Mudando o Jeito de Viver escrita por Mayara Paes


Capítulo 5
O4 - Desconfianças. (Edward)




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"Assim como o sol derrete o gelo, a gentileza evapora mal entendidos, desconfianças e hostilidade."

– Albert Schweitzer.

Os dias se seguiram arrastados, totalmente torturantes e tediosos, como era de se esperar. Não conseguia me focar em exatamente nada. Estava totalmente disperso. Fazia exatamente sete dias que eu rondava a escola inteira a procura de uma única pessoa e essa parecia ter evaporado do mundo.

Sim, procurava Isabella Swan, cuja menina que conheci há apenas um dia, mas suas atitudes já me intrigam de uma forma que ninguém, nunca conseguiu. Pode parecer estranho ou até mesmo insano, mas ansiava vê-la novamente. Queria mergulhar novamente em uma imensidão achocolatada, sentir sua fragrância adocicada e totalmente inebriante.

Essa semana sem vê-la estava deixando-me totalmente louco. Ela não saia de meus pensamentos. Sempre perguntando a mim mesmo o que ela estaria fazendo naquele exato momento. O porquê de seu desaparecimento e o que estava lhe acontecendo.

Encontrava-me totalmente viciado em uma menina totalmente desconhecida, mas estava disposto a desvendá-la a todo custo.

Nesse exato momento, andava a passos largos e ágeis pelos corredores. Com uma única fagulha de esperança em vê-la depois de tantos dias. Dias dolorosos, posso afirmar.

Esperança vã, pois assim que terminei de fazer minha ronda diária pela escola, pude perceber que ela não estava em nenhum lugar do local inteiro.

Suspirei resignado, dirigindo-me automaticamente em direção ao meu armário.

Andava agora a passos arrastados, cabisbaixo enquanto relembrava a letra enigmática de música perdida. Ela ainda estava comigo, eu já tinha decorado a mesma. Fiquei “praticamente” o fim de semana inteiro enclausurado no quarto em uma tentativa ávida de decifrar as palavras, encaixá-las em Isabella. O que estava sendo um tanto difícil, pois pouco conversei com ela e infelizmente ainda não a conhecia o suficiente para tal ato.

Lembranças vieram em minha mente, quando peguei a folha em minha mochila. Só em pensar que estava prestes a perder a música para Alice, sentia calafrios.



# Inicio de Flashback #



Era sexta feira. Entrava apressadamente no refeitório com meu peito borbulhando ansiedade e esperança que logo se evaporaram dando lugar á decepção, assim que olhei o ambiente inteiro e ela novamente não estava lá.

Arrastei-me preguiçosamente até á mesa que Alice e nossos amigos estavam.

–Olá pessoal! – cumprimentei arrastando uma das cadeiras e me sentando nela.

–Oi! – responderam em uníssono.

–E aí Edward, soube? As inscrições para o time de basquete abriram hoje. – comentou Jasper.

–Não sabia, não prestei atenção. – disse tristemente, lembrando o motivo para tanta distração.

–E eu posso saber o motivo de tanta falta de atenção? Você anda muito disperso ultimamente. – disse Alice autoritária.

Ignorando completamente a salva vidas de aquário, continuei meu diálogo com Jasper.

–Irá se inscrever? – perguntei.

–Vou sim, irei me candidatar hoje mesmo. Os testes serão na semana que vem e quero estar preparado. – disse animado. – E você vai se inscrever? Comentou conosco que estava interessado.

–Talvez sim, eu... – fui interrompido.

–Basquete é esporte para fracos, o lance mesmo é o futebol americano. Com bastante movimentação e principalmente, bastante violência. – disse Emmett, se intrometendo na conversa alheia.

Revirei os olhos para seu comentário. Além de me interromper, diz um absurdo desses. Só ele mesmo.

–Seu gigante de mente pequena, o basquete também tem suas vantagens. – defendeu Jasper indignado.

–Tudo bem, me convença do contrario. – desafiou Emmett cruzando os braços no peito e abrindo um sorriso petulante.

–Bom, tem o... Tem o... – Jasper perdeu totalmente seu argumento.

Bufei.

–Basquete tem bastante adrenalina e algumas brigas sangrentas. – defendi meu esporte favorito.

–Você chama aquilo de briga? Um soco no nariz? Eu chamo de caricia. –provocou Emmett gargalhando e desencadeando uma discussão coletiva dos homens há mesa.

–Homens! –ouvi Rose dizer após revirar os olhos fazendo pouco caso sobre o assunto.

