A Rosa Branca escrita por Dreamer


Capítulo 21
A fúria de Naida




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––Mas que tédio. Isso daqui está mais morto do que dia de aula, cruz credo!

––Ah, não reclama, Yusuke. No final a gente nem conseguiu descobrir nada do que o Kurama pediu.

––É verdade. Mas, eu acho que não tinha nada para descobrir mesmo. A gente está só perdendo tempo... Enquanto isso... aquele cara...

Yusuke socou a mão. Kuwabara sentia uma mescla de medo, ansiedade e extrema vontade de lutar no olhar do amigo.

Repentinamente, o ex-detetive pulou evitando ser cortado ao meio. Ou melhor, evitando levar uns 16 ou 17 golpes.

––Até que você não está tão mole assim. Mas, precisa ficar mais esperto. Você nem percebeu quando eu me aproximei.

––Hiei!––exclamou Yusuke surpreso, muito feliz de ver o baixinho vivo e de pé.

––Ué? Mas você não tinha morrido?––provocou Kuwabara.

––Idiota––murmurou o demônio de fogo, desinteressado.

––REPITA ISSO, SEU BAIXINHO MALDITO!

––Idiota.

––Aaaah! Que ódio!––berrou Kazuma, tentando acertar o demônio de fogo a todo o custo. Porém, esse se desviava com facilidade.

Depois de alguns segundos, Kuwabara parou encarando a testa do demônio de fogo, que sentiu um líquido quente escorrer das ataduras até os seus olhos. Hiei levou a mão esquerda até a testa e depois observou os seus dedos, que ficaram molhados de sangue.

––Hiei...!––murmurou Kazuma.

––Hiei, você está bem?!––perguntou Yusuke.

––Meta-se com a sua vida.––falou arrogantemente para Yusuke, repentinamente ignorando o sangue.

Era estranho que os dois não haviam notado que ao invés da bandana, a testa do amigo estava envolta por ataduras.

––O que é isso? Uma reunião particular sem mim?––perguntou uma voz gentil que todos conheciam.

––Kurama!––exclamou Yusuke.––Como foi? Ué, cadê a garota?

––Ela não veio. Hiei, como você está?––perguntou, com a intenção de cortar o assunto anterior.

––Tudo bem.

––Bem, é melhor sairmos daqui. Loru Pan não tem chance nenhuma de se unir a esse povo.

––É verdade isso, Kurama?––perguntou o ex-detetive, surpreso.

––Sim.

––Eu fiquei com vontade de ajudar eles––comentou Kuwabara.––Esse povo vive numa miséria...

––Não está ao nosso cargo decidir isso agora, Kuwabara. Vamos embora, falar com Koenma.

Os dois se levantaram. Esperaram Hiei se levantar, mas logo perceberam que ele já estava de pé.

Todos foram andando, mas o demônio de fogo continuou parado.

––Hiei...?––chamou Kurama.

––Eu não vou com vocês.

––Hiei, venha com a gente––falou o youko.––Se você está procurando Pas Tou, o demônio com quem lutou, ele provavelmente não vai nunca mais voltar para cá.

––Ué? Por que não, Kur...––começou Yusuke, mas parou ao perceber o olhar do youko. Ele só havia visto Kurama uma vez assim antes, anos atrás, logo após assassinar Amanuma, o game master.

O que teria acontecido? Talvez ele tivesse sido novamente responsável pela morte de alguém inocente como Amanuma. Na verdade estava prestes a ser o responsável pela morte de muitos. Mas, apesar disso incomodar o youko, o que o perturbava era uma questão muito mais egoísta: o fato do aparecimento de Naida fazer com que Sassame desaparecesse para sempre da sua vida.

Yusuke, sem saber o que estava acontecendo, silenciou-se. Não tinha a menor vontade de ir contra a vontade desconhecida do seu amigo, mesmo que ela fosse macabra, confiava inteiramente nas decisões de Kurama.

––Tudo bem––concordou o baixinho.––Se ele não vem para cá, não faz sentido eu ficar aqui.

Os quatro deixaram o lugar, sem se despedirem de qualquer pessoa da Oca.

oOoOo

Antes eram 52 enigmas que protegiam a entrada da Oca. Dezesseis foram criados pela inteligência militar da época. Eram bons, mas demônios extremamente inteligentes e poderosos tinham capacidade de passar por eles. Trinta e seis foram criados por uma jovem que fora adotada pela aldeia. Estes eram enigmas cruéis e sádicos.

Os únicos que sabiam como passar por todos os enigmas eram alguns poucos militares instruídos pela criativa raposa. Estes cuidavam quando algum morador precisava sair da Oca.

Com o tempo, inúmeros ataques e batalhas, os enigmas foram reduzidos a apenas três. Pois, um militar seqüestrado demonstrou como passar pela segurança, e as armadilhas foram sendo destruídas.

Mas, até mesmo o traidor não foi capaz de vencer todas as situações inusitadas que aquele caminho perigoso propiciava e, até hoje, nenhum inimigo invadiu o território da Oca e saiu com vida.

