Mudando o Jeito de Viver escrita por Mayara Paes


Capítulo 14
13- Se afastar é necessário. (Bell)




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"Não desisti por não querer mais, desiti por não ter mais condições de sofrer."

Edward Cullen. Edward Cullen. Edward Cullen. Edward Cullen. Edward Cullen.

Seu nome rondava em minha mente, inúmeras vezes, como se um bando de mariposas pairassem sobre um único ponto de luz. Ainda era difícil de acreditar. Edward, meu namorado. Ele me amava. Ele realmente me queria. Não era um sonho. Meu, totalmente meu Edward.

Tudo bem, vamos reformular a frase para ficar mais correta:

Meu namorado Edward Cullen!

Parecia tão perfeito, tão certo.

Mas tudo que é perfeito demais, sempre é ruim, sempre tem algo que acontece e estraga esse momento de felicidade plena. No meu caso, uma simples frase justificava essa conclusão:

Eu estava morrendo!

Há um tempo atrás, estava completamente convicta de que já me conformará com meu destino. Meus dias estavam acabando, nada de amigos em minha limitada vida, minha família ainda sofria, mas já apresentavam sentimentos de conformação, eles superariam. Era o que mais me importava.

Importava! Disse certo. Passado. Importava naquela época.

Claro, ainda me preocupo com o bom estar deles, mas hoje, algumas coisas mudaram, ou melhor, acrescentaram em minha vida, em meus medos.

Agora existem mais prioridades, mais pessoas á quem devo me importar. Agora existiam amigos, agora existiam sogros, agora existe melhor amiga, agora existe namorado, agora existe um amor.

A coisa toda fugiu do controle e se tornou uma enorme bola de neve ao qual não consigo derreter, ao qual não consigo pensar em algo coerente para solucionar esse enorme problema.

Não que eu esteja reclamando de que me fui presenteada, longe disso. Eles chegaram na hora exata, me mostraram o que é carinho, o que é amizade, o que é companheirismo, o que é realmente amar alguém.

Eles revigoraram-me, mostraram-me o que realmente é viver intensamente. Literalmente mudaram o meu jeito de viver. Uma verdadeira lição de vida.

Mas nada disso me dava uma solução.

Como farei para contar a Edward sobre a doença? O que acontecerá depois disso? E a pergunta mais crucial. Como Edward reagirá quando souber?

Somente de uma coisa eu tinha absoluta certeza.

Eu não poderia prolongar mais essa situação. Edward merecia saber. Não estava sendo justa muito menos honesta com ele.

Estava decidido, eu contaria á Edward hoje. Assim que nos encontrarmos, revelarei tudo, independente das circunstancias.

Suspirei com minha súbita coragem.

Eu estava mais do que irredutível, nada me impediria, nada.

Batidas na porta desviaram minha atenção.

-Filha, estamos saindo. – avisou meu pai pondo somente a cabeça para dentro do meu quarto.

-Tem certeza? Está chovendo muito lá fora. – avisei apontando para a janela ao qual revelava uma grossa e forte chuva com direito a relâmpagos, trovões e vendavais.   

-Não se preocupe meu bem, não vamos demorar, rapidamente estaremos de volta. – sorriu. – Marie irá conosco.

-Tudo bem, mais tarde combinei de sair com o Edward. – avisei dando de ombros. –Tomem cuidado!

-Pode deixar, se cuide. – sorriu e desapareceu pela porta.

Levantei-me indo em direção ao banheiro, decidindo tomar um banho. Separei calmamente uma muda de roupa quente e prendi o cabelo. Estava prestes á tirar a blusa, quando ouço a campainha. 

Serão meus pais? Desistiram de sair ou esqueceram as chaves?

Desci rapidamente as escadas enquanto a campainha era constantemente tocada.

Sorri imaginando o quão impaciente meu pai deve estar pela chuva.

Destranquei a porta e sorrindo a abri, mas não era quem eu esperava.

-Esqueceu as chaves? Só não esquece a cabeça porque está grudada! – comentei sorrindo, mas quando tive uma ampla visão, arregalei os olhos. – Edward? Mas o quê...?

Ele estava diante de mim, completamente encharcado, os cabelos grudavam na testa e suas roupas estavam totalmente coladas ao corpo. Mas nada se comparava a sua expressão. Seus olhos transbordavam magoa e dor, seus lábios estavam em uma linha reta, entregando sua irritação. Sua respiração estava ofegante como a de um touro furioso.

