Physics escrita por Babi Lemos


Capítulo 2
Cap 01 – Another day, another drama. [PART 1]




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- Bom dia. – cumprimentei a Laura, ela nem sequer me olhou. – Tua educação me encanta. – sentei em um banco do lado contrario ao seu, ela me olhou e fez careta. Girei os olhos. –

 

- Gatinha...- Chloe se aproximou da filha, deu-lhe um beijo no topo da cabeça. –  Apresse, se não se atrasa pra escola.

 

- Vai nos deixar, Chloe? – a olhei na esperança de que ela dissesse que sim, mas ela riu. –

 

- Te deixar? Vou deixar a Laura, que é no caminho do shopping, não é fofinha? – ela sorriu e a cobra junior sorriu junto. – Aqui o dinheiro do ônibus.

 

- Obrigada, Chloe. – sorri. – E espero que seu salto quebre. – puxei minha bolsa e saí, ouvindo protestos da barbie siliconada. Peguei um ônibus lotado e finalmente cheguei na escola. Fui até o banheiro e arrumei o estrago do empurra-empurra da lata de sardinha e fui pra sala. Sentei na última cadeira, olhando no notebook (única parte boa de estudar aqui) o novo horário. Segunda: Física Moderna (aula dobrada), Artes, Intervalo, Inglês (mais uma dobrada), História. Almoço. Física Quântica (Dobrada mais uma vez.), Alemão (língua estrangeira. Francês e Espanhol eu aprendi aos 9 anos, só sobrou o alemão.), Outro intervalo, Educação física (Sou dispensada, tenho um problema no joelho.), Geografia. Mal vi o tempo passar, logo o sinal tocou, dando inicio a primeira aula. –

 

- Bom dia classe. – um cara extremamente gato entrou na sala. Todas as atenções femininas se voltaram para ele. – Me chamo David Jones, sou o professor de física de vocês. Imagino que já tenham uma base da física moderna, então apenas digitem o que vou falar. – ele sorriu, logo ouvi o barulho do Windows sendo iniciado. – Pronto? – todos concordaram. - Física Moderna é a denominação dada ao conjunto de teorias surgidas no começo do século XX, principiando com a Mecânica Quântica e a Teoria da Relatividade e as alterações no entendimento científico daí decorrente, bem como todas as teorias posteriores. De fato, destas duas teorias resultaram drásticas alterações no entendimento das noções do espaçotempomedida, causalidade, simultaneidade ,trajetória e localidade. – ele disse e todos copiamos. Qual o sentido de se estudar física?  Sou péssima na matéria e não existe um ser que consiga fazer entrar na minha cabeça, a teoria de Bohr ou derivados. São todos loucos. O professor continuou falando e a gente digitando até acabar a primeira aula da dobradinha. – Agora peguem o caderno de cálculos e resolvam esse exercício que vou passar. – ele começou a copiar no quadro, com uma letra encantadoramente perfeita, alguns cálculos que pra mim, mas pareciam letras gregas. Copiei e depois fui jogar paciência no notebook. Todos resolviam ou pelo menos tentavam resolver, menos eu. Isso não me incomodava, já que minha presença na detenção de física já era certa desde a 8ª série. O problema, é que o senhor Jones não sabia disso, veio até meu lado e me olhou com aqueles olhos azuis e sentou-se ao meu lado. –

 

- Como se chama? – sua voz soou baixa, para não atrapalhar a concentração dos demais. –

 

- Livie. Livie Woods. – o olhei, ele sorriu. –

 

- Então Livie, algum problema com o exercício? – ele olhou o notebook e riu. – Ou acha que jogar paciência é mais interessante?

 

- Decididamente não. – baixei a cabeça. – Mas digamos que física não seja lá meu forte.

