One In a Million escrita por Neline


Capítulo 12
I have to stay and face my mistakes




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Eu demorei algum tempo para me acostumar com o Brasil novamente. As cores pareciam tão mais vivas, e o calor estava simplesmente sufocante.

Mesmo assim, já haviam passado dois meses, e eu não me dera ao trabalho de desfazer as malas.

Não era como se eu não quisesse o fazer. Só não sabia como. Dentro daquelas malas, haviam lembranças que eu não queria encarar. E de alguma maneira, eu estava esperando que elas sumissem como mágica depois de alguns meses.

É claro que não aconteceu, e uma hora ou outra eu teria que enfrentar aquilo. Como se não bastasse minha mãe, perguntando o que aconteceu toda a vez que conversamos. Ou Joe, me jogando indiretas e comentários ácidos sempre que podia. E ele tinha muitas oportunidades, uma vez que estudamos na mesma universidade. Mas eu nem me importava mais.

Eu sentia falta do Chuck. E só saber isso me machucava mais do que o sentimento em si. Afinal, sentir falta dele não era apenas ruim. Era digno de pena. "Ele não sente nada por você, ele te usou. Ele acabou com o que deveria ser o melhor momento da sua vida. Na verdade, os dois melhores, se contar a sua virgindade. ". E mesmo que meu subconsciente continuasse com o cenho franzido, repetindo esse pensamento o mais alto possível, esperando que uma hora ou outra eu entenda, simplesmente não consigo aceitar. Não parece certo.

Tirei as malas do guarda-roupas.

No total, eram 5 malas abarrotadas de roupas de inverno e coisas aleatórias da viagem. Comecei pela mais fácil: os casacos. Tomei o cuidado de não olhar para os bolsos: eu sabia que ia encontrar alguma coisa - um recibo, um lenço ou qualquer outra besteira - e lembraria do Chuck. Coloquei-os cuidadosamente em cabides e os devolvi para o guarda-roupas.

A segunda mala não teria sido um problema também, se não fosse um vestido: o que eu usei na primeira vez em que fui ao apartamento de Chuck. Joguei-o no chão, e chutei para baixo da cama.

A terceira mala tinha apenas roupas - que eu usei na faculdade, que eu usei para sair com Chuck, que eu comprei com ele. Consegui tirar metade delas. Dobrei-as, e guardei cada uma delicadamente. Mas não consegui terminar. Joguei a mala de volta para o guarda-roupas.

Uma tinha apenas sapatos, que eu tirei e organizei por cor. Já a última... bem, essa eu ia precisar de folego.
Eu tinha organizado todas as lembrancinhas e fotos em uma mala, separada em envelopes. Eu tirei cuidadosamente a miniatura da estátua da liberdade que Chuck havia me dado.



"- Acho que nenhum Nova Yorkino realmente dá valor a estátua. - Chuck disse, com as mãos no bolso, observando o monumento. Havia um vento persistente que revirava meus cabelos, mas isso não parecia incomodar nenhum dos outros turistas abismados pelo monumento. Não que eu não estivesse impressionada com a magnosidade da estátua.

– Deveriam. Mas acho que é como no Brasil. Ninguém que mora lá realmente dá valor à beleza quando a vê todos os dias. - Dei de ombros, e Chuck colocou o dedo debaixo do meu queixo, virando meu rosto. Os olhos dele passaram por cada linha da minha face, e ele sorriu.

– Será? Não acho que algum dia vá poder deixar sua beleza passar desapercebida. - Eu sorri.

– Tenho certeza que logo logo eu vou me tornar bem mundana para você.

– Sabe, eu quero subir no topo. - Chuck falou, abruptamente, e eu o encarei, sem entender o que ele estava dizendo.

– O que?

– Da estátua. Quero subir no topo da Estátua da Liberdade. - Eu ri, e o puxei pela mão.

– Deixa disso, Chuck. Vem, vamos comprar uma estátua, ai você pisa encima dela e pronto. - Arrestei ele pela multidão, com o vento gelado no meu rosto. Mas não importava. Minha mão estava coberta por uma luva, e ainda assim, eu conseguia sentir o calor que a pele de Chuck emanava.

E aquilo me fez sorrir mais."



A estátua de Chuck virou uma pilha de cacos, já que depois de alguns drinks, ele realmente tentou ficar encima dela. A cabeça quebrou, e, como consolo, colamos uma cabeça de Barbie no lugar.
Um envelope repleto de fotos do mesmo dia praticamente caiu sobre o meu colo, e eu o abri. Havia uma foto minha, imitando a pose da estátua, e depois uma do Chuck, fazendo o mesmo. Na hora, foi hilário, e agora me dava vontade de chorar. Depois, havia uma de nós dois, abraçados, comum sorriso leve. Outra, mas dessa vez estavamos fazendo careta. E no meio de várias poses engraçadas, várias fotos da paisagem, várias vezes eu, tirando o cabelo do rosto, ou tapando a lente insistente da camera de Chuck, que ele insistia em focar repetidamente em mim, encontrei um foto nossa que eu amará.

