Ocultos escrita por mitsukichan


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem ^^



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Uma menina, de cabelos escuros e olhos azuis, estava sentada no chão ao lado da cama. Abraçava os joelhos e mantinha o rosto escondido. O quarto decorado com cores alegres, incrivelmente feminino, e confortável. Uma cama espaçosa coberta por tecidos finos, de traços personalizados e caros.

            Do papel de parede aos tapetes, tudo do mais requintado. Uma penteadeira em tom marfim, diversos produtos sobre ela e desenhos de rosas entalhadas ao redor do espelho. Um típico quarto de princesa, um quarto que qualquer garota gostaria de ter, menos ela.

            - Não agüento mais.

            Anastácia reclama chorosa. Sim, mas uma vez havia acontecido aquilo. Por que tinha que ser tão estranha? E por que não podiam aceita-la como era? Havia levado outra bronca da babá. Ela passou a encarar o nada e falar com ele.

            - De novo não. _ Diz a mãe da garota entrando no quarto, invadindo-o irritada. – Pare de fazer essas cenas. _ Ela se encaminha até o armário e de lá tira um vestido rosa rodado. – Se apronte. _ Ela lhe da um vestido, com laços demais na opinião de Anastácia. – Vamos descer e tente parecer normal.

            Ela sai de lá reclamando que estava cansada das “cenas de loucura” para chamar a atenção, não notando a mulher com longos cabelos negros e corpo semitransparente, que soltou um suspiro de dó pela menina, que logo em seguida foi arrancada do seu lado e enfiada no vestido por uma das empregadas.

            Ela desce a grande escadaria, passo por passo, sem pressa, ou vontade de chegar ao seu destino. Logo pode ver o salão principal ricamente decorado, com pompas e brilhos, tudo como a irmã gostava. Para ela havia pessoas demais naquele lugar. Pessoas estranhas, pessoas que a considerariam estranha. Suspirou e finalmente chegou ao ultimo degrau encontrando os olhos da mãe em uma advertência muda, pela demora. Talvez por sua presença.

            Caminhando por entre as pessoas, esbarrando nelas. Algumas dessas falam com ela, outras apenas fingem que não viram. Ela faz o mesmo, mas não exatamente com essas pessoas, mas com uma especificamente. Essa pessoa não era exatamente uma pessoa. Ao menos não como as outras ali.

            Decidida a continuar ignorando a entidade, ela continua a andar por entre os convidados, buscando afastar-se da multidão, até que chega a um lugar mais reservado. Ela senta-se num banquinho solitário e abandonado, à margem de toda a movimentação da festa.

            Infelizmente, quem ela queria ignorar, e que era o motivo de sua fuga, acompanhara seus passos, sentando-se ao seu lado. Resignada, ela acaba cedendo ao tédio. Não havendo nada o que fazer ali senão conversar, ela olha para os lados, checando estar sozinha e desiste da política de desatenção para com a sua recente companhia.

~x~x~x~

            Passando por entre os convidados, mostrando toda a sua elegância, um loiro de olhos castanhos, um tanto pomposo demais, acaba se afastando do salão principal. Ele tinha como objetivo que todos o vissem, onde quer que estivessem naquela festa. Ao seu lado, outro garoto, que quase não se fazia notar, tamanha sua discrição.

            Ambos avistam uma pequena garota, aparentemente, falando sozinha. Ambos a observam por um instante, mas de maneiras distintas. Enquanto um observava curioso o comportamento da garotinha, que continuava conversando com as paredes sem notá-los, o outro ri alto o suficiente para chamar a atenção de outros para a estranha cena.

            - Então é verdade. – O loiro diz, divertindo-se ao ganhar a atenção da menina e de outro mais, que curiosos, foram averiguar o motivo de tal estardalhaço. A menina nada diz, permanecendo com a expressão chocada e temerosa. – Charlote tem  mesmo uma irmã louca.

            Ele diz as últimas palavras com um tom de escárnio e sadismo, rindo alto. O riso estridente ganhando companhia de uma pequena multidão que agora cercava a garotinha. Nesse instante, Charlote, a irmã mais velha da menina, chega por detrás do garoto. Ela buscava saber o porquê de todo aquele reboliço, que tirava toda a atenção dela em sua noite especial.

