Lawliet lembrava-se bem daquele dia. Nevava sem parar como no dia em que ele mesmo chegara em Wammy, mas desta vez estava confortavelmente do lado de dentro e com uma bela caneca de chocolate quente nas mãos.

Aquela era uma das raras vezes durante o dia em que largava de seja lá o que estivesse fazendo - deveres de casa, trabalhos para as próximas aulas, livros e etc. - para se tornar um adolescente relativamente normal e relaxar um pouco fazendo nada ou vendo televisão(algo que não o divertia muito, mas ele lembrava-se de ter gostado de ver Twin Peaks quando conseguia).

Então ele ouviu a porta de abrir e, como de costume, deu um pequeno sorriso de canto de boca - sua própria forma de dizer "Bem vindo de volta, Watari". Mas dessa vez havia algo de diferente que o fez se paralizar por alguns momentos: Watari vinha de mãos dadas com uma pequena garota, de não mais que 6 ou 7 anos.

"Lawliet," Watari disse, na voz solene de sempre "à partir de hoje teremos uma nova moradora nesta casa".

Watari disse mais alguma coisa depois disso, mas Lawliet não conseguiu ouvir, só prestava atenção naquela pequena criaturinha pálida, que de tão pequenina se perdia no meio de tantos agasalhos. De fato não sabia o que sentia naquele momento.

Na verdade, nunca admitiu (ou talvez nunca tivesse percebido) que o que sentira foi puro asco e ciúmes, típico de crianças mimadas que ganhavam novos irmãozinhos, o que era atpe bem comum.

No final Lawliet só conseguiu ouvir que o nome dela era Lisabela.

E então o silêncio tomou a sala.

Logo depois veio a explosão.

Lawliet lembrava de que tinha dito coisas muito mal-educadas para Watari e que quebrou alguma coisa frágil, como um copo de vidro ou um vaso. Depois disso foi para o quarto em passos firmes e bruscos.

Não que hoje se arrependesse daquilo, até orgulhava-se de ter sido um "moleque tão travesso".

A noite daquele dia foi conturbada, mas Watari conseguiu convencê-lo de ir jantar e tentar fazer amizade com a nova "irmãzinha" (na verdade a promessa foi que teria uma boa recompensa na sobremesa).

O clima na sala de jantar foi um tanto pesado, mas no final Lawliet achou mesmo a sobremesa divina e quase se esqueceu daquela situação tão desagradável.

Depois daquilo os dois ficaram assistindo televisão até a hora de dormir. Uma boa oportunidade para Lawliet analizar aquele espécime.

Ela continuava bastante agasalhada, mas agora parecia estar mais ativa, porque balançava as perninhas finas no sofá e de vez enquando fixava o olhar em algo. Mas então Lawliet percebeu que ela ainda não havia dito uma só palavra desde que chegara lá.

Lisabela tinha olhos castanhos iguais aos dele e cabelos bastante escuros. Tinha a pele bem branca também e agora segurava um coelho de pelúcia que provavelmtente havia sido um presente de Watari. O menino percebeu então que ela tinha mãos bem pequenas e delicadas, nunca tinhas visto mãos tão frágeis.

Então um pensamento atravessou a cabeça dele:

Ele era o irmão mais velho agora.

Ela era pequena e indefesa.

Ele teria um longo trabalho pela frente...

Um sorriso não se conteve e passou pelos lábios dele, imperceptível. Aquele foi um inverno bem incomum.

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Hoje Lisabela já era uma linda jovem independente, já nem lembrava mais aquela garotinha pequenininha. Passou-se muito tempo desde aquela primeira vez.

Mas quando ela perguntava a Ryuuzaki sobre aqueles tempos, ele respodia que ela era "a coisa mais estranha que já tinha visto em toda sua vida" e dava-lhe um peteleco na testa enquanto gargalhava por dentro, vendo os praguejos e e xingamentos da irmã.