A Rosa Branca escrita por Dreamer


Capítulo 10
A derrota de Kurama




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Kurama sabia que estava próximo. Reconheceria o odor fétido daquela criatura há quilômetros de distância.

Diminuiu a velocidade. O demônio não estava mais fugindo dele.

Depois de ver Sassame viva e bem novamente, o ódio pareceu ter se esvaído completamente do seu coração. Mas, agora que estava novamente próximo daquele demônio, sua memória invariavelmente voltava para a imagem aterradora do corpo pendurado e tingido de vermelho.

Avistou o maldito. Ele possuía ainda ferimentos profundos que adquiriu no seu último encontro com o youko. “Não é nem um décimo do que esse cretino merece”, pensou consigo.

A necessidade de vingança ainda perdurava, mesmo amena. O que aquele demônio havia feito não foi só torturar e matar uma pessoa que já havia conquistado um espaço na vida do youko. Foi também destroçar o ser que carregava a prova de que, independente da origem que possuía, conseguia viver uma vida longe da maldade que o coração dos demônios e humanos carregavam. Ela havia provado isso com a sua inocência. E o maldito havia tentado tirar aquela prova da vida dele. Tinha tentado mostrar que alguém como ela não teria condições de sobreviver.

Kuno não fazia idéia da resolução que Kurama havia tomado em seu coração.

Os dois se encararam por um tempo. O demônio parecia ainda ter condições de fugir, mas porque não tentava mais? Teria ele aceitado a sua morte nas mãos do youko?

––Vou te matar de uma vez––declarou Kurama.––Não é o que você merece. Mas eu não tenho tempo para você agora...

––Eu fiquei pensando, o que poderia segurar a alma de um youko...––começou Kuno, como se não tivesse ouvido.––Dois anos atrás, a minha vontade de matar você me levou até uma pessoa, um certo caçador...

Kurama não estava exatamente com humor para ouvir, mas por uma simples curiosidade parou: o caçador.

Vendo que o seu ouvinte estava disposto a ouvi-lo, Kuno prosseguiu:

––É verdade, o caçador que te matou, anos atrás... Mas, teve um problema, não é? Porque você conseguiu encarnar num corpo humano. E então, eu fiquei pensando... Se eu te matasse, como eu conseguiria reter a sua alma?

Kuno enfiou a mão em baixo da camisa e tirou uma bola esverdeada com alguns contornos em marrom que Kurama já havia visto antes, anos atrás: a bola Gaki, que suga almas. Ele não imaginava que servisse para capturar almas de demônios também.

––Foi um presente que recebi quando aceitei me aliar aos outros três. Se bem que eu só me aliei a eles por causa disso...

“Gaki-Dama? Koenma não comentou sobre o roubo dela. Será que o mundo espiritual ainda não se deu conta ainda? De qualquer forma, depois que eu, Hiei e Gouki a roubamos a segurança foi reforçada. Seja lá quem roubou isso, deve ser pario duro. Preciso terminar logo com isso e ir ajudar os outros”, raciocinou consigo.

––Não é uma tarefa fácil capturar a alma de um demônio. Principalmente uma como a sua. Ela precisa estar muito enfraquecida.

O youko falou num tom sádico:

––Não se preocupe, você não tem capacidade de me fazer chegar a esse ponto.

O demônio riu desgostoso:

––Eu não queria usar isso agora, mas você ficou muito mais forte do que quando eu o vi lutando durante o torneio do ano passado––disse tirando um pequeno frasco do bolso.

Kurama o observou desinteressado. Aquela criatura imunda queria ser derrotada na sua melhor forma? Então, que fosse.

Kuno bebeu o líquido e deixou que a energia fluísse dentro do seu corpo. O youko não conhecia os efeitos daquela bebida, nem sequer a tinha reconhecido, mas não se importou, sabia que podia vencer de uma criatura baixa como aquela, tivesse ela qualquer nível de poder.

O demônio avançou. Era rápido, mas não o suficiente. O youko pôde se desviar, mas se surpreendeu com a velocidade que Kuno adquirira, pois era apenas um pouco inferior à sua.

––Parece que o seu ódio todo foi embora––comentou, distanciando-se depois do seu ataque mal sucedido.––Isso te enfraquece.

Os olhos verdes fitaram inexpressivamente o seu oponente. Não sabia onde ele queria chegar. Talvez estivesse apenas adiando o momento da sua morte.

