Malora escrita por Crica


Capítulo 1
Capítulo 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/9899/chapter/1

MALORA



Passava um pouco da meia-noite de sábado. O toca fitas executava uma seleção de rock clássico enquanto Dean cantarolava na direção do Chevy Impala por uma estrada secundária rumo ao sul. Sam revirava o palm conferindo mensagens e e-mails. A estrada, no meio do deserto do Novo México, era iluminada apenas pelo brilho da lua e pelos faróis altos do automóvel que deslizava sobre o asfalto.

Sam levantou os olhos e um lampejo à beira da estrada chamou-lhe a atenção.

-Dean, viu aquilo?

-O quê? – o mais velho varria a estrada com os olhos.

-Ali. – Sam apontou à direita do acostamento em direção à uma saída da estrada que se perdia atrás de uma formação rochosa.

-Não tem nada lá, Sam. – Dean reduziu a velocidade e direcionou o farol de milha. Acelerou novamente.

-É, pode ser, mas juro que vi alguma coisa... parecia algo correndo, atravessando a pista.

-Deve ser um coiote procurando comida.

-Provavelmente. – o rapaz voltou ao que fazia.

Por via das dúvidas, o mais velho dos Winchester, manteve-se alerta e não desgrudou os olhos do caminho. O irmão não costumava assustar-se com qualquer coisa e não custava nada ficar ligado.Viajar à noite por uma estrada deserta não era mesmo muito seguro.

Passaram por uma placa que indicava animais na pista e a saída para Las Cruces. Pensou em desviar e procurar um local tranqüilo para passar a noite, mas desistiu. Melhor seria ganhar tempo e descobrir logo porque Bobby os chamara de volta e o motivo pelo qual o amigo não podia revelar-lhes suas descobertas por telefone. Acelerou novamente. Aumentou o volume do rádio e os baixos ecoavam pelos tímpanos, fazendo com que o caçula o encarasse com um olhar fulminante. Não eram necessárias palavras para que entendesse o significado daquela expressão de desagrado do irmão. Também não disse nada. Limitou-se a girar o botão no sentido contrário, tornando a música suportável outra vez.

Na fração de segundos em que Dean tirou os olhos da estrada, algo cruzou novamente a frente do Impala, forçando-o a frear bruscamente e girar a direção para evitar o choque com o que parecia um cavalo selvagem em disparada. O carro derrapou na areia acumulada no acostamento, passando direto por ele e descendo, sem rumo, pela faixa pedregosa que beirava a rodovia. Atropelou arbustos retorcidos que se chocavam aos vidros e à lataria. Só parou ao chocar-se com um pequeno monte de rochas, levantando uma enorme nuvem de poeira em seu rastro.

Dean socou o volante em meio à meia dúzia de palavrões e pragas. Olhou ao redor, visivelmente irritado e puxando o ar com força, mas não viu nada. Somente a cortina de poeira que começava a baixar.

-Tudo bem, Sam?

-Acho que sim. – respondeu com os olhos esbugalhados, as pernas estiradas para baixo do painel e as mãos seguras no apoio da janela e na lateral inferior do banco. – O que foi aquilo?

-Sei lá.- ainda atônito – parecia um cavalo. Acho que perdi a direção.

-Isso eu estou vendo.- Sam percebeu que não tinha mais o celular – Caramba! – acendeu a luz interna e vasculhou o chão do carro com as mãos – Onde foi parar o celular? Não consigo achá-lo em lugar nenhum.

-Está muito escuro, Sam. Deve ter rolado pra baixo do banco. Depois você procura.

-Tem razão. – voltando à posição – acho melhor a gente sair daqui e procurar um lugar para descansar um pouco. Estou moído.

-Falou, maninho. Vamos voltar à estrada. Estou legal do mundo animal por hoje.


Dean deu a partida, girou a direção, mas não conseguiu engatar a marcha nem mover o carro. Sam observava as tentativas do irmão com uma expressão de surpresa. O velho Chevy nunca os havia deixado na mão e a batida nem tinha sido tão grave assim.

-Mas que droga! – Dean socou o painel.

-Será que quebrou alguma coisa?

-Tomara que não. – pegou a lanterna e saiu - Vou checar.

