Era muito difícil encarar Bella. A culpa, a dor e a vergonha de ter falhado com ela, era atordoante demais. Eu sentia a necessidade ficar de joelhos, implorar o perdão dela, dizer que eu não fazia idéia que as lendas que os *incubus, podiam ser verdade. Eu queria poder dizer a ela que nós poderíamos retomar o nosso casamento como era antes da notícia. Era uma grande mentira!

Logicamente eu não fazia idéia que eu sendo um vampiro podia gerar filhos com uma humana. Eu não podia imaginar. Porém esse fato não excluía o meu grande erro com relação a todo o desenrolar da história, nós éramos diferentes: levando isso em consideração eu jamais poderia ter cogitado fazer amor com ela. Mas como eu poderia resistir. Há muito tempo, eu vinha resistindo aos desejos que Bella despertava em mim, desejos esses que me faziam perder a lucidez apenas com as lembranças. Eu me arrependia das conseqüências mas eu jamais poderia negar que estar com Bella daquela maneira era a concretização, a prova física do nosso amor. Como imaginar que teríamos frutos disso? Quanto mais eu pensava pior ficava... Foi o fato de que eu não pensei quando deveria que agora fazia Bella sofrer, sentir dor.

E essa constatação e que me fazia mais miserável, quando eu pensava em toda situação eu via que assim que Bella estivesse livre desta situação, sua atitude seria partir. Afinal de contas, não havia outro meio de pensar. Bella sem sombra de dúvida ia querer distância de mim. Pois eu além de colocá-la em muitos perigos eu agora a infligia passar pelas piores da situação que uma mulher poderia passar. Antes nós achávamos que nunca íamos poder ter filhos, e ela até então parecia bem com isso. Porém, ao descobrir que isso não é verdade, eu a obrigaria sentir repulsa pelo fruto da nossa relação. Ela não poderia enxergar de maneira diferente, poderia? Se Bella estivesse casada com um homem humano, este poderia ser o homem mais feliz do mundo ao descobrir que sua companheira lhe daria um filho. Eu não podia nem sequer cogitar a possibilidade de me sentir assim, pois o que Bella carregava em seu ventre a cada minuto só a carregava para um único caminho: a morte.

Ao embarcamos no avião de volta para casa, as coisas não ficaram muito melhores. No nervosismo dela ao sair de casa na ilha, Bella pegou alguns biscoitos para comer. Ingeriu- os todos talvez pelo nervosismo Foi só o tempo dela se acomodar no assento e o enjôo que ela sentia retornou com força dobrada. Bella passou quase a totalidade do vôo passando mal. Parecia que seu organismo estava rejeitando toda a comida humana que ela tinha ingerido.

"Bella, amor você está bem?" Eu estava cada vez mais em pânico.

"Estou sim" A voz dela parecia cansada, abatida. E eu podia dizer que não era somente pelo constante mal estar. Seu olhos estavam vazios, tristes e ressentidos. A dor de saber que eu era o responsável por aquela tristeza era... eu não conseguia palavras par descrever.

Após o que pareceu uma eternidade Bella finalmente se acomodou ao meu lado no assento e dormiu. Eu olhava para ela enquanto dormia e percebia que aquela era a primeira vez que ela não se aconchegava em mim para dormir. Eu tinha medo que ela finalmente tivesse entendido que viver comigo não valia a pena e me abandonasse.

Agora faltava pouco. Eu esperava sentir alívio ao saber que estávamos tão perto de minha família.

Eu não senti.

A sensação de perda a cada minuto aumentava mais.

A sensação de que algo me escapava se intensificava a medida que eu olhava para Bella.

Algo estava errado... quer dizer mais do que uma humana grávida de um vampiro. Olhar naqueles olhos doces e castanhos de minha esposa que agora refletiam todo um medo que eu não conseguia entender. Eu não conseguia explicar.

Havia mais, havia ali também um ressentimento tão grande e uma decepção nos olhos dela que eram quase insuportáveis de encarar.

Nós não nos encaramos naquela viagem. Nós mal nos falamos.

E de alguma forma, eu sabia que seu silêncio e todos os sentimentos que eu consegui captar em Bella, nunca seriam interpretados por mim corretamente.