Nós dois, nos beijando, na frente da grande estátua.

Como isso podia ser mentira?
Joguei todas as fotos dentro do envelope de volta, e o guardei na gaveta da minha comoda. Precisava terminar essa mala.

Dentro de outro envelope, haviam mais fotos, uma moeda, um cartão postal e um botão de rosa, já seco. Eram do dia em que eu visitei o Empire State Building.



"- Isso é lindo! - Murmurei, com os olhos fixos nas várias luzes coloridas, da cidade gigantesca abaixo de nós. Chuck deu de ombros.

– É, eu acho que sim. Quer ver pelo telescópio?

– Claro! - Ele tirou uma moeda do bolso, e colocou em um dos vários aparelhos enfileirado, e eu segui até lá como uma criança saltitante. Me posicionei, olhando pelo telescópio as construções agora nítidas. Chuck empurrou o aparelho, como se tentasse localizar algum lugar.

– Ali é Harvard. - Ele o moveu de novo. - Ali é o prédio onde fica o meu apartamento.

E assim passamos todo o tempo que a moeda me proporcionou. Chuck me mostrou a casa dos pais, a lanchonete que eu havia achado simpática, a rua pela qual eu saí correndo depois de deixar o carro dele. Tudo. Porém, logo o telescópio parou de funcionar, e eu me afastei dele completamente chocada.

– Quem diria que Nova York pode ficar ainda mais bonita.

– Seu sotaque brasileiro fica mais forte quando você está animada. - Olhei para ele, fechando a cara. - É bonitinho.

– Para. - Falei, a contragosto, cruzando os braços. - Não tem nada de bonitinho em falar como uma caipira.

– É sexy. - Ele me beijou, ali, com a cidade inteira aos nossos pés. E quando eu abri os olhos, vi algo brilhando no chão.

– Ei, o que é isso? - Peguei o objeto do chão. Era só uma moeda, com aspecto de velha.

– Hm, me deixa ver. - Chuck a tomou da minha mão. - É de... 1787. Bem antiga. Dizem que encontrar moedas antigas da sorte.

– Bem, então pode me dar ela. Eu que achei. - Ele jogou-a sobre a minha mão.

– Vamos embora, srta. Sortuda. - Nós descemos o elevador lotado, até sair do grande e majestoso hall do Empire State. Do lado de fora, havia uma senhorinha encolhida, com uma cesta de rosas. Chuck tinha a mão pousada delicadamente na minha cintura.

– Uma rosa para a bela dama? - Chuck tirou uma nota de 10 dólares da carteira, e entregou a senhora. - Cada uma é 2 dólares, senhor.

– Ah, fique com o troco. A senhora tem belas rosas ai. - Com o elogio fazendo sua pele brilhar, a mulher procurou um pouco na cesta, e retirou a rosa mais vermelha e vibrante que encontrou.

– Vocês formam um casal muito bonito. - Ela disse, entregando a rosa a Chuck, que entregou-a para mim com um sorriso radiante no rosto."



Eu não quis ver o resto das fotos. Fechei a mala e a joguei em um canto. Então, lembrei de algo lá dentro que eu realmente queria. Meu celular.

Tirei-o da mala, e esperei pacientemente até que ele ligasse. Na tela, havia o registro de 108 chamadas perdidas, 253 mensagens e 12 novas mensagens de voz. Todas de Chuck. Não li as mensagens, mas as mensagens de voz eram muita tentação para uma mulher só. Liguei para a caixa postal e comecei a escutá-las em ordem cronológica.

A primeira era de 5 dias depois que eu voltei para o Brasil.

"Blair, eu sei que você não quer falar comigo. Eu entendo. Mas é sério, eu preciso falar com você. Me liga."

A voz dele me atingiu em cheio. Era um mosto de cansaço e tristeza de partir o coração. Mas não deixei aquilo me atingir.

A outras, intercaladas com um intervalo médio de 4 dias, eram praticamente a mesma coisa. Já haviam passado 10 minutos ouvindo a voz de Chuck repetir o mesmo apelo, cada vez mais exaltado, de Chuck, e eu estava pronta para parar. Mas a última era de dois dias atrás, e me prendeu pela mudança de voz. Era puro cansaço, com um pouco de raiva.



"Olha, eu não tenho ideia de você ouviu minhas outras mensagens, ou leu as que te mandei. Só me escuta: eu errei. Eu sei disso. Errei feio e agora estou sofrendo as consequências. Mas cansei de ficar sentado esperando você estar pronta para falar comigo. Você vai me ouvir, Blair. Eu vou fazer você ouvir."



E depois de 15 minutos repetindo a mesma fala, eu só conseguia pensar que não entendia aquilo. E não queria entender.


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