The World Behind My Wall escrita por The Escapist
Eduardo e Júlia estavam namorando no apartamento que ele dividia com dois colegas da faculdade na cidade universitária; era um momento raro, pois Gustavo e Thiago não estavam em casa, e isso deixava o espaço livre para os dois, embora Júlia preferisse ficar na sua própria casa, mas como Eduardo ficava sem graça de ir para lá, ela preferia não criar caso com ele e aproveitar que estavam juntos.
Eduardo beijava Júlia de uma maneira inédita para ambos; com certeza não era a primeira vez que ele pensava em sexo com Júlia, mas era a primeira vez que essa possibilidade aparecia de um jeito tão claro. Eduardo não era do tipo de dar importância exagerada a “tal primeira vez”. De verdade, não se preocupava tanto com isso, e sabia que aconteceria na hora que tivesse que acontecer, sem necessidade de “se estressar”.
Mas ele não poderia negar, afinal era um garoto de dezesseis anos, e completamente saudável, cada vez que Júlia estava tão perto dele, os hormônios faziam uma verdadeira tempestade por seu corpo! Imaginava, às vezes, como seria, ele, e Júlia, e uma pergunta veio a sua cabeça: será que a Júlia já esteve com outro cara? Mas não quis perguntar isso a ela, sentia-se envergonhado e principalmente com medo que ela ficasse magoada. De qualquer forma, não importava mesmo.
— Ah, me desculpa, Júlia, desculpa — disse, se afastando e recolocando as alças da blusa de Júlia nos ombros dela.
— Tudo bem, Edu, não precisa se desculpar — ela disse, voltando a beijá-lo. — Você aprendeu rápido e direitinho.
— E você continua me deixando sem graça.
— Eu adoro quando você fica sem graça, vermelhinho... É tão... Sexy!
— Júlia, promete não ficar magoada, chateada, ou qualquer coisa do gênero, se eu fizer uma pergunta?
— Prometo.
— Olha, não importa a resposta, tá, eu só estou curioso...
— Tudo bem, Edu.
— Então, você, já, é, como é que eu posso dizer, ahm... — Júlia entendeu o que Eduardo estava tentando dizer.
— Não, claro que não.
— Ah, o que você acha disso?
— Como assim o que eu acho disso?
— Sei lá, antes de casar, depois, com que idade, essas coisas... — Júlia deu de ombros.
— Nunca pensei nisso, pelo menos não até agora. O que você acha disso?
— Nunca tinha pensado nisso, até conhecer você, para ser mais exato.
— Oh!
— O que?
— Você não anda tendo sonhos proibidos comigo, anda?
— Muitos.
— Meu pai te mata, sabia? Falando sério, mesmo, eu não acho que exista uma idade certa, um momento certo, apenas a pessoa certa, se você ama a pessoa, o resto é secundário.
— Eu amo você, sabia?
— Sério? — os dois riram.
— É sério, sua boba.
— Eu também amo você. — Júlia beijava Eduardo, ao mesmo tempo que tentava desabotoar os botões da camisa dele.
— Mas eu só tenho 16 anos... — ele disse rindo.
— Ahm?
— Você pode ser acusada de pedofilia ainda, além de o seu pai me matar.
— É verdade, cara. — Júlia ia voltar “ao amasso” quando o celular tocou. — Dr. Alexandre Estraga Prazeres de Andrade! Oi pai; onde eu estou? Na casa do Eduardo, claro; se eu estou sozinha com ele? Hum, me deixa pensar... Estou sim. Pai, pai, calma, tá, tudo bem, eu já estou indo, tchau.
— Ele pega no pé mesmo!
— Tudo bem se a gente esperar você fazer 17 anos?
— Tudo.
— Falta pouco também né?
— 15 dias.
— Preciso ir, não quero que o meu pai venha até aqui me buscar. Tchau.
Assim que entrou em casa Júlia encontrou Alexandre, ele estava com “aquela cara”, e isso não era bom; tudo bem que o pai era médico, mas falar de sexo com ele continuava sendo constrangedor.
— A gente precisa conversar.
— Ok.
— Você estava até agora, sozinha, na casa daquele garoto...
— Eduardo, pai.
— E me diz isso assim, na maior cara de pau?
— Pai! O senhor prefere que eu minta?
— Claro que não. — Júlia deu de ombros. — Não dê de ombros para mim, Júlia.
— Está fazendo tempestade num copo de água, pai.