Eu o leitor de mentes, tinha a maior dificuldade de ler a mulher que eu amava. A única que eu queria desesperadamente poder ler.

Irônico, não?

Era noite quando desembarcamos em Seatle. Bella estava fraca, mal agüentava andar até onde estava minha família. Durante todo o vôo mal nos falamos, apesar de meus olhos não saírem de Bella, ela não me olhou.

Andávamos pelo saguão do aeroporto, não mantínhamos contato de nenhuma forma, quero dizer ela não mantinha contato comigo. Ela não falava ou me olhava e sempre se manteve distante de mim. Como alguém que se protegia. Apesar de claramente nunca ter parecido mais frágil na vida.

Era óbvio eu ela ia me abandonar. Não havia possibilidade dela simplesmente me perdoar por fazê-la passar por mais essa experiência terrível. Qualquer homem que descobrisse sua esposa grávida poderia ser o homem mais feliz do mundo. Eu nem sequer poderia considerar isso. Meu filhote, como disse Kaure, se alimentaria dela até a morte. Nada podia ser mais doloroso do que saber que um ato meu de amor é poderia fazê-la sofrer até a morte.

Agora já víamos os Cullen, sei que Bella os via também, pois notei um esboço cansado de um sorriso, era a primeira vez deste que este pesadelo começou que eu a via sorrir ou tentar. Seu rosto estava muito abatido, ela já parecia muito mais magra e seu tronco estava muito mais inchado do que no início da viagem, mas ainda assim, aquele era o sorriso mais perfeito do mundo. E eu tinha que me acreditar poder fazer Bella sorrir novamente.

Andando em nossa direção, vinham Rose Alice e Esme na frente, meu pai e irmãos atrás. Todos tinham em suas feições gravadas a preocupação. Eu era um espelho deles adicionando a dor e a culpa é claro.

Bella acelerou seus passos, eu não entendi seu esforço, facilmente acompanhei seu ritmo. Então, a cena que eu nunca esperava ver se fez real naquele momento: Bella correu para os braços de Rosalie, que não pestanejou em devolver o gesto e com uma atitude quase maternal sussurrou. "Shh, vai ficar bem! Eu jamais vou permitir que ele machuque vocês dois."

Então a compreensão caiu em mim medida que eu via os pensamentos de Rose, ela se lembrava das súplicas por telefone de Bella que implorava que Rose não deixasse eu e carlisle fazer nada contra o bebê. O Bebê!

Era isso o ressentimento e a mágoa que eu vi nos olhos de Bella eram por causa do que ela acreditava que aquela coisa que iria mata-la era o bebê dela. É claro que eu tinha interpretado, Bella estava tentando defender aquilo que ela achava merecedor, como eu não pude perceber que ela faria isso. O que chegando a essa conclusão era muito, mas muito pior. Pois a partir disso eu sabia que ela acreditava que aquilo era o um fruto da nossa história, e sendo o nosso amor algo pelo qual ela sempre lutou, como não imaginar que Bella lutaria por isso também?

Mesmo sendo tão mais errado querer ficar comigo ela ficou, venceu tudo, abriu mão de tanto para estar ao meu lado. Como não imaginar que ela achava que isso valeria a pena? Como eu pude ser tão estúpido?

A surpresa e o entendimento me fez pior, eu mal tinha percebido Esme me abraçar enquanto dizia que tudo daria certo. Eu quase nem a notei... Todo meu ser estava focado na mulher que eu amava, tão ingênua, tão boa, tão altruísta e tão, tão errada que fazia eu sentir ainda mais repulsa por mim. Bella se afastava silenciosamente com Rose quando eu saí do meu estupor. Eu corri para Bella e Rose se colocou no caminho.

"Você não encosta nela, muito menos no bebê, eu não vou permitir."

"Eu nunca machucaria Bella, você deveria saber disso"

"Não respeitar sua vontade e chamar seu filho de 'isso' já machucou o bastante, Edward." Disse Rose, enquanto afagava seu rosto. Aquela cena fez eu me sentir enjoado, nauseado.

Prevendo que eu atacaria Rose, Alice pulou na minha frente e sussurrou para mim. "Não faça nada que vá se arrepender depois. Há muito que discutir, mas esse não é o melhor lugar para fazermos isso e além do mais Bella está muito cansada e abatida, não precisa passar por uma discussão entre vocês dois por causa dela. Faremos isso em casa. Por Bella, meu irmão, por ela."

