Coração Satélite escrita por Ayelee


Capítulo 14
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Que tal uma atualização pontual, só para quebrar a rotina? Hehe.
Este capítulo está bem interessante, uma verdadeira guinada na vida de Ally. Espero que gostem e compreendam a razão dos acontecimentos.
Obs: A trilha sonora merece uma atenção especial neste capítulo.
Não deixem de comentar!
Boa leitura!
—________________________
Trilha Sonora:

Whisper A Fine Frenzy
Memories David Guetta
Angel - Aerosmith



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/96962/chapter/14

Fortaleza – Brasil

Ally PDV

Sinto como se estivesse num limbo. Presa em um redemoinho de emoções e incertezas, lutando para ficar fora da rota de colisão desses sentimentos potencialmente destruidores. Desesperadamente fugindo da realidade como se, de alguma forma, o destino fosse me conceder a indulgência de não precisar fazer escolhas e – mais importante – lidar com as conseqüências de minhas próprias decisões.

Minha forma de escapismo favorita – o trabalho – já não está produzindo o efeito de distração que antes era infalível quando eu precisava de uma arma potente para combater meus intensos conflitos internos, minhas dúvidas sobre Davi e meu envolvimento com minha obsessão secreta por Roger.

O trabalho já não convence mais como desculpa para evitar o convívio social, que para mim agora só significa uma coisa: interrogatórios. Todos exigem explicações sobre meu exílio voluntário dentro da minha própria casa. Fujo dessas situações como o diabo foge da cruz.

O cálculo é bem simples: sempre que alguém encontrava comigo, a inevitável pergunta era lançada. “Por que você sumiu?”. Em seguida eu era obrigada a inventar uma resposta socialmente aceitável do tipo “Ando muito ocupada”, que no fundo quer dizer “Esquece, não vou contar para você nem para ninguém meus motivos.” O que automaticamente me leva a questionar comigo mesma esses motivos.

Mas essa minha atitude está pesando na consciência. Não é justo com as pessoas que amo e que se importam comigo. São elas que ajudam a reunir meus caquinhos quando as circunstâncias da vida eventualmente me deixam em pedaços. É minha mãe que me oferece seu colo e fala as palavras certas sem que eu precise abrir o coração e expor minhas feridas. Ela simplesmente sabe a hora certa de colocar suas habilidades maternas em prática. Quando faço besteira e o arrependimento bate, me fazendo sentir a criatura mais idiota do planeta, Anita está do meu lado me lembrando que errar é humano e que todos temos o direito de nos enganar. Helena está do outro lado só para garantir que eu não cometa o mesmo erro novamente. E Daisy é aquela que me manda deixar de ser dramática e dá um jeito de levantar meu astral planejando algum tipo de reunião de cúpula, ou uma viagem de fim de semana ou uma balada só para que eu recupere a autoconfiança e siga em frente.

Com essas pessoas eu não posso simplesmente ligar o “Dane-se” e inventar uma desculpa qualquer. Elas querem o meu bem. Elas merecem mais do que um “Ando muito ocupada.” Elas merecem a atenção e dedicação que eu venho lhes negando a algumas semanas. Preciso consertar isso.

Já passou do Natal e eu continuo feito uma idiota lutando contra a verdade que está estampada diante de mim, clara como o sol: sou uma covarde. Tenho medo de abraçar a felicidade e não saber o que fazer com ela e correr o risco de perdê-la depois. Isso eu não agüentaria. Era melhor levar essa vidinha realizada pela metade, me alimentando dos pequenos prazeres que a realização profissional e a companhia de amigos me proporcionavam.

Todo esse tempo, quase um mês depois da conversa decisiva com Davi - e de ter enviado a última correspondência para Roger – tentei desesperadamente retardar a decisão que teria o potencial de transformar minha vida igualmente em um mar de rosas ou em um verdadeiro inferno. Eu só precisava dizer “Sim” para sair desse círculo vicioso que não está me levando a lugar nenhum.

Desde nossa conversa reveladora na Ponte dos Ingleses, Davi não desistiu de provar para mim - à sua maneira – que podemos dar certo juntos. Ele me liga quase que diariamente para conversar os assuntos mais variados. Pude conhecer um lado de sua personalidade ao qual nunca tive acesso. O Davi divertido, responsável, até mesmo carinhoso.