-Desde quando está DOENTE? – perguntou surpreendendo-me. Percebi que tentava controlar a voz.

Meu coração perdeu uma batida.

-O quê? Como... – fui interrompida.

-Me responda, desde quando está doente? – perguntou friamente olhando dolorosamente em meus olhos.

Não conseguia pronunciar nenhuma palavra, ainda em choque ouço o telefone tocar, mas como não me prontifiquei a atendê-lo, caiu na secretaria eletrônica.

A voz de Alice soa desesperada na gravação:

-BELL, BELL, atenda esse telefone pelo AMOR DE DEUS! Eu sei que você está em casa, atenda logo. Preciso falar com você, algo de muito grave aconteceu. BELL O EDWARD DESCOBRIU TUDO, não sei o que houve e como aconteceu, só sei que ele saiu daqui completamente transtornado e descontrolado. ELE DEVE ESTAR INDO PARA AI AGORA MESMO. ELE DESCOBRIU A DOENÇA, EDWARD DESCOBRIU TUDO DA PIOR MANEIRA! ATENDA LOGO ESSA MERDA DE TELEFONE, pelo amor de Deus! - Alice chorava ao telefone.

Lentamente peguei o gancho no descanso e levei a orelha.

-Alice? – sussurrei praticamente sem voz.

-Graças á Deus você atendeu. – suspirou em alivio. – Edward descobriu tudo Bell, ele deve estar indo para sua casa agora mesmo. E agora? O que você irá fazer? Vou para aí imediatamente.

-Ele já está aqui Alice, não existe volta!– sussurrei sentindo lagrimas escorrerem por minha face.

-Oh Meu Deus! – disse antes de eu desligar o telefone.

Olhei Edward e esse estava de cabeça baixa enquanto balançava-a negativamente. Balbuciava palavras baixas e ilegíveis. 

-Me perdoa! – murmurei enquanto soluços subiam por minha garganta.

-Não pode ser, não pode ser, NÃO PODE SER! – gritou olhando-me com o rosto banhado em lagrimas, seus olhos estavam vermelhos e opacos quando me encararam. – NÃO!

Um soluço.

-Eu tinha dez anos de idade quando descobri que tinha essa doença. – balbuciei chorosa. – Desses anos para cá, veio se agravando. Não existe tratamento, não existe cura. Somente um milagre resolve meu problema.

Enquanto eu falava, Edward ainda balançava insistentemente a cabeça, negando-se a acreditar.

-Não queria que ninguém sofresse, por isso eu me afastava de todos, não tinha amigos até vocês chegarem á cidade. – caminhei até ele, segurando seu rosto entre as mãos. – Eu estou morrendo Edward, nada pode reverter isso.

-NÃO, eu não quero acreditar, EU NÃO POSSO ACREDITAR! – gritou desvencilhando-se de minhas mãos e correndo porta á fora, para a rua encharcadapela chuva forte que ainda caia. 

Minha cabeça latejava e meu coração doía enquanto corria atrás dele, ignorando a chuva que me molhava.

-EDWARD, VOLTE, NÃO VÁ EMBORA, DEIXE-ME EXPLICAR! – gritei vendo-o correr pelo gramado.

Corri ao seu encontro segurando seu braço, fazendo-o olhar para mim.

-Porque não me contou? Porque escondeu isso de mim esse tempo todo? – perguntou enquanto suas lagrimas se misturavam com a chuva.

-Eu tive medo, medo de ver essa magoa, essa dor em seus olhos. – sussurrei soluçando. – Eu não queria que você soubesse dessa maneira, eu ia te contar, eu mesma.

-QUANDO? Todos já sabiam, ninguém me contou. Eu fui o último a saber, o homem que TE AMA foi o último a saber. – soltou-se de minhas mãos. – Era isso que vocês tanto escondiam, era isso.

-Edward me perdoa, me desculpa por tudo, eu... – fui interrompida.

-COMO PODE ESCONDER ISSO DE MIM? COMO? VOCÊ NÃO ACHA QUE EU TINHA O DIREITO DE SABER? – gritava completamente fora de si.

-Edward, por favor me escuta, eu... – tentei dizer em meio a lagrimas, mas fui interrompida.

