Aquele dia amanheceu idêntico ao anterior para Bella. Acordou cedo e ajudou seu pai com as caixas. Depois de deixarem sua mãe na casa dos Hale, ela e Charlie foram vender o leite. Não sobrou nenhuma garrafa esta manhã e Bella foi para a casa dos Hale com a barriga roncando.

Outra vez as empregadas estavam alvoroçadas. Comentavam sobre os jovens belíssimos, amigos do jovem senhor e algumas comentavam a noite que tiveram com eles. Idiotas. Dormiam com aqueles homens que provavelmente nunca mais veriam na vida e, dois meses depois, estavam doentes e tomando remédios para abortar a criança indesejada.

Bella se concentrou em ajudar sua mãe, ignorando aquelas criaturas patéticas. Houve trabalho a tarde inteira. Depois do almoço, o lanche e depois o chá. O estomago de Bella continuava a roncar enquanto ela sentia os cheiros tão gostosos. Ela não se importava muito, já houve tempos piores e ela aprendeu a suportar a fome.

- Bella, vista o uniforme da Mary. Você vai servir o café. – Sua mãe ordenou.

- Por que eu? – Bella choramingou.

Não queria ser alvo dos olhares maliciosos da jovem senhora. A Srta. Rosalie tinha muita implicância com Bella, sempre que a via pela casa, mas Bella não sabia o porquê.

- Por que você é a única que cabe no uniforme daquela idiota. A garota fica doente e resolve me dizer agora, de ultima hora. Vai ter que ser você. Anda logo menina. – Dava para ver que Rennée estava mal-humorada e não queria contrariá-la, por isso foi calada.

Vestiu o uniforme impecavelmente limpo da empregada e voltou para a cozinha. Sua mãe já preparara a bandeja do café e Bella a pegou, desgostosa, levando-a para a sala.

Entrou discretamente e pousou a bandeja numa mesa do canto, sem se dar conta do olhar que a acompanhava a cada movimento. E não era Rosalie que olhava.

Bella serviu o café nas xícaras e entregou-as uma a uma. Dessa vez ela reparou que o olhar de um dos jovens senhores Cullen estava fixo nela.

Ele era realmente lindo e Bella esqueceu-se de respirar ao entregar-lhe a xícara. Sugou o ar repentinamente e sentiu o cheiro maravilhoso que ele exalava. Ficou atônita por um segundo e se afastou depressa, com medo de fazer alguma besteira ou derrubar alguma coisa.

Reparou também que Rosalie a encarava, de cara feia. Provavelmente percebera o olhar também.

Edward estava encantado com a jovem que acabara de entrar com a bandeja. Como ele não a vira antes pela casa? Ela era muito pálida e tinha olhos muito vivos e espertos. Gostaria de tê-la como companhia em sua cama hoje.

Quando Bella terminou de servir o café e saiu para a cozinha, Edward a seguiu, dizendo intentar uma ida ao toilet. Ela andava apressada pelo mesmo corredor onde ele avançara para Mary na noite anterior.

- Espere. – Ele a chamou como chamou a outra.

Bella se voltou delicadamente e parou, encarando-o. Edward se aproximou cada vez mais e, quando estava próximo o suficiente para ouvir sua respiração acelerada, Bella recuou um passo.

- O que deseja senhor? – Ela perguntou formalmente.

- Qual é o seu nome? – Começaria de forma diferente com esta, que parecia mais esperta do que a do dia anterior.

- Creio que meu nome não tem importância para um homem como o senhor, mas se quiser algo da cozinha... – Ela começou e Edward a interrompeu.

- Quero saber o seu nome senhorita. – Ele insistiu sorrindo de canto. Bella se perdeu olhando para sua boca por uns dez segundos antes de respirar fundo e responder.

- Isabella senhor. Mas todos me chamam de Bella. – Ela resmungou contra a vontade.

- Seu nome combina com você Srta. Bella. – Edward elogiou. Bella corou.

- Eu tenho de voltar para a cozinha senhor, minha mãe me espera para terminar as minhas tarefas. Diga-me o que deseja. – Bella pediu nervosa.

- Desejo sua companhia em meus aposentos esta noite. – Ele disse enquanto encarava-a com intensidade e esperava ansioso pela sua resposta positiva. Pelo menos era isso que ele achava.