A princípio me sentia desconfortável e evitava a todo custo atender suas ligações. Depois, mais pela falta de desculpas do que por qualquer outro motivo, eu simplesmente baixei a guarda e permiti sua aproximação sutil. Devo admitir que estou surpresa com a paciência com a qual Davi tem lidado com essa minha atitude pouco interessada e entediante. O que não deixa de ser um ponto positivo que conta a seu favor.

Toda essa atenção dele, de certa forma me ajudou a reprimir uma pequena parte de mim que estava incomodada com a ausência de resposta de Roger. Ou do impostor, que seja. Fazia quase um mês que eu havia respondido sua carta e até agora nenhum sinal de sua resposta. Nem mesmo um ultimato exigindo o fim dessa ‘brincadeira’ de correspondência à moda antiga. Nada. No fundo eu acreditava que meu atrevimento pudesse surtir um efeito negativo que o fizesse desistir de dar cabimento a uma desconhecida que falava coisas sem sentido e mandava fotos malucas. Talvez fosse melhor assim, mas no íntimo, bem escondido em minha alma, eu desejava loucamente que fosse Roger de verdade e que ele continuasse me escrevendo, que eu fosse a pessoa que ele escolheu para compartilhar esse pequeno segredo e mostrar um lado dele que ninguém mais conhecia. Nos meus sonhos mais loucos, eu esperava receber um cartão de Natal ou algo do tipo. Muita pretensão da minha parte. Mas não conseguia evitar me sentir assim.

E foi movida por esse sentimento, que na véspera de ano novo, cansada de esperar por uma posição da parte dele que decidi procurar saber o que estava acontecendo em sua vida nas últimas semanas. Quem sabe assim eu encontrasse uma explicação para sua aparente indiferença. Ele poderia estar muito ocupado com o trabalho, ou viajando, sabe lá quantos compromissos uma celebridade como ele deve ter. Enchi-me de coragem e acessei ao fã-site, à procura de alguma notícia animadora.

Percorri os posts do mais recente até os mais antigos, ignorando as notícias bobas de prêmios irrelevantes ou de revistas adolescentes questionando se R-Peter perderia seu trono de ídolo teen para um novo rostinho bonito que surgiu em Hollywood.

À medida que os posts aproximavam-se da data em que enviei a carta para ele e da data aproximada em que eu deveria ter recebido minha resposta, a presença do nome de Cathy Seymour tornava-se mais constante entre as notícias. Em ordem decrescente de período, uma a uma eu ia lendo, e um embrulho ia se formando em meu estômago, como se eu estivesse me preparando para alguma notícia terrível. “CatSey vai às compras com as mulheres do clã Peterson”, “R-Peter leva sua CatSey para jantar no Ritz”, “R-Peter e Catsey em noitada entre amigos em Londres”...

Meu coração quase parou quando me deparei com a possível e mais provável razão do fim de minha breve aproximação com Roger Peterson: “R-Peter e CatSey oficializam seu compromisso de mais de um ano com um belo anel de noivado.”

Uma corrente elétrica percorreu a superfície da minha pele, o sangue circulava gelado por minhas veias. A visão ficou turva por alguns segundos, a boca seca, eu sentia como se estivesse realmente passando mal.

De repente uma onda de pânico tomou conta de mim. Joguei-me em minha cama, enfiando o rosto no travesseiro para sufocar os soluços altos que brotavam do meu peito. Eu chorava copiosamente, tremendo o corpo inteiro, até perder o fôlego, para em seguida encher o pulmão novamente e começar outra rodada de soluços. Chorei até cansar, até que quase não conseguisse abrir os olhos, de tão inchados que eles estavam.

Agora tudo fazia sentido. Ele não havia se dado ao trabalho de me responder por que simplesmente não fazer mais sentido perder tempo com distrações como escrever cartas bobas para uma garota que mora do outro lado do mundo e não significa absolutamente nada para ele. Ele estava ocupado demais com sua noiva para lembrar disso.

Também, o que eu estava esperando? Que Roger Peterson fosse deixar sua bela namorada famosa, rica, linda e perfeita? Que um cara como ele ficaria solteiro pelo resto da vida? Claro que não. Mais cedo ou mais tarde uma mulher tão maravilhosa quanto ele o fisgaria e faria o que qualquer mulher de bom senso faria: casaria com ele.

