Angie escrita por telljesusthebitchisback


Capítulo 6
Possessa




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    Amanda pisava fundo na grama rodeada de chalés, fitando com raiva seus tênis. Queria falar com quíron imediatamente, mas era praticamente acha-lo durante o dia assim.

- Cavalo estúpido. – ela murmurou, chutando uma pedra. Uma risada profunda a despertou. Seu coração acelerou. Ela olhou em volta, procurando a pessoa.

— É engraçado como os imortais se desentendem fácil. – ele pronunciou imortais com certo nojo. – sempre tão mentirosos.

Ela continuava a olhar os chalés e as árvores, sem sucesso em sua busca.

— Dá pra você aparecer logo? Esse jogo ninfa-sátiro não me agrada.

Ele riu de novo, saindo de trás de uma árvore. Apoiou o ombro no tronco e colocou as mãos nos bolsos, cruzando os tornozelos. Seus cabelos castanhos estavam caindo nos olhos escuros livremente, e uma pequena folha estava presa nele. Amanda sentiu o impulso de erguer o braço e tirar a folha, mas se conteve. Ele rejeitaria a aproximação.

Ela fechou os olhos e riu, sentindo o vento batendo em seu rosto e o sol queimando sua pele. Sua pele brilhava, milhares de partículas de glitter dourados dançando nela. Quando ela ficou imóvel, parecia a estátua de ouro de uma deusa grega. Parcialmente verdade.

Quando falou, sua voz estava suave e calma, sem se deixar abalar pela ofensa:

— Você tem toda a razão.

Aquilo o pegou de guarda baixa. Ele imaginou que ela o fritaria com um raio e queimaria seus órgãos lentamente, até tinha trago uma ádaga para a defesa. Mas rendição? De uma deusa? Nem em um milhão de anos. Zeus ficaria fulo.

Ele esperou pelo ataque surpresa, com os sentidos aguçados atentos a qualquer movimento ao seu redor. Sua mão deslizou até a bainha da ádaga só por segurança. Seus alarmes dispararam quando Amanda saiu da forma de estátua para lentamente se deitar na grama, ainda de olhos fechados. Por puro reflexo ele desembainhou a faca e a apontou em direção à garota, que ergueu a mão no mesmo momento.

— Evite. Como você mesmo disse, eu sou imortal. Seu brinquedo só fará cosquinhas.

O garoto se perguntou como ela sabia sobre a faca de olhos fechados e porque ela havia mudado de postura de repente. Em um momento ela era uma adolescente irritadiça e no outro uma deusa calma e condescente. Estranha, aquela garota era definitivamente estranha.

E foi por isso que ele lentamente foi chegando mais perto do corpo que jazia na grama, sem tirar os olhos da sua pele de ouro refletindo a luz. Amanda abaixou a mão no mesmo momento em que ele se sentou ao seu lado.

— Então, vai me dizer seu nome?

Ele piscou, sem responder. Ergueu a mão e observou a projeção da sombra no colo de Amanda.  

— Eu achei justo, já que você descobriu sobre a minha espécie.

— Eu descobri sozinho sobre a sua espécie.

Ela soltou uma risada rouca e alta. Ele olhou ao seu redor para checar se teria chamado a atenção de alguém, mas aquela campina era muito longe do centro do acampamento, então não havia ninguém além deles mesmos ali.

— Você está me subestimando?

— Sim.

Ele abriu e fechou a boca, erguendo as sobrancelhas de surpresa.

— Não posso argumentar contra isso. Minha especialidade é física, não mental.

Ela abriu os olhos, fixando-os nele. Aquela foi certamente a coisa mais impressionante que ele já viu, mais que sua pele de ouro. Suas íris e pupílas eram sóis, ele tinha certeza. Dois pequenos sóis insuportáveis de se encarar por mais que um segundo, tanta a divinidade deles. Eles brilhavam tanto que sua luz engoliu quase todo o rosto de Amanda.

— Ah, sim, eu espero que seja.

Ele uniu as sobrancelhas.

— O que você quer dizer com isso?

Ela rolou os sóis ao seu redor, procurando por algo. Então ergueu um dedo e apontou para um pinheiro a 3 metros deles.

— Sabe onde estamos?

Ele arregalou os olhos e sua boca quase caiu no chão.

— Nós estamos fora dos limites mágicos do acampamento.

Ela riu baixinho e fechou os olhos novamente, deitando a cabeça na grama.

— E você falando que era burro.

Ele se levantou e limpou o jeans, murmurando maldições em grego. Amanda riu de novo, claramente se divertindo com o seu medo.