 

- O que não entende? – ele puxou o caderno para si. – Tem uma letra muito bonita. – ele elogiou e eu quase ri. Minha letra mais parecia um garrancho ao lado da sua, indiscutivelmente perfeita. Ah se o senhor Thompson tivesse aulas de caligrafia com ele, minhas aulas de História seriam bem mais produtivas. –

 

- Obrigada. – sorri. –

 

- Não me respondeu o que não entende. – ele voltou a me olhar, como se resolver aqueles cálculos gigantescos que no final sempre davam 1, fosse a coisa mais simples do universo.–

 

- Isso é grego para mim, senhor Jones. – falei. –

 

- Não só pra você, como pra qualquer ser do universo. – ele riu. –α, μ, ρ, δ, θ são letras gregas. – ele riu e eu procurei um buraco para enfiar minha cara. –

 

- Desculpe. – me senti corar. –

 

- Quer ajuda? – ele pegou o caderno e um lápis, riu mais uma vez ao ver a plumagem pink. –

 

- Não perca seu tempo comigo, professor. Sou um caso perdido, nem Einstein me faria entender essa coisa. – puxei o caderno de volta, mas ele puxou para si mais uma vez. –

 

- Não acredito que seja tão má. – ele me olhou. –

 

- Pois acredite. Estou na detenção de física desde a 8ª série. – prendi o cabelo em coque. –

 

- Hora de quebrar o tabu. Não quero ficar mais tempo na escola. – ele sorriu.- Não leve para o lado pessoal.

 

- Desculpe informar, mas o senhor irá. – falei e ele não deixou de sorrir. –

 

- Veremos. – ele disse, desisti e prestei atenção no que ele começou a explicar. – Qual a contração da Terra ao longo de seu diâmetro para um observador em repouso relativo ao Sol, sabendo a velocidade orbital da Terra relativa ao Sol é de 30 km/s, e o raio da Terra é 6370 km. – ele leu o problema e me olhou. – O que ele quer saber?

 

- Qual a concentração da terra, no ponto de vista de um observador no sol? – o olhei e ele sorriu. –

 

- Exato. Sabe como resolver?

 

- Não faço a mínima. – dei ombros. –

 

- Sabe a fórmula? – me olhou e neguei mais uma vez. – Ok. – ele suspirou. Acho que se convenceu que sou um caso perdido. Ele começou a exlicar e foi impossível não prestar atenção. Ele falava de um jeito tão calmo, que parecia fácil resolver aquilo tudo. Ele foi dizendo o que eu devia fazer e eu fazia. Ele basicamente resolveu o exercício e eu apenas transcrevi para o papel. – Entendeu agora?

 

- É, entendi. – confessei. – Mas não me peça para fazer um igual, morro de velhice, só tentando fazer.

 

- Você só precisa praticar. – ele ficou de pé. – Bom gente, próxima aula corrigimos. – ele disse, indo até sua mesa e pegando seu material. A sineta tocou e eu nem ouvi de tão concentrada que estava na voz rouca dele. E por incrível que pareça, naquele dia, eu não tinha detenção em física. Ok, isso foi estranho de dizer. – Volto para a aula de Física Quântica. – e se foi. Guardei o caderno de cálculos e fomos todos para a sala de aula de artes. –

 

- Bom dia, Livie. – Soraya sorriu. A professora de artes tinha um carinho especial por seus alunos, vai ver é porque sempre quis ter filhos, mas não pode, tadinha. – Olá classe, hoje iremos retratar a pessoa mais importante de nossas vidas. Quero que desenhem o objeto que te faz lembrar essa pessoa, mas não quero que desenhem seu rosto. Técnica, pontilhismo. – bem, pelo menos a aula de artes servia para desestressar. Comecei desenhando um microfone. Apenas duas pessoas eram importantes para mim. Infelizmente uma elas já morreu. – Você tem o dom para pintura, Livie. – ela sorriu. – Um microfone?

 

- Minha mãe era cantora. – falei, terminando a pintura no exato momento que a sineta tocou. Desci para a biblioteca, encontrando o professor David resolvendo exercícios. Fui até uma das prateleiras e peguei um livro, sentando-me em uma das últimas mesas,perto dele por coincidência, enquanto comia um salgado qualquer. –

 

-  Feliz por não ir para a detenção pela primeira vez em 3 anos? – ele perguntou, não deixando de resolver seus exercícios. –

 

- É estranho. – confessei. – Não vou ter o que fazer na hora do almoço. – falei, olhando-o sob o livro. Ele sorriu. – Essa é a primeira escola que leciona?

 

- Sim, porque? – ele me olhou. –

 

- Seu pique. – ri. – Professores mais velhos usam o intervalo para relaxar e o senhor não larga o livro. – apontei. –

 

- Gosto da física e além do mais, sou novo, não conheço ninguém aqui. E você, por que não está com as outras garotas?