––Talvez eu devesse ter usado mais uma outra pessoa também. Aquela outra humana talvez.

“Deve estar insano. Acuado como está continua me ameaçando”, pensou.

––Sim...––continuou Kuno.––Isso talvez compensasse o que você causou no passado.

Passado... Aquele que o perseguia sempre.

Mas, não era fraco a ponto de se ater àquilo agora. Havia aceitado completamente a sua vida humana. Tinha mudado e sabia disso, era só o que importava.

A energia de Kuno se elevou mais. Sua mão direita tornou-se uma foice afiada. Ele avançou mais uma vez.

Lento... Kurama desviou, mas... levou um corte razoavelmente profundo no seu braço.

“O que?”, murmurou mentalmente, surpreso. Kuno foi mais rápido que ele? Não, ele que ficou lento.

O youko perguntou-se o porquê daquilo. Não se importava com o que o demônio dizia. Tinha mudado. Era um humano agora. Mas... como Shuuichi poderia matar um demônio a sangue frio como estava prestes a fazer?

Frieza... Muitos humanos também a tinham. Alguns podiam ser tão ou mais cruéis que os demônios. Da mesma forma que alguns demônios tinham um coração brando. O problema não era o mundo de origem em si, ou se era demônio ou humano, mas o espírito de raposa que se impregnava cada vez mais nas veias do corpo de Shuuichi Minamino.

Era o seu lado youko que queria vingança.

––Sabia, que no começo ela não queria dar nem um gritinho para mim?––comentou Kuno.––Mas, depois...––e fez uma pausa rindo.––depois ela gritou.

Kurama não sabia ao certo se naquele momento o que o dominou foi um desejo de vingança ou um sentimento de ódio. Quase que instantaneamente retirou uma semente dos seus cabelos ruivos e dali surgiu uma rosa. Mas, uma rosa branca. A mesma que ele pegou na noite anterior. Fez com que ela regredisse a uma semente, para depois usá-la.

O demônio não teve tempo de reagir. Em menos de um segundo estava envolvido pelo chicote cortante, que o esquartejou em muitos pedaços.

Foi quando Kurama finalizou o seu golpe, ouvindo o sangue do oponente se espatifar e se espalhar pelo chão, que percebeu o verdadeiro objetivo de Kuno. Era mostrar para o youko que o seu desligamento com o passado era uma fantasia que ele não podia se dar ao luxo de desejar. Pois, enquanto o passado estivesse atrás dele, jamais conseguirá deixar de ser youko.

Kuno atingiu o seu objetivo, e em seu último suspiro sorriu: havia marcado a alma do youko para sempre. Mostrou para ele a verdade da maneira mais amarga possível, de uma forma que ele jamais esqueceria.

Kurama observou atordoado o corpo inerte do seu inimigo, que afinal saíra vencedor.

oOoOo

Yusuke corria. Como o seu alvo era o mais distante, ficou com o aparelho de localização de almas. Diminuiu o passo quando chegou perto e avistou uma forma humana.

––Você aí, seu pastel!––chamou.

O demônio não respondeu, mas o encarou.

––Ih! Não vem com essa cara feia pra mim não, porque cara feia pra mim é fome, valeu?

––Filho de Raisen...––murmurou.––Ainda falta muito.

––Falta muito pra que? Do que você está falando, seu Zé Mané?

––Para você ultrapassar o poder que ele possuía.

Yusuke o observou por um tempo. Pouco antes do torneio que decidiria quem seria o novo rei das trevas, o ex-detetive descobriu que seu pai tinha muitos companheiros e amigos de luta. Se era assim deveria ter mais inimigos além de Mukuro e Yomi.

––Ah! Mas o que é que ‘cê ‘tá falando, seu bizonho? Se tem algum problema comigo venha me enfrentar!

O homem riu e fez um sinal de negação com a cabeça.

––Não pretendo lutar com você.

––Mas como assim? Você está desistindo do seu objetivo de dominar o mundo dos homens?––perguntou surpreso.

––Não. Vou apenas colocar juízo nessa sua cabeça.

––Aí. Já tentaram antes e não funcionou. Então é melhor pular essa parte!

––Você leva tudo na brincadeira. Não é um cara nem um pouco sério.

––Está querendo me provocar é?

––Estou te elogiando.

––Sabia que a conversa está tomando um rumo muito esquisito?––comentou. O ex-detetive estava cansado de ficar papeando. Queria saber logo se ia ou não lutar com aquele indivíduo.

