Um Novo Começo escrita por hachiikko


Capítulo 4
05.08 - Surpresa


Notas iniciais do capítulo

Reescrito em 2018.



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05/08 - 16:45

Diário,
   Nada de novo ou de emocionante ou de inesperado aconteceu hoje, ainda estou deprimido por ontem. Dia cruel. Que me deixo profundamente triste. Nada demais aconteceu no colégio hoje. Acho que já disse isso. Já estou em casa, dentro do meu quarto. O sol brilhava fortemente, o céu estava tão claro sem uma nuvem nele, os pássaros estavam alegres. Como se não bastasse, até o dia me deixava deprimido. Indo para o colégio eu vi casais andando de mãos dadas e até mesmo um casal se beijando. Não sei como é, se não bastasse meu dia ruim fiquei pensando em como nunca tinha arrumado alguém para mim e acabei ficando mais triste.


    Mudando de assunto, fiquei fugindo de olhares suspeitos durante o dia todo, de todos que pudessem começar a suspeitar algo de mim já que no dia anterior fui um covarde e me escondi. Tinham pessoas na minha sala que me olhavam com desprezo e tenho a impressão de que algumas meninas me olhavam com um certa expressão de inveja. O Tora não apareceu no colégio hoje. Nem o menino que praticamente me bateu por ter esbarrado nele. Nem aquele que corria engraçado na aula de educação física. E aquele outro simpático das calças justas também não foi. Faltaram muitas pessoas hoje. Deveria ter faltado também. Imagina se o Tora fosse ao colégio, o clima ruim que iria ficar. E todo mundo percebendo tal clima. Ainda bem que ele não foi. O que pra mim foi muito bom, já que eu não saberia como encará-lo depois de ontem. Ele ter entrado no banheiro, me olhado e devolvido o caderno. Pensando nisso não o vi ontem após do incidente.


   Depois das aulas eu fui ficar lendo em baixo de uma árvore. O que foi muito bom, pois adiantei minha leitura que estava atrasada devido a mudança. Não procurei nenhuma oficina para mim, se bem que ainda estou interessado na de música. Semana que vem resolvo isso. Juro que algo incrivel aconteceu.  na hora em que me levantei para ir embora comecei a escutar uma música. Deve ser impressão da minha cabeça porque naquele horário a sala de música estava vazia.


   Ainda estou comendo brigadeiro, aquele mesmo que fiz ontem. Não sou de comer muito, por mais fome que eu tenha como muito pouco. Acho que isso ajuda eu continuar magro. Porém agora eu só como para me manter calmo.


   Como eu odeio não ter nada para fazer. Essa sensação de não saber o que fazer, de não ter nada para fazer. Às vezes não ter nada para fazer é bom, quando está cansado e quer relaxar, estudou muito e precisa da um tempo ou simplesmente quer relaxar. Já fiz o pouco trabalho de casa que tinha. Talvez desenhar um pouco me ajude a relaxar. Onde será que enfiei o caderno? Não sei onde está, nem estou com vontade de procurá-lo agora. Devo ter deixado dentro da mochila que deixei jogada no chão do quarto. Vou ter que adiar minha tarde de desenhos mais um pouco até achá-lo. Se bem que quanto menos pensar no Shinji melhor e na hora que eu abrir o caderno vou lembrar dele.


   Tenho a impressão de estar repetindo algumas coisas. E tenho a impressão de que não são poucas.


   Tudo bem. Está certo. Não gosto de deixar as coisas mal interpretadas. É verdade, eu nunca beijei ninguém. Não sei como é, nem tenho a curiosidade. Já tive oportunidades com umas meninas do meu antigo colégio, mas sempre fugi delas. Nos dias de hoje beijo virou algo tão vulgar. Não existe mais um laço entre uma pessoa e outra. Se você quiser sair beijando na boca de desconhecidos você pode. Para a minha pessoa isso não é nada correto. Irei beijar quando achar a pessoa certa. Aquela pessoa que se importe comigo, que me proteja independente da situação, que não tenha vergonha de estar andando ao meu lado e que me olhe mostrando interesse. E não apenas esteja comigo por interesse próprio, que assim que conseguir o que quer irá me deixar. Senão o beijo não passará de uma troca de saliva. Se você pensar bem se eu cuspir na mesa e a pessoa lamber é o mesmo que um beijo. Troca de salivas e de bactérias. Não sei como as pessoas gostam tanto disso.


   Minha cabeça dói, não consigo me concentrar direito. Concentrar em que? Só quero paz e sossego. E minha mãe não para de gritar com meu irmão. Não devo ter comentado que tenho um irmão, porque quase nunca o faço. Ele tem 21 anos e mora em outro país. Por causa do trabalho fica migrando de país em país. Fotógrafo. É um grande fotógrafo por sinal. Mas deveria parar de gastar todo lucro com mulheres que só vê uma vez, comidas absurdamente caras e coisa inúteis para decorar a casa que são altamente desnecessárias. Ai sim seria um excelente fotógrafo. E toda vez que ele volta, eles brigam. E ele joga na cara dela que ela está desempregada, fazendo-a chorar e piorar o estado depressivo. Agora sabem do por que agir como se não existisse irmão. Vou lá tentar amenizar as coisas, ver se ela melhora.