O que me surpreendeu foi minha reação exacerbada. Que diferença isso faria na minha vida além de dar um fim precoce ao meu passatempo favorito? Eu deveria saber desde o começo. Eu não tinha o direito de me chatear dessa maneira, mas aqui estou eu, ridiculamente jogada em minha cama, chorando as pitangas pelo noivado de uma celebridade.

“Ainda bem que nunca contei a ninguém quão obcecada eu sou por esse cara.” Pensei aliviada. “Pelo menos não preciso dar explicações a ninguém por isso.”

Seria difícil abrir mão desse meu mundo particular de ilusões, onde eu podia ser amiga do meu ídolo-paixão-platônica, onde eu compartilhava com outras fãs minha obsessão por tudo o que ele fazia, mas especialmente deixar para trás esse sonho de sentir-me mais próxima dele. Eu sabia o que fazer, e dessa vez não voltaria atrás. Não podia mais deixar que essa obsessão por ele interferisse ainda mais em minha vida.

Não deixaria mais de sair com minhas amigas para esperar o maldito correio, só para me chatear ao não ver o envelope azul entre as correspondências da casa. Não iria mais interromper meu trabalho para assistir algum filme ou evento na TV só por causa de sua participação. Não perderia mais meu tempo imaginando cenários diferentes para tirar fotos interessantes para enviar para ele. Acabou.

Precisava dar adeus a Roger Peterson.

E como um quebra-cabeças que vai juntando suas peças e ficando mais fácil de montar à medida que chega ao final, comecei a perceber que parte de mim começou a rejeitar Davi a partir do momento que encontrei Roger pessoalmente.

Na minha cabeça, Davi nunca seria perfeito como Roger. Mas eu estava me enganando, pois nunca poderia estar próximo o suficiente dele para conhecê-lo melhor. Eu sabia que, se conhecesse Roger intimamente, tão próximo quando conheço Davi, sem dúvida veria que ele não é tão perfeito como eu imagino que seja. Mas agarrei-me a essa idéia por todo esse tempo e agora parecia muito claro para mim.

Meu coração acelerou um pouco os batimentos quando finalmente constatei o óbvio, superei meus temores e decidi dar uma chance ao destino. Davi merecia uma oportunidade de provar que era capaz de me fazer feliz e eu não lhe negaria mais algo que ele tem me oferecido com tanta dedicação: paciência.

Adormeci com o coração aliviado, em paz comigo mesma, visualizando um horizonte bastante amplo para meu futuro.

No dia seguinte, a excitação dos preparativos para a virada do ano com minha família me ocupou o suficiente para manter os pensamentos afastados dos assuntos que afligiram meu coração no dia anterior. Já havia combinado com Helena, que continuava solteira, e Anita, que este ano passaria a virada do ano longe de Miguel, que estava viajando com a família: depois da ceia e da contagem regressiva, nos reuniríamos na festa especial de Réveillon do Órbita, melhor pub da cidade, para começar o ano com o pé direito, cheias de boas vibrações e festejando de verdade.

Vestida em um tubinho colado branco, com decote do tipo ‘coração’, acessórios dourados e uma sandália altíssima verde jade, que subia por meus tornozelos e até quase alcançar a panturrilha, peguei emprestado o carro da minha mãe e busquei as meninas para irmos juntas ao pub.

Chegamos ao local com o som do carro bombando nossas músicas favoritas. Da rua já podíamos perceber o burburinho das pessoas na fila para entrar no estabelecimento. As atrações da noite eram os melhores DJs da cidade e uma banda dessas que toca os maiores hits do momento, para garantir que ninguém ficasse parado.

O pub estava lotado, repleto de gente bonita e bem vestida, todos distribuindo cumprimentos de feliz ano novo, estranhos se confraternizando como se fossem conhecidos de longa data. Eu e as meninas entramos no clima, serpenteando entre as pessoas que jogavam sinuca no ambiente próximo ao bar principal até chegarmos ao nosso lar: a pista de dança. O DJ mandando as músicas mais populares e a cada novo hit que tocava o público soltava exclamações de aprovação e se jogava na dança.

O sistema de refrigeração central não estava dando conta do calor gerado por tantos corpos dançando freneticamente, como se fosse o fim do mundo, e não a passagem do ano. 

