Be My Friend escrita por milena_knop


Capítulo 15
De volta a vida - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

OOI
depois de um século voltei! semanas corridas demais, mas agora vou continuar a postar uma vez por semana.
espero que não me abandonem
capítulo dividido em duas partes!
boa leitura!



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Parte 1

Olhei impacientemente pela quinta vez para a tela do micro computador, colocado sobre meu colo. Suspirei pesadamente, pois ainda faltavam malditos quarenta minutos.
Todas aquelas pessoas a minha volta não pareciam se importar com a vida de ninguém. Um pobre homem humilde calçando suas sandálias rasgadas se arrastava de um lado para o outro na tentativa inútil de chamar a atenção de alguém que lhe pudesse alimentar nem que fosse só por certo período, mas o coitado estava tendo suas tentativas fracassadas, pobre homem! Todos muito ocupados correndo contra o tempo, ninguém nem ousa olhar para os lados. Mundo moderno.
Assim estava o aeroporto de L.A exatamente as 19:00 horas. Estava sentada em uma sala de espera, com paredes de vidro, aguardando o meu embarque. Estava mais do que ansiosa em voltar para casa, ainda mais quando minha melhor amiga está quase morrendo por culpa de uma alergia e meu melhor amigo envolvido com homossexuais. Havia acontecido muita confusão na minha ausência, o que fez com que eu me sentisse mais importante na vida de certas pessoas. 
O silêncio daquela sala foi quebrado pelo toque do meu celular, só poderia ser Anne reclamando do rosto inchado. Sorri ao me lembrar disso e sem identificar o ligador, atendi o celular.
- Ai po***, cuidado aí seu viado vai manchar a minha testa! - foi o que eu escutei ao atender, mas diferentemente do que eu pensava não era Anne.
- Mas será que eu sou a única que atende ao telefone dizendo o tradicional ‘alô’? - perguntei. 
- Eu disse pro Bill que não era pra eu vir aqui, esse boiola vai acabar com o meu cabelo! - Tom exclamou baixinho, talvez para si mesmo.
- Tom, onde você está? Que barulho de conversa é esse?
- Aah, eu tô no cabeleleiro, Nathalie não podia pintar meu cabelo e Bill indicou esse lugar, mas aqui só tem mulher feia, velhas e viados! – exclamou, ainda em um tom de voz baixo.
- Sem exageros maninho! - soltei uma risada enquanto ele bufava e reclamava com o cabeleleiro. Tom era o cara mais chato que já conheci. Era perfeccionista demais, e se as coisas não estavam do seu jeito, era confusão na certa.
- Tá ok, daqui a pouco tenho que desligar, porque o ‘Rô’ precisa de espaço! Só liguei pra saber quando minha pequena volta.
- Daqui a 10 minutos embarco. – respondi, enquanto olhava as horas.
- Tudo bem, vou fazer o possível pra te buscar, quando chegar me liga tá?
- Não precisa, mas tudo bem, eu te ligo. - respondi
- Vou desligar antes que eu fique com a testa preta, beijo linda! - Tom se despediu enquanto eu só conseguia rir imaginando a cena. 
Desliguei o celular e coloquei-o dentro da bolsa, fechando o notebook e guardando-o. Enquanto o fazia, meu celular tocou novamente. Só poderia ser o cabeçudo do Tom que se esqueceu de dizer alguma coisa.
- Que foi agora? – atendi, ainda rindo.
- Oi? - uma voz conhecida disse do outro lado. Imediatamente tirei o telefone do ouvido e me certifiquei de que não estava enlouquecendo. Era ele sim.
- Bill? - indaguei, e do outro lado ouvia apenas a sua respiração. Eu ainda estava totalmente surpresa, e ainda por cima fazendo papel de idiota, que lindo Rachel!
- Rachel? É você...? Será que disquei o número errado? - perguntou baixinho.
- Sim, sou eu Bill, é que... Eu só fiquei surpresa por você ter me ligado - soltei um riso nervoso, sendo acompanhada por ele do outro lado.