Aquele argumento era o crucial, fora assim que eu vivi esses últimos tempos, Vivendo por Bella e para ela. Mais uma vez eu engolia toda a vontade de desmembrar cada pedaço de Rosalie e acenava para Alice que de muitas maneiras genuínas sabia que me convenceria.

A viagem de volta para casa nunca pareceu pior foi quase agonizante. Tão lento quanto possível chegaríamos a Forks pela madrugada. Não fora assim que eu imaginei meu retorno com Bella para casa. Eu queria poder voltar com ela sorridente e feliz, dizendo que aquela tinha sido a melhor viagem que ela fez na vida. Queria que ela chegasse contando as histórias da Ilha, queria poder vê-la abraçar meus pais e meus irmãos na chegada do aeroporto. Não queria que nossa chegada tivesse que ser as escondidas, silenciosa como numa marcha fúnebre. Estremeci ao pensar nessa palavra, era ferido com uma dor de morte que eu voltava para minha casa vendo a razão de minha existência definhando em dor.

Seguimos no Jipe de Emmert, eu, Rosalie e Bella no banco de trás. Os outros seguiram no carro de Carlisle. Nenhum de nós se atreveu a falar nada. Rose apenas se mantinha firme em sua determinação arrogante que seria melhor me manter longe de Bella e do bebê. Fiz o que pude para ignorá-la . Emmert lamentava tudo. Lamentava pela minha dor, pela dor de Bella e por mais uma vez eu e Rosalie estarmos lutando com oponentes, ele odiava ter que decidir um lado. Ele concordava comigo no que dizia respeito à coisa que crescia em Bella. Mas conseguia entender a determinação cega de Rose em ajudá-la.

Eu não.

Estava tão revoltado com tudo que estava acontecendo. Por que eu simplesmente não a deixei com Jacob? Ou porque raios eu concordei com aquele acordo estúpido? Porque eu não a transformei na noite de núpcias?

Eram tantos porquês que me deixavam tonto. Senti uma mão quente acariciando a minha que estava na minha perna. Olhei para meu anjo que me encarava timidamente como se incerta que eu quisesse que ela me tocasse. Eu me senti imediatamente melhor com aquele carinho e logo depois imediatamente pior, como ela ainda podia querer estar comigo, ser amorosa comigo quando tudo que eu tinha feito foi machucá-la repetidamente. Eu peguei sua frágil e delicada mão e beijei. Ela novamente tentou esboçar um sorriso e disse. "Vai ficar tudo bem, nós vamos ficar bem"

Eu não podia responder àquilo, não queria. Mas no segundo seguinte ela se virou até a janela e vomitou violentamente mais uma vez. Vi Rose ajudar Bella segurando seus cabelos e tentando faze-la relaxar. Eu só consegui esconder meu rosto nas mãos.

Alguns minutos a frente estávamos em frente a casa, Rose tirou Bella do carro e a conduziu para o sofá. Enquanto todos se acomodavam eu me ajoelhei em frente ao meu anjo e perguntei.

"Você está bem?"

"Não muito, mas vamos ficar, eu e ele"

"Bella você sabe que isso é loucura... Manter isso só vai ser pior para você meu bem. Você não precisa passar por isso. Deixa Carlisle cuidar de tudo e eu te transformo em seguida, Bella... Eu não quero te ver assim sofrendo não vale a pena..."

"Vale sim, Edward. É meu filho e eu já o amo, não diga que ele não vale a pena. Ele é meu pequeno milagre... A prova física do meu amor por você. Eu é que sou humana e fraca e..." Ela suspirou quando um forte espasmo parece sugou por um momento sua barriga "Eu só preciso manter meu coração batendo por ele e tudo ficará bem, eu você e ele..."

A realização da dor de que Bella morreria por ele foi pior do qualquer coisa que eu já tivesse ouvido. Eu soube assim que ouvi suas palavras que eu nunca ia consegui demove-la daquela idéia absurda. Eu sabia que eu teria que assisti o seu sofrimento até que ele se tornasse insuportável e ela não resistisse...