Depois que Anita foi até o bar pegar nossos drinks, uma batida familiar começou a tremer o chão da pista de dança, o público foi à loucura e logo reconhecemos a melodia. Começamos a gritar e nos abraçar feito um bando de loucas quando reconhecemos a trilha sonora de nossa viagem, “Memories” do David Guetta.

Pulávamos, rodávamos e ríamos cantando o refrão da música como se não houvesse mais ninguém no recinto além do Euro Trio Feliz.     

“All the crazy shit I did tonight. Those will be the best memories. I just want to let it go for a while…”

 Ao final da música, exasperada  - e descabelada – afastei-me da pista de dança e fui até o bar central, que ficava próximo à área onde as bandas se apresentavam. Havia um banco desocupado e sem hesitar, apossei-me dele, sentando-me confortavelmente com as pernas cruzadas. Pedi uma cerveja para me refrescar e fiquei bebendo distraída, observando o movimento de pessoas ao redor do bar. Minha vista percorreu o local sem um foco específico, apenas admirando a excitação das pessoas, os sorrisos, as reações exageradas daqueles que já tinhas bebido mais do que deveriam.

Meu olhar foi repousar em uma figura conhecida, que me estudava de longe, do outro lado do balcão, com um olhar fixo, obstinado, e atrevo-me a sugerir, um pouco possessivo. Davi estava absolutamente lindo vestido em uma camisa fina de algodão branca, com os primeiros botões abertos, deixando exposta uma parte de seu tórax onde repousava seu escapulário dourado, chamando ainda mais a atenção para aquela parte especial de seu corpo.

Ele sorriu torto quando nossos olhares cruzaram e levou a long neck à boca, tomando um longo gole de cerveja, sem quebrar o contato visual. Senti uma onda gelada descendo pela coluna e meu estômago começou a se contrair produzindo uma sensação estranha, como se borboletas voassem lá dentro, batendo suas asas nas paredes do estômago. Estreitei a coluna, ergui os ombros e espelhei o movimento, dando um gole em minha cerveja e em seguida devolvi o sorriso com a mesma intensidade.

Nem acredito que eu estava reagindo daquela forma. Acho que a euforia do momento estava me permitindo colocar para fora uma parte de mim que costumava reprimir, especialmente na presença dele. A Ally atrevida, determinada. Depois das minhas resoluções da noite anterior, eu não poderia deixar essa oportunidade escapar. Eu precisava fechar esse círculo e o faria esta noite.

Senti um toque de leve em meu ombro e me virei, quebrando o contato visual com Davi para ver quem me chamava. Continuei sorrindo, certa de que era uma das meninas se aproximando. Mas dei de cara com um belo desconhecido, na verdade não tão desconhecido. Era ninguém menos que o gato rock n’ roll que eu havia conhecido no M Bar um mês atrás. Mal havia me recuperado do embrulho no estômago por ter avistado Davi, e já estava sentindo tudo de novo ao me deparar com esta adorável surpresa.

- Oi, lembra de mim? – Falou aproximando-se do meu ouvido, com um sorriso de ponta a ponta estampado em seu belo rosto.

Abri um sorriso ainda maior – se é que era possível – e soltei um “Oi” em um tom de voz mais arrastado do que o normal. Ele estava tão gato quanto na outra vez que nos encontramos, dessa vez com uma camiseta branca de banda também. Pearl Jam. “Ok, esse cara andou pesquisando as formas mais fáceis de me conquistar e descobriu exatamente que gosto musical compatível era um grande pré-requisito.” Pensei bem humorada. Mas antes que o gato rock n’ roll abrisse a boca para engatar uma conversa, Davi apareceu do nada, interpondo-se entre nós, de costas para ele, ignorando propositalmente sua presença.

- Vamos sair daqui. – Falou sério, me olhando fixamente nos olhos, esperando que eu compreendesse. E eu entendi.

Inclinei o rosto para poder olhar para o rosto do gato rock n’ roll, que estava atrás do Davi. Com uma expressão de tristeza falei, com uma pontinha de remorso:

- Desculpa, estou acompanhada.