- É que Tom me disse que você voltaria hoje, então... Ta, é o seguinte – respirou fundo, ele estava com dificuldade pra falar - Vamos fazer uma reuniãozinha aqui em casa. Tom pensou em te convidar, mas creio que ele está sem tempo. E não se preocupe, são só os meninos da banda e mamãe.- terminou.
- É Simone quem vai fazer a comida? – perguntei, e Bill riu do outro lado.
- Então você já conhece a comida da minha mãe é? Sim, ela quem vai cozinhar, portanto é imperdível. E eu não irei aceitar um não, de jeito nenhum. – ele tentou parecer sério, mas estava rindo.
- Tudo bem, vou fazer o máximo para ir, não sei que horas eu chego... - fui interrompida, Bill sentia uma necessidade de falar e estava alegre como nunca o tinha visto.
- Eu vou te buscar, vou sim, pode me esperar. - ele parecia andar, estava ofegante.
- Tá bom, eu aceito. – Bill exclamou um ‘oba!’, cantando vitória. 
- Mas Bill, mudando de assunto, como você está? Melhor? – não sei se era certo e nem se fiz bem em tocar nesse assunto, mas ele estava tão feliz que não vi a possibilidade de ele se incomodar com isso. Ele suspirou e falou.
- Muito melhor. Só ando cansado, efeito dos remédios, mas me sinto mais alegre, mais vivo. Resumindo: sou outro! - nessa hora, um sorriso bobo surgiu em minha face. Nem sabia ao certo o motivo, mas o fato dele estar melhor me provocou um grande alívio. - Tom me disse que foi você quem indicou o terapeuta e o nutricionista. Ele já deve ter feito isso por mim, mas eu queria agradecer também. - Bill continuou.
- Não precisa. Você gostou deles? - perguntei
- Ah sim, eles têm me ajudado muito. Fora o nutricionista que incluiu verduras e coisas ruins no meu cardápio, ainda estou me acostumando com isso, eca! Mas tudo bem, eu aprendo. O que não ajuda muito é o Tom fazendo caretas enquanto eu como, e por culpa disso, mamãe o obrigou a entrar na dieta comigo. Bem feito, agora ele também come essas porcarias - Bill não parava de falar e o fazia muito rápido. Eu estava tentando achar o tempo em que ele para pra respirar, mas não encontrei. – Me responde uma coisa: por que os dois são homens? Não tinha nenhuma mulher não? - após a pergunta de Bill, soltei uma risada. Eu sabia que um dia ele iria me perguntar isso.
- Bom, é... É que se fosse uma mulher iria tirar o seu foco do tratamento, e isso não seria bom - respondi meio constrangida, fazendo-o rir.
- Do tipo eu me apaixonar por ela? 
- Do tipo sim. Eu falo por experiência própria, mas eu não tinha culpa se ele era tão bonito, eu era adolescente e... - parei na hora ao ouvir Bill gargalhar, e só aí fui me dar conta do que estava falando, maldita boca!
- Você se apaixonou pelo seu terapeuta? Foi isso? 
- Isso – eu disse sem jeito enquanto ouvia meu vôo ser anunciado, finalmente. Bill iria recomeçar uma frase, mas tive que interrompê-lo. Coitado, falar hoje parecia uma necessidade pra ele.
- Bill, vou desligar, tenho que embarcar, depois conversamos mais. - me despedi, já indo em direção ao portão de embarque.
- Tudo bem, até depois. - desligou o telefone e eu segui até a fila.
Enquanto procurava meu acento, um homem mal educado esbarrou em mim, derrubou minhas coisas e nem se quer olhou na minha cara seguindo seu caminho normalmente, e eu incrivelmente não reagi, o que foi surpresa até pra mim mesma. Eu não era a pessoa mais calma e compreensiva que conhecia, longe disso; eu não estava me reconhecendo. Estava com uma sensação de bem estar incrível, e também estava feliz. Era impossível isso ser conseqüência de um simples telefonema, mas no fundo eu sabia que era. 
Sentei ao lado de um senhor de idade. Ele estava com os fones no ouvido, assistindo a algum filme.
- Está um belo dia não é senhor? – perguntei, olhando em sua direção. Ele não entendeu, retirou os fones e me olhou curioso.
- Eu disse que está um belo dia não é? - ele sorriu após ter entendido e assentiu com a cabeça, recolocando novamente os fones, enquanto eu procurava a posição mais confortável para descansar.