O povo ilhado, não tinha mais condições de sair, pois seriam capturados pelos inimigos, ou morreriam com os enigmas que deveriam protegê-los.

Apenas uma pessoa poderia reverter a situação naquela época, mas ela estava morta, assassinada pelo receio do próprio chefe da tribo.

O tempo passou e os habitantes ficaram cada vez mais frágeis e famintos. Sem poder sair da Oca, não tinham como trazer alimentos.

Até que um dia, o assassino da raposa sentiu a sua energia característica vinda do mundo dos humanos. Ele a trouxe de volta, na esperança que se tornasse a salvação daquelas vidas.

Naida caminhava sem pressa, destruindo os três enigmas restantes. Sabia como fazê-lo, pois ela mesma os construiu.

Assim que terminou de destruir a Sala Concêntrica, chegou ao interior da Oca. Os demônios decadentes olharam-na com temor e espanto.

O olhar da raposa prosseguia frio, quando recaiu sobre a imagem de um demônio qualquer, ele se encolheu convulsivamente, tomado pelo medo.

Ela caminhou por aquela rua principal e, a cada passo que dava, as plantas mais belas do Makai foram nascendo e se espalhando pelo chão, pelas cabanas, até finalmente atingir o teto, escurecendo o ambiente transformando-o em uma selva esférica.

Os demônios não tinham forças para correr. Alguns se levantaram, mas era inútil, jamais chegariam fora da Oca a tempo. A maioria sabia que estava fadada à morte.

Ela parou diante da porta da cabana onde o líder estava. Abriu-a.

––Naida!––exclamou o homem.

Ela não respondeu. Entrou fechando a porta atrás de si. Olhou-o friamente. Ele estremeceu.

––Você sabia que eu não me lembrava e tinha esperanças que eu voltasse a me aliar a você.

Ele se contorceu convulsivamente, sabia muito bem o que aquela expressão indecifrável queria dizer.

––Mas, que lamentável––murmurou a raposa, não expressando sentimento algum em sua voz.

Ela tirou uma pequena folha seca do cabelo. Ao seu toque, a folha ficou vermelha e começou a crescer:

––Acho que esta você não conhece... Ela exala um aroma mortífero. Ah, mas não tente deixar de respirar, não vai adiantar. Através ar ela entra pelos seus poros destruindo primeiro o seu tato, depois vai danificando sentido por sentido, até que você vire um monte de carne e osso que possua apenas a sua consciência, mas que não tem noção do ambiente à sua volta...

––P-Por fa-favor...!

––Acalme-se. Você me pediu para roubar isso para você, não é?––disse, tirando a pedra da sua roupa e mostrando para ele.––Vamos ver se ela vale tanto a pena assim.

Ela jogou a pedra no chão, um vegetal cresceu e a prendeu firmemente. Nada no mundo teria poder para arrancá-la dali.

––As plantas que eu criei ali fora não estão mais sobre o meu comando––comentou ela.––Elas estão te esperando e vão atacar e matar todo mundo se você não sair daqui.

Olhou-a espantado.

––Elas estão esperando você. Se você não sair, elas vão atacar as pessoas lá fora. Se sair, elas não farão mal nenhum aos demônios––ela deu meia volta, abrindo a porta. Fitou-o uma última vez.––Escolha a forma que mais lhe agrada para morrer.

Saiu deixando o demônio atônito para trás. Ele se levantou. A folha que ela abandonara ali começava a dispensar um aroma adocicado. Ele se ajoelhou e tentou forçar o vegetal que prendia a pedra. Precisava pegá-la e fugir dalí!

Naida saiu da Oca e subiu até uma colina para observar. Sua visão ultrapassava o teto e as plantas que criara, atingindo diretamente o demônio decadente que forçava o vegetal desesperadamente para pegar a pedra. Seu corpo macilento começou a amolecer. Ele já não sentia mais nada. Podia ainda receber a fúria das plantas se saísse naquele momento para salvar o povo que dependia dele, mas ele se agarrou mais forte à pedra. Sua vista falhava, não podia mais ver o brilho da pedra que atravessava o vegetal. Tentou gritar, mas não ouviu o seu grito. Tentou novamente, mas desta vez, a sua voz que o abandonou.

Num segundo, a selva se rebelou destruindo todos os seres que estavam dentro da Oca.

––Então é isso... Preferiu morrer como um rato, agarrando-se a sua ganância e abandonando as pessoas que dependiam dele...––murmurou se levantando.

Sabia que não era pessoa para julgar ninguém. Também não agiu daquela forma para se vingar. Acreditava que encontraria alguma coisa se fizesse aquilo, se punisse aquela terra. Mas, ao invés disso, sentiu um vazio ainda maior.

Era uma youko, que viveu de uma forma muito diferente dos youkos normais. Talvez, agora fosse a hora de viver finalmente como uma raposa. Acreditando nisso, abandonou aquela terra como se fechasse um capítulo negro em sua vida.


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