A Utopia do Perigo. escrita por Raissa Muniz


Capítulo 13
Visitas


Notas iniciais do capítulo

Tá um horror, mas eu tenho bom motivo: estou doente (dengue), sem conseguir escrever direito e aquela coisa toda. Dedicatória do capítulo: bellskodel (desvendeu o enigma)



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Não consegui segurar as extremidades do tempo e como qualquer elemento básico, ele passou e, no entanto ainda permanecia ali, amassando algumas esperanças que eu construía desde criança.

A vida naquela pequena cidade deu grandes reviravoltas depois de todo aquele alvoroço e as pessoas agora pareciam não querer me matar — pelo contrário, estavam todas com pena de mim. Claro que eu ia preferir se ficassem no meio termo, mas enquanto isso não acontecia... Era melhor esperar e se agarrar ao tempo.

De novo, só pra variar.


Todos na escola já sabiam do acontecido, mas nenhum dos meus “colegas” passou pelo menos perto do meu bairro. Pra ser sincera, os habitantes da cidade estavam fazendo esforço pra não se aproximarem de lá desde o ocorrido. Provavelmente estavam com medo de serem os próximos. Ou de um deles ser o coração do retângulo, não sei.

Ah, agora que finalmente citei o coração, posso esclarecer mais uma coisa que descobri com o passar dos dias: embora tenham sido encontrados muitos órgãos, a ponto de formar um corpo humano, um dos mais importantes não tinha sido encontrado: o coração. E uma única casa no bairro inteiro não havia sido presenteada com um banho de sangue. É, pode parecer estranho, mas a casa era a do pastor Harris, e definitivamente ele não acreditava que seria o próximo a receber a visita. Suas preces haviam espantado o agressor uma vez e poderiam muito bem espantar novamente, era o que ele dizia para todos nos cultos de domingo.


Caro leitor, só para privá-lo de mais informações sobre esse fato tão instigante, vou voltar para as minhas visitas e talvez você consiga desvendar alguma coisa disso tudo.


Como eu estava dizendo, ninguém teve a coragem de me visitar até ali, exceto a Leka que parecia querer morar comigo. Bem, pra falar a verdade... Quase ninguém. Eu quase me esquecera, mas a turminha da bagunça que formava o corpo docente da escola surpreendeu todos os moradores quando chegaram em uma vã com o nome da escola em letras grifadas. E eu, claro, tive vontade de me trancar no quarto, pensando que teria que voltar pra lá naquele estado.

Só não me arrastei de volta pro meu quarto porque Leka estava comigo na sala e me repreendeu com uma cara que estava me chamando de paranóica.



— Entrem e não se acanhem. — Falou tia Ellana após abrir a porta e quatro funcionários da escola surgirem de lá.

— Acanhem-se sim! — Supliquei baixinho, o que fez Leka fazer uma cara de desentendida e ir à direção da cozinha, me deixando sozinha para recebê-los.


— Olá, Ennie. — Cumprimentou a diretora com um sorriso culpado de quem não estava certa se o meu nome era realmente Ennie.

— Oi. — Respondi com educação, me limitando a olhar os outros.


— Ela já está terminando a medicação? — Perguntou uma voz muito conhecida. Era a sra. Carter.


Ouvi Leka se engasgar com água lá na cozinha enquanto a professora de Biologia continuava a falar. Pedi licença e me retirei, girando as rodas da cadeira até a cozinha.


— Mano, ela ta aí... — Começou Leka. Ela estava pálida e conseguiria se passar por doente só pra cabular aula, se quisesse.

— É, está sim... — Falei com certa indiferença. — Mas por que está... Morrendo? — Perguntei, sorrindo da expressão assustada que Leka fazia agora.

— Sabe como tenho medo dela. — Explicou, dando de ombros.

— Ahn... Não é mais coisa pra nossa idade, mas... — Eu disse, sorrindo.

— Meninas, venham aqui! — Chamou tia Ellana. — A sra. Carter quer vê-las!


— Ah, eu não vou. Não vou, não vou e não vou. — Falou Leka, com uma expressão horrorizada.

— Eu não vou sem você. — Apressei-me a dizer também.

— Então se cuida, porque eu posso correr; você não.

— E agora?

— Não sei. Mas apesar de tudo, foi bom te ver e eu tô caindo fora.

— Não faz isso, Leka. — Pedi com uma cara de cachorro rejeitado.

— Então inventa alguma coisa.

— Meninas! — Tornou a chamar tia Ellana. — Sra. Carter, deve ser a Ennie com problemas pra sair com a cadeira. Por favor, me acompanhe que eu mesma levo-lhe até ela.

— AAAAHHHHH ENNIE! — Gritou Leka, desesperada.

— Calma, ela não vai te tirar pedaço.

— Não me sinto bem, isso é que importa. Posso pular da janela da cozinha? — Perguntou ela com uma cara de quem realmente estava avaliando a situação.

— Não é hora pra brincadeiras e...


— Ah meninas, vocês estão aqui. — Falou uma animada sra. Carter, deixando Leka com as pernas trêmulas.

— Oi, professora. — Cumprimentei, tentando ser gentil. — Como estão as coisas na escola?

— Vão bem, pra falar a verdade. E você, como vai?

— Eu? Vou bem... — Eu disse, mas antes que eu pudesse terminar de falar, a diretora já estava chamando pela Carter na sala e ela e tia Ellana saíram da porta da cozinha. — Eu acho. — Completei baixinho, virando-me para Leka.

— Ahn, pra não acontecer novamente, vamos pro seu quarto. — Sugeriu Leka, ajudando-me no percurso até o meu refúgio.



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Notas finais do capítulo

Espero que gostem e até eu melhorar. (: