Malora escrita por Crica
MALORA
Passava um pouco da meia-noite de sábado. O toca fitas executava uma seleção de rock clássico enquanto Dean cantarolava na direção do Chevy Impala por uma estrada secundária rumo ao sul. Sam revirava o palm conferindo mensagens e e-mails. A estrada, no meio do deserto do Novo México, era iluminada apenas pelo brilho da lua e pelos faróis altos do automóvel que deslizava sobre o asfalto.
Sam levantou os olhos e um lampejo à beira da estrada chamou-lhe a atenção.
-Dean, viu aquilo?
-O quê? – o mais velho varria a estrada com os olhos.
-Ali. – Sam apontou à direita do acostamento em direção à uma saída da estrada que se perdia atrás de uma formação rochosa.
-Não tem nada lá, Sam. – Dean reduziu a velocidade e direcionou o farol de milha. Acelerou novamente.
-É, pode ser, mas juro que vi alguma coisa... parecia algo correndo, atravessando a pista.
-Deve ser um coiote procurando comida.
-Provavelmente. – o rapaz voltou ao que fazia.
Por via das dúvidas, o mais velho dos Winchester, manteve-se alerta e não desgrudou os olhos do caminho. O irmão não costumava assustar-se com qualquer coisa e não custava nada ficar ligado.Viajar à noite por uma estrada deserta não era mesmo muito seguro.
Passaram por uma placa que indicava animais na pista e a saída para Las Cruces. Pensou em desviar e procurar um local tranqüilo para passar a noite, mas desistiu. Melhor seria ganhar tempo e descobrir logo porque Bobby os chamara de volta e o motivo pelo qual o amigo não podia revelar-lhes suas descobertas por telefone. Acelerou novamente. Aumentou o volume do rádio e os baixos ecoavam pelos tímpanos, fazendo com que o caçula o encarasse com um olhar fulminante. Não eram necessárias palavras para que entendesse o significado daquela expressão de desagrado do irmão. Também não disse nada. Limitou-se a girar o botão no sentido contrário, tornando a música suportável outra vez.
Na fração de segundos em que Dean tirou os olhos da estrada, algo cruzou novamente a frente do Impala, forçando-o a frear bruscamente e girar a direção para evitar o choque com o que parecia um cavalo selvagem em disparada. O carro derrapou na areia acumulada no acostamento, passando direto por ele e descendo, sem rumo, pela faixa pedregosa que beirava a rodovia. Atropelou arbustos retorcidos que se chocavam aos vidros e à lataria. Só parou ao chocar-se com um pequeno monte de rochas, levantando uma enorme nuvem de poeira em seu rastro.
Dean socou o volante em meio à meia dúzia de palavrões e pragas. Olhou ao redor, visivelmente irritado e puxando o ar com força, mas não viu nada. Somente a cortina de poeira que começava a baixar.
-Tudo bem, Sam?
-Acho que sim. – respondeu com os olhos esbugalhados, as pernas estiradas para baixo do painel e as mãos seguras no apoio da janela e na lateral inferior do banco. – O que foi aquilo?
-Sei lá.- ainda atônito – parecia um cavalo. Acho que perdi a direção.
-Isso eu estou vendo.- Sam percebeu que não tinha mais o celular – Caramba! – acendeu a luz interna e vasculhou o chão do carro com as mãos – Onde foi parar o celular? Não consigo achá-lo em lugar nenhum.
-Está muito escuro, Sam. Deve ter rolado pra baixo do banco. Depois você procura.
-Tem razão. – voltando à posição – acho melhor a gente sair daqui e procurar um lugar para descansar um pouco. Estou moído.
-Falou, maninho. Vamos voltar à estrada. Estou legal do mundo animal por hoje.
Dean deu a partida, girou a direção, mas não conseguiu engatar a marcha nem mover o carro. Sam observava as tentativas do irmão com uma expressão de surpresa. O velho Chevy nunca os havia deixado na mão e a batida nem tinha sido tão grave assim.
-Mas que droga! – Dean socou o painel.
-Será que quebrou alguma coisa?
-Tomara que não. – pegou a lanterna e saiu - Vou checar.