Bella encarou-o chocada por um instante antes de dar-lhe uma leve bofetada. Bella era forte, já que trabalhava pesado todos os dias, mas não teve coragem de dar um soco em um rosto tão perfeito.

- Como ousa? Posso ser uma serviçal inferior senhor, mas não sou uma vagabunda como as garotas sem família que trabalham nesta casa. A Sra. Hale é muito generosa em dar-lhes emprego e um teto, mas eu tenho família e não permitirei que se dirija a mim desta forma! – Seu pequeno discurso veio carregado de orgulho e ultraje. Edward com certeza ofendera a moça com um pedido tão impertinente, mas Jasper havia dito que todas as empregadas da casa eram garotas sem pais que não se importavam na cama de quem iriam dormir naquela noite. Certamente ele errara com Bella e Edward se sentia mortificado.

Bella se virou para continuar a andar de volta para a cozinha, irritada. Edward foi atrás dela e a segurou pelo braço.

- Perdoe-me a impertinência Srta. Bella. Eu não tinha a intenção de ser mal-educado. – Ele falou.

- Como não tinha intenção de ser mal-educado abordando uma jovem em um corredor escuro com proposta tão ultrajante? – Ela rebateu, livrando o braço.

- Jasper me disse... Sinto muito. Sei que a senhorita não é qualquer uma. Agi mal... Perdoe-me. – Ele pediu.

Perecia tão sincero e envergonhado que Bella cedeu. Com certeza pensara que ela era mais uma das garotas que a senhora Hale adotava.

- Está perdoado senhor Cullen. – Ela falou esboçando um leve sorriso. Edward riu de alivio.

- Há até certa poesia nisso. Uma donzela abordada no escuro por um homem ignorante. – Ele fez graça. Bella riu.

- Tenho certeza de que o senhor não é ignorante senhor e nada sei sobre poesia, apesar de apreciar os versos Sr. William Shakespeare. – Ela falou sorrindo para ele.

- Conhece os versos do Sr. William? – Edward perguntou impressionado.

- E quem não conhece senhor? Seria um absurdo! – Bella exclamou chocada. Ela parecia tão irritada que Edward riu.

- O Sr. William adoraria saber que seria tão bem defendido assim no futuro. – Ele falou divertido.

Nessa hora ouviram passos no corredor e Jasper apareceu.

- Pensei que estivesse passando mal Edward. – Ele falou olhando de Bella para Edward e de volta.

- Estou bem Jasper. Já estou indo. – Edward falou. Jasper lançou aos dois mais um olhar curioso e se foi.

- Você estará aqui amanhã? – Edward perguntou.

- Tenho certeza de que Mary estará melhor pela manhã. Eu apenas a substitui, costumo ficar apenas na cozinha. – Bella respondeu.

- Pode aparecer para conversarmos mais, aqui mesmo, depois que o café for servido? – Ele perguntou.

- Não sei, tenho trabalho a fazer. – Ela falou pensativa.

- Esperarei que venha. – Ele falou confiante. Pegou a mão calejada de Bella e a beijou, ao que a garota se afastou para a cozinha meio tonta.

Edward ficou observando-a sumir pelo corredor e em seguida se voltou para retornar à sala. Deu de cara com Jasper que o observava.

- Você me assustou. – Ele exclamou.

- Perdão, mas tenho algo a dizer. Não mexa com Bella Swan. A mãe dela é uma de nossas mais antigas empregadas e ela é uma boa garota. Os pais se sacrificaram muito para educá-la, a garota sabe até ler, coisa incomum entre garotas pobres como ela. Contente-se com as outras empregadas, temos muitas. – Jasper tentou fazer com que aquilo não soasse como um sermão, mas era isso que era.

- Eu não vou tocá-la Jasper. Apenas gostei de sua companhia. É muito inteligente e compartilhamos gosto por poesia. – Edward respondeu prontamente. Certamente que não tinha desejo de se aproveitar da moça, apesar de ainda suspirar ao imaginá-la na sua cama.

- Espero que não. – Jasper falou e saiu na frente.

Edward voltou para a companhia dos amigos e das senhoras. Entrando animadamente na conversa que estavam tendo sobre música.

Ele não teve companhia em sua cama esta noite, mas foi por vontade própria. Queria um pouco de paz para sonhar dessa vez.