X-X

Os gritos. Sim, os berros de Emmett se seguiram sem intervalos. Ele e Jasper continuaram em uma discussão ávida sobre qual dos esportes tinha mais vantagens. Eu, depois de cinco minutos conclui que não valia à pena. Que essa troca de ofensas não levaria a lugar algum.

Como Alice e Rosálie conversavam sobre assuntos que eu, com certeza não me interessava, fiquei em silencio. Acuado no meu canto.

Peguei a folha com a composição de Isabella. Desdobrei o papel agora amassado e um pouco rasgado nas bordas. Reli novamente as palavras escritas, sabendo a letra sem precisar acompanhar no papel.

Inconscientemente, enquanto cantarolava a música baixinho, levantei o olhar e encarei a mesa em que ela se sentou no ultimo dia em que a vi.

Onde você está Isabella? – sussurrei.

–Edward, está me ouvindo? Estou falando com você! – fui retirando brutalmente de meus devaneios por mãos me chacoalhando.

–Hã? O que foi Alice? – perguntei ainda distraído.

–Estou falando com você há meia hora e você está aí, com essa cara de poucos amigos. – baixinha exagerada. – Posso saber em que tanto você pensa?

–Não. – respondi rudemente. Mas quem disse que ela desistiu?

–E o que é isso na sua mão? – perguntou totalmente debruçada em mim. Praticamente no meu colo.

–Saia de cima de mim baixinha fofoqueira. – reclamei empurrando-a.

Ignorando-me completamente, continuou tentando ver o papel.

–Parece uma música. – comentou tentando pega-lo de mim.

–Não é da sua conta Alice! – disse me esticando para o mais longe possível dela.

–Diz Edward, o que é isso? Deixe-me ler, por favor. – implorou quase roubando a folha de minhas mãos.

–Não te interessa! – exaltado, levantei de minha cadeira e recolhi minhas coisas, pronto para sair daquele lugar.

–Sabe que mais cedo ou mais tarde vou acabar descobrindo. – disse sorrindo maquiavélica para mim.

Dei as costas e sai a passos largos do refeitório.

Bufei frustrado sabendo que Alice tinha razão, ela descobriria de qualquer jeito. Nem que para isso, ela tenha que me submeter a tortura.

#Fim do Flashback#



Depois daquele episodio quase desastroso o dia se seguiu tranquilamente. Errado, se seguiu totalmente agitado e estressante. Minhas ultimas aulas tinham sido com minha irmã e essa não parava de gritar e implorar em meu ouvido querendo saber o motivo de tanta dispersão e o que estava escrito na bendita folha. Alice sabia ser irritante quando queria.

Era incrível, como um ser tão pequeno podia ser irritante e te causar uma enorme dor de cabeça.

Experiência própria.

Depois de terminadas as aulas, a única coisa que fiz foi por meu nome na lista do time de basquete, pois minha mente só se focava em um único objetivo. Ir para casa e ficar o máximo de tempo longe da causadora do meu estresse.

Mas quem disse que eu consegui?

#Inicio de Flashback#



Era sábado de manhã, já havia acordado há algum tempo e naquele momento, sentado em um acento próximo a janela, olhava o sol brilhar fraco do lado de fora. Apenas um mormaço. Parecia que o calor não perduraria por muito tempo, pois o céu estava carregado de nuvens arroxeadas.

Com a intenção de permanecer no quarto, totalmente excluso o dia inteiro. Levantei de onde estava e joguei-me na cama, em uma tentativa de conseguir dormir novamente. Puxei o cobertor, cobrindo-me por inteiro e fechei os olhos.

Estava parcialmente adormecido quando ouço um barulho baixo e distante.

–Edward!

Inicialmente achei que era um sonho, ou pelo menos o inicio dele.

–Edward! – novamente chamou.

Aconcheguei-me mais no colchão macio e suspirei, pronto para desfrutar da total inconsciência.

–Edward, acorda! – franzi o ceio pela mudança brusca no tom de voz.

–Eu sei que você está acordado, então se você quiser permanecer seco é melhor tratar de levantar dessa cama imediatamente. – ameaçou.

Estava enganado, não era um sonho. Muito pelo contrario.

–Espero que isso seja um pesadelo! – murmurei com a voz rouca.

–Sinto lhe informar que não, você não está sonhando e está muito longe disso. Agora levante. Minha ameaça ainda está de pé. – Alice tagarelava.