[...]

   Odeio meu irmão. Como ele consegue ser tão indiferente a nossa família? Me irrita profundamente. Ele diz que não se importam com ele. É muito irritante fazer drama para que te dêem mais atenção. Faça por onde para merecer. Não suma por cinco meses sem dar noticias, ligue para avisar que está bem. Queria ser como o Teko. Deitado em sua cama, sem se preocupar com o barulho alheio. Continua deitado dormindo apesar dos barulhos fortes vindo do andar de baixo. Tendo comida na hora que latir, bebendo água o dia inteiro, deitando em cima de cadernos. Que...Só um minuto.


   Dá pra acreditar? O Teko estava deitado em cima do meu caderno de desenhos. Eu o acordei puxando o caderno de baixo dele e ele me olhou com uma cara de que estava tendo um sono bom. Realmente seria impossível de achar, se ele cobria tudo com seu pêlo achocolatado. Porque ele levantou a saiu correndo? Ah, meu pai chegou. Consigo escutar o som da voz dele lá de baixo. Vou lá falar com ele. Acho que é o primeiro dia que ele chega e eu estou acordado, não posso desperdiçar esse momento raro. Até mais.

— Murai Naoyuki


Capitulo 6

05/08 – 23:58



Diário,

  Já disse e não canso de dizer que meu irmão é um incompetente. Sério, sinto um desgosto em chamá-lo de irmão. Meu pai chegou em casa cedo, isso é algo que acontece esporadicamente. Ainda mais eu estar acordado para vê-lo. Geralmente já estou dormindo, é a minha mãe que sempre espera por ele acordada. Nós ficamos conversando antes de minha mãe servir o jantar e podendo ter um jantar tranqüilo para todos falarem de seu dia não. Não poderia ser tranqüilo. Ele tinha que criar discórdias à mesa. Por isso que meu pai é meu herói. Vendo que minha mãe já estava cansada de discutir com ele retrucava simples e com um sorriso no rosto.


   Foi nessa hora que aconteceu algo MUITO bom. O sorriso do meu pai, não dá para explicar. Só vendo mesmo, mas é aquele sorriso que te faz bem ao ver. E como não tenho o visto muito ultimamente, tive a idéia de pegar meu caderno e desenhá-lo para poder guardar aquela expressão em minha mente o mais detalhada possível. Enquanto a minha mãe retirava os pratos e meu irmão debatia com o meu pai sobre como ele tinha razão sobre os juros que iriam subir eu corri para o meu quarto, para pegar o caderno. Com ele em mãos apanhei meu estojo também e assim desci correndo. Não queria perder mais nenhum minuto longe dele. Quase cai descendo as escadas correndo, com Teko embolado nos meus pés. Ele me vê correndo e acha que é para brincar.


    Cheguei ofegante a mesa e meu irmão fez alguma piadinha. Meu pai sempre gostou dos meus desenhos, sempre via meus cadernos. E somos capazes de ficar conversando horas sobre os meus desenhos sobre onde eu estava, porque resolvi desenhar aquilo, o que senti quando desenhei. Mas o caderno é novo por isso não possui tanto desenhos, tem três desenhos de árvores, outros dois de parques, uns três do Teko correndo, brincando, dormindo e do Shinji. O desenho do Shinji eu havia feito de cabeça quando cheguei em casa na primeira vez que o vi. Ele estava sentado na grama encostado na árvore com a camisa meio aberta com uma garrafa na mão, um cigarro na outra e o cabelo meio bagunçado. E foi exatamente nessa página em que abri. E um pedaço de papel caiu no chão, achei estranho, pois não havia guardado nada dentro do caderno. Peguei e vi que era um pedaço de papel dobrado com algo escrito dentro. E foi então que eu vi.


  Era um bilhete do Shinji. ELE ESCREVEU ALGO PARA MIM. Tudo bem, eu surtei de leve. Na verdade ainda estou surtando, por isso ainda não consegui dormir. Na hora em que eu li meu rosto se iluminou, mas como eu estava meio abaixado meu pai perguntou o que tinha acontecido. Eu voltei a realidade e guardei o pequeno bilhete no bolso do meu short. Desenhei meu pai com todo meu coração, tenho certeza de que é um dos meus melhores desenhos, senão o melhor. Logo que acabei de desenhar deveria ser umas quase dez horas e disse que iria vir dormir. E estou desde então aqui lendo e relendo o bilhete. Ah, não disse o que estava escrito. A letra dele é linda, é escrita com força, mas é suave. Não sei explicar. O bilhete havia sido escrito num pedaço de folha de caderno rasgado e dobrado. O mesmo dizia: “Bonito desenho. Da próxima vez peça, eu não mordo.” Nem é necessário mencionar o sorriso de orelha a orelha que está estampado em meu rosto, certo? Vou sonhar com poses pra ele fazer pra mim e eu o desenhar. Mas primeiro preciso criar coragem de chegar perto dele e iniciar um dialogo decente.


— Murai Naoyuki


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Notas finais do capítulo

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