            Anastácia nada faz se não chorar. As lágrimas se multiplicam rapidamente diante daqueles olhares. Ela conhecia bem aquela expressão. Já em seu campo de visão, o rosto de sua irmã ganha cor ao descobrir a razão da atenção não estar nela. O pior foi descobrir em quem estava.

            - Tinha que ser...

            Antes que ela terminasse a frase, Ana já tinha saído correndo. Eram, simplesmente, olhares demais para que a menina agüentasse. Então, ela apenas fugiu. Parou para respirar apenas no corrimão da escadaria que dava para o jardim.

            Planejava ficar ali e se recuperar, mas o som de passos atrás de si a surpreende. Ela vira o rosto e avista alguém. O receio invade a pequena. Quem a estaria seguindo? Já não bastava o que já tinha feito e rido dela? Por que não a deixavam em paz?

            Movida por essas questões, ela volta a correr, chorando mais e mais. Embrenha-se por entre alguns arbustos altos. Folhas e pétalas coloridas se prendem em suas roupas e espalham-se por seus cabelos, mas ela não se importa.

Ela só pára quando atinge o silêncio. Em seu local favorito, onde os sons da festa mal a alcançava. Um local quieto de onde se podia ver o céu.

- Muito bonito.

Ela se assusta com a voz masculina que se aproxima por trás dela. De repente, um garoto aparece a seu lado. Era o que acompanhava o loiro que rira dela. Seus olhos cinzentos, que mesmo a parca luz brilhavam parecendo prateados, encaram os olhos azuis ainda úmidos de pranto. Ele lhe sorri e senta-se ao lado dela, que nada fala, permanecendo surpresa.

- C-como...?

- Costumo vir aqui fugir da sua irmã.

Ele responde a pergunta incompleta dela, rindo um pouco e encarando o céu, exatamente como ela fazia quando ela a encontrara. Ela ainda o olhava quando ele volta a fitá-la, com um sorriso tranqüilo. Surpreendida, ela cora e passa a analisar os próprios pés.

Mesmo sem poder ver a expressão no rosto dele, Ana sentiu que o divertimento no olhar dele não parecia ser por causa dela. Mesmo assim algo a incomodava, então ela resolve perguntar.

- Veio me dizer que sou estranha? – Ela diz, abraçando mais ainda os joelhos e olhando os próprios pés.

Ele apenas ri, atraindo o olhar dela.

- Por que eu diria isso de você? – Ele pergunta em tom gentil.

- Ah... – Essa pergunta a pega de surpresa. – Bem... Você sabe... Aquilo de falar sozinha e tudo mais... Não acha estranho? – Ela pergunta insegura.

- Mas você não fala sozinha, fala? – O garoto pergunta, removendo cuidadosamente as folhas que estavam no cabelo da menina e mantendo o olhar preso ao dela.

A garota estava simplesmente hipnotizada por aqueles olhos que oscilavam entre o cinzento e o prateado conforme a luz da lua. O silêncio recai entre eles, quando ambos percebem o que faziam. Ele recolhe de volta a mão e volta a olhar para o alto.

Eles permanecem sentados um ao lado do outro por alguns instantes, sem emitir uma palavra sequer, mas apenas ouvindo os sons do vento. Ainda envergonhada, mas fascinada demais para evitar, Ana volta a olhar para o jovem. E reunindo coragem ela pergunta seu nome.

            - Hiroshi McQuinn, milady. – Disse ele com um sorriso brincalhão. – Ao seu dispor.

            - Seu nome é diferente... Por quê? – Ela pergunta curiosa, trazendo outro sorriso aos lábios dele.

            - Bem,... – Ele inicia, mas então ambos ouvem a voz de Charlote chamando a menina ao longe. – Prometo que depois te conto... Agora que tal sairmos daqui, antes que ela ache nosso esconderijo?

            Sobressaltada com a voz da irmã, ela acena que sim com a cabeça rapidamente. Ele estende a mão para ela e ambos deixam o lado do jardim que era ocultado por arbustos e roseiras, indo em direção à mansão.