–Deixe-me em paz! – pedi pondo o travesseiro no rosto.

–Edward deixa de ser preguiçoso, preciso falar com você, é importante. – suplicou.

–Registro não encontrado no momento, tente mais tarde, obrigado! – brinquei ainda de olhos fechados.

–Se você não levanta por bem, vai levantar por mal! – ameaçou e pude ouvir seus sapatos ecoando na madeira.

–NÃO ACREDITO EM SUAS AMEAÇAS! – gritei descrente.

–É O QUE VEREMOS! – gritou já do corredor.

Finalmente só. Cobri-me novamente, fechando os olhos.

Alice não faria nada, meus pais provavelmente a impediriam de qualquer ato inconseqüente.

Sorri satisfeito.

De repente, sou arrancado bruscamente da cama. Sinto algo molhado e frio me cobrir dos pés a cabeça.

–Mas o que...? – perguntei vendo-me totalmente encharcado, junto com minha cama e afins.

–Nunca duvide de Alice Cullen, irmãozinho! – alfinetou Alice ao meu lado com um balde agora vazio em mãos.

Com o sangue subindo totalmente a cabeça, senti algo explodir em meu peito. Estava explodindo de raiva.

–ALICE! – berrei levantando em movimento ágil e correndo atrás dessa anã de jardim.

X-X

Já fazia algum tempo que deslizava – leia-se: corria – no encalço de Alice pela casa inteira.

Essa implorava, pedindo desculpas pelo seu ato impensado. Mas estava furioso demais para escutar suas lamurias.

Meus pais, em vez de nos impedir de fazer algo inconseqüente, riam de nós quando passamos por eles em direção ao quintal.

Alice correu, jogando seu sapato longe pelo gramado.

Eu peguei uma mangueira e mirei em sua direção, fazendo-a paralisar no lugar e estender seus braços em rendição.

–Agora você aprende que não se mexe com Edward Cullen! – repeti um pouco de sua entonação de antes.

–Edward não, por favor! – choramingou.

–Pensasse nisso antes. – dito isso, acionei a mangueira liberando o jato de água em sua direção.

–Nããããoooo! – gritou engolindo um bocado de água.

Gargalhava enquanto corria em sua direção, que tentava desviar do jato.

Em algum momento, Alice tropeçou em algo e caiu de bunda, fazendo-me gargalhar com vontade.

–Tudo bem, tudo bem, você venceu! – rendeu-se.

Desliguei a água.

–Promete nunca mais me acordar daquele jeito? – perguntei.

–Prometo!

–Nunca mais vai entrar no meu quarto sem permissão? – perguntei ainda com a mangueira em sua direção.

–Nunca mais! – olhava-me amedrontada. Segurei o riso.

–Não ira mais bisbilhotar nada a meu respeito a não ser que eu peça? – resolvi aproveitar o momento.

–Ah, isso eu não garanto! – fez bico.

–Alice! – liberei um pequeno jato de água em seu rosto.

–Ok, ok, prometo! – concordou.

Joguei a mangueira longe e estendi-lhe a mão, dando-lhe apoio para se levantar.

O estado de Alice era lastimável, suas roupas estavam encharcadas e sujas de lama, totalmente descabelada. Sem falar o seu rosto. A maquiagem, antes perfeita, agora escorria em sua bochecha. O contorno preto antes em seus olhos, agora estavam em baixo do mesmo, dando um contraste assustador em seu novo look.

Segurei uma gargalhada.

–Isso mesmo, ria dessa pobre criatura que não fez nada de mal a você. – disse, pondo uma de suas mãos no peito e soluçando, em uma imitação barata de choro.

–Deixe de ser melodramática, você teve o que mereceu! – respondi sentando-me no estreito balanço presente no gramado, bem abaixo de uma grande árvore.

–Eu não joguei nem um terço da água que você me jogou. – reclamou sentando-se ao meu lado.

–Alice você me conhece há bastante tempo para saber que eu não gosto de ser acordado tão violentamente, então não reclame! – disse dando impulso no chão, fazendo-nos balançar lentamente.

–Tudo bem, tudo bem, você tem razão. Não devia ter feito o que fiz. Desculpe. – redimiu-se olhando para baixo.

–Está perdoada, mas você ainda não me disse. – comentei, lembrando suas palavras antes do banho.

–Disse o que? – indagou curiosa. Olhando-me confusa.

–A justificativa para seu ato doloroso. – respondi lembrando-me da água gelada. Fiz careta.