Se havia uma coisa que eu detestava era o desembarque: muita confusão e demora. Parece que as pessoas disputam para ver quem tem mais pressa. Aeroportos são estressantes. Definitivamente. 
Após colocar todas as malas em um carrinho, segui pelo saguão a procura de um táxi. Estava escuro já, provavelmente Tom não pôde vir, e muito menos Bill. Acho que ele ainda não tem permissão para colocar os pés para fora de casa. 
Estava passando pela porta automática quando ouvi meu celular apitar. Retirei-o da bolsa e li a mensagem.

“ O carro preto a sua frente, entre’
BK.”

Ergui o rosto e mais a frente enxerguei uma BMW estacionada a alguns metros dali, não podendo evitar um sorriso. Segui até lá olhando para os lados, me certificando de que estava tudo seguro. O porta-malas se abriu automaticamente e eu coloquei as malas lá. Abri a porta do passageiro e me deparei com uma figura de roupas escuras, touca cinza e óculos escuros, segurando o volante e sorrindo pra mim. Entrei sem dizer nada e fechei a porta. Ao me virar, fui surpreendida com um beijo na bochecha, e ainda meio estagnada, sorri.
- E aí, fez boa viajem? - Bill perguntou, enquanto girava a chave do carro lentamente, dando a partida.
- Mais ou menos. Odeio turbulências, me tiram o sono durante toda a viajem. – respondi, lembrando-me da cena. Bill me olhou sério, mas logo depois, ele já estava sorrindo. Ele realmente estava melhor, eu sentia, não parava de sorrir um minuto.
- Tenho trauma, me provoca crises de pânico. – ele falou entortando a boca, tentando parecer engraçado.
- Entendo. - respondi, virando o rosto e tentando prestar atenção na estrada, mas algo não deixava, Bill estava rindo, e balançava a cabeça para os lados, alegre. Meu Deus, será que ele ficou louco? – Bill, eu falei alguma coisa que...
- Não, não é você, é que hoje é o primeiro dia em duas semanas que eu saio de casa. Estou me sentindo livre outra vez, não agüentava mais a minha cama. – ele me olhou e sorriu.
- Que bom que eu pelo menos servi pra alguma coisa. – eu disse, dando de ombros. 
- Só tem uma coisa - Bill se aproximou como se fosse me contar um segredo, rindo feito uma criança que acabou de aprontar - Eles não sabem que eu saí. – ele terminou a frase rindo.
- O quê? Você fugiu? – indaguei, com a mão na boca.
- Sim... Quer dizer... Não. – ele pendeu a cabeça levemente para o lado.
- Sim ou não?
- É sim, eu fugi, mas e daí? Sou dono do meu nariz já, e eu precisava sair. Não agüento mais ser tratado como um bebê, e não se preocupe, eu assumo a culpa. Não vou contar a eles que você implorou para que eu viesse. - ele piscou em minha direção.
- Ah que ótimo, me sinto melhor assim. - sorri sem jeito. 
Enquanto Bill acelerava e deixava os motoristas pra trás, eu achava que só o Tom gostasse de velocidade, mas pelo visto estava enganada: Bill era pior que ele, e talvez não fosse só nisso.
-Vamos animar isso aqui - Bill disse, ligando o rádio e deixando que uma música agitada ecoasse pelo carro. Ele me olhou arqueando a sobrancelha direita e sorrindo.
Eu sabia que o caminho era longo, mas Bill estava animado e isso acabava me contagiando. Ele estava muito mais bonito, talvez até pelo fato de estar melhor, não parecia a mesma pessoa que conheci há um mês. Ele falava muito, me fazia rir diversas vezes, estava elétrico. Naqueles olhos que antigamente eu enxergava algo ruim, aos poucos estavam tomando brilho e nitidez, fazendo dele uma pessoa que deixa transparecer sentimentos e emoções. Tom sempre foi assim, e eu a cada dia me surpreendia mais com a semelhança entre os dois.
- Fazia tempo que você estava lá? – perguntei, após um raro momento de silêncio.
- Não, recém tinha chegado – ele me olhou de canto, sem tirar totalmente os olhos da estrada e sorriu fraco. Eu franzia as sobrancelhas, não entendendo, e ele continuou. – Eu liguei pro aeroporto e perguntei que horas seu avião chegava - sorri sem jeito e assenti afirmativamente com a cabeça. - Qual é? Eu não iria ficar lá esperando você, não pense que você tem essa moral toda comigo. – ele sorriu novamente e voltou sua atenção a estrada.
Depois de um longo tempo andando, finalmente chegamos a entrada do condomínio. O velho senhor nos olhou com uma cara de surpresa após Bill baixar o vidro do carro, talvez pelo fato de Bill ter fugido sem ele perceber, já que ele havia pego o carro de Simone .Bill estava tão excitado com a idéia de ter feito algo errado... 
Entramos sobre os olhares curiosos do porteiro. Bill estacionou em frente a sua casa. Desci do carro enquanto ele pegava sua bolsa, segurando-a pela mão junto com as chaves e seu celular. Não pude evitar olhar aquilo, são poucos os homens que conheço que carregam bolsa, e a dele era mais pesada que a minha! A curiosidade de saber o que ele carrega ali cresceu dentro de mim. Um dia quem sabe né?!
- Vaaaai! - senti Bill me empurrar pela cintura até a porta de entrada.
-Aii, tá bom! Mas por que eu? – reclamei, enquanto sentia-o segurar nos pinchais da minha calça jeans.
- Pra me dar cobertura ora! - cochichou 
- Bill - virei o pescoço para o lado direito com uma expressão altamente irônica - você é maior que eu! Beeem maior!
- Dane-se – ele disse, dando de ombros – Vai, entra duma vez criatura!
Abri a porta com cuidado, segurando o riso ao máximo, já que Bill tentava se desviar dos olhares de todos se escondendo atrás de mim.


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Notas finais do capítulo

Logo volto com a segunda parte!
comentários?
até mais ;*



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