Victorine terminava de tirar o pouco de poeira que sobrara em seu sobretudo enquanto os demais rapazes já saiam dos escombros da igreja recém-destruida.

-A imortalidade de vocês é bem útil – comenta ela dando um rápido sorriso á eles quando se aproximam.

-Você também é imortal – diz Alden solene enquanto ajeita seu casaco branco

-Uma imortalidade que pago para ter – esclarece a bruxa com um olhar opaco.

-O que quer dizer? – pergunta Ethel curioso enquanto limpa a manga de sua camisa azul-clara que mantinha-se ainda sem nenhum rasgo.

-Quero dizer que tenho que dar algo sempre para manter a minha imortalidade – respondi ela dando alguns passos em direção á uma arvore – Todo ano preciso fazer um sacrifício tanto para o rei dos demônios quanto ao Pai.

-Sacrifício de que tipo? – pergunta Ethel curioso – Não deveria colocar essa fruta na boca, Victorine.

A bruxa estanca com a pequena frutinha arroxeada com pontinhos avermelhados que acabara de colher.

-Isso se quiser ter alucinações – complementa Ivor colocando as mãos dentro das luvas negras.

Ela então joga a fruta para o lado ao tempo em que os olha alternadamente.

-Preciso oferecer o sangue puro de um humano para os demônios e um auto de fé para os anjos – respondi a bruxa solene e seria

Ethel arregala os olhos e depois se retorna para Ivor e Alden que se mantinham sérios e calmos.

-Não imaginei que isso acontecesse – diz ele ainda perplexo.

-Você não imagina muita coisa – refleti Victorine enquanto começa a caminhar.

-O que quer insinuar com isso? – pergunta o deus começando a caminhar também

-Não perco meu tempo fazendo insinuações, Ethel – respondi ela amarga – Além do que não fui eu que tive que mentir sobre minha própria morte para salvar a pessoa que amo não é mesmo?

-Como sabe disso? – pergunta ele tentando manter a calma

-As noticias correm - respondi a bruxa o olhando se soslaio – Ainda mais quando trata-se de algo semelhante para alguém.

-O que Anke lhe fez? – pergunta Ivor vindo mais atrás com Alden ao seu lado

Victorine volta-se para ele, o olhando por um raio de segundo antes de recomeçar a caminhar.

-Ele tirou de mim meu irmão algum tempo – respondi ela quase sussurrando

-Então ele tirou algo de cada um – refleti Alden trocando um olhar cúmplice sobre algo oculto entre Ivor.

-Sabem de alguma coisa? – indaga Ethel os olhando rapidamente mais com inquisição.

-Assuntos de alto escalão entre membros de mesma religião – diz Ivor tentando ser evasivo.

-Realmente - concorda Victorine dando de ombros – Ambos foram nascidos do berço do Cristianismo. É impressionante como a forma de vocês seja assombrosa hoje.

-A religião é a mais difundida no mundo – explica Ethel – Tratando dos seres que nasceram dessa religião como coisas reais e não imaginarias.

-O que acabou trazendo a ilusão para realidade – conclui Victorine vislumbrando uma ponte alguns metros à frente – Acho que tenho o lugar perfeito para a próxima parada.

Os homens a olham confusos, ela indica com o olhar a ponte que se via a frente. Alden deixa novamente suas asas amostra, antes de levantar vôo seguindo para lá.

Victorine revira os olhos enquanto retorna-se para Ivor e Ethel.

-Acho que vamos ter que acelerar o passo.

-Cuido disso – diz Ivor pondo uma mão no ombro de cada um

Em rápidos minutos o trio se encontrava sobre uma das vigas da ponte de ferro de detalhes modernos.

Um vento forte e gélido os atinge em cheio, fazendo Victorine se arrepiar. Ivor passa um de seus braços ao redor da cintura dela que o olha com uma sobrancelha arqueada.

-Você pode cair – explica-se o demônio

Ela revira os olhos, logo depois vê um transatlântico vir na direção em que estavam.

-Ethel me corrija se estiver errada – diz Victorine não tirando o olho do colossal barco – Mais atualmente é você quem domina as águas, correto?

O deus apenas faz que sim enquanto um sorriso brota no rosto da bruxa que volta-se completamente para ele.

-Então acho que vai achar interessante expulsar alguns intrusos que profanam suas águas – conclui ela numa voz autoritária.