A total compreensão dominou sua expressão. Olhou para baixo, sorrindo sem graça.

–Já tinha me esquecido do motivo! – comentou pegando uma das lindas flores e analisando-a.

–Bom, já que lembrou. Conte-me. – pedi extremamente curioso. Alice não era de esquecer seus objetivos.

–Então, era que... Bom você... Ah deixa para lá, esquece. – desconversou pondo a flor em seu cabelo.

–Pode começar a falar senhorita, não fui acordado daquele jeito por nada. – indignei-me por seu silêncio.

–Bom, eu queria conversar sobre... Você! – confessou olhando em meus olhos agora.

–Sobre mim? – perguntei confuso.

–Sim, é que... Você ficou estranho essa semana. Ficou rondando a escola inteira inúmeras vezes. Quando acabavam as aulas, você corria pelos corredores, olhando para os lados, parecendo procurar alguém. Quase não conversou conosco, sentava-se em nossa mesa, mas não prestava atenção em o que nós falávamos com você. Está bastante distraído. Todos os nossos amigos perceberam sua mudança, até o Emmett. Você sabe o que é isso? O Emmett sentir algo mudar? É por que a coisa está bastante estranha. – explicou sorrindo no final.

Conforme ela ia falando, eu percebia o quanto era verdade suas palavras. Sabia que estava distante, só pensava em uma coisa, ou melhor, em uma pessoa. Mas não percebia o quão evidente estava.

–Alice, é que... – tentei arranjar um argumento. Estava pronto para mentir, mas simplesmente não conseguia, as palavras me fugiram.

–Não quero que minta para mim. Te conheço muito bem, então sei quando está tentando me enganar. – exigiu como se previsse o que eu tentava fazer. – Olha Edward, sei que não temos muita intimidade em conversar sobre assuntos pessoais e eu respeito isso, mas sou sua irmã, eu não quero, eu tenho a obrigação de te ajudar nos momentos que eu sinto que você precisa. – declarou comovendo-me.

Não queria, nem tinha como não me confessar com uma das pessoas mais importantes para mim. Tenho que dizer o que estou sentindo, não agüento mais guardar essas sensações difusas. Sei que posso confiar nela, e foi por esse, só esse motivo que comecei a falar.

–É que eu me sinto estranho, não sei explicar essas sensações que estão tomando conta de mim essa semana. – desabafei. – Olha, no primeiro dia de aula, vi uma menina linda. No momento que meus olhos pausaram nela, imediatamente senti-me diferente. Ela me atraiu de uma forma totalmente desesperadora, como ninguém antes. Senti uma enorme vontade de conhecê-la, descobrir mais a seu respeito. E tentei, comecei ajudando-a a recolher seu material quando a mesma tropeçou ao meu lado. Mas, ao invés de me agradecer, ou mesmo se apresentar como qualquer um faria, ela simplesmente olhou-me sem expressão, e virou-se, como se não tivesse acontecido nada. Fiquei confuso e estranhamente frustrado com sua reação ou falta dela. O professor Gregory pediu para me apresentar frente à turma. E o fiz, mas enquanto falava, a notei me observando com uma expressão estranha no rosto. Seus olhos, eles estavam... mortos, sem brilho, sem... sem vida. Parecia estar pensando algo doloroso, como se estivesse perdido ou faltando algo muito valioso. Sim, essa foi a minha sensação. – enquanto explicava, Alice tinha seus olhos vidrados em meu rosto, como se tentasse ler meus pensamentos. – Assim que o sinal marcando o fim das aulas soou, Isabella correu e saiu de sala, antes que qualquer aluno tivesse tempo.

–Isabella? Isabella Swan? Aquela que você perguntou no horário de almoço para o Jasper? – perguntou interrompendo-me.

–Ah sim, ela mesma. Lembra que ainda no refeitório ela agiu daquele jeito desajeitado, derrubando tudo e correndo com a mão tapando a boca? – perguntei.

–Lembro sim, a menina que o Jasper disse que não queria se socializar com ninguém.

