Fiction City escrita por Frida_Selina


Capítulo 7
Insects in ice


Notas iniciais do capítulo

Mais um capitulo o/
Espero que gostem, nesse capitulo eu finalmente conto qual foi a decisão da cidade.



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Dez anos atrás.

─Quando eles crescem descobrem que há coisas que não se pode tocar. Felicidade, tristeza e raiva. Há coisas intocáveis nesse mundo e ao mesmo tempo desejáveis. Tão difíceis de encontrar que muitos morrem sem vê-las.

Eu sou algo intocável?

Sentada na beira do prédio. Lançava seu olhar logo abaixo. Na multidão aos seus pés. O homem gordo sentado no meio fio se chamava Jonathan e havia perdido o emprego, sua firma havia falido e ele não sabia que daqui a alguns meses iria se divorciar de sua mulher tentaria o suicídio, mas não funcionaria, sua filha, Sâmara, iria cuidar dele. A garota de cabelos loiros passando pela faixa de pedestres... Rebecca. Em alguns dias seu cachorro iria morrer num acidente, compraria outro em dois meses. Ana Lisa entraria no cursinho no ano que vem e ficaria lá por três anos até passar em medicina, tudo pra desistir no meio do curso por dificuldades finaceiras...

Havia ainda outro grupo. Ah! As gangues... Logo ali abaixo. Rebecca poderia ir para o lado deles sem vê-los... ─ e ao seu comando a garota tomava outra direção ─ Eles estão armando uma briga... Douglas, o cara da esquerda, anda sempre armado, tirará a arma do seu bolso e...

Eu os odeio tanto... Tão inúteis... Eles... Insetos...

Numa questão de segundos a arma tomou outra direção, passando raspando pela perna de Rebecca.

Fiction City - Insects in ice

–Finalmente nos encontramos de novo, Damon...

–Quem...? – E um arrepio percorria a espinha de Damon, sentia-se como um animal encurralado. O tom de voz do recém chegado que pareceria jocoso em qualquer outro contexto, como uma roda de amigos, corroia seus ouvidos. Foi Etzel a primeira a exigir explicações:

–O que você disse?

–Não vai me apresentar para a sua nova amiga, Damon?— e os olhos confusos da guardiã, dançavam entre um e outro. Aguardava uma resposta do seu companheiro, mas parecia tão confuso quanto ela. – Você não se lembra de mim?Que triste... Vou ter que me apresentar uma segunda vez, então. Meu nome é Fuji, sinto um enorme prazer em conhecê-los, meus caros, inimigos... – dizia isso fazendo uma teatral reverência como se tirasse um chapéu invisível da cabeça e o recolocasse.

–Inimigos... O que você...? –  a proxima expressão de Etzel mesclavam  surpresa e terror – Você é a outra criança?! O que fez com minha irmã?!

Seus movimentos foram rápidos, Damon sabia disso instintivamente e sentia que só conseguia enxergá-los por puro milagre, seu corpo... Não, sua mente também começava a sofrer mudanças naquela noite.

Seus olhos que antes pareciam enxergar por um filtro agora enxergavam a noite sem a menor dificuldade humana... Talvez tenha sido por isso que pode ver algo se movendo, se não com a mesma velocidade da guardiã, maior. Talvez tenha sido por isso que conseguiu segurar o braço distante da guardiã para impedi-la de receber aquele golpe terrível.

O chão onde alguns instantes Etzel esteve, agora se encontrava trincado, a neve do local do golpe voando para todos os lados, um asfalto trincado como se não fosse nada... Quem poderia?A ultima guardiã olhou para o seu agressor, não, agressora... Se olhavam como se estivessem a frente de um espelho: Um rosto idêntico ao dela, um nariz idêntico, o espaçamento entre os olhos, a boca entre aberta, os longos cabelos ruivos... Até suas alturas eram idênticas. A principal diferença que Damon não percebeu seria notada apenas pelo mais intimo expectador, apenas o observador mais preciso perceberiam...

Que os olhares das gêmeas possuíam brilhos diferentes, ambos se mostravam determinados, ainda que em um refletisse a decepção e a traição o outro refletisse desejo e devoção.

–Sonja? – a guardiã assombrada, encarava a irmã, com o porte igualmente rígido, entretanto a voz fraca.

–Não interrompa o Fuji, Guardiã – a ruiva dizia isso com o olhar fixo na irmã, determinado e fatal, estava claro que não perdoaria tão facilmente outras interrupções.

–Sonja. Fui eu quem os interrompi, vamos... Mas veja bem, ela estava contando a história toda errada... Damon, contarei a verdadeira história... A sua garota esta totalmente errada... Afinal faz dez anos que a cidade esta tentando se livrar dos seus guardiões, mas parece que antes ela se importava em fazer parecer um acidente, coisa que não se preocupou em fazer nesses últimos anos. É uma pena, irmãzinha, mas a cidade não precisa mais de vocês... – e disse isso olhando diretamente para Etzel, numa clara tentativa de provocá-la – Mas ela precisa de mim e é claro, do Damon.

–Não seja tão convencido, garoto – respondia Etzel, raivosa, porem ligeiramente surpresa – Damon despertou somente hoje e as crianças deveriam despertar juntas, como diz a lenda: “Abençoou e amaldiçoou duas crianças. Partiu, em pedaços e sugada pelo chão escuro...”, ambas as crianças ao mesmo tempo. Hoje também deveria ser o dia do seu despertar... A cidade está doente e nós precisamos...

–Tem razão, ela esta doente. – respondia Fuji arrumando o cabelo despreocupadamente – Por isso precisamos retirar todos os vermes que a torturam... Outro ponto da história que você esta enganada, guardiã... É que eu estou desperto há pelo menos sete anos, ao contrário, é claro, das poucas horas do seu garoto prodígio.

Toda a neve ao redor da dupla começou a se mover, levantada como grossas nuvens próximas ao chão. Pedaços grandes e gelados caiam sob a cabeça de Damon, que sentia a sua façanha de mover vidros parecer uma piada sem graça. Havia se metido em uma grande encrenca... A neve se aproximava cada vez mais, com certeza os esmagaria...

–A cidade esta adormecida, nem viva e nem morta. Por que há dez anos ela decidiu deixar o destino dos humanos com os humanos. Ela se fragmentou antes de partir e deixou dois fragmentos com duas crianças para que elas decidissem o futuro. Quem deve perecer, a cidade ou os humanos?O que você acha Damon?

O garoto não o respondeu, naquele instante constatava que ainda não sentia medo, o que era uma grande ironia, afinal se não tivesse sido corajoso naquela joalheria e tivesse ficado na sua, se não tivesse seguido a garota estranha ou se tivesse fugido quando sentiu aquele arrepio, poderia ter contado a Tia Marta como era inteligente ao ter chamado a policia, fugindo completamente do perigo.

Com certeza era um burro, é. O nome disso não é coragem, é burrice. O pior é que não entendia nada do que aqueles malucos falavam, guardiões, a cidade... Não entendia nada disso. Há dez anos ainda morava com os pais... Sua mãe ainda estava viva...

–Vamos Damon! A resposta é simples... Os insetos devem ser esmagados.

A neve já havia deixado exposta grande parte da calçada, quando ele e a guardiã olharam mecanicamente para o mesmo ponto, os rostos cheios de esperança.

–Damon!

–Parece que não vamos morrer aqui! – e abriram a tampa da entrada para o esgoto no mesmo instante em que a neve os prensou.


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Notas finais do capítulo

Proximo cap. em breve o/



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