Eu olhei em volta sem compreender a grande sala vazia. Eu repassei suas palavras mentalmente varias vezes, e, no entanto, em nenhum lugar nas profundezas sem fim dos meus pensamentos conseguia ver uma contradição para o que ele acabara de dizer.

Fiquei surpresa ao ver como eu ainda parecia calma e razoável. Devia ser porque eu estava cem por cento entorpecida. Não conseguia entender o que ele me havia me dito. Ainda não fazia sentido algum. A consciência começava a me invadir, gotejando como ácido em minhas veias. Eu não tinha argumentos para o que ele falou. Eu sabia muito bem que eu não era boa o suficiente para ele.

Todo o meu corpo ficou dormente. Eu não conseguia sentir nada abaixo do pescoço. Quando voltei ao meu corpo, vi que estava em pé. Meus joelhos devem ter começado a tremer, porque de repente a sala oscilou. Eu podia ouvir o sangue martelando mais rápido do que o normal em meus ouvidos. Parecia que havia algo preso em minha garganta, como se eu estivesse sufocando.

Eu estava tonta; era difícil me concentrar. As palavras dele giravam em minha cabeça. Tentei respirar num ritmo normal. Eu precisava me concentrar, encontrar uma forma de sair daquele pesadelo.

Com as pernas trêmulas, ignorando o fato de que minha atitude era inútil, eu sai de casa, atravessando o quintal, segui para a floresta. Eu avancei sem pensar. Não podia agir de outro modo. Precisava continuar em movimento. Se parasse, estaria tudo acabado.

Andei e andei. O tempo não fazia sentido enquanto eu avançava devagar pelo bosque. Passavam-se horas, mais também apenas segundos. Talvez eu tivesse a impressão de que o tempo congelara porque a floresta parecia à mesma, independentemente da distancia que eu percorresse.

Por fim, dei uma topada em alguma coisa – agora no escuro, eu não fazia idéia do que era – e cai. Fiquei parada ali por algum tempo ouvindo os ruídos da floresta. Enquanto eu estava deitada ali, tive a sensação de que se passara mais tempo do que eu percebera.

Não conseguia me lembrar de quanto tempo se passou. Será que a floresta era tão escura à noite? Ficou escuro por um longo tempo antes que eu ouvisse os gritos vorazes que ecoavam na floresta.

- Você não a ama de verdade, é só essa droga de imprinting idiota! Você não vê, ela é uma criança, isso é ridículo, ela não é boa o suficiente pra você. – disse a primeira voz enfurecida, era desconhecida, pelo menos parecia.

- Leah você está descontrolada, se acalme! – Leah? Era Leah mesmo? Tentei me concentrar mais nessa segunda voz, ela era rouca, me lembrava algo.

- Jake, ela é o motivo de existirmos – Jacob, ele estava ali.

Eu tentei me recompor, queria me levantar, mais o topor era mais forte do que eu.

- Leah você não sabe o que está falando. – disse ele com raiva.

- Nós existimos para matá-los Jake, fomos criados para isso, acabar com esses sanguessugas nojentos! E você fala que ama um deles?

“Nós existimos para matá-los” aquela frase se prendeu em minha cabeça. Eles tinham de nos matar. Minha família. Eu.

- Leah pare com isso agora!

- Jake, você não entende, ela não devia existir! Você não queria que ela existisse. Você amava a Bella, e queria matar essa monstrinha por rasgar a Bella de dentro para fora. Você ia matá-la Jake. Ela matou a Bella, você se lembra disso?

  “Você amava a Bella.” Ele a amava? Então era isso, ele não me amava mesmo, ele não estava lá por mim, foi sempre ela. Sempre a minha mãe. De repente tudo fez sentido, todas as conversas misteriosas, tudo. Mais como meu pai podia permitir isso?

– eu parei de pensar para ouvir mais.

- Leah, eu amava a Bella sim, ou pelo menos eu pensava que sim, mais no momento que eu vi a Nessie, eu percebi o que tinha me mantido ali aquele tempo todo. Eu amo ela! Ela é a minha vida agora! E você tem que entender isso Leah.

Como ele podia dizer que me amava, quando quem ele realmente amava era a minha mãe?

- Você assistiu a Bella morrer por culpa dela! Você lembra quantas costelas ela quebrou, quantas vezes ela se contorcia de dor, por causa dela Jake, ela é um monstro, ela matou a própria mãe!

 Eu... matei... minha mãe? Todos sempre me disseram que minha mãe havia tido uma gravidez muito difícil, complicada, mais não isso. Eu tinha matado ela...

- Leah, ela não tinha culpa, ela tinha que sair de algum jeito, ela estava sufocando, ela ia morrer também!

- Mais, e se o Edward não conseguisse salvar a Bella? O que você iria fazer Jake? Lembra quando você ouviu o ultimo batimento da Bella, ela tinha morrido, e você ia matar a monstrinha. E agora o que, você mudou de ideia?

- Sim, eu mudei tudo mudou Leah, entenda isso.

- Droga Jake, você acredita nessas lendas idiotas?

- Não são lendas, aconteceu com todos, Sam, Quil, Paul, comigo, com todos. Leah, você só esta assim, porque você não tem ninguém! Você não ama ninguém.

Eu pude ouvir seu arfar, era como se ela tivesse levado um soco na cara. Ela se recompôs e continuou.

- Não Jake, eu amo alguém sim. Eu amo você, seu idiota!

O que? Como assim ela amava o Jake? Então era isso, ele devia amar ela também. Eu tinha que me levantar agora, meu ódio alimentou minha força não existente, minha parte vampira ajudou, eu me levantei rapidamente, sem ao menos um ruído. Leah jogava seus braços para o ar enquanto discutia com ele. Ele olhava para ela com uma expressão indecifrável.

- Leah você não sabe do que esta falando!

- Claro que eu sei Jake, eu te amo!

- Não você não me ama Leah! Pare com isso!

- Jake eu te amo, você tem que entender isso, droga! Eu sou o que você precisa, nós temos que ficar juntos, eu sou humana, vê isso – ela apontou para o seu corpo. – e você está trocando isso por uma criança que nem te ama de verdade? Eu posso te dar tudo o que você quer tudo o que você precisa.

- Jake, ela é uma vampira, nós temos que matá-los, você não pode amar um deles, isso é nojento! Você tem que ficar com uma pessoa de verdade, beijar uma pessoa de verdade, assim – ela pulou em cima dele, com os braços envolvendo seu pescoço, e as pernas... estavam enroscadas nas dele.

Ela esmagou os lábios nos seus, ela tinha uma força imensa. Ele não conseguia se libertar de seu aperto, e parecia nem tentar, as mãos apertando seu rosto para que ele não saísse do lugar. Ele segurou seu rosto entre as mãos, ele queria que ela continuasse, ele não tentou se afastar. Então era isso...