e gélida lhe disse.

- E tem. Ou melhor, tinha. Dois homens da polícia queria pesquisar a fundo sobre o gás. Mas já tomamos as devidas consequências.

- Muito bem, And. Continue assim. Nada deverá saber muito sobre a nossa criação.

- Sim. Com três façamos um.

- Com três façamos um.

  Anderson desligou. A frente da lareira, o homem de bigode se ajeitara na poltrona, fechando novamente os olhos. A soneca estava perfeita, até o telefone da casa tocar. Agora, demoraria a pegar novamente no sono, então esperou.


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Notas finais do capítulo

Cadê, cadê os reviews?