–Exatamente, depois dessas ações a encontrei no corredor. Ela estava diferente, a aparência pelo menos. Estava mais pálida e suava frio. Ela parecia realmente mal. Novamente ajudei-a a recolher seu material e fiz uma segunda tentativa de apresentação, embora ambos já soubessem os nomes de cada um. Ela, da mesma forma me ignorou e seguiu em frente, mas algo aconteceu que a fez parar e agradecer. Fiquei animado, pelo menos algumas palavras ela pronunciou para mim. Estava animado, mas não satisfeito. Por puro reflexo, perguntei seu nome. Pensei que ela iria me ignorar completamente pela minha audácia, mas estava enganado. Apresentou-se e ainda sorriu. O sorriso mais belo e sincero que já vi na vida. Senti tanta felicidade por seu simples ato, que poderia gritar se preciso. Estava prestes a ir embora, quando encontrei uma folha no chão. Estava rotulado como “Música da Bell”. A letra da música escrita no papel era intrigante. – suspirei com as lembranças.

–Então era essa a folha que você tentou me esconder naquele dia?! – perguntou meio que afirmou sua suspeita.

–Sim, não queria que me descobrissem porque no fundo senti-me um tolo por ficar intrigado com uma garota que eu mal conheço. – ainda sentia-me um bobo.

–Você não é tolo, somente quis conhecer a “Menina solitária e intrigante!” – fez piada.

–Não ria Alice, o assunto é serio. – suspirei. - Sou louco por estar contando isso há você! – declarei arrependido.

–Não é loucura, é necessidade. 

–Não sou louco só por isso, sou louco por ficar procurando à garota a semana inteira. Sou louco por não conseguir tira-la de meus pensamentos. Sou louco por me deixar abater tão fácil e sou louco por ficar triste a cada dia que percebo que ela não voltou à escola e que não vou poder vê-la novamente. – disse levantando bruscamente do acento e desabafando com a voz um pouco mais elevada, demonstrando minha frustração.

–Edward, não precisa ficar assim. É normal, acontece! – também se levantou do balanço e ficou na minha frente.

–Normal? Você acha normal ficar obsessivo por uma garota que mal conhece? – perguntei com desdém.

–Me escuta, eu estava me referindo ao normal de um homem se interessar por uma mulher e vise-versa. Você somente ficou mexido por Isabella, é assim que funciona. – disse segurando meu rosto entre as mãos, abrigando-me a olhá-la nos olhos.

–Qual o sentido do mexido? – perguntei confuso.

–Ainda não sei, pode ser uma atração normal entre duas pessoas, pode ser simples curiosidade, uma curiosidade amigável ou pode ser algo muito mais intenso. – refletiu pondo um dedo no próprio queixo, em uma pose pensativa. A cena era cômica. Eu riria dela se não estivesse tão tenso e confuso.

–Alice pode falar minha língua, por favor? – pedi sarcasticamente.

–Qual parte você não entendeu? – perguntou deixando transparecer no seu tom de voz que duvidava da minha inteligência.

–Me perdi na parte de pode ser algo muito mais intenso. O que isso significa? – perguntei coçando a cabeça.

–Meus Deus, sinceramente pensei que você fosse mais perceptivo. Assim fica difícil. – completou indignada.

–Não é questão de ser perceptivo, é questão de entender o assunto e eu não entendo. – disse gesticulando com as mãos.

–Vou te explicar, mas não agora! – completou risonha.

–Como assim, não agora? Alice eu preciso de respostas, estou enlouquecendo! – eu sei, exagerei.

–Tenha calma irmãozinho, em breve você entenderá! – e me abraçou.

Deu-me um beijo no rosto e saiu.

Pedi que ela me desse respostas, mas acabou deixando-me com mais um milhão delas.

–Achim! – espirrei. – Droga, acabei pegando um resfriado! – corri para dentro de casa.



# Fim do Flashback #

Sorri balançando a cabeça negativamente. Aquele momento foi uma pequena, mas intensa recaída. Até agora fico me perguntando como contei isso a Alice, acho que naquele momento estava fora de mim. Não, tenho que concordar, eu estava precisando, como a própria Alice disse: Era questão de necessidade.

Suspirei pesadamente pegando meus livros e guardando a música dentro do armário.

Quando ouço ao longe, meu nome ser gritado:

–EDWARD, EDWARD, ELA VOLTOU, ELA VOLTOU! – Alice berrava pelos corredores enquanto corria afoita na minha direção.

O que? Ela está se referindo a Isabella?

Sinceramente fiquei preocupado com ela, pois correr naquela velocidade com o tamanho do seu salto é uma tarefa difícil ou quase impossível. Mas só pensei nisso depois, pois a única coisa que minha mente processava, ou melhor, repetia era:

Isabella voltou, Isabella voltou, Isabella voltou!

–ELA VOLTOU, ELA VOLTOU! – ainda gritava a mais ou menos trinta centímetros de mim, ou seja, fiquei completamente surdo.

