Mudando o Jeito de Viver escrita por Mayara Paes


Capítulo 4
O3 - Solitária. (Bell)




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"Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite." – Clarice Lispector.


Corri pelo estacionamento e entrei rapidamente em meu carro, jogando meu material de qualquer jeito no banco do carona. Dei partida e já estava em alta velocidade antes mesmo de sair da área escolar.



Dirigia
imprudentemente pela estrada molhada por causa da chuva recente, tudo isso
porque queria chegar o mais rápido possível em minha casa. Não me sentia nada
bem, já havia vomitado novamente na escola. Minha cabeça latejava anunciando
meu provável desmaio e não seria nada bom perder a consciência na direção.



O
velocímetro passava dos 160 km/h quando entrei em uma rua conhecida. Estacionei de qualquer jeito na calçada, trancando o carro somente com o alarme. Corri desesperadamente pelo quintal, abrindo a porta desajeitada, deixando a chave cair
de meus dedos trêmulos.



Assim que coloquei meus pés dentro de casa, meu pai apareceu alarmado na porta da cozinha.



–Bell, o que houve? Porque chegou a essa hora? – perguntou confuso. Normalmente chegava muito depois do próprio.



–Pai...
– somente isso que consegui pronunciar.



Minha
visão estava turva, desfocada. Minhas mãos tremiam e eu receava cair a qualquer
momento.



–Você
está bem criança? – questionou dando alguns passos em minha direção.



–Eu
não estou me sentindo bem, eu... – as palavras não passaram de sussurros.



–Isabella?
– chamou-me.



Eu
não consegui avisa-lo, eu estava caindo.



Depois
disso, a única coisa que vi, foi o chão perto demais de meu rosto e então, tudo
virou escuridão.





X-X







Sentia
meu corpo totalmente dolorido, como se tivesse sido espancado brutalmente e
impiedosamente. Cada fibra de meu ser latejava pedindo por um entorpecimento, pedindo
por um alivio que parecia que nunca chegava. Sentia-me fraca, sem o poder de
manusear qualquer membro ligado a mim. Pálpebras pesadas denunciavam meu
cansaço. Garganta seca pedindo desesperadamente por água. Estomago embrulhado
certificando-me que recusaria qualquer tipo de alimento. Meus ouvidos, a única
parte aparentemente intacta de meu corpo, doía com o barulho irritante de um
bip perto do mesmo, levando ondas barulhentas ao meu cérebro causando-me uma
tremenda dor de cabeça.



É,
a situação não estava nada boa para mim.



Não
recordava de absolutamente nada. Não sabia onde estava, com quem estava, nem o
que tinha acontecido. Minha mente estava bloqueada, conectada somente no
desconforto que sentia. A única coisa que tinha em mente era imagens
desconexas. Mais apenas uma se destacava nessa imensidão ilegível. A de dois
olhos extremamente verdes e calorosos. Edward Cullen, desse eu me lembrava perfeitamente
e tinha uma leve impressão de que ele era o tipo de pessoa que não se pode
esquecer assim tão facilmente.



Estava
cansada demais para abrir os olhos, mas minha mente já se encontrava alerta. De
longe, pude ouvir murmúrios baixos. Apurei meus ouvidos na intenção de escutar
do que se tratava.



–(...)
mas ela parece que não está reagindo, sem movimento algum. – parecia a voz de
minha mãe.



–Tivemos
que por ela em coma induzido para podermos intensificar seu tratamento, mas
pelas minhas estimativas, ela irá acordar em breve. Se tivermos sorte, ainda
hoje. – explicou uma voz desconhecida por mim.



–E
como está seu estado? – questionou. Pude perceber preocupação em sua voz.



Um
suspiro cansado.



–Tenho
que ser realista. Pelo que vejo no prontuário, seu caso veio se agravando
bastante. Suas crises estão sendo cada vez mais frequentes, em tempo alarmante.
– explicou e ouve um gemido baixo.



