O Destino de Cada Coração Iii escrita por By Mandora


Capítulo 4
Você E Eu




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Kagome não tinha forças nem mesmo para chorar. Apenas abraçava o corpo de seu amado como se assim fosse impedir o pior. Ela o embalava em seu colo, como se ele estivesse apenas dormindo. Mas, na verdade, ela sabia o que se passava. Ele estava morrendo. O coração dele batia fraca e lentamente, embora o dela estivesse em disparada. “Não vou deixar você morrer...”. Ela posicionou sua mão sobre o ferimento das costas dele, tentando evocar seu poder de curar, mas nada aconteceu. Confusa, deitou o corpo dele sobre a relva e, novamente tentou evocar seu poder, colocando a mão sobre o peito dele. Nada aconteceu. Kagome olhou incrédula para a palma de sua mão. “Por quê?”. Então se lembrou de que o havia curado uma vez, quando ferido da luta contra Sesshoumaru. “Será que só posso curar cada pessoa uma única vez?”.

Ela sacudiu a cabeça, desfazendo-se daquele transe e olhou ao seu redor. Não podia perder tempo. Colocou a mochila, o arco e flechas nas costas. Segurou Inu-Yasha pelos ombros e arrastou seu corpo para um local que oferecesse alguma proteção. Por fim, acabou encontrando uma caverna. Improvisou um acampamento dentro dela, acendendo uma fogueira. Providenciou uma “cama” onde colocou Inu-Yasha e o despiu da parte de cima de seu quimono para que pudesse tratar do ferimento. Apesar de pequeno, o ferimento pelo qual o veneno de Naraku entrara sangrava muito. Kagome pegou seu estojo de primeiros socorros em sua mochila e começou a cuidar dele.

Depois, ela saiu, disfarçou a entrada da caverna com galhos e começou a procurar pelas plantas que Kaede lhe ensinara serem de grande ajuda contra fortes venenos. Não demorou muito para encontrar o que queria. Estava diante de si aquela estranha planta. Suas flores brancas, pequenas e delicadas contrastavam com seus afiadíssimos espinhos. Ela precisava recolher o líquido que verteria com a quebra dos espinhos. Aproximou-se cautelosamente, mantendo seu olhar atento à área ao redor. Não queria ser pega de surpresa, caso Naraku estivesse planejando mais alguma armadilha. Sentou-se na relva e, enquanto quebrava os espinhos com uma das mãos, com a outra amparava em uma garrafa a seiva que a planta expelia. Tal processo fez com que ela se machucasse nos espinhos inúmeras vezes. A cada espetada, uma lágrima descia, ela levava o dedo à boca, respirava profundamente e retornava a colher o líquido. “É culpa minha ele estar tão ferido... Se eu tivesse ficado no vilarejo, nada disso teria acontecido...”. Quando finalmente conseguiu encher a garrafa, retornou para a caverna. Enfaixou as mãos para que não gotejasse sangue na poção que preparava. Após terminá-la, fez com que Inu-Yasha a bebesse aos goles.

Ela continuava a cuidar dele, mas ele parecia não responder aos seus cuidados. Não suava, não tremia, não agonizava. Seu corpo estava inerte, desde que desmaiara. Parecia simplesmente... morto. Tentou novamente usar seu poder de cura, mas foi em vão. Debruçou-se sobre o corpo dele aos soluços. “Por favor, meu Deus, me ajude!”.

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Setsuna interrompeu sua caminhada abruptamente e olhou para trás.

– O que foi, Setsuna? – Perguntou um curioso Sesshoumaru.

– Eles precisam de ajuda...

– Quem?

Ela apenas sorriu.

– Eu já volto. – Afastou-se um pouco e desapareceu em meio a um brilho. Jyaken e Rin ficaram de boca aberta.

– Mas... Mas... – Balbuciou Jyaken. – Como ela ainda consegue fazer isso?