-QUANDO PRETENDIA ME CONTAR? HÃ? QUANDO JÁ ESTIVESSE MORTA? – lagrimas escorriam por sua face de anjo agora distorcida em uma careta de dor, magoa e raiva, muita raiva.

Suas palavras destruíram meu coração aflito, deixando-o completamente em frangalhos.

Um soluço audível escapou de meus lábios enquanto via-o dar passos para trás.

-VOCÊ NÃO PODIA TER ME ESCONDIDO ISSO, EU DEVIA TER DESCONFIADO DESDE O PRINCIPIO. SUAS PALAVRAS, SUAS AÇÕES, SUAS CRISES DENUNCIAVAM TUDO. – gritou olhando meu rosto. – SANGUE ESCORRER PELO NARIZ É NORMAL, FALTA DE AR É NORMAL. NADA AQUI ESTÁ NORMAL, EU NÃO ESTOU NORMAL, VOCÊ NÃO É NORMAL! 

-EU NÃO QUERIA QUE VOCÊ SOFRESSE! – berrei completamente desesperada.

-NÃO QUERIA QUE EU SOFRESSE OCULTANDO UMA DOENÇA SEM CURA? – olhou-me incrédulo. – SABER QUE VOCÊ ESTÁ MORRENDO JÁ É MOTIVO SUFICIENTE PARA ISSO!

-Edward, por favor...

-TODOS SABIAM MENOS O IDIOTA AQUI! – disse passando as mãos pelo cabelo molhado. – Alice sabia e se fazia de desentendida. Eu deveria ter sido o PRIMEIRO! VOCÊ SE AFASTAVA DE TODOS PARA EVITAR A DOR ALHEIA, MAS NÃO PENSOU EM COMO ISSO ME AFETARIA SE FOSSE TARDE DEMAIS. SE VOCÊ MORRESSE, EU TERIA DESCOBERTO DA PIOR MANEIRA POSSIVEL!

Neguei com a cabeça, recusando-me a acreditar que isso estava acontecendo.

-Eu vou embora! – disse se distanciando de mim.

Rapidamente o pânico me tomou, fazendo-me correr até ele e abraçá-lo pelas costas.

-Não vá, me perdoa, eu devia ter contado desde o primeiro dia, me desculpa, eu não sabia o que fazer, não sabia como agir. – dizia roucamente. – Eu fui covarde, não conseguiria vê-lo distante de mim. Não agüentaria observá-lo me abandonando!

-Talvez você estivesse certa, talvez o melhor que você deveria ter feito era ter ficado longe de mim! – desvencilhou-se de meu abraço, entrou em seu carro e deu partida logo em seguida.

Olhar seu carro desaparecer pela estrada fez-me sentir um aperto forte no peito, retirando bruscamente todo meu fôlego.

Um sentimento de abandono crescia em meu peito. Uma crescente náusea dominou-me, fazendo-me cambalear levemente.

Meu peito se exprimia enquanto suas palavras retomavam em minha mente em um replay doloroso e angustiante.

Não, não, NÃO! Não poderia acabar assim. Eu necessito dele! Ele é minha vida! Como poderei viver sem ela? Como?

Sem pensar duas vezes, voltei rapidamente para dentro da casa para somente pegar as chaves, corri até a garagem e entrei apressadamente no carro, ligando-o e imediatamente pegando a estrada molhada dirigindo em uma velocidade assustadora para o lugar que eu sabia onde encontrá-lo.  

A todo o caminho, o choro seguido dos soluços não me deixava pensar coerentemente. A cada palavra sua lembrada, fazia-me apertava mais forte o volante, fazendo os nós de meus dedos reclamarem de dor. Mas nada me importava, eu nada sentia, somente o desespero de perdê-lo. Essa dor superava todas as outras. 

Dirigi por uma estrada conhecida, a chuva ainda caia forte sobre o carro, fazendo-me ter apenas uma visão parcial da estrada.

Chegando ao meu destino, parei bruscamente o carro no acostamento e desci sem ao menos me importar em tirar as chaves da ignição ou trancar o carro.

Corri por entre as árvores e pela vegetação rasteira até chegar a uma pequena clareira ao qual Edward e eu sempre ficávamos. O penhasco. Ele se tornou nosso lugar preferido. Tornou-se palco de momentos inesquecíveis e com toda certeza, agora não seria diferente.