Os rapazes agacharam-se junto às rodas, cada um de um lado, e iluminaram o fundo do carro, verificando o estrago. Não viram nada. Sam direcionou o facho de luz para o irmão que já estava deitado de costas sob o chassi.

-Não vejo nada quebrado, Dean.

-Também não. Mas não dá para ter certeza sem levantar. Cadê o macaco?

Samuel correu até o porta-malas, pegou a ferramenta e ajudou o irmão a colocá-la no lugar, erguendo o automóvel. Passaram os olhos pelas peças, mas não conseguiram identificar o defeito e, devido à irregularidade do terreno, a todo momento o macaco dava a impressão que ia escorregar.

-Acho que pode ter sido a caixa de mudança. Ou pior, o eixo pode ter empenado. Pobre garota... o papai deu mole com você, não é, menina? – Dean alisava a roda com ares de lamento.

-Acho que teremos que esperar até amanhecer para ter certeza. Melhor a gente entrar e tentar descansar um pouco.- Sam sugeriu

-Tem razão. Não dá pra fazer nada agora. Vamos tirar uma pestana e amanhã de manhã, damos um jeito.

Ambos desligaram as lanternas e tomaram seus lugares. Dean olhava o nada pelo pára-brisa, tentando reorganizar os últimos acontecimentos quando sentiu um buraco no estômago e o som que reforçou a sensação de vazio que sentia. Mirou o irmão que se ajeitava recostado ao banco com a cabeça apoiada no vidro da janela. Esticou o braço e abriu o porta-luva; revirou-o com a mão e achou um saco meio aberto de m&ms ; acabou de abri-lo, cheirou-o com uma cara de poucos amigos e encheu a mão com os confeitos que levou à boca.

-Você vai mesmo comer isso? – Perguntou o caçula já virado para o irmão.

Dean deu de ombros, vasculhando o saco com os olhos enquanto mastigava.

-Cara, você sabe a quanto tempo esse troço está jogado aí dentro ?

-E daí? – tirou mais alguns e mordeu-os.

-Sinceramente, Dean, você deve ter uma fornalha no lugar do estômago.- Sam falava com cara de nojo.

-Você não quer uns? – ofereceu debochando

-Claro que não! – rejeitou o mais jovem.

-Então vai dormir, Sammy. – apagou a luz.

-Dean ?

-O que é agora ?

-Que barulho é esse, cara?! – questionou impaciente

-Que barulho? Não estou fazendo nada.

-Aaah, não?!- Samuel tomou o saco das mãos do irmão e passou a amassá-lo e desamassá-lo furioso.

-Uuumm...esse barulho...- tomou a embalagem de volta – O que você quer que eu faça ? Não dá pra pegar os amendoins com tele-cinese, amigo. Já te falei que o anormal da família não sou eu.

-Mas precisa fazer tanto barulho pra comer uma droga de um doce?

-Pronto, acabou. – encheu a boca com o restante dos confeitos, amassou o pacote e atirou-o pela janela.

-Viu o que acabou de fazer?!!!

-Que saco, Sam! O que foi que eu fiz agora?!

-Jogou o pacote pela janela, Dean!

-Pelo amor de Deus, Sam, vê se me erra!

Sam apertou os olhos e lançou um olhar ameaçador ao irmão por aquela atitude muito pouco civilizada.

-O que é?! – Dean ergueu novamente as sobrancelhas e encarou-o por um momento, em silêncio. – Qual é?- ainda encarando-o - Eu não acredito nisso... – revirou os olhos, abriu a porta e iluminou o chão. Apanhou o saquinho e arremessou-o dentro do porta-luva, batendo a porta com força. – Satisfeito agora, Senhor Politicamente Correto?

Samuel voltou-se para a janela do carona sem responder e fechou os olhos, deixando o irmão mais velho a observá-lo com perplexidade.

Dean bufou, coçou os olhos e a barba. Num arrepio de frio, fechou o vidro e puxou o zíper do casaco até o alto. Levantou a gola e pôs as mãos nos bolsos, deixando o corpo escorregar no banco. Decidiu dormir um pouco também.

******


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Um comentariozinho, please? *implorando de joelhos*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Malora" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.