— Vamos lá, campeão! Está com medo de alguns monstrinhos? Que grande vergonha você deve ser para Ares.

Mas ele parecia mais que assustado, talvez até um pouco excitado. Chacoalhava os ombros o tempo inteiro, passando as mãos suadas por seu jeans e pela nuca, tentando abaixar os pelos eriçados. Quando ele olhou para a floresta apavorado quando o vento soltou um uivo dentro dela, mordendo o lábio inferior, Amanda soube que a coisa era séria.

Ela se levantou devagar, dando passos leves e sutis na grama para não assustá-lo, e parou ao seu lado, analisando seu rosto.

— O que aconteceu com a sua mãe?

Ele a olhou de soslaio como se ela fosse louca, mas seu rosto ficou ligeiramente mais pálido. Perguntou com o olhar o porque da pergunta.

— Bem, obviamente você mora no acampamento. Durante todo o ano, eu digo.

Ele franziu a testa. Seus rostos estavam perto, de modo que, agora que a luz do sol havia diminuído, ele podia olhar em seus olhos — com certa dificuldade. A pele bronzeada dela apenas refletia a luz que batia em um lada de seu rosto, ora ou outra revelando um pontinho de luz.

Ela inclinou a cabeça, analisando como ele, todo vestido de preto com sua pele pálida, parecia deslocado à luz solar.

Ele podia ver a deusa e a adolescente brigando por controle nela, suas expressões se revesando entre quase-sorrisos e carrancas. Por fim, a imortal venceu. Ela fechou seu punho e se afastou, caminhando de queixo erguido até a beira da floresta. Primeiro ele pensou que ela estivesse voltando para o acampamento, mas havia uma trilha limpa a cinco metros.

Amanda hesitou, de frente para as árvores altas e centenárias, que dava para uma floresta que, mesmo ao sol de fim de tarde, era negra.

— O que você está fazendo?— ele perguntou, estendendo uma mão em sua direção.

Ela virou apenas o pescoço para lançá-lo um olhar perigoso. Seu rosto estava sem expressão, sua pele não brilhava mais, e conforme ela deu um pulo dentro da escuridão, seus olhos se apagaram. Ele correu até ficar rodeado por árvores, seguindo o farfalhar das folhas em que Amanda pisava, mas quando ele chegou a um círculo limpo, os passos pararam. Ele olhou para cima. O sol já se punha, provavelmente já era a hora do jantar.

Ele ouviu um rugido seguido de um uivo, então se virou para trás, para voltar à campina. Um par de olhos dourados o encaravam de perto, e uma mão rapidamente se fechou em sua boca, privando-o de produzir qualquer som. Ela vestia um colaint preto e seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo, com uma espada na cintura e um arco nas costas. O que era estranho, porque momentos antes, na campina, ela estava vestida como qualquer campista. Desse jeito, ela parecia uma heroína de filmes, mas seu rosto mostrava que ela estava mais para vilã.

Houve outro rugido.

— Só os fortes sobrevivem.

Ela deslizou a mão fria pela cintura dele e pegou a ádaga e passou o outro braço por seus ombros, segurando-o de costas junto ao seu corpo.

— A força é a chave de tudo. — sua voz parecia diferente, mais grave e poderosa, talvez. Ela raspou a ádaga no pescoço imóvel dele, liberando um filete de líquido vermelho. Em seguida ergueu a ádaga contra a luz da lua. — Você vê isso? O sangue derramado? É a melhor coisa de todas. Mas não quando é o seu próprio sangue.

Ela o soltou e, em um movimento relâmpago, ela estava em frente a ele, rodando a faca entre seus dedos até que uma gota voou em sua bochecha. Ergueu a mão e retirou o sangue da pele e aumentou os olhos. Olhos que pegavam fogo.

— Qual é a sua origem?— Ela gritou, cachoalhando as árvores ao seu redor. Estava possessa de uma força imortal, divina. Muito mais forte do que a força que ela mostrara antes. Com toda certeza, muito menos condescedente e gentil.

Ele estava paralisado, olhando-a com certo medo e respeito. Como ele não respondeu, ela gritou de novo, mais alto.

— Ares!

— Não!— ela gritou em frustração, quase parecendo uma adolescente normal novamente. — O que é o seu senhor? Ele franziu o rosto, confuso. Ela grunhiu e atirou a faca nele, fincando-a direto em sua perna. Ele gritou de dor, se contorcendo. — O que é o seu senhor, mortal? — O Senhor da Guerra! O Senhor da Destruição!


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