–Mas,
o que vem causando esses vômitos?



–Hemorragia
interna. Seus rins estão falhando e isso está causando o sangramento. Seu corpo
apenas achou uma maneira de expulsar o sangue que está vazando de uma veia
rompida. – mais um suspiro e um gemido abafado. – Não se preocupe senhora
Renée, já está tudo sobre controle; estamos fazendo o possível para que seu
estado fique estável novamente. Garanto-lhe que sua filha ficará em perfeita ordem,
pelo menos por enquanto.



Alguns
minutos depois, ouço o barulho de uma porta sendo fechada. Passos arrastados
aproximaram-se de mim. Sento uma leve pressão em minha mão direita e um choro
baixo e angustiado.



Resolvi
acabar com esse sofrimento. Minha família sofria por mim. Mas, eu não conseguia
refrear a doença, que insistia em progredir, como o próprio medico comunicou.
Ao que parece, minha vida estava chegando ao fim. Precisava de algum jeito
confortar as pessoas que mais amo, do modo mais conveniente possível.



Apertei
sua mão, que ainda segurava a minha e sussurrei com a voz rouca e falha:



–Mãe.



Um
resmungo surpreso.



Com
certa dificuldade, abri lentamente meus olhos, finalmente visualizando o local
em que me encontrava. O que julguei ser um quarto era todo branco, com uma
televisão de poucas polegadas em uma estante afastada, na curvatura da parede.
Havia um sofá azul desbotado ao lado da cama irregular em que repousava. Olhei
para o lado e puder identificar o bip que tanto me atormentou. Era o aparelho
que media meus batimentos cardíacos. O instrumento de medir pressão arterial
estava preso em meu braço, sentia uma leve pressão no mesmo.



–Bell,
graças a deus! – se pronunciou Renée, abraçando-me meio sem jeito.



–Mãe,
o que aconteceu? – perguntei tudo de uma vez, repentinamente desesperada. - Cadê
o papai? E Marie?



–Calma,
sua irmã está na escola e seu pai está comprando algo para comermos. – explicou
sorrindo.



–O
que houve? Não consigo me lembra de nada.



–Você
desmaiou quando chegou da escola. – respondeu.



No
momento em que ela pronunciou essas palavras, imagens vieram á tona em minha
mente. Lembranças de tudo o que tinha acontecido.



–Ah,
senti-me mal na escola. – explique relembrando momentos indesejáveis. Tremi
involuntariamente.



–Eu
avisei, devia ter me escutado quando pedi para virmos para o hospital quando
passou mal em casa, pelo menos teria alguém para te ajudar. – repreendeu. – Era
um aviso. Mas, a senhorita nunca me escuta.



–Só
aconteceu porque a senhora disse. – tentei descontrair com uma leve brincadeira.
Sempre digo isso a ela. - Praga de mãe pega.



–Ah
claro, você passou mal por minha causa. – murmurou com sarcasmo. - Só você para
fazer piada nessas horas. – riu. Acompanhei com algumas gargalhadas, mas parei
rapidamente quando senti dor no abdômen. – Vou chamar o medico. – avisou
percebendo meu estremecimento.



Apertou
o botão ao lado de minha cama. Rapidamente um médico estilo artista de cinema
apareceu com um belo sorriso. Ofuscava até meus olhos. Tinha algo que eu estava
reconhecendo em seu rosto. Algo familiar em seus olhos.



–Vejo
que acordou senhorita Swan. – comentou. Reconheci a voz que conversava com
minha mãe mais cedo.



Desesperei-me.



–O
que está acontecendo? Quem é você? Mãe, cadê o Doutor Gerald? – perguntei
repentinamente histérica, tentando sentar-me na cama. Varias mãos impediram-me
de completar o movimento.



–Não
fique agitada, irá lhe fazer mal. – repreendeu o médico. – O que está sentindo?



–Sede.
– respondi por reflexo fazendo todos rirem.



