A Utopia do Perigo. escrita por Raissa Muniz


Capítulo 5
Algo em mim.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem. ;)



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A cidade descansava feliz lá fora enquanto mais uma tragédia particular era cuidadosamente trabalhada aqui dentro. Não, não estou em um túnel. Não estou em uma plataforma de guerra. Não vou ser jogada para os crocodilos ou algo do tipo. É só minha maneira sombria de narrar os fatos. A propósito, você já deveria estar acostumado com essa leitura, mas se não conseguiu realizar esse feito, não é tarde pra desistir. Vá em frente. Aposto que você consegue um livro sobre a Branca de Neve para suavizar sua memória.

Eu estava sentada defronte à pequena e amarrotada mesinha-cabeceira, prestes a embarcar em mais uma das minhas descrições (lê-se: desabafos emo), simplesmente fitando um papel em branco e uma caneta esferográfica preta, esperando as idéias se concretizarem em palavras legíveis. Fui frustrada. Nada de palavras. Nada de textos. É por essas e outras que acho que a vida seria bem melhor se um momento de escrita fosse como aos filmes antigos, onde o indivíduo só precisava pegar uma pena, mergulhá-la no tinteiro e começar a escrever feliz em seu pergaminho amarelado. Infelizmente, como você já viu, não é assim comigo.

Olhei para o relógio que emitia um barulhinho irritante ao movimentar os ponteiros e concluí que já não era hora para escrever. E adivinha só o que minha mente reservou para driblar o tédio? Acha que a solução é dormir? Então devo apresentar-lhe um novo método.

Caminhei até minha estante velha e cheia de livros e liguei o aparelho de som que ali estava guardado. Procurei o botão de ligar e o acionei, colocando uma música no mínimo tensa e nada apropriada para se ouvir em plena madrugada. Can’t be tamed.

Pois é, ainda sou uma adolescente normal que ouve Miley Cyrus escondida dos amigos. Não que eu tenha problemas com a garota, mas o seu modo “Hannah Montana” de ser simplesmente me enoja. Pelo menos em “Can’t be tamed” ela já estava mais mudada.

“For those who don’t know me, I can get a bit crazy” (Para aqueles que não me conhecem, posso parecer um pouco louca.)

É pelo menos nisso estamos juntas, cara Cyrus.

Com um pouco mais de animação, voltei ao meu refúgio da escrita e finalmente comecei a escrever algo. Não algo interessante, nem legal, nem legível... Algo. Só isso.

Enquanto a música tocava, descrevendo a luta de uma adolescente frustrada, minha mão corria a folha depositando nela também um pouco da minha (que surpresa!) frustração.

Imaginei como seria mais fácil se as pessoas simplesmente ouvissem umas às outras e por vezes pensei que isso não traria benefícios. A luta pela vida e pelo entendimento iria por água abaixo. Infelizmente, as pessoas precisam de estímulos. Estímulos para viver. Estímulos para sofrer. Estímulo para fazer qualquer coisa, não importa. Só tenho certeza de uma coisa: nem sempre esses estímulos são benéficos.

Uma emoção leva a outra. Uma só frustração desencadeia uma série de desventuras que só podem ser quebradas com muito, muito esforço. Falo isso com certa autoridade por já ter vivido um pouco de tudo nessa vida.

Não cheguei a mencionar, mas moro com minha tia-avó. Minha única parenta viva.

Sobre minha família, eu não sei nem o “n” do nada. Simplesmente moro com tia Ellana desde que me entendo por gente. Nunca questionei muita coisa. Simplesmente fico em silêncio fazendo minhas próprias deduções.

Não acredito que eu venha de uma família tradicional, daquelas certinhas que se vê em filmes. Como sei? Sinto isso.

Talvez eu seja uma das poucas que dá atenção aos sinais que são enviados no cotidiano para certas perguntas silenciosas. São esses sinais que me dizem que o que procuro não está em um grupo familiar feliz. Ou talvez esteja, e meus olhos estejam tomados demais pela realidade para encarar os fatos. Ah, não sei o que contar nesse exato momento. Parece que as palavras que antes fluíam com tanta naturalidade sumiram e levaram o significado de tudo com elas.

Algo está mudando em mim, só sinto isso. Pode estar apenas crescendo, como uma semente que há muito tempo foi plantada, mas mesmo assim, estou sentindo. E esse sentimento não é de alegria, é de frustração. Ansiedade. Medo do desconhecido. E, acima de tudo, medo de não suportar minhas próprias ações.



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Notas finais do capítulo

Bem, mais um capítulo que explica um pouco mais o cotidiano/vida da Ennie. Espero que consigam chegar até o final sem desanimar. AHSUAHS s2 Até a próxima.



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