– Eu acho que ela é uma deusa ou coisa parecida... – Respondeu a menina.

– Não diga besteiras, menina... – Retrucou o servo.

Sesshoumaru ficou um pouco desconfiado. “Quem será tão importante assim a ponto de você se arriscar desse jeito?”.

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Lágrimas rolavam pelo rosto de Kagome diante da angústia de não saber mais o que fazer.

– Kagome...

Aquela voz lhe era familiar e Kagome virou-se, olhando para a entrada da caverna.

– Setsuna? O que está fazendo aqui?

– Ele ainda pode ser salvo... – Respondeu a jovem ruiva, aproximando-se. – Mas precisa de tua ajuda...

– Por favor, me diga como!

Setsuna colocou a mão sobre a testa de Inu-Yasha por um instante.

– Ele é mais forte do que este veneno, mas está distante e perdido. Precisa de ti para voltar. Teu poder espiritual poderá guiá-lo de volta...

– Mas eu não estou conseguindo curá-lo...

– Não poderás usar teu poder especial por algum tempo...

– Mas por quê?

– Isso é para o teu próprio bem...

– De que me adianta estar bem se não posso fazer nada por ele? Por acaso você se resignaria e permitiria que Sesshoumaru morresse?

– Resignar-me? Jamais... Mas quanto ao permitir... Não somos nós que escolhemos viver ou morrer. Nós não escolhemos a quem odiar ou amar... Se fosse uma questão de permitir ou escolher tenho certeza de que não escolherias que ele passasse por este sofrimento, mas isso não impediu o destino de pregar-te uma peça, não foi? Não precisas curá-lo, isso ele conseguirá sozinho. O problema é que este veneno também afeta a alma, fazendo-a afastar-se do corpo... O queres de volta?

– É claro que quero! Mas como?

Setsuna afagou o rosto de Kagome, afastando as lágrimas.

– Então permitirei que uses minha alma como elo de ligação entre vós. Quando tocares a alma dele, deves trazê-la de volta imediatamente. O resto é por conta dele. Pronta?

– Sim...

– Agora, quero que feches teus olhos.

Ao fechar os olhos, Kagome sentiu-se flutuar no imenso vazio. Uma sensação de queda lhe invadiu e começou a preocupar-se. “Será que estou na direção certa?”. Era uma sensação parecida com a do poço come-ossos, quando o atravessava, mas esta lhe causava um frio no estômago. Escutou a voz de Setsuna.

– Kagome... Não te permitas cair demais ou não conseguirás retornar...

Uma esfera de luz surgiu diante de Kagome e ela sentiu a presença de Setsuna ali. Tratou de seguir aquela esfera cegamente. Era a única coisa que podia fazer por ele. Acreditar. Continuar. Conseguir. Viu-se diante de uma grande barreira de energia negra, que, vez por outra, emitia raios. Era uma visão assustadora.

– Tenho que passar por isso, Setsuna?

– Ele está perdido dentro desta barreira.

– Como vou encontrá-lo? Não dá para ver nada!

– O encontrarás, se assim desejares...

Kagome respirou fundo e adentrou aquela energia. Não foi um caminho fácil, pois a energia parecia não querer permitir a sua entrada, empurrando-a para trás.

– Acalma-te... Conseguiste purificar o mais corrompido dos fragmentos da Jóia de Quatro Almas... Podes purificar este veneno...

Kagome parou de lutar e permaneceu imóvel por um instante. Um forte brilho começou a emanar de seu corpo, na altura do ventre, e foi espalhando-se ao redor de si, ganhando cada vez mais espaço. Logo ela pôde ver Inu-Yasha, inconsciente, preso por galhos ressecados, no meio do nada.

– Inu-Yasha! – Foi até ele e tocou-lhe a face. – Vou levar você de volta, meu amor...

Sentiu um impulso e o beijou. Tal gesto fez com que os galhos o soltassem e ela o segurou em seus braços. A esfera de luz a rodeou.

