Coração Negro escrita por Wyvern


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Vocês sabem que meus prólogos são pequenos, mas os caps, grandes. u_u



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            Ironicamente, a cena era familiar.

            À meia-luz criada pela eterna dança entre o Fogo e a Escuridão, os rostos que o seguiam perdiam sua pouca humanidade. Não eram os rostos belos e austeros, como na primeira vez. Seus gritos e urros agudos de vitória enchiam o ar carregado de fumaça, ecoando pelo teto coberto de estalagmites. Tolos, ele pensou, não faziam a menor idéia do erro que estavam cometendo. Cansado de tentar acompanhar o passo de suas sentinelas, simplesmente permitiu que eles o levassem. Para onde, ele não sabia. Seria possível que existisse lugar pior do que aquele?

            Ao pensar nisso, instintivamente virou-se para encará-la. Os lábios vermelhos como sangue dela se abriram em um sorriso cruel, e ele soube que se tal lugar existia, era para lá que ele rumava. Ainda repreendia-se por não ter esperado por isso. A verdade era que se acostumara ao poder, acreditara que tinha se não respeito, pelo menos poder sobre seus súditos. Mas ele não era uma daquelas criaturas condenadas, nascera como um de seus inimigos. Só acabara ali por um erro, um ato impulsivo. É claro que eles já tentaram se revoltar contra ele, mas todas as tentativas foram detidas. Menos essa, porque fora liderada por ela.

            Sentiu seu torpor se dissolver em uma onda de raiva. Só sentira raiva tão intensa uma vez, e jamais esqueceria. Era a raiva causada pela traição. Seu coração começou a bater mais forte, como se quisesse rasgar seu peito e fugir do provável terror que o aguardava. Ah, aquela pequena e infame parte, culpada por seu primeiro erro, cujas conseqüências mal pareciam ter começado. Se tivesse sido capaz de silenciá-lo, ou até mesmo arrancá-lo, talvez tudo tivesse sido diferente. Talvez ainda estivesse em seu verdadeiro lar. Mas agora era tarde, e de nada adiantava lamentar.

            A repentina parada das sentinelas o puxou de volta ao presente. Abaixou os olhos para o vazio a sua frente. A Fenda, como a chamavam, era uma rachadura que se estendia por quilômetros a perder de vista, cujo fundo parecia não existir. É claro, deveria ter imaginado que esse era o fim que ela guardara para ele. Sentiu as pesadas mãos nas sentinelas sobre seus ombros. Estava caindo para a mais funda das escuridões novamente. Como ela era hipócrita. Ainda tomado pela raiva, virou-se novamente vê-la.

 

            - É melhor que isso me mate. – disse em tom baixo, ameaçador. – Porque se eu voltar, você vai estar ferrada.

 

            O sorriso sarcástico dela derreteu de imediato diante de suas palavras. Muitos outros se afastaram diante da ameaça, imaginando o que lhes aconteceria se a cumprisse. Então voltou a olhar para o imenso vazio. Nunca soubera por que aquela fenda se abrira ali, mas não se interessara por isso. Mais um erro a lamentar. As sentinelas jogaram os braços bruscamente para frente, largando seus ombros. Sentindo o chão deixar-lhe, fechou os olhos, pronto para o que lhe viesse.

            E ele foi atirado no abismo.

 


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