Sem Calor escrita por Elisabeth Ronchesi


Capítulo 6
Unidos Pelo Amor




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- Vivian! Eu já estava ficando preocupada. Acabei de ver o plantão na TV - Bárbara dizia se enrolando nas próprias palavras.

- Me desculpe não ter ligado antes.

  Sua voz soava misturada aos soluços constantes. Lhe explicou tudo o que ocorrera, até a parte das vibrações que sentia. Como já era esperado, Bárbara estranhou, porém falou pouco a respeito. Estava ansiosa com a sua chegada e não passara o natal junto a alguém a anos. Assim como Vivian, era solteira e não tinha filhos, trabalhando como enfermeira num hospital local.

- Irá desistir de vir pra cá? - Desanimada, quase iria implorar pela vinda da prima. Mas achou melhor não.

- Claro que não. Talvez ainda hoje mesmo estarei aí - Vivian havia se acalmado.

- Hoje mesmo? - Bárbara espantou-se. - Não seria melhor descansar um pouco e...

- Foi um acidente. Aconteceu. Tive a sorte de não embarcar, mas nem por isso irei desistir de viajar. E o natal será domingo, não quero deixar tudo em cima da hora.

- Tem razão. Se vier mesmo hoje, me ligue assim que chegar que lhe buscarei no aeroporto.

- Está bem.

  Desligou. A programação de culinária ensinava aos telespectadores como fazer um certo tipo de prato italiano. Com um click do controle remoto, a imagem se apagou. Vivian fora para o quarto, em busca de sua bolsa. Precisava comprar novas passagens. Queria estar longe dali o quanto antes, mas pensara bem. Já eram mais de 22hrs e com certeza o aeroporto ainda estaria fechado. Embarcaria de manhã.

 

  Azrael continuava a fitar a tela de silicone. O tempo já estava curto e não sabia o que preparar para a chegada de sua esposa. Na verdade sabia, mas estava duvidoso. Uma carta de amor, uma canção ou uma poesia? Pensara bem enquanto não desgrudava os olhos da tela. Repentinamente decidiu-se. Uma poesia simples e arrebatadora. Apanhou um lápis e um bloco de papel.

  Assim que começaria a escrever, sentiu um tapa nas costas. Era Gabriel.

- Olha só. O que andas fazendo?

- Não é de sua conta.

  O anjo másculo girou a cadeira em que sentava e segurou-o pela gola do manto que usava. Seu olhos era feroz. Gabriel fazia o tipo pouca paciência, não tolerando piadas nem respostas negativas.

- Não esqueças que ainda sou superior a ti.

- Somente Deus é superior a mim - Azrael esboçava um sorriso de canto dos lábios.

  Ao mesmo tempo retirou a mão de Gabriel de si. Desde muito tempo não se davam bem por dividirem o amor de Samira. Esta acabara que ficando com Azrael por ser o único a quem amava, o que acabou deixando-o louco de raiva. E desde essa escolha, declarou inimizade com Azrael. O anjo másculo fitou a pequena tela em cima de uma mesa amadeirada.

- Mesmo humana, Samira continua bela e esbelta. Será que ela se esqueceu do seu queridinho?

  Não estava com ânimo para debater com alguém, ainda mais Gabriel. Rapidamente tocara sua testa com a ponta de seu indicador, fazendo-o desmaiar. Azrael se dirigiu novamente à cadeira, apanhando o lápis caído no chão. Estava com uma saudade tremenda de Samira.

- Eu te amo, querida - sussurrou.

 

  Com os braços atrás da cabeça, Vivian tentava a minutos pegar no sono. Mas o acontecimento de hoje havia lhe tomado os pensamentos. Não sabia mais o que fazer para conseguir dormir. Já havia tomado dois compridos e bebido uma caneca de leite quente, um hábito contra a insônia, mesmo assim continuava acordada. Porém, estranhamente Vivian se encontrava relaxada naquele momento. Fitou o ventilador de teto que girava acima de si. O objeto movimentava-se como o tempo ousa movimentar: rapidamente.

  Repentinamente, sentiu-a de novo. Mas agora havia sido diferente. Efêmero, ela ouvira uma frase. Uma voz masculina suave como a brisa que entrava naquele quarto balançando as cortinas. Franziu o cenho. Que ótimo. Agora estou alucinando. Ela virava-se no colchão, ajeitando as mãos por baixo do travesseiro. Fechando os olhos, parecia mais frágil. Uma fragilidade que era vista por alguém bem distante, onde se unia à ela por um vínculo único, de modo que eram invejados por muitos, desconfiantes até das estrelas.

 


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