 

- Esmaltes, Leonardo Di Caprio e a última moda em Milão não são assuntos que me interessam. – falei, virando  página do livro. –

 

- Achei que Leonardo Di Caprio tivesse fora de moda. – ele riu. –

 

- Deve estar, mas ele continua bonito, então...Que seja.- balancei a mão no ar. –

 

- Gosta de ler? – ele olhou o título do livro. - Madame Bovary? – ele sorriu. – Um gosto peculiar.

 

- Esperava ver uma Vougue? – ri. –

 

- Você não me parece desinteressada em moda. – ele me olhou da cabeça aos pés. –

 

- Apenas não vivo em função disso. – dei ombros. –

 

- Ok, você é uma em 1 milhão.

 

- Uma em um milhão, uma em um bilhão, uma em um zilhão... – cantei baixinho, ele riu. – Desculpa. – ri. –

- Bem, ta na hora. – ele se levantou. –

 

- Mas ainda não...- não terminei a frase, a sineta me interrompeu. – tocou. – falei e ele riu. – Ok, isso foi bizarro.

 

- Bom Dia, Livie. Nos vemos na aula de Quântica. – ele abriu a porta pra mim. –

 

- Não precisava lembrar do meu martírio. – fiz careta. –

 

- Vou te fazer gostar de física, você vai ver. – ele sorriu. –

 

- Se fizer isso, juro que resolvo todos os meus livros de física sozinha. – ri. –

 

- Feito. – ele esticou a mão. Ele realmente levou a sério? Apertei sua mão, rindo. – Nos vemos na hora do almoço?

 

- Achei que não estivesse na detenção. – falei, fechando o sorriso. –

 

- e não está. – ele riu. – Mas você disse que não tem o que fazer e não gosta de ninguém por aqui, achei que pudéssemos almoçar juntos.

 

- Ok, me convenceu. – sorri. – Boa aula.

 

- Pra você também. – nos despedimos e fui para a sala. Ok, mais uma estranheza. Por que diabos o professor de física queria almoçar comigo? As aulas restantes passaram como um raio, a não ser a de história, já que para traduzir a letra do senhor Thompson, a gente demora a aula inteira. Saí da aula e caminhei até a lanchonete da escola, encontrando o professor David conversando o professor de Alemão, o senhor Muller. – Olá Livie. – ele sorriu. –

 

- Professor David e professor Mike... – sorri. –

 

- Bom, David, nos vemos ao fim da aula, então. – ele disse e saiu. – Boa tarde, senhorita Woods.

 

- Senta. – David sorriu, sentei. – Faz aulas com Mike? – ele colocou meu material na cadeira ao seu lado. –

 

- Sei francês e espanhol desde os 9 anos. – dei ombros. – E alemão é complicado, acho divertido.

 

- Só para dizer bom dia, parece que se está xingando alguém. – ele riu e eu também. –

 

-          So zu sagen, dass deutsche Meister David denkt, dass es nur Namen zu nennen?* – falei e ele gargalhou. –

 

-          Nein, denn ich spreche auch Deutsch, und Französisch, Spanisch und Italienisch.** – ele respondeu sorrindo e eu ri junto. –

 

- Além de física, ainda é interessado por idiomas? – peguei o cardápio. –

 

- Minha família se mudou muito durante minha infância...Digamos que conheço bem a Europa. – O que vai querer? Hambúrguer?

 

- Sou vegetariana, professor. – sorri. –

 

- 15 anos e uma decisão tão politicamente correta? É, você é realmente imprevisível.

 

- Minha mãe era vegetariana, nunca coloquei nenhum pedaço de carne na boca. – falei e Lílian, a garçonete, se aproximou. –

 

- Lasanha vegetaria, arroz e sala, com suco de laranja. Acertei. – ela sorriu. –

 

- Como sempre. – falei. –

 

- Ok, não vou comer carne na sua frente. – ele riu. –

 

- Não se incomode, professor. – sorri. – Peça o que tiver vontade.

 

- Ok, obrigado. – ele sorriu. – Frango grelhado, arroz branco, salada e suco de laranja.

 

- Já trago. – ela sorriu e saiu. -

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

* Quer dizer que o mestre David acha que alemão é só xingamento?

 

** Não, porque também falo alemão, assim como francês, espanhol e italiano.



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