Os rapazes agacharam-se junto às rodas, cada um de um lado, e iluminaram o fundo do carro, verificando o estrago. Não viram nada. Sam direcionou o facho de luz para o irmão que já estava deitado de costas sob o chassi.
-Não vejo nada quebrado, Dean.
-Também não. Mas não dá para ter certeza sem levantar. Cadê o macaco?
Samuel correu até o porta-malas, pegou a ferramenta e ajudou o irmão a colocá-la no lugar, erguendo o automóvel. Passaram os olhos pelas peças, mas não conseguiram identificar o defeito e, devido à irregularidade do terreno, a todo momento o macaco dava a impressão que ia escorregar.
-Acho que pode ter sido a caixa de mudança. Ou pior, o eixo pode ter empenado. Pobre garota... o papai deu mole com você, não é, menina? – Dean alisava a roda com ares de lamento.
-Acho que teremos que esperar até amanhecer para ter certeza. Melhor a gente entrar e tentar descansar um pouco.- Sam sugeriu
-Tem razão. Não dá pra fazer nada agora. Vamos tirar uma pestana e amanhã de manhã, damos um jeito.
Ambos desligaram as lanternas e tomaram seus lugares. Dean olhava o nada pelo pára-brisa, tentando reorganizar os últimos acontecimentos quando sentiu um buraco no estômago e o som que reforçou a sensação de vazio que sentia. Mirou o irmão que se ajeitava recostado ao banco com a cabeça apoiada no vidro da janela. Esticou o braço e abriu o porta-luva; revirou-o com a mão e achou um saco meio aberto de m&ms ; acabou de abri-lo, cheirou-o com uma cara de poucos amigos e encheu a mão com os confeitos que levou à boca.
-Você vai mesmo comer isso? – Perguntou o caçula já virado para o irmão.
Dean deu de ombros, vasculhando o saco com os olhos enquanto mastigava.
-Cara, você sabe a quanto tempo esse troço está jogado aí dentro ?
-E daí? – tirou mais alguns e mordeu-os.
-Sinceramente, Dean, você deve ter uma fornalha no lugar do estômago.- Sam falava com cara de nojo.
-Você não quer uns? – ofereceu debochando
-Claro que não! – rejeitou o mais jovem.
-Então vai dormir, Sammy. – apagou a luz.
-Dean ?
-O que é agora ?
-Que barulho é esse, cara?! – questionou impaciente
-Que barulho? Não estou fazendo nada.
-Aaah, não?!- Samuel tomou o saco das mãos do irmão e passou a amassá-lo e desamassá-lo furioso.
-Uuumm...esse barulho...- tomou a embalagem de volta – O que você quer que eu faça ? Não dá pra pegar os amendoins com tele-cinese, amigo. Já te falei que o anormal da família não sou eu.
-Mas precisa fazer tanto barulho pra comer uma droga de um doce?
-Pronto, acabou. – encheu a boca com o restante dos confeitos, amassou o pacote e atirou-o pela janela.
-Viu o que acabou de fazer?!!!
-Que saco, Sam! O que foi que eu fiz agora?!
-Jogou o pacote pela janela, Dean!
-Pelo amor de Deus, Sam, vê se me erra!
Sam apertou os olhos e lançou um olhar ameaçador ao irmão por aquela atitude muito pouco civilizada.
-O que é?! – Dean ergueu novamente as sobrancelhas e encarou-o por um momento, em silêncio. – Qual é?- ainda encarando-o - Eu não acredito nisso... – revirou os olhos, abriu a porta e iluminou o chão. Apanhou o saquinho e arremessou-o dentro do porta-luva, batendo a porta com força. – Satisfeito agora, Senhor Politicamente Correto?
Samuel voltou-se para a janela do carona sem responder e fechou os olhos, deixando o irmão mais velho a observá-lo com perplexidade.
Dean bufou, coçou os olhos e a barba. Num arrepio de frio, fechou o vidro e puxou o zíper do casaco até o alto. Levantou a gola e pôs as mãos nos bolsos, deixando o corpo escorregar no banco. Decidiu dormir um pouco também.
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Um comentariozinho, please? *implorando de joelhos*