A Rosa Branca escrita por Dreamer


Capítulo 20
Transformação




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Por um tempo, ela tentou não utilizar os seus poderes. Vários demônios avançaram para cima dela e ela se deixou ser ferida.

Qualquer posição de ataque ou defesa dispensava pelo menos um pouco de energia maligna, não podia se mover.

––Mas o que é isso?––perguntou um dos youkais.

––É uma raposa.

––Por que não reage? Assim não tem graça!––falou outro deles, chutando-a, violentamente.

Tinha que ter um jeito de fazer o seu núcleo voltar ao normal.

––E eu que temia as raposas. Que coisa mais inútil é isso aí!

Eles riram em deboche. Como num coro, aqueles sons se tornaram o seu réquiem: tomada pela dor que sentia por ter o seu núcleo congelado, não era mais capaz de reter a sua energia. Num último sopro de vida, dispensou todo o poder que tinha em seu corpo.

Um poder imenso surgiu no interior do seu corpo.

Tentou enviar qualquer golpe contra eles, mas a energia foi retida e o núcleo se explodiu. Inerte, caiu derrotada, tendo o seu corpo destroçado posteriormente pelos demônios.

Abriu os olhos frios. Respirou o ar gélido do Makai como se desse o seu primeiro suspiro de vida. Seus cabelos foram tomando uma tonalidade mais escura até atingirem um negro inigualável, cada fio liso brilhava esplendorosamente ao luar. Seus olhos, antes negros, adquiriram uma íris ligeiramente roxa. Seu rosto não era mais meigo e inocente, agora era imponente e malicioso, mas mesmo assim, extremamente belo. Usava trajes discretos e a sua estatura, antes de uma mulher mediana, agora era alta. O seu porte imponente tinha o poder quase supremo de intimidar. Sua pele era quase tão branca quanto a de uma mulher das neves. Nove rabos negros surgiram. Duas orelhas de raposa mostravam-se intrusas entre os seus cabelos.

Kurama se perguntou se ele passava a mesma impressão quando se transformava. A julgar pelos gritos da platéia quando participou dos torneios, e pelo pavor instantâneo que causou na maioria dos seus inimigos após se transformar em youko, presumiu que sim.

Num comando simples com uma das mãos dela, uma imensidade de plantas surgiu naquele terreno, matando instantaneamente os demônios que se aproximavam. Não era uma tarefa muito glorificante, sendo que a maioria pertencia a classe D ou C.

Ela pegou a pedra no chão e a guardou. Logo depois, encarou Kurama, inexpressiva, por um longo tempo.

––...

––...

Desviou o olhar e deu alguns passos no sentido contrário ao que ele estava, mas logo parou:

––Eu vou volta à Oca, e vou matar todo mundo.

––...

––Eu não vou atacar os seus amigos. A não ser que eles se ponham no meu caminho... Espero que você entenda essa atitude como uma forma de agradecimento pelo o tempo que dispensou com o treinamento e todo o resto––falou como se estivesse pagando uma barra de chocolate que comprou no supermercado.

Kurama a observava sem expressão. Provavelmente Sassame havia desaparecido para sempre e, de uma forma inesperada para ele, sentia uma tristeza muito grande. Mas, o seu olhar era o de quem fitava uma estranha, o que de fato ela era.

Ela não sentia nada, a não ser que possuía o dever de destruir o lugar fétido que por muitas vezes no passado chamou de lar.

De qualquer forma, ela ainda não havia notado o trauma em sua alma, que ao relembrar repentinamente do momento da sua morte, fez com que ela ficasse desprovida de qualquer sentimento, como se estivesse anestesiada. Voltou a caminhar, com um vazio incrível dentro de si.

––E depois?

Ela parou ao ouvir a voz do youko.

––Depois do que?

––Depois de matar todos. O que você vai fazer?

––Que pergunta é essa? Por acaso pretende me impedir?––perguntou. Ela sabia que não era essa a intenção dele, porém sentiu-se estranhamente acuada com a pergunta. Não fazia a mínima idéia do que fazer depois.

––Não––respondeu ele.––De uma forma ou de outra, se a Oca for destruída e todos forem mortos, é uma preocupação a menos porque Loru Pan não vai se aliar a mortos. Mesmo que o Mundo Espiritual não goste muito desse método, é bastante eficaz.

Encarou-o por um tempo. Sentiu-se satisfeita ao notar naquela resposta toda a frieza do ex-youko. Talvez fosse uma característica daquela espécie.

––Mundo Espiritual––murmurou ela, rindo.––Eu até havia me esquecido. Mas que grande piada!

––...

––Mas, eu não deveria dizer isso. Se não fosse pelo Mundo Espiritual eu provavelmente estaria morta agora. Teria morrido de uma forma muito mais estúpida do que da última vez.

“Sim, estúpida”, pensou ela. Onde já se viu uma raposa se permitir ser enganada?

Kurama não sabia o que a fez se transformar. Não participou as lembranças de Sassame para ver o momento da sua morte. Mas, sabia por experiência própria que apesar de toda a sua malícia natural uma raposa cometia muitos erros durante a sua vida. E a julgar pela idade que aquele novo corpo dela apresentava, sabia que ela havia morrido muito jovem. Julgou corretamente que devia ter sido abatida por alguma imprudência por parte dela mesma.

––Quer saber? Eu não faço a mínima idéia do que vou fazer depois.

“Mas, eu preciso fazer isso agora, para me encontrar”, continuou a resposta para si mesma. Sentia-se estranhamente perdida.

––...

––Eu vou pegar um caminho longo––falou ela, voltando a caminhar.––Vá direto e tire os seus amigos daquele lugar.

––...

Ele a observou caminhando até sumir de vista. Dirigiu-se até a Oca em seguida.


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