O demônio deu uns passos à frente:

––O que eu quero hoje é que você se alie a nós––declarou.

––Mas, o que? Cê tá maluco? Me unir a vocês para ir contra o mundo dos homens? Não me faça rir.

––Eu faze-lo rir? Você é que me faz. Sua posição é patética. A raça humana não tem salvação.

––Você––disse apontando ameaçadoramente, como se estivesse mirando para atirar o Leigan––está indo contra youkais muito poderosos. O rei das trevas é contra a sua atitude, e mesmo assim você me diz uma coisa dessas?

––Agora ele é o rei. Graças a esse torneio que você criou. Porém, três anos passam muito rapidamente. O próximo rei poderá ser um belo inimigo dos humanos...

––Pode até ser, seu Zé Mané––concordou levemente à suposição, abaixando a mão que apontava para o demônio.––Mas, sempre haverá youkais poderosos com ligações fortes neste mundo que lutarão até o fim para protegê-lo!

––Bela frase! “Até o fim”. Você a empregou muito bem. As Trevas é um mundo muito grande. Muitos demônios que não tem pretensão de serem reis são extremamente poderosos, e não estão nada felizes com a idéia de não poder almoçar um humano ou dois. Logo eles seu aliarão a mim, e colocaremos outra pessoa no lugar do rei atual.

––Pessoas muito fortes e sérias lutaram naquele torneio! Você deveria respeitar as novas leis!

O demônio riu:

––Olha só quem está falando de seguir as leis.

Realmente, Yusuke foi pego nessa.

––Junte-se a nós, filho de Raizen. Assim você se tornará muito mais forte e, com o tempo, acredito que até a sua parte meio humana desapareça.

––Eu não quero que nada desapareça, seu pretensioso. Você veio colocar juízo na minha cabeça? EU É QUE VOU COLOCAR NA SUA! HAAAAA!––gritou avançando com um soco.

Como sempre, escolheu o ataque corpo-a-corpo. Assim sempre arriscava tudo. Era a maneira como gostava de lutar.

Sua mão estava muito próxima do rosto do inimigo. Sorriu. Estava confiante, iria acertar o golpe em cheio, mas... no último segundo o demônio desviou.

Yusuke cambaleou até recuperar o equilíbrio. “Mas... eu não vi quando ele desviou”, pensou.

––Eu não pretendia lutar com você. Mas, acho que é a única maneira de fazer você entender com quem está lidando...

O demônio tirou a capa. Seu corpo musculoso começou a expelir uma energia impressionante. Como o ex-detetive não havia percebido tanto poder oculto?

Num piscar de olhos, ele se moveu até Yusuke e acertou em cheio um soco em sua face. Atordoado, o garoto rolou no chão, sentindo o impacto do golpe.

Apoiou as mãos no chão para se levantar, mas o inimigo estava novamente na sua frente e investiu um chute que o fez se chocar contra uma parede que se despedaçou sem sutileza.

O demônio esperou que o garoto saísse do meio dos escombros. Apenas o observou.

“Mas que droga! Que força é essa? Quem é esse cara?”, perguntava-se. Logo deu-se conta: se conheceu Raizen no passado, não podia ser nada fraco.

Normalmente ele se sentiria excitado a lutar com todas as suas forças. Mas energia daquele inimigo o paralisava. Apenas uma vez na vida sentiu algo semelhante: foi quando se deparou com Toguro quando foi convidado para o seu primeiro torneio.

––Você é forte, Yusuke Urameshi––falou num tom sério. Até então ele possuía certo tom de desapego e diversão em sua voz, mas sumiu completamente.––Poderá se tornar muito mais forte. Poderá conhecer a força suprema de um youkai, que vai muito além do que você jamais viu. Mas, para isso, você terá que renunciar o mundo humano, a sua parte humana.

As pernas de Yusuke tremiam, ele não conseguia dar um passo.

––Jamais... Eu nunca me uniria a um LIXO como você!

––...

Numa tentativa frustrada, o ex-detetive sobrenatural avançou mais uma vez. Mas apenas ganhou uma joelhada no estômago.

––Vou dar um tempo para você pensar––disse dando meia volta, ficando de costas para o garoto ofegante.––A raça humana é fraca... Não vale a pena.

Assim que o youkai sumiu de vista virando na esquina próxima, Yusuke socou o chão ainda trêmulo.


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