–Essa
sede excessiva é normal, você ficou desacordada por algum tempo. – explicou
verificando meus batimentos no monitor ao meu lado.



Minha
mãe estendeu-me um copo de água e tomei com certo afoito.



–Quanto
tempo fiquei inconsciente? – questionei assim que minha sede cedeu. Não
lembrava que dia era hoje.



Não
saber absolutamente nada ao seu redor é totalmente incomodo. Todo virou um
borrão em minha cabeça.



–Exatamente
cinco dias querida, tiveram que te pôr em como induzido para intensificarem seu
tratamento. – respondeu minha mãe.



Percebi
que meu pai havia entrado no quarto sorrateiramente. Não pronunciou nenhuma
palavra, somente ficou nos observando com um sorrido aliviado.



–Porque
intensificar meu tratamento se ele não funciona? – perguntei fazendo Renée
resmungar em desgosto.



–Senhorita
Swan, estamos fazendo o possível para seu quadro permaneça estável, ao que
parece, o tratamento pelo menos nivelou a hemorragia. – explicou o doutor
olhando-me com ternura. Realmente vi preocupação em seus olhos.



Suspirei
derrotada.




naquele momento, enquanto olhava para seu rosto, pude ver sua identificação no
jaleco branco. No bolso ao lado direito do peito, havia uma placa prateada
escrita Dr. Carlisle Cullen.



Cullen,
esse sobrenome rondou em minha cabeça há cinco dias. Mesmo inconsciente.



Já sei.



–Cullen...
Você é parente de Edward Cullen? – questionei sem me conter.



Droga, eu e minha boca grande.



O
Dr. Carlisle franziu o ceio, surpreso.



–Conhece
meu filho?



–Ele
é seu filho? – perguntei surpresa.



–Sim.



–Ele
é da mesma turma que eu. – expliquei lembrando-me de quando o vi pela primeira
vez. De como seus olhos hipnotizaram-me. – Ele tem seus olhos. – sussurrei sem
pensar descobrindo a familiaridade quando vi Carlisle entrando no quarto.



–Vejo
que já se conheceram. – comentou sorrindo.



Vi
de relance o interesse de meus pais na conversa. Com certo brilho de esperança
e expectativa em cada olhar. Resolvi cortar o mal pela raiz.



–Não,
não, só o conheço de vista. – respondi dando de ombros. – Nada demais. – fingi
indiferença.



–Espero
que com o tempo se tornem grandes amigos, Edward é uma pessoa atenciosa. –
elogiou-o.



Não
disse absolutamente nada, minha mãe lançou-me um olhar malicioso que foi
correspondido com uma carranca.



–Bom
como você pôde observar, sou Carlisle Cullen, serei seu novo médico.
Acompanharei seu caso com a maestria necessária. Farei o possível para te
manter bem, como o outro profissional que lhe atendia antes. – apresentou-se.




O que houve com o Dr. Gerald?



–Ele...
Teve que ser transferido para outro hospital, razões pessoais. - respondeu com
uma indiferença forçada. Percebi que mentia, mas resolvi não pressioná-lo sobre
o assunto. – Vou deixá-los a sós, qualquer problema é só me chamar. – avisou
afagando meu rosto, sorriu e se retirou do quarto.



Rapidamente
meus pais já se encontravam ambos em meu lado.



–Você
conheceu o filho do Dr. Cullen? – questionou Renée risonha, olhando-me com
ansiedade.



–Não,
como eu disse antes, somente de vista. O vi na minha turma ontem, quer dizer,
cinco dias atrás. – corrigi ainda confusa com os dias. Parecia tudo muito
recente.



–Mas,
ele não falou nada com você, nenhuma troca de palavras ou de olhares? –
perguntou empolgada.



–Renée!
– repreendeu meu pai, mas pude ver divertimento e esperança em seus olhos.



–Que
foi? Quero um namorado para minha filha, nada mais normal. – comentou revirando
os olhos.