–EU JÁ ESCUTEI, SERÁ QUE DÁ PARA PARAR DE GRITAR, JÁ ESTOU SURDO! – gritei quando a mesma ficou a minha frente.

–Porque você está gritando? – perguntou fazendo-se de desentendida, como se eu fosse o louco. Acho que todas as pessoas presentes naquele local compartilhavam de sua opinião, pois todos me olhavam como se tivessem observando um animal fora de seu habitat natural. Um estranho no ninho.

Revirei os olhos, pouco me importando com o que as pessoas pensam, só queria saber de uma coisa.

–Isabella voltou? – perguntei repentinamente eufórico.

–Sim, sim. – respondeu dando pulos, fazendo um barulho oco com seus saltos no piso.

–Como? Quando? Onde? – perguntei olhando para os lados.

– A encontrei em seu armário. – disse empolgada.

–E como é que ela estava? Diferente? Ela está bem? – fiz perguntas totalmente sem sentido, mas pouco me importei, ELA ESTÁ DE VOLTA!

–Bom, parecia bastante abatida, mas ainda linda! Nunca pensei que você tinha bom gosto. – comentou perdida em pensamentos.

–O que Alice? – perguntei confuso.

–Nada, nada. – respondeu dando um sorriso amarelo. – Conversei um pouco com ela. – comentou de passagem.

–Ah ta... O QUÊ? – gritei chamando novamente a atenção de todos para mim.

–Não se estresse, só me apresentei, fiz alguns comentários e... Ah deixa para lá, o importante é que ela está de volta, não é mesmo! – disfarçou dando uma pequena batida em meu peito.

Ela não me engana, estava escondendo alguma coisa. Olhava para os lados e afastava a gola da camisa, como se estivesse apertada. Nitidamente culpada.

– O que você fez Alice? – perguntei ríspido.

–Eu? Nada, não fiz absolutamente nada! – disfarçou dando um sorriso amarelo.

Fez besteira! Pronto, estragou tudo!

–Mary Alice Cullen, diga-me o que a senhorita aprontou! – exigi alterado.

–Eu só disse que você ficou a semana inteira procurando-a... Desesperado, pronto, falei! – disse tudo rapidamente, tentando se livrar o mais rápido possível.

–Só? Você acha que disse pouco? – perguntei sarcasticamente. – Obrigado irmãzinha do coração, agora ela vai pensar que sou um psicopata que corre atrás de meninas indefesas. – agradeci ácido.

Dei-lhe as e sai andando, indo para mais longe dessa causadora de problemas.

Como sempre, ela nunca desiste:

–Edward, espere! – disse e parou a minha frente, bloqueando minha passagem.

–Que foi? Acha que não é o suficiente por um dia? Porque para mim já chega! – tentei desviar, mas a mesma era insistente.

Ô baixinha irritante.

–Eu sei que fiz besteira, mas eu queria te ajudar e acabei falando sem pensar. Você sabe que eu sou assim, tento agradar e acabo estragando tudo. – completou o que eu já sabia. – Mas você não me deixou terminar... Eu... – a interrompi.

–O quê? Tem mais? – perguntei. – Chega Alice, esgotou sua cota de hoje, tchau! – desviei dela, dando um pequeno aceno com as mãos.

–Ela pareceu não ligar para o que eu disse sobre você, na verdade quando ela ouviu seu nome, percebi que seus olhos brilharam. – dizia alto o suficiente para ser ouvido por mim, que já me encontrava a uma distância significativa dela. – Também perguntei se ela queria ser minha amiga!

Paralisei no lugar. Meu pior defeito, ser curioso.

–E o que ela respondeu? – perguntei ainda de costas.

–Disse que não podia. – respondeu.

–Como assim não podia? – perguntei virando-me para encará-la. Percebi que seus olhos estavam marejados.

–Não sei, disse que simplesmente não podia ser minha amiga e correu. – deu de ombros.

–Alice, deve ter alguma coisa errada, como uma pessoa nega um pedido desses? – perguntei incrédulo.

–Por um momento pude ver em seus olhos que ela estava prestes a ceder, mas algo a fez mudar de idéia. – disse com uma indiferença forçada.

–Mas... – o sinal me interrompeu.

–Esquece, depois agente se fala. – virou e saiu.

Como assim? Deve ter alguma coisa acontecendo alguma coisa muito errada, só pode!

Perdido em pensamentos, mal percebi a presença do diretor.