– Temos que sair agora, Kagome...

– Mas, Setsuna, ele ainda não acordou...

– Não te preocupes, ele ficará bem... Vamos agora...

Kagome seguiu aquela esfera para o alto, como que buscando a superfície de algum lago. Ela abriu seus olhos num susto, como se estivesse acordando de um pesadelo. Levou a mão ao peito e buscava o ar que parecia ter sido sugado de seus pulmões.

– Essa sensação logo passará. – Disse Setsuna, enquanto Kagome voltava seu olhar para Inu-Yasha.

– Mas nada aconteceu, ele ainda está do mesmo jeito. – Segurou a mão dele.

– O corpo talvez, mas a alma, agora que foi libertada por ti, ainda vive. A força do veneno era aquela prisão onde estava a alma dele e, ao quebrá-la, deste a ele chances de sobreviver.

– Muito obrigada. – Encarou Setsuna e sorriu. – Não sabe o quanto significa para mim...

– Talvez eu saiba... – Levantou-se e começou a se retirar.

– Setsuna, o que quis dizer com “Não vou poder usar meu poder especial por algum tempo”?.

– Me referia ao teu dom de curar... Quando o usas, na verdade doas parte de tua própria vida para salvar outras vidas.

– Mas eu ainda tenho vida suficiente dentro de mim para continuar a usar esse poder, não é? Por que de repente não posso usá-lo agora?

– Tens mais vida dentro de ti do que podes imaginar. A tua alma é gigantesca, mas por enquanto, deves guardá-la só para ti. – Saiu da caverna.

Enquanto olhava para a entrada da caverna, Kagome notou que a noite já havia chegado, pois a escuridão lá fora já reinava. “Demoramos tanto tempo assim?”. Sentiu sua mão mexer-se, na verdade, era a mão de Inu-Yasha que se mexia. Ele respirou profundamente, como se tivesse prendido a respiração por um longo tempo. Mas permaneceu adormecido. Só que agora, era diferente. Seu sono era agitado e vez por outra chamava pelo nome dela. Ela sorriu e deitou-se ao lado dele, abraçando-o.

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– Onde esteve? – Sesshoumaru estava sentado sobre uma pedra, de braços cruzados, enquanto Rin e Jyaken estavam adormecidos ao lado de uma fogueira. Apesar de ter iniciado a conversa, olhava fixamente para as chamas.

– Tive que ajudar alguém...  – Respondeu Setsuna, parecendo um pouco cansada.

– Essa ajuda parece que sugou todas as suas forças. – Olhou para ela. – Parece que acabou de sair de uma luta...

– Foi realmente uma luta...

– Contra quem?

– Se eu contar, ficarás aborrecido...

– Como queira... – Levantou-se e começou a se afastar até não mais visualizar o acampamento, exceto pelo rastro de fumaça da fogueira que se destacava através da copa das árvores. Ao continuar sua caminhada, diante de si surgiu Setsuna, como um fantasma, que pensara ter deixado par trás. –  Você é cheia de truques...

– Não são truques. E não sabes o quanto me custa utilizar-me de tais poderes.

– Então não devia ficar zanzando por aí.

– Foi necessário, do contrário, uma desgraça aconteceria. – Respirou fundo. – Não queria preocuparte, por isso nada disse.

– Realmente não há com o que me preocupar...  Você sumiu durante horas e voltou neste estado deplorável... – Disse ele, ironicamente.

Setsuna sorriu e o abraçou. Ele ficou sem graça, mas retribuiu o abraço de forma indiferente.

– Tudo vai ficar bem agora... – Disse ela.

Ele acomodou-se, sentando encostado a uma árvore, com ela aninhada em seu colo.

– Mas você ainda não me disse... – Percebeu que ela dormiu em seus braços. – Deixa para lá...


-x- Continua no próximo cap -x-






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