–Eu
dispenso, não quero namorados. Estou muito bem sozinha. – declarei empinando o
nariz.



–Sei.
– devolveu minha mãe examinando meu rosto meticulosamente, parecia desconfiada.
Ela mais do que ninguém sabe que não consigo mentir. Seja uma das mais banais,
sempre acabo de algum jeito me entregando. – Mas, você ainda não respondeu
minha pergunta.



–Renée,
não aconteceu nada, sem palavras, sem olhares. – menti desviando meus olhos,
eles certamente me desmascarariam.



–Tudo
bem, vou fingir que acredito.



Suspirei
derrotada.



Nunca
se pode esconder nada de uma mãe.



–Renée,
tenho que buscar Marie na escola. – comentou meu pai depois de alguns minutos.



–Pode
ir, vou ficar aqui com a Bell.



–Vou
dar uma passada em casa para tomar um banho e depois volto. – avisou.



–Tudo
bem. – concordou.



–Hey,
desde quando a senhora está aqui? – questionei.



–Desde
que você deu entrada no hospital, só saio para tomar banho. – respondeu dando
de ombros.



–O
que? Pode ir para a casa já. – ordenei.



–Não
vou a lugar algum, não enquanto você estiver aqui. – rebateu.



–A
senhorita vai para casa, descansar. Olha as suas olheiras. – comentei olhando
seu rosto cansado. – Vocês dois, só volte a este hospital quando tiverem
dormido.



–Mas...
– tentaram discutir.



–Sem
“mas”, vão agora ou eu chamo os seguranças. – comentei mostrando a eles que eu
era irredutível.



–Você
não seria capaz. – provocou Renée.



–Ah
não? – sorri levantando o braço, ignorando a dor no abdômen, ameacei apertar o
botão.



Não
pude deixar de fazer uma careta com a pontada seguinte que senti com esse
movimento.



–Tudo
bem, você venceu. Agora, pare de se movimentar ou irei chamar o medico para te
dar os analgésicos. – ameaçou ajeitando-me na cama.



–Tudo
bem, agora vocês já podem ir, estarei esperando, mas podem demorar o quanto
quiserem, não irei a lugar algum mesmo. – dei de ombros.



Ambos
riram e deixaram o quarto, mas antes de sair, meu pai pediu:



–Cuide-se
– e desapareceu.





X-X







O
tempo passou arrastado, sentia-me totalmente entediada. Já fazia algumas horas
que meus pais saíram do hospital e até agora ninguém apareceu no quarto em que
eu repousava. Pensei em ligar para minha família e implorar que voltassem para
fazer-me companhia, mas essa, com certeza, seria uma atitude egoísta de minha
parte. Por fim, aos poucos, a sonolência foi chegando. Levando-me novamente
para a inconsciência, em um sono profundo, sem sonhos.







X-X







Acordei
com barulho de passos no piso gélido, de caneta rabiscando em papel e logo em
seguida mãos cutucavam um ponto dolorido de meu braço. Abri meus olhos pesados
em fendas, enxergando parcialmente e a primeira coisa que pude observar foram
dois olhos verdes concentrados. Por um minuto senti meu coração acelerar.



Pude
vê-lo se distanciar e resmungar com o ceio franzido. Aos poucos minha visão foi
se acostumando com a claridade excessiva do local, assim pude visualizar
Carlisle Cullen trocando as agulhas de meu braço.



Agulhas arrrg!



Virei
rapidamente meu rosto para direção oposta.



–O
que houve senhorita Swan? Esta sentindo algo? – perguntou preocupado.



–Não
doutor Cullen, só estou com nervoso das agulhas. – respondi fechando os olhos
fixamente.



–Tradução:
Tem medo de injeção. – declarou gargalhando.



–Não,
não, só... – arqueou as sobrancelhas. - Tudo bem, tenho que admitir. Tenho medo
de agulhas. – suspirei me rendendo.