–Senhor Cullen, vá para sua sala, o sinal já tocou! – murmurou com sua voz de taquara rachada.

–Sim diretor Fiennes. – e me arrastei sem animo até o meu destino.

X-X

Nesse momento, estava enclausurado em uma sala abafada assistindo uma aula chata sobre a “História do Renascimento”. Faltava apenas essa acabar para eu poder ir para minha casa.

Novamente não encontrei Isabella em parte alguma e novamente fiquei frustrado com esse fato.

Olhei o relógio e bufei. Ainda tinha meia hora até esse tormento acabar.

Resolvi me adiantar.

–(...) Um exemplo de uma obra renascentista que provavelmente todos conhecem é a Mona Lisa, pintada por Leonardo da Vinci que... – interrompi.

–Professora, será que eu posso ir ao banheiro? – perguntei.

–No meio da explicação Edward? – perguntou fazendo careta.

–Desculpe, é urgência! – fingi estar apertado.

–Tudo bem, mas não demore! – pediu.

Peguei o passe e andei calmamente para fora daquela estufa.

Finalmente ar fresco, liberdade!

Dei uma passada no banheiro masculino apenas para lavar o rosto e as mãos.

Fiquei caminhando pelos corredores desertos, protelando um pouco enquanto esperava à hora passar.

Agora, andava por corredores um pouco abandonados. Esse lugar ficava um pouco mais afundo dentro da própria escola.

O único som que existia, era o dos meus sapatos batendo no piso poeirento. Quando ao fundo, um pouco baixo para meus ouvidos escutarem claramente, pude ouvir uma melodia.

Apertei o passo, curioso para saber de onde vinha esse som.

Com forme chegava mais perto, ouvia a música perfeitamente. Era calma, sôfrega. Uma melodia que realmente encantava.

O som vinha de uma porta entre aberta. Hesitante, empurrei-a com as duas mãos, gemendo em protesto. As dobradiças estavam velhas e enferrujadas, por isso a dificuldade para ser aberta.

Entrei a passos cautelosos no local.

Quando olhei a minha frente, me surpreendi com o que vi.

Isabella dançava perfeitamente diante de meus olhos. Movimentos exatos e em perfeita sincronia. Seu corpo estava sendo modelado sobre o uniforme de dança.

De repente, antes mesmo de eu ter tempo de me retirar ou até mesmo de me esconder. Ela abriu os olhos e me viu ali, abobalhado com sua beleza.

Assustado, dei um passo involuntário para traz. Depois paralisei, totalmente sem reação.

–O que faz aqui? – indagou-me com olhos arregalados e totalmente ruborizada.

Silêncio.

–Edward, o que você está fazendo aqui? – perguntou balançando as mãos para chamar a minha atenção.

–Porque você não veio à escola essa semana? – perguntei a primeira coisa que me veio à cabeça.

Ficou um tempo calada, olhando-me confusa. Depois seus olhos se tornaram frios. Seu rosto sem expressão.

–Não é da sua conta! – respondeu rispidamente.

Suas palavras foram como tapas para mim, totalmente dolorosas.

–Mas... – tentei argumentar algo, mas fui interrompido.

–Agora, peço que vá embora! – exigiu fechando os punhos. –Não quero sua presença aqui. – completou ferindo-me ainda mais.

Meio atordoado e agitado, arrastei-me até a porta saindo do local.

Sem forças, fui deslizando pela parede e cai sentado ao chão. Entre surpresas e decepções ouvi um som incomum vindo de dentro do estúdio.

Pareciam-me soluços, Isabella estaria chorando?

Seus soluços ecoavam altos e descompassados no ambiente fechado.

Criei forças para levantar-me e observar novamente a sala. Onde a menina por quem eu procurei por tanto tempo estava.

Surpreendi-me novamente com a imagem que vi. Isabella estava abraçada aos joelhos, chorando compulsivamente.

Senti ondas de angústia e um aperto forte no peito em vê-la assim, tão frágil e vulnerável.

Sem pensar duas vezes, corri ao seu encontro e a envolvi em meus braços. Um abraço apertado, transparecendo carinho e preocupação, tentando inutilmente consolá-la de seu desespero.

Assustei-me quando a mesma retribuiu. Chorando em meu ombro.

Os minutos passaram rápido, pois a sensação de tê-la em meus braços era maravilhosa.

O sinal que anunciava o fim das aulas soou, mas Isabella não se moveu, só fazia a chorar. E eu, como não queria que aquele precioso momento terminasse, não pronunciei uma palavra, nem movi um músculo sequer.