Ele ficou me olhando com cara de paisagem, visivelmente aborrecido por ter sido interrompido novamente justo quando nos aproximávamos. O mais engraçado de tudo é que, apesar de sentir uma atração irresistível por ele, não estava nem um pouco arrependida por dispensá-lo. Dessa vez eu tinha um motivo que valia a pena, eu estava segura do que queria.

Davi pegou minha mão, me ajudou a descer do banco alto e me conduziu por entre as pessoas até chegar a uma área mais reservada do pub, onde havia mesinhas com bancos acolchoados e uma decoração meio vintage. Fiquei um pouco tonta quando desci do banco e só então percebi que estava um pouco ‘grogue’, mas tratei de disfarçar.

Sentei-me primeiro no banco, recostando-me no encosto fofinho e Davi sentou-se ao meu lado, tão perto que nossas coxas se tocavam por toda sua extensão.

Ficamos em silêncio por um longo momento, nos encarando atentamente. A sensação de frio na barriga só aumentava à medida que eu me dava conta do que estava para acontecer. Eu podia não estar cem por cento certa de que aconteceria, mas eu podia sentir que o momento da verdade chegara. Eu sabia. E estava pronta para enfrentá-lo. Decidida a iniciar o ano com a maior realização da minha vida até então.

Havia um brilho diferente no olhar de Davi. E, por mais que ele tentasse disfarçar com uma pose de cara confiante e seguro de si, dava para perceber que ele também estava um pouco nervoso. O que acabou me deixando mais tranqüila. Era até bonitinho vê-lo meio desconcertado. Mais uma faceta do Davi que eu não conhecia.

- Feliz Ano Novo! – Cumprimentou compenetrado, com um sorriso confiante. Em seguida, franziu o cenho e perguntou categoricamente, me pegando desprevenida. – Quem era aquele cara?  

- É... hum, um garoto que conheci outro dia. Feliz Ano Novo para você também! – Desconversei nervosa.

Ele continuou sério, me estudando enquanto eu mudava de posição no meu lugar no cantinho do banco. Passei a mão no cabelo, mordi o lábio e prendi a respiração, esperando pela reação dele. Eu o conhecia muito bem. Davi é aquele tipo de pessoa que exige atenção exclusiva, seja de quem for.

- Ele parecia mais interessado em você do que deveria. Você teve alguma coisa com ele? – Indagou tentando disfarçar o interesse.

Mas estava claro pelo tom de sua voz que ele estava mais do que curioso, ele estava exigindo uma explicação. E de repente me senti como se estivesse sendo interrogada como suspeita por um crime que nem sequer cometi. Ao mesmo tempo senti uma pontinha de orgulho ao perceber que ele estava, no fundo com ciúmes do gato rock n’ roll.

Fiz minha melhor expressão de indignação, olhei dentro de seus olhos e respondi com outra pergunta.

- O quê? E por que ele não deveria? E não, eu nunca tive nada com ele. – Repliquei suspirando Continuei fitando-o atentamente à espera de sua explicação.

- É perda de tempo. Ele não deveria se interessar por alguém que não pode ter. – Respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

- E por que eu sou alguém que ele não pode ter?  - Indaguei curiosa.

Davi relaxou e sorriu convencido, seus olhos castanhos se derretendo nos meus e explicou.

- Por que você é minha.

Fitei-o intensamente, compreendendo e aceitando todo o significado do que ele dizia, prendi a respiração, as palmas das mãos suando e fechei os olhos. Abri um sorriso de contentamento. Nunca imaginei que esse momento chegaria. Nem nos meus sonhos mais loucos eu poderia sentir a emoção de ter um amor que sempre quis correspondido, que algum dia pertenceria a alguém.

Fique tão entorpecida com a euforia que a revelação de Davi me causou, que sem pensar nem mais um segundo, lancei meu corpo contra o dele, envolvendo meus braços em torno de seu pescoço, pressionando minha boca contra a sua em um beijo apaixonado.

 Nossos lábios se encontraram com uma voracidade extrema, como se estivéssemos saciando um desejo reprimido por anos, não só os meus, mas os dele também, retribuindo o beijo com a mesma urgência. Davi envolveu minha cintura delicadamente, mas firme, pressionando a palma da mão contra minha lombar, aumentando ainda mais o contato entre nossos corpos. Com a outra mão ele acariciava meu pescoço, roçando o dedo polegar em milha orelha enquanto seus dedos entrelaçavam-se em meus cabelos, controlando a pressão entre nossas bocas.