— Tempestade num copo de água? Escuta uma coisa, mocinha, gravidez na adolescência, doenças sexualmente transmissíveis, não é tempestade num copo de água, é real, e acontece com qualquer pessoa. Principalmente com garotas como você, que acham que tudo na vida é lindo e colorido.
— Eu não sou boba, pai, pô...
— Júlia, eu não quero dizer o que você pode ou não pode fazer, filha, eu só quero que você pense bastante; algumas decisões na nossa vida não têm volta, e às vezes as consequências são para vida inteira.
— Pai... Olha, pode ficar tranquilo, por que, ahm, não existe a menor possibilidade de eu estar ou ficar grávida tão cedo, ok? Eu prometo.
No dia do aniversário de 17 anos de Eduardo, Júlia foi para a casa dele conhecer seu pai e sua irmã. Eduardo já conhecia Júlia o suficiente para saber que ela não se importava com o fato dele ser de uma “classe social inferior”, mas mesmo assim levá-la para casa ainda era um pouco constrangedor. Assim que Eduardo entrou em casa, a irmã Giovanna correu para lhe abraçar.
— Oi, anjinha! Que saudade de você.
— Também estava com saudade de você.
— Você está tão linda, Giovanna. Cadê o papai?
— Tá na cozinha. Pai, o Eduardo chegou — Giovanna gritou com sua voz aguda.
Júlia estava encantada com Giovanna, não era à toa que Eduardo chamava a garota de anjinha; ela parecia mesmo um anjo, de cabelos loirinhos cacheados e olhos verdes azulados. Giovanna olhava pra Júlia com curiosidade.
— Quem é ela?
— É a Júlia, minha, namorada.
— Namorada?
— Fala oi para a Júlia, anjinha.
— Oi, Júlia.
— Oi, Giovanna, tudo bom?
— Tudo.
— Você é muito linda.
— Obrigada. Eduardo, o que é namorada?
— Bah, agora você me pegou Giovanna. Namorada, é tipo, assim, coisa de gente grande, sabe?
— Ah! — Giovanna assentiu, como se “coisa de gente grande” fosse uma explicação plausível. O pai de Eduardo apareceu. — Pai, o Eduardo tem uma namorada!
— Oi, pai.
— Edu... Feliz aniversário, garoto! — Pai e filho se abraçaram.
— Que é isso, o senhor se lembrou! Pai, essa é a Júlia.
— Júlia, é um prazer te conhecer, finalmente, o Eduardo não fala de outra coisa.
— O prazer é todo meu, senhor Ricardo.
— Pode me chamar de Ricardo, apenas.
— Ricardo.
— Foi trabalhar hoje, pai?
— Fui, cheguei há pouco tempo, quando você disse que vinha eu dei um jeito de sair mais cedo para fazer o jantar.
— Não precisava se incomodar. E o que tem para jantar?
— Por hora, nada, eu ainda não fiz.
— Então deixa que eu faço.
— Não, eu faço, pode ficar com a sua namorada, brinca um pouco com a Giovanna, ela sente a sua falta demais, Eduardo.
— Eu também sinto muita falta do meu anjo. Mas, pai, o senhor está cansado, vai sentar e ver a novela, deixa que eu preparo o jantar, ok? Presente de aniversário, por favor.
— Tudo bem. Viu como ele é teimoso, Júlia?
— Falando em teimosia, como anda a sua saúde? Foi ao médico?
— Forte como um leão!
— Vê lá, hein? Júlia, fica à vontade, eu vou preparar o nosso jantar, ok?
— Hum, posso te ajudar? Presente de aniversário, por favor.
— Sua garota teimosa.
— Eu quero ajudar também.
— Então vem. — A cozinha da casa de Eduardo era muito diferente da de Júlia. — Então, vamos ver o que se pode fazer aqui!
— Incrível você saber cozinhar!
— Quando eu era criança ficava muito tempo vendo a minha mãe fazendo todas as coisas, depois, quando ela ficou doente, eu fazia o que dava para ajudar. — Giovanna prestava atenção ao que o irmão dizia.
— Você está falando da mamãe? Ela agora está no céu, sabia, Júlia? — Júlia balançou a cabeça.
— Anjinha, vai lá pergunta ao papai se tem tomate. — Giovanna saiu correndo. Eduardo estava com os olhos cheios d’água.
— Amor, não fica assim.
— Falar dela é sempre triste; ainda bem que a Giovanna não se lembra de nada.
— Não fica triste.
