-Haha...

  Matt dava uma risada um pouco forçada enquanto via a cena à sua frente. Eu estava usando roupas muito diferentes das que eu usava desde que me lembro, aquelas eram grandes a camisa tinha mangas compridas e a calça estava bem folgada, mas qual era o problema em usá-las?

  -Por que a Claire está usando a sua roupa?

  Aquelas roupas pertenciam a Andrew, até que eram confortáveis. Andrew estava um pouco desligado do mundo e nem havia entendido a pergunta de Matt, além disso seu olho estava roxo como se alguém tivesse batido nele e para não deixar o olho pior ele deixou uma bolsa com gelo sobre o olho esquerdo.

  -Ãh?

  Ele disse olhando para minha direção e em seguida respondeu a pergunta de Matt.

  -Ela não tinha outras roupas então eu...

  -Por que não pediu para Anne?

  -Ela... bem... me chamou de coisas horríveis por querer as roupas dela e jogou um livro no meu rosto...

  -Isso explica o olho roxo...

  Eu não estava prestando muita atenção na conversa pois eu estava tentando dobrar as mangas da camisa que eram muito compridas cobrindo minhas mãos.

  -Quer ajuda?

  Matt perguntou enquanto dobrava as mangas da camisa. Agora sim estava bem melhor.

  -Claire, vamos pedir roupas para Anne.

  -*Tudo bem...*

  Eu disse o seguindo para o quarto de Anne. Ele bateu algumas vezes na porta e ela se abriu Anne estava mexendo em algumas armas e parecia ocupada, seu olhar demostrava pura irritação quando a porta se abriu.

  -Matt o que você quer? – ela perguntou num tom irritado.

  -Bem... Claire precisa-

  -Do que ela precisa?

  -De roupas.

  Eu entrei no quarto ficando um pouco atrás de Matt, de alguma forma Anne emanava uma aura demoníaca e por instinto eu ficava o mais longe possível dela.

  -É claro que posso emprestar roupas! – ela disse alegremente.

  De repente aquela aura havia desaparecido e em seu lugar havia uma aura alegre.

  -Venha Claire! – ela disse enquanto abria o guarda-roupa – E Matt sai daqui.

  Ela o empurrou para fora do quarto, e voltou para o guarda-roupa retirando algumas peças de lá.

  -Acho que minha roupas são grandes para você... hoje você pode usar essa aqui em casa e enquanto isso vou comprar algumas para você, tudo bem?

  -*Sim*

  Como todos os outros, exceto Matt, ela não escutou minha resposta.

  -Me desculpe, esqueci completamente que você não consegue falar.

  Ela abriu a porta e lá estava Matt jogado no chão ainda. Ela o puxou para dentro de novo e o colocou de frente para mim.

  -Eu quero saber o que ela está dizendo. Então quando eu falar com ela quero que você esteja por perto escutou?

  Matt apenas afirmou com a cabeça, ele também a temia.

  -Eu vou comprar roupas para ela e você vai tomar conta dela, até eu voltar.

  Anne saiu do quarto correndo, nós pudemos escutar uma discussão entre ela e Andrew da sala, mas depois apenas um barulho de posta batendo.

  Eu e Matt voltamos para a sala e lá estava Andrew com outro olho roxo agora.

  -Como é que você se dá tão bem  com Anne? – Andrew perguntou.

  -*Eu não sei*

  -Eu acho que é por causa daquele estranho desejo de ter uma irmã para compartilhar momentos em família já que ela foi abandonada em um orfanato.

  -*O que?*

  Eu perguntei olhando para a direção de Matt.

  -Acho que é um bom momento para dizer a ela já que ela vai ficar aqui... – Andrew disse enquanto colocava outra bolsa de gelo no outro olho.

  -Não só ela como nós dois também, mas Anne era especial, era querida pela dona do orfanato.

  -*Do que você está falando?*

  -Você não queria saber o que nós fazemos? Primeiro temos que contar o que somos...

  Matt parecia sério enquanto as palavras saiam de sua boca.

  -Não somos pessoas comuns, sofremos alguns experimentos que nos tornaram mais resistentes e habilidosos que pessoas normais como você. Não gostávamos do lugar apenas havia tristeza e solidão alí mas o pior de tudo era que não havia liberdade...

  -*Por que está me dizendo isso?*

  -Você mesma queria saber. Fugimos os três do orfanato e tentamos nos misturar à sociedade, mas nunca fomos aceitos, éramos diferentes de todos e os diferentes nunca eram aceitos. Sentíamos ódio daqueles que destruiram nossas vidas, por causa deles nunca voltaríamos ser pessoas normais, além disso eles também destruiram nossas famílias... então nos tornamos o que somos hoje.

  Aquelas palavras não faziam sentido para mim, eu... não sentia nada em relação à elas, mas por que?... os livros disseram que as pessoas se comoviam com histórias tristes e dramáticas mas aquilo não me fazia sentir nada...

  -*E por que não me disse antes e só resolveu dizer agora?*

  -Eu decidi contar para você porque você está escondendo algo... e contando isso tudo me dá uma razão para mantê-la aqui, agora que sabe sobre isso nem mesmo Anne vai deixar você sair daqui.

  -*Você...*

  -Me desculpe, mas eu tenho que saber...

  -*Andrew concorda com isso?*

  -É claro que sim, ele tem seus objetivos também... e talvez você esteja relacionada com esses objetivo.

  Todos aqui são uma farsa então... deveria ter ficado naquele lugar para sempre, o mundo fora daquele quarto é horrível principalmente as pessoas que vivem nele...

  -*Saiba que eu nunca vou te perdoar... e ainda assim usando minha confiança que eu tinha em você... vou tornar sua vida num inferno.*

  De onde aquelas palavras haviam surgido? Eu nunca diria isso na minha vida, mas acho que todo mundo quando sente ódio passa a dizer coisas terríveis.

  Matt tentou tocar meu ombro mas por reflexo apenas dei um tapa na mão dele, e depois fiquei apenas encarando-o, com a pura sensação de ódio. Era a primeira vez que eu sentia aquilo, era uma sensação horrível mas eu não conseguia controlá-la.

  -Claire... – Andrew disse baixo quando viu meus olhos.

  Andrew ficou observando a cena diante dele ainda um pouco surpreso ela minha reação. Matt depois de levar o tapa ficou olhando para o chão, como se estivesse arrependido, mas eu não iria perdoar.

  -*Me deixe em paz...*

  -Desculpe Claire...

  Eu saí da sala e voltei para o quarto em que eu viveria agora. Deitei na cama observando o teto, o ódio mantinha-se na minha mente. Eu me sentia traída, Matt havia acabado com minha confiança...