A boca dele parecia um morango, suculenta, fofinha, macia. Eu não conseguia desgrudar meus lábios dos seus. Eu queria mais. Lentamente comecei a massagear seu lábio inferior com minha língua, abrindo espaço até encontrar a dele e envolvê-la em uma dança sincronizada, explorando, procurando provocar as melhores sensações possíveis.

Quando faltou fôlego interrompemos o beijo para captar um pouco de ar. Davi repousou sua testa na minha e abriu os olhos, me encarando com um sorriso tão genuíno que mais parecia um garotinho.

Minha alma foi inundada por uma sensação que eu não conseguia classificar exatamente. Uma mistura de satisfação com alívio, com incredulidade. Depois de tantos anos sonhando com esse momento, ele finalmente estava acontecendo e era tão real, tão assustadoramente real, que por um segundo minha covardia ameaçou se manifestar, o medo de perder tudo aquilo depois de provar o sabor do que eu sempre quis. Apertei os olhos, reprimindo aquele pensamento nem um pouco bem-vindo.

O beijo de Davi era gostoso, voraz, intenso, completamente diferente do que eu esperava e do que eu considerava um ‘beijo’ de verdade. Mas era bom de um jeito inesperado.

Ele afagou meus cabelos e sussurrou com o rosto ainda próximo do meu.

- Por que esperamos tanto tempo?

Permaneci de olhos fechados, com um leve sorriso nos lábios, ainda saboreando o gosto da boca dele misturado com cerveja, lambi o lábio inferior e respondi inebriada.

- Acho que tudo acontece no tempo certo. Vai ver que a hora certa era agora.

Abri os olhos e vi o sorriso ainda estampado em seus lábios.

- É, vai ver que a hora certa era agora. – Repetiu minhas palavras e continuou, afagando minha bochecha com a palma da mão. – E eu falei sério quando disse que você é minha.

Curvou-se e depositou outro beijo em meus lábios, agora terno e suave, demorando alguns segundos pressionando levemente nossos lábios.

- O que isso quer dizer? – Sorri curiosa. Eu precisava saber se ele não havia mudado de idéia, se não havia desistido de mim e estava apenas se divertindo para não passar o ano novo desacompanhado. Não podia ser, não agora que decidi o que eu realmente queria.

- Quer dizer que você sempre foi minha e agora estamos apenas consumando isso. Jogou uma perna sobre as minhas e recostou-se no banco relaxado, passando seu braço por trás dos meus ombros e descendo até minha cintura.     

- Não sei se gosto desses títulos de propriedade... Mas se isso significa que você pretende ficar comigo e tentar fazer esse nosso, lance?, dar certo, eu aceito.

Aninhei-me em seu abraço, acariciando seu peito, pescoço, brincando com o escapulário dourado que pendia repousando sobre os pêlos de seu tórax. Permanecemos em silêncio por alguns minutos, um silêncio confortável, nossas respirações se igualando, inspirando e expirando em sincronia.

Pela primeira vez na vida conseguimos passar mais de 10 minutos perto um do outro sem ter nenhuma discussão boba por algum assunto ridículo. Pela primeira vez demonstrávamos afeto sincero, sem ser necessário dissimular nossos sentimentos por puro orgulho. Pela primeira vez eu passava uma virada de ano ao lado da pessoa que eu sempre quis. Eu estava amando tudo aquilo.

Nunca em toda minha vida eu estivera tão feliz por ter tomado uma decisão. Por mais que essa história com Davi não funcione futuramente - e eu sinceramente espero que funcione - esse momento já valeu o risco, valeu a espera, valeu as noites que passei sonhando. Não por que ele seja o cara mais especial do mundo, mas por eu finalmente ter conquistado sozinha essa que foi a coisa mais difícil de conquistar em minha vida.

E nos braços de Davi, prometi a mim mesma que eu merecia essa felicidade e que fazia tudo que estivesse ao meu alcance para que desse certo.

***


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Por favor, não me matem! Sei que muita gente não gosta do Davi, mas ele merece essa chance e Ally também merece realizar esse desejo que alimentou por tanto tempo, e resolver de uma vez por todas essa bagunça de sentimentos, não é mesmo?Deixem suas opiniões! =DBeijos, até a próxima.Alê