–Fique
tranqüila, o serviço já está completo. Está livre de coisas que espetam por um
bom tempo. – avisou risonho.



Virei
e encarei um rosto belo. Não tinha percebido antes, Edward tinha mais algumas
coisas em comum com seu pai. Principalmente quando ele sorria abertamente como
agora. Ele parecia mais novo, mais jovem com essa expressão descontraída.



–Edward
é mais parecido com você do que eu imaginava. – comentei de supetão.



–Nós
temos algumas coisas em comum, mas ele é idêntico à mãe. Tanto na personalidade
quanto na aparência. – comentou sorrindo.



–Então
me parece ser uma linda mulher. – deduzi admirada.



–Tenho
uma foto deles aqui, espere um segundo. – pediu tateando os bolsos e pegando
sua carteira, retirando de lá uma fotografia.



A
foto mostrava uma família feliz. Um ambiente totalmente descontraído e leve.
Todos eles estavam com um sorriso alegre estampado em seus rostos.



–Está
é Esme, minha esposa. Estamos casados há vinte anos. – apontou uma mulher
com o rosto em formato de coração e cabelos cor de caramelo. Seus olhos
transmitiam alegria, tranqüilidade e amor. Parecia-me uma pessoa muito
carinhosa. Esbanjava simpatia.



–Nossa,
ela é mais bonita do que eu esperava. – comentei sorrindo.



–Sim,
tive sorte de encontrá-la. Mas, não a amo só pela beleza, ela é linda por
dentro e por fora. É bondosa e carinhosa, tudo que eu podia pedir e querer. –
explicava olhando-me meio abobalhado. Ele é apaixonado por sua mulher, estava
convicta disso.



–Fico
feliz que tenha encontrado sua alma gêmea. – sorri meio tristonha.



–Acalme-se
criança, algum dia você também encontrará a sua. – garantiu tentando me animar afagando meus cabelos.



Meu
peito inflou-se de esperança. Uma esperança vã. Sabia que não teria tempo
suficiente.



–Espero
ter tempo.



–Deus
sabe de todas as coisas senhorita Swan, tenho certeza que você terá o que merece.
No tempo certo. – disse sabiamente, sentando-se na beirada de minha cama.



Suspirei.



–Tem
razão doutor Cullen, só com o tempo terei minhas respostas. – concordei olhando
a fotografia novamente. – Quem é ela? – perguntei apontando para uma menina com
as feições minúsculas. Cabelo curto e escuro, totalmente picotado, com pontas
para todas as direções. Ela também tinha olhos verdes.



–Ah,
essa é minha filha mais nova. Alice, um doce de pessoa. Apesar de ser maníaca
por compras.



–Maníaca
por compras? – perguntei confusa.



–Sim,
Alice é indomável quando está em lojas de roupas. Todo mês tenho que
providenciar um cartão novo para ela. – explicou sorrindo ternamente.



–Por
quê?



–Todo
mês ela estoura o saldo limite do cartão. – respondeu gargalhando.



Sorri,




O senhor me parece uma pessoa muito feliz. – afirmei.



–Digo
e repito, tenho muita sorte. Agradeço todos os dias por tê-los ao meu lado e
ser bem sucedido em minha profissão.



–Gosta
de ser médico? – questionei.



–Gosto
de salvar vidas, fico totalmente fascinado com nosso corpo. Admiro nosso poder
de cura. – respondeu.



Assenti
ainda absorta na imagem que estava em minhas mãos. Parecia-me uma família
tão... Unida.



Ficamos
alguns minutos em um silencio agradável. Ele observava-me enquanto eu admirava
sua família.



–Posso
lhe pedir um favor doutor Cullen? – perguntei quebrando a quietude e
sobressaltando-o. Parecia compenetrado em seus próprios pensamentos.



–Chame-me
de somente Carlisle, por favor. - pediu sorrindo.



–Tudo
bem, mas só se o senhor me chamar apenas de Bell, combinado?