— Vamos cuidar desse jantar. — Eduardo preparava o jantar com a ajuda de Júlia e a assessoria de Giovanna. — Então, ele tem pavor a médico, hospital, e tudo, por isso, eu tenho que ficar lembrado dele fazer as consultas; ele já tem uma idade pra frente, e muitos casos de hipertensão na família, eu me preocupo.
— Ele tem sorte de ter um filho como você.
— Eu é que tenho sorte de ter um pai como ele. Ele sempre foi tão forte, desde que a mamãe morreu, se não fosse por ele, não sei o que teria acontecido comigo e com a Giovanna.
O jantar foi bastante agradável; Júlia e Giovanna já eram amigas e Ricardo já adorava a namorada do filho.
— Edu... Er... — Parecia que ele queria falar alguma coisa e estava com vergonha.
— O que, pai?
— Já que você veio, o seu, dinheiro...
— Não precisa, pai.
— Mas, filho.
— Sério, eu estou me virando.
— Se virando, Eduardo?
— É, não falta um computador para eu consertar, instalar programa, hackear — disse rindo para Júlia.
— Mas você pode aceitar, como presente de aniversário, pelo menos.
— Não vai fazer falta?
— Não.
— Tudo bem, nesse caso, eu aceito.
Júlia estava constrangida, não tinha como não ficar; na sua casa eles quase nunca falavam de dinheiro. Claro que Alexandre não deixava que eles gastassem horrores, mas todos tinham suas próprias contas no banco, e a mesada era depositada pelo pai e pela mãe. Raramente precisavam pedir dinheiro ao pai, no caso de Júlia, só quando queria fazer compras no shopping, aí preferia usar o cartão de crédito do pai do que gastar seu próprio dinheiro. Não tinha como não se sentir muito “metida a besta” ao pensar que a roupa que ela estava vestindo talvez valesse o mesmo tanto do salário do pai de Eduardo. Não era à toa que ele ficava sem graça quando estava em sua casa.
— Júlia, Júlia? Tá dormindo?
— Oi? Desculpa, Edu, eu só estava aqui, pensando.
— Pensando é?
— Então, eu também tenho um presente para você. Está na minha bolsa, vou pegar hein? — Júlia pegou a bolsa e tirou um embrulho que entregou a Eduardo.
— Eu falei que não precisava.
— Lalalala... — enquanto Júlia cantarolava, fazendo de conta que não ouvia o que ele dizia, Eduardo abriu o presente. Era um Ipod.
— Ipod? Que chique, hein?
— 5000 músicas na memória, inclusive todas do Off Spring.
— Obrigado, adorei, sério, é muito chique esse negócio de Ipod.
— Você pode colocar fotos, vídeos, fazer um monte de coisa.
— Júlia, eu sei o que é um Ipod.
— Bobo!
Depois do jantar, Eduardo, com a ajuda de Júlia ficou lavando a louça; quando terminaram e voltaram para a sala, Ricardo estava dormindo com Giovanna no colo, dormindo também. Eduardo pegou a irmã nos braços e a levou para o quarto. Depois voltou e acordou o pai.
— Pai, vai dormir no quarto.
— Ahm? Cadê a Giovanna?
— Eu já coloquei ela na cama.
— Obrigado. Edu, você vai dormir aqui hoje?
— Não, eu vou levar a Júlia em casa.
— Não, não precisa, Edu, eu posso ir sozinha.
— Sozinha? De jeito nenhum, Júlia, você não vai embora sozinha, está tarde.
— Não está tão tarde.
— Eu vou mesmo dormir, tô cansado. Júlia, foi muito bom te conhecer.
— O prazer foi todo meu. Boa noite, Ricardo.
— Boa noite, boa noite, Edu.
— Sério, não precisa me levar em casa, até por que, eu é que vou dirigir, não é?
— Na verdade eu não estava pensando exatamente em ir para a sua casa.
— Hein?
— Eu já tenho 17.
— Ah, ah, isso! Bom, é que... Eu...
— Tudo bem, se você não quer, está tudo bem.
— Edu, não é que eu não queira, entende, é que, hoje, realmente não é um bom dia. Se é que você me entende.
— Aham, entendo, claro.
— Eu amo você, sabia?
— Sabia sim.
— Bom, então, eu vou nessa, antes que fique mais tarde. Você volta para casa amanhã?
— Talvez só na segunda, vou aproveitar para dar uma arrumada, já viu que esse não é o forte do meu velho.
— Então me liga.
— Claro que sim. Boa noite.
— Tchau, boa noite.
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