Parecia-me que só minha mente funcionava e o resto do meu corpo estava completamente paralisado. Minha cabeça explodia em perguntas sem resposta.

Porque Isabella foge de todos?

Porque ela ficou esse tempo sem vir à escola?

Porque ela tratou-me tão mal?

Porque chora dessa forma? Por minha causa ou somente crise de consciência?

Pensava em varias respostas, mas nenhuma se encaixava.

Repentinamente, ela se desvencilhou de meu aperto terno e levantou rapidamente recolhendo seus pertences.

Sem arrependimentos, saiu sem olhar para trás.

Antes mesmo de eu ter alguma consciência, corri a toda velocidade atrás de Isabella.

Minha mente silenciou, focada em uma única coisa:

Respostas de Isabella Swan.

Rapidamente cheguei ao corredor movimentado, tendo que diminuir o passo para desviar das pessoas, que pareciam lentas em seu andar.

Por entre vielas, pude ter um vislumbre da silhueta dela, saindo pela porta destinada ao estacionamento.

Agora não me importava com os alunos aglomerados a minha frente, com as mãos, comecei a empurrá-los tirando-os de meu caminho. Queria desesperadamente falar com ela, nem que seja uma ultima vez.

Foi quando estava prestes a sair pelo mesmo lugar que ela havia passado, alguém me parou.

–Hey Edward, está correndo por quê? – perguntou Alice parada a minha frente bloqueando meu caminho e visão.

–Alice, eu preciso ir atrás de Isabella. – respondi desviando da mesma, mas sendo impedido.

–Não adianta, ela já foi embora. Vi quando ela entrou no carro. – disse esmagando minhas esperanças.

Abaixei os ombros.

–Não! – pensei alto.

–O que houve? Aconteceu alguma coisa? – perguntou repentinamente preocupada.

–Esquece, depois eu digo há você. – respondi afastando-me dela. – Vou buscar meus livros, me encontra no seu carro para irmos embora justos. – avisei arrastando-me sem energia e animo até minha sala.

X-X

Nesse momento, deitado em minha cama, refletia.

Meus pensamentos em um turbilhão de duvidas e incertezas.

Havia contado a Alice sobre o ocorrido no velho e abandonado estúdio de dança. Ela não entendeu a reação de Isabella, muito menos eu.

Mas antes de dar o assunto por encerrado, pude ver em seus olhos um brilho diferente, como se tivesse tendo uma idéia. Alice tramava algo.

Fiquei tentado a perguntar, mas refreei-me sabendo que me arrependeria depois.

Suspirei levantando, estava faminto.

Andei calmamente pelo corredor em direção a escada quando ouço murmúrios. Vinha do escritório de meu pai, a porta estava entre aberta.

Pretendia passar reto, mas algo estranhamente me chamou a atenção.

–(...) a menina é linda, mas quer evitar se socializar para não causar o sofrimento alheio. – meu pai dizia.

–Um gesto nobre da parte dela! – comentou minha mãe, sentada em uma das cadeiras presentes no local.

–Sim, mas eu não acho certo. Uma garota tão nova se afastar do mundo só porque está doente. – indignou-se meu pai.

–Mas você mesmo disse que o caso dela é irreversível, como ela vai se apegar aos amigos se sabe que logo vai morrer? – rebateu Esme.

–Entendo por esse lado, mais já faz sete anos Esme, sete. É muito tempo. – disse Carlisle. – Pude ver em seus olhos que ela não é feliz, que sofre com toda essa solidão.

–É, uma escolha difícil. – concordou minha mãe. – Tenho pena dessa pobre menina.

–Outro motivo para não se socializar, tem horror à piedade. – comentou fascinado.

–Então me parece que ela tem personalidade forte. – disse Esme.

–É, uma menina de ouro. – disse Carlisle. – Lhe mostrei uma foto nossa, ela conhece os meninos, principalmente o Edward.

Inclinei-me mais, ficando mais interessado na conversa, agora que meu nome foi citado.

–Edward? – perguntou confusa.

–Sim, ela comentou que meus olhos eram da mesma tonalidade que as dele. – riu.

–Como assim? De onde ela os conhece? – perguntou curiosa.

–Espere um pouco, vou fechar a porta. – pediu arrastando a cadeira.

Opa, essa era a deixa para sair de lá.

Corri, descendo as escadas e indo até a cozinha.

Fiquei pensando nas características que meu pai disse.

Parecia-me com alguém, mas quem?



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