–Combinado
senhori... Bell! – rimos de seu deslize. – Então, o que queria me pedir?



–Peço
encarecidamente que não conte a ninguém sobre mim, mas precisamente sobre minha
doença. – pedi olhando-o nos olhos.



–O
que? Mas, por quê? – questionou confuso.



–Não
quero que ninguém saiba pois teriam pena. – expliquei-lhe. - E piedade é algo
que não suporto.



–Tem
razão.



–Promete-me?
– perguntei.



–Prometo
Bell, pode contar comigo. - sorri em agradecimento.



–Não
diga para seus filhos. Há muito tempo desejo que me ignorem na escola, quando
finalmente consigo não quero pessoas conversando comigo por piedade. –
expliquei lhe.



–Garanto-lhe
que se um de meus filhos for conversar com você, eles não iram por piedade e
sim pelo desejo de te conhecer melhor, fazer amizade. – defendeu-os.



–Mesmo
assim, prometa-me não comentar nada com ninguém. – pedi desesperadamente vendo
em seus olhos um conflito interno.



Por
fim, suspirou contrariado e respondeu:



–Dou-lhe
minha palavra de honra senhori... Bell! – prometeu sorrindo. – Em troca, posso
lhe fazer uma pergunta?



–Sim.



–Porque
quer ficar sozinha? Sua mãe disse-me que você não tem amigos, que quer ficar
seus últimos dias solitária, somente com sua família. Diga-me o porquê desse
desejo.



–Porque
quando eu morrer, não quero que mais pessoas sofram por minha perda. Já basta
minha família. – justifiquei meu desejo.



–Generosidade
de sua parte não querer que as pessoas sofram por você, mas fico me
perguntando, você está feliz com toda essa solidão? – perguntou pegando em meu
ponto fraco.



Meus
olhos instantaneamente embaçaram. Lagrimas ameaçaram transbordar pelas bordas.
Fiquei totalmente sem reação. Totalmente sem palavras. Não conseguia pronunciar
absolutamente nada.



Nessa
hora, o barulho da porta batendo na parede nos sobressaltou. A enfermeira de
Carlisle estava visivelmente alterada. Olhos esbugalhados e totalmente arfante.



–DOUTOR
CULLEN! – gritou. – Temos uma emergência.



–O
que houve Emma? – Carlisle já estava de pé, olhando-a assustado.



–O
cara... ele... Acompanhe-me, por favor! – pediu afoita e desapareceu pela
porta.



Carlisle
rapidamente a acompanhou dando-me um último aviso antes de partir:



–Ainda
espero por sua resposta! – e saiu.



Ainda
alarmada, olhei para minhas mãos. Carlisle esquece-se de pegar sua foto de
família. Inconscientemente, afaguei o rosto do belo rapaz na fotografia. Um
lindo sorriso. Sincero.



Não.
– pensei. – Não sou feliz sozinha! – e finalmente as lagrimas transbordaram.



X-X







Passei
exatamente dois dias á mais internada. Por fim, recebi alta e pude voltar a
minhas atividades normais. Carlisle não tocou mais sobre o assunto da conversa.
Concluí que com o estresse ele tenha esquecido e agradeço por isso.



Hoje,
finalmente vou poder voltar à escola. Sentia-me estranhamente ansiosa com esse
fato. Com certa surpresa, percebi que tinha expectativa, expectativa de ver
Edward Cullen novamente, nem que seja um pequeno vislumbre. Resolvi que o
melhor a se fazer era refrear-me. Não era certo criar nenhum tipo de vinculo
afetuoso com ele, não seria justo para ambas as partes. Todas sairiam perdendo
no final.



Dei
uma ultima olhada no espelho com insatisfação. Estava com olheiras muito
profundas e escuras. Elas se sobressaem em minha pele clara. Suspirei e sai do
quarto.



Rapidamente
adentrei a cozinha.



–Bom
dia! – cumprimentei bebendo apenas um copo de suco.