            No meio do caminho, a irmã mais velha de Anastácia os surpreende. Irritada ao ver a mais jovem monopolizar a companhia de um dos mais enigmáticos e bonitos garotos da região, ela toma o braço da menina com grosseria e a traz para si, passando a desculpar-se com Hiroshi por sua irmã.

            O rapaz lança um breve e desinteressado olhar para Charlote, dispensando as excessivas desculpas. Pressentindo que, se permanecesse ali, o constrangimento da irmã desta aumentaria, ele opta por fazer uma breve reverência e voltar ao salão de baile.

            Tão logo ele se afasta o suficiente de ambas, Charlote encara Anastácia furiosa. A menina apenas se encolhe um pouco, sem nada dizer. Então a irmã mais velha começa a falar por entre os dentes.

            - Olha aqui, não faço idéia do que você fez pra o Hiroshi perder o tempo dele com uma pirralha como você. – A voz dela era do mais puro ciúme. – Então não fique se achando. Provavelmente ele só quer tirar sarro mesmo, entendeu?

            Cuspindo as palavras finais, ela saiu apressou o passo para seguir o rapaz. Anastácia só pôde ficar estática, esperando que a irmã se distanciasse o suficiente para que ela própria pudesse voltar à casa principal.

            Chegando lá, procurou manter-se a margem do centro da festa. Por um longo tempo, não mais avistou o rapaz que tinha conversado com ela. Talvez a irmã tivesse certa e ele só a tivesse procurado para ter tópico de conversa com os amigos, logo voltando a ignorá-la como todo o resto. Esse pensamento a fez suspirar.

            No fim da noite, a família Le Lieur se reuniu no hall de entrada para se despedir de seus últimos convidados. Anastácia olhava o chão sem fazer muitos movimentos notáveis, visto que a maioria simplesmente passava por ela como se a considerasse invisível. Apenas um ou outro se despedia dela com distanciamento e evidente pena.

            No entanto, ela avistou um par de sapatos em frente a ela. Elevando o olhar, a menina encontrou o rosto sorridente e os olhos cinzentos que pareciam compartilhar um segredo com ela. Involuntariamente ela sorriu e corou.

            - Milady... – ele disse divertido, levando a mão dela aos lábios.

            Fascinada, ela notou que ele deixara algo em sua mão. Um papel, que ela logo tratou de esconder no vestido, aproveitando que seus pais estavam distraídos com os convidados.

            Como esperado, ao fim da festa, ela foi repreendida pela mãe e pela a irmã. O pai, como sempre, nada dizia, não intercedia nem por um lado, nem por outro. Isso costumava magoar muito a menina, mas naquela noite ela apenas ouviu tudo com o olhar sonhador e distante.

            Tinha encontrado um príncipe de olhos cinzentos, levemente puxados, com cabelos tão negros quanto a noite e uma voz enrouquecida e gentil que não lhe dizia que era estranha. No lugar de um sapatinho de cristal, um bilhete que ela escondeu até ficar a sós. Ou quase.

            - Ana! – Disse, Kira, materializando-se na sua frente. – Olha só, me desculpa! Eu realmente disse àquela boba pra não te seguir lá embaixo e... Ehr... Você não tá me ouvindo, não é? – Ela se deu conta, suspirando.

            A mulher de longos cabelos negros e corpo semitransparente olhou por cima do ombro da menina que lia sonhadoramente um pedaço de papel. Naquela noite, por causa daquele singelo bilhete, sua jovem amiga não tinha o olhar triste e desolado de sempre. Parecia feliz e isso encheu a mulher de um misto de alegria e preocupação.

            - Quem te deu isso, Ana? – Perguntou ela.

            - Um príncipe... – A menina suspirou. – Um príncipe que me disse que eu não sou estranha. – Ela se levantou da cômoda, com bilhete em mãos, e rodopiou.

            Aquelas primeiras palavras tinham aquecido seu coração. Aquelas poucas palavras rabiscadas em letra masculina deixavam uma promessa.

            “Nos veremos novamente, Hime.

H.”

 

 


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Notas finais do capítulo

waaa realmente espero que gostem *-* e um agradecimento especial a Hav-chan, a Gryn-chan e ao Ken-chan por ouvirem/lerem meus surtos pré-construção de fic tão pacientemente ^^



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