A dor em meus olhos deve ter sido tamanha, que eu vi lágrimas escorrer dos olhos de Bella. Eu tive que ser consolado por ela. Ela dizia coisas como "Shh, meu amor... tudo vai ficar bem é só preciso ter fé, tudo vai dar certo"

Era horrível saber que ela ainda tinha gastar energia me consolando. Me levantei "Estou bem, amor". Mais uma vez a vi desfalecer e vomitar novamente, Rose se aproximou com uma bacia enquanto Bella parecia constrangida. "desculpe por isso"

"Não precisa se desculpar, meu amor, vou trazer água para você."

Na cozinha, eu desabei, assistir Bella sofrer era algo além do que eu podia suportar, é claro que ela não resistiria, nós não tínhamos informação alguma. Isso não havia possibilidade de dar certo.

"Filho" – Esme me chamou quando entrou na cozinha.

"Como ela não vê mãe? Como ela não vê que isso vai mata-la? Como ela pode achar que vale a pena" Não faz nem 24 horas que tudo aconteceu e olha o estado dela... ela não vai sobreviver mãe... E eu vou morrer junto... Por favor, me ajude a falar com ela... Diga a Bella para desistir disso, se ela quiser desistir de mim também eu vou entender... Mas eu não posso vê-la assim... Por favor."

"Edward... Bella tem que ter o direito à escolha. Ela ama o que está sendo gerado em seu ventre. Eu a amo e também eu não quero vê-la sofrer... Mas eu a entendo filho, eu morreria por vocês, qualquer um de vocês, se eu pudesse passaria por todo esse sofrimento para não ver você sofrer assim por Bella e ela para não sofrer pelo filho... Mas Edward, a escolha é dela, se ela acha que vale a pena o que nós podemos fazer? Vamos apóia-la e torcer para que tudo dê certo... Tudo entre vocês sempre foi tão improvável... E deu certo, não? Acredite irá dar certo agora também, fé Edward, fé..."

Esme dizia baixinho, alto apenas o suficiente para os vampiros presentes poder escutar. A partir disso eu sabia que eu nada poderia fazer, usando a "escolha" de Bella Rose faria tudo para manter a coisa protegida, Esme também e isso me impedia de ter ajuda de Emmert e Carlisle, pois estes jamais fariam algo que contradissesse suas esposas, da mesma forma que eu sabia também diria a mesma coisa sobre a "escolha" de Bella, então eu poderia esquecer Jasper. Será que ninguém entendia que Bella estava morrendo, que essa era a escolha errada a se fazer?

O dia amanhecia cinzento em Forks. O clima tenso em nada era favorecido pelo clima daquela cidade. Desejei mais uma vez que Bella nunca tivesse vindo para aqui. Ela dormia profundamente, há algumas poucas horas, ela não havia conseguido ingerir nem comida nem água. Me preocupava cada vez mais seu estado e sua aparência cada vez pior. Minha culpa, minha culpa!

E a pior parte é que ainda havia tantas providencias a serem tomadas. Providencias práticas... Precisávamos de informações, de alguma coisa que teríamos de base para quando chegasse a hora disso nascer...

Carlisle já cuidava de muitas coisas e já tinha se adiantado em criar um espaço em sua biblioteca que mais parecia um moderno hospital, ele ainda resolvia as questões de sue emprego pra que pudesse ficar com Bella em tempo integral.

Precisávamos de desculpas plausíveis para Charlie, que com toda certeza iria querer saber de sua filha recém casada. E então este passaria a informação para o lobo, que me mataria sorrindo ao saber o que eu fiz a Bella... Eu não podia culpá-lo. Eu tinha vontade de me matar só para parar de sofrer por tudo que estava acontecendo...

E eu sabia que essa era solução para quando tudo inevitavelmente acontecesse, se não havia nada o que fazer por Bella, não poderia haver nada para mim também...

Ou se fosse apenas uma questão de ter filhos, ela poderia tê-los... Não comigo, é claro, mas talvez Jacob conseguisse convence-la a algo menos radical... Doeria muito desistir de Bella assim, mas eu descobri que havia uma coisa pior do que a morte de Bella para mim: Assistir seu sofrimento, assistir meu anjo definhar é muito pior... Então se Jacob consegui convencê-la, eu abriria o caminho para eu ela vivesse, não poderia ser pior do sofrimento que eu experimentei nesse último dia...

Poderia?