–Bom
dia filha! – responderam em uníssono.



–Para
que a pressa? – perguntou meu pai baixando o jornal que lia.



–Já
estou um pouco atrasada, não quero chegar ainda mais tarde na escola. –
expliquei.



–Porque
levará seu violão? – perguntou minha mãe.



–Depois
da aula, vou tocar um pouco. - respondi. – Estou indo. – avisei dando um beijo
na bochecha de ambos.



–Não
vai comer nada? – perguntou minha mãe indignada.



–Estou
sem fome. – respondi simplesmente, dando de ombros.



–Isabella,
leve pelo menos uma fruta, você não pode ficar de estomago vazio. – repreendeu
autoritária.



–Tudo
bem, tubo bem. – concordei rendendo-me e pegando uma maçã. – Satisfeita?



–Muito,
tenha uma boa aula. – desejou com um sorriso.



Revirei
os olhos e caminhei até a garagem, pegando meu inseparável New Bettle vermelho.



Rapidamente
já entrava no estacionamento totalmente abarrotado da única escola dessa cidade
quase inóspita. Novamente, a única vaga era ao lado do volvo prata. Ainda não
tinha descoberto quem era o dono daquela preciosidade. Não que eu fosse conhecer
o sortudo, mas podia muito bem admira-lo de longe.



Recolhi
minhas coisas e sai do carro, trancando-o. Praticamente todos os alunos estavam
ali, parados em grupos conversando e rindo abertamente. Olhei para baixo,
seguindo por entre a multidão, passando quase despercebida por todos.
Praticamente a escola inteira passou a me ignorar, não que eu esteja
reclamando, era isso que eu tanto queria, não era?



Resmunguei
baixo por meu conflito interno e apertei o passo, chegando rapidamente em meu
armário.



Peguei
alguns livros e guardei alguns. Quando fecho o armário, levo um susto que me
faz saltar do chão. Ao meu lado, olhando-me satisfeita e com um sorrido de
orelha a orelha, literalmente, estava Alice Cullen. Reconheci pela foto que
Carlisle me mostrou no hospital. Havia passado o dia inteiro olhando para a
mesma, gravando cada traço, memorizando seus sorrisos.



–Olá,
deve ser Isabella Swan. Prazer sou Alice Cullen. Você é mais bonita do que eu
imaginava! – disse tudo de uma vez, me fazendo corar com seu comentário.



Afirmei
com a cabeça e me virei para sair o mais rápido possível dali, mas fui impedida
por uma mão, que segurou fortemente meu braço.



–Oh,
desculpe, não queria te assustar. – desculpou-se ficando a minha frente.



–Sinto
muito, preciso ir! – murmurei tentando inutilmente soltar meu braço.



–Hey,
bem que meu irmão disse que você foge das pessoas, sabia que ele ficou te
procurando pela escola inteira esses dias, estava praticamente louco atrás de
você! – disse fazendo-me ficar surpresa com sua revelação. Se dando conta do
que havia acabado de falar, soltou um pequeno. – Ops! – tapando a boca com a
mão. – Você não devia ter ficado sabendo disso. Ele vai me matar! – comentou
olhando-me assustada.



O
que Edward Cullen queria comigo? – perguntei-me mentalmente.



–Desculpe,
estou atrasada, preciso muito ir, dê-me licença. – pedi finalmente soltando meu
braço. Caminhei a passos largos para longe dela, mas a mesma foi mais rápida,
prostrando-se a minha frente, impedindo minha passagem.



Ô
baixinha insistente!



–Desculpe
ser tão insistente, mas eu só queria ser sua amiga. – revelou comovendo-me.



Olhei
dentro de seus olhos verdes, vendo sinceridade neles.



Você não pode Isabella! – gritou minha mente com sensatez. – Você quer deixá-la sofrer por você? – berrou
fazendo-me criar consciência de que estaria prestes a ceder. – Veja esses olhos brilhantes, quer vê-los
morrer por sua causa?-
essa foi à gota d água.



