Pouca luz entrava por aquele grande salão. Parecia que ninguém mais respirava, todos esperando alguma coisa acontecer ou prontos para me atacarem a qualquer momento.

Agora mais do que nunca tinha que me sentir a vampira. Tinha que ser mais vampira do que loba ou mesmo humana - o qual ocupava a maior parte de meu sangue quente.

Aro se levantou da cadeira, chegando mais perto de mim, sorrindo. Alec se afastou um pouco, indo junto com outros integrantes da guarda. Podia contar mentalmente uns 10 vampiros espalhados pelo local: dois sentados nas majestosas poltronas que ficavam no centro, três de um lado escuro, quatro do lado direito e um vindo em minha direção.

“Então, então, então...” Disse ele, deixando uma pequena distância entre nós e puxando minha mão. Tocou sua fria pele em mim e fechou os olhos. “Finalmente nos encontramos... Clair.”

Estremeci um pouco. Ele sabia mesmo meu nome? Nem para Jane tinha contado, achava que pelo menos isso somente eu tinha conhecimento. Aro abriu os olhos, ainda sorrindo e me analisando.

“Você não sabe muito sobre nós, não?” Balançou a cabeça, segurando ainda mais em meu braço e me olhando penetrante e fortemente, como se estivesse engolindo cada fio de meus olhos cheios de medo e dúvidas. “Sabe, achei seu passado, sua vida, muito...” Passou sua gélida mão pelos meus dedos. “Interessante...”

Franzi as sobrancelhas, tentando raciocinar e lembrar-me de Carlisle contando da história dos Volturi. Recordo-me que havia um dos três que conseguia saber tudo sobre a pessoa e tudo que ela passou somente com um toque. Devia ser aquilo que se tratava. Respirei fundo, tentando falar.

“Ah, não, querida... Essa não é a hora de me interromper.” Ele falou, colocando um dedo em meus lábios e fechando os olhos, se concentrando. Balançou novamente a cabeça, como se concordasse com algo. “Entendo...”

Meu coração batia mais rápido do que nunca bateu. Se pudesse voltar para trás não teria entrado ali. Todos os olhos vermelhos dos vampiros ali presentes me observavam com curiosidade e fascínio. Um arrepio percorreu minhas costas quando Aro se afastou um pouco, me olhando de cima a baixo.

“Bom.” Começou ele, sorrindo tranquilo. “Você sabe o que eu quero...”

Olhei pra baixo, desviando minha atenção de sua pele levemente diferente. “Ham... É sobre isso, na verdade, que vim aqui falar...”

Ele entortou a cabeça, os finos cabelos quase escorregando por seus ombros, procurando meus olhos. Levantei o rosto, o encarando. “Não entendo por que... Você nem sabe as opções e vantagens de ser da nossa guarda...”

Corei um pouco, tentando me focar no que devia falar. “Eer... eu sei, mas não posso sair de casa... Tenho uma vida toda e...” Travei, não conseguindo continuar e me perdendo em um grande silêncio.

Aro suspirou, olhando para um lado. “Sabe, seus familiares estão em uma grande encrenca agora. Pelo que entendi, meu velho amigo Carlisle e seu clã vieram para cá e... passaram um pouco dos limites.” Mordeu os finos lábios em uma negação. “Jane não está nada feliz, e acho que vai acabar por torturá-los muito se tiver essa chance...”

Arregalei os olhos, entrando em desespero. “Não, por favor, eu...” Piscava e respirava freneticamente, esquecendo de tentar parecer uma vampira, mais preocupada com a vida de minha família. “Não os machuque, não foi culpa deles!”

Ele apareceu ao meu lado, afastando meus cabelos castanhos e enrolados de meu pescoço, colocando-os atrás da orelha. “Calma... Tudo isso pode ser evitado, e você sabe muito bem como...”

Senti um frio na barriga com o som de sua voz. Não podia deixar os outros sofrerem por mim, o mais fácil era me entregar.

Mas tinha que ser forte.

“Eu... Não posso...” Falei, bem devagar. “Realmente agradeço a... a...” Comecei a gaguejar. Não era um bom sinal. “Oportunidade... Mas não estou pronta para isso... Talvez em um futuro...” Parei, perdendo a voz novamente.

Aro deixou a boca em uma linha reta, bem sério. Se afastou, indo à sua cadeira enquanto falava.

“Pois bem. Ninguém é obrigado a entrar em minha guarda. Foi só... Um convite.” Olhou para o lado direito, dando um sinal para três vampiros. “Só queríamos ter certeza de que você não era nenhuma... ameaça, por assim dizer, à nossa espécie. Porque você sabe...”

Parou, fechando um pouco os olhos e me fitando ameaçadoramente. Senti os três vampiros escolhidos atrás de mim e soltei uma exclamação.

“Não damos segundas chances.” Disse ele por fim, antes de tudo ficar escuro.