Lá estava ele.

A cena que eu presenciava, machucava-me mais que qualquer crise, que qualquer queda, que qualquer ferida que eu algum dia venha á ter. Multiplica isso por três, acho que ainda não será o suficiente.

Edward chorava, podia ouvir seus soluços de onde eu estava, enquanto chutava e socava violentamente uma árvore. Podia ver o sangue escorrer por seu braço exposto. A cada soco e chute, um grito seu era dado.

Fechei os olhos não suportando mais vê-lo daquela forma tão sôfrega.

Todos os meus maiores temores se concretizaram.

Edward estava sofrendo e eu não pude sequer evitar.

E tudo por minha causa, por mim e essa maldita doença.

O que eu não daria para morrer agora!

Deus, o que eu faço? Eu não suporto vê-lo dessa forma!

Quase que como um estalo, uma ideia surge em minha mente. Parecia realmente uma solução.

Abri meus olhos á tempo de ver Edward cair de joelhos e soltar um grito estridente, demonstrando toda sua dor, toda sua angustia.

Instantaneamente, abracei-me, tentando inutilmente permanecer intacta. Tentando evitar que os pedaços se soltassem.

Agora, mas do que nunca estava decidido! Se for para o bem de todos, para o bem do próprio Edward, é o que eu faria.

Olhando em seu rosto pela última vez, dei lhe as costas e voltei lentamente para meu carro.

Não queria que aquela imagem se gravasse em minha memoria, mas parecia que seria inevitável para mim. Era inevitável lembrar o quanto o fazia sofrer.  

Entrei em meu carro, ignorando minhas roupas molhadas e dei partida voltando para a minha casa.

Lagrimas insistiam em escorrer por meu rosto durante todo o percurso de volta.

“Você é melhor do que qualquer pessoa que já conheci e vou conhecer! Você é tudo que eu preciso, tudo! Você é tudo para mim, não preciso de mais nada com você ao meu lado! – limpou minhas lagrimas. – É você que eu quero, é você que eu desejo, é você que eu amo! – beijou-me o rosto inteiro.”

Sempre haverá lembranças maravilhosas, ao qual nunca irei esquecer.

“Ele é praticamente um pedaço de mim e quero que esse pedaço lhe pertença. – estendeu-me seu cordão de família. - Tenho absoluta certeza que ela ficará muito feliz em ver o cordão no pescoço da menina que seu neto escolheu para amar.”

Segurei o cordão fortemente desejando que tudo desse certo.

“Nada nem ninguém irá nos separar, eu prometo!”

Estacionei o carro na garagem e adentrei a casa. Ninguém havia chegado, tudo estava como antes, nada mudou.

Era esse meu desejo, que tudo voltasse ao normal, que nada mude por minha causa.

Peguei o telefone e disquei um número conhecido.

-Alô? Bell é você? – a voz de Alice soa eufórica.

-Acabou Alice, não dá mais para continuar! Eu estou desistindo! Desculpe! – sussurrei com a voz tomada pela emoção.

-Bell não faça isso, vocês se amam, não pode acabar desse jeito pelo amor de Deus! Cadê o Edward? Ele não vai deixar! Ele irá te impedir! – disse desesperada.

-Não dá mais, desculpe! – disse tentando controlar a voz. – Adeus! – e desliguei.

Sentei-me ao pé da escada, deixando o choro histérico tomar conta de mim. Meus soluços ecoavam pelas paredes. Era o único som que se ouvia.

Depois de minutos, que pareceram horas, a porta da frente se abre e minha mãe, meu porto seguro nesse momento, adentra em casa.

Seu sorriso desmoronou quando me viu ali, totalmente desolada.

-Querida, o que aconteceu? – perguntou correndo até mim e me abraçando.

-Acabou mamãe, acabou! – e o choro voltou com força redobrada.


X-X


-Você está certa da decisão que está tomando?– perguntou minha mãe pela quinta vez em cinco segundos.

-Absolutamente certa! – concordei.

Suspirando resignada, pegou o gancho do telefone e consultando a lista telefônica, discou o número.

-Boa noite! Gostaria de comprar uma passagem só de ida para o Canadá! – pediu olhando-me. – Para o mais breve possível.

Era o melhor para todos, mas infelizmente, não era o melhor para mim.




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