–Não
posso, desculpe! – murmurei voltando a andar.



–Espere!
Pelo menos me diga o porquê! – pediu acompanhando facilmente meus passos.



–Simplesmente...
Não posso! – dito isso, corri. Corri para longe da minha felicidade.



Adentrei
ao banheiro e me escondi em uma das cabines. Sentei no chão, abraçando meus
joelhos e deixando as lagrimas rolarem.



Não
compreendia o porquê de todo esse abalo. Nunca, em meus dezessete anos um
simples pedido de amizade me comoveu tanto. Parecia que estava negando minha
única esperança de que um dia eu venha a ser completa. Sem barreiras, sem
lagrimas, sem tristeza e principalmente, sem a doença que me matava.



Será
que esse era o sinal, a deixa que eu esperava para finalmente conseguir minha
tão sonhada felicidade? A minha única oportunidade de acabar com essa solidão
que tanto me atormenta? E se fosse, viveria tempo suficiente para sentir-me
satisfeita?



As
probabilidades não eram nada convincentes;



Sentia-me
em completo abandono, totalmente fechada, somente eu e o nada. Eu e a solidão.



Sozinha,
essa palavra ecoava em minha mente com uma entonação torturante.



Sozinha;



Sozinha;



SOZINHA
ATÉ A MORTE!



Passaram-se
horas e horas. E eu continuava ali, sentada no chão gélido, chorando sem
intervalos.



Sabia
que devia levantar e encarar os problemas de frente, mas simplesmente não tinha
forças. Não tinha energia, muito menos animo para lutar contra esses
sentimentos. Controlar essas sensações difusas.



Não
sei ao certo quando tempo passei em completo abandono, só ouvia os sinais
batendo marcando os términos das aulas. Por fim, levantei e sai do banheiro,
sem ao menos olhar minha aparência, pouco importava minha aparência.



Corri
por entre os corredores, indo para o único lugar que me traria paz ou pelo
menos uma tranqüilidade momentânea.



Adentrei
sem hesitar em uma sala bastante conhecida. As paredes eram totalmente
revestidas por espelhos, que agora refletia uma pessoa a beira da insanidade.
Havia um piano de cauda velho e opaco no canto mais afastado do lugar. Um
armário enferrujado denunciava sua velhice com um pequeno aparelho de som no
centro do mesmo. A pequena porta do lado oposto dos instrumentos levava a um
pequeno vestiário abandonado.



O
local estava totalmente deserto. A poeira nos móveis e no chão mostrava que
havia tempo que ninguém vinha a está sala. Um estúdio de dança completamente
esquecido.



Não
me importando muito com a sujeira, corri até o armário e peguei um dos
uniformes guardados. Segui para o vestiário, trocando de roupa e pondo minhas
próprias sapatilhas.



Voltei
para o estúdio, ajustando a música de acordo com minha preferência. Pondo uma
melodia calma e acolhedora.



Olhei-me
no espelho e vi como estava desesperada. Minha respiração era audível, elevando
meu tórax rapidamente. O uniforme que eu vestia se ajustava perfeitamente em
meu corpo, revelando minhas curvas escondidas pelas roupas largas.



Então
fechei meus olhos e comecei os movimentos totalmente sincronizados e em
perfeita sintonia. Há certo tempo, não controlava mais a coreografia, meus
membros mexiam-se por si só. Os movimentos foram ficando mais rápidos, mas
frenéticos, de acordo com minha necessidade.



De
repente, sinto uma sensação estranha. A sensação de que estou sendo observada.



Rapidamente,
abro meus olhos e não acredito no que vejo.



Encostado
na porta, olhava-me surpreso e agora um tanto assustado;



Virei,
ficando de frente para o individuo e perguntei, com a voz estrangulada e
levemente rouca:



–O que faz aqui? – de olhos arregalados e com as bochechas pegando fogo.




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