Estava machucado por dentro; ferido e abandonado; jogado na sarjeta como um cão; tudo o que eu mais amei havia partido diante de meus olhos; foi quando veio aquele gentil senhor; levantou-me daquele chão imundo e levou-me à enfermaria; deram-me um calmante. Inútil. Só a morte seria capaz de acalmar-me naquele momento. Foda-se tudo aquilo; foda-se tudo aquilo que um dia eu chamei de vida, porque com certeza ela não seria mais a mesma agora. Levaram-me para casa e não saí mais de lá; terminei meu ensino médio pelo correio; faria qualquer coisa desde que não não tivesse que sair de lá.

Com o tempo acabei tornando-me íntimo daquele senhor. Não só dele, mas também de seu filho. Seu filho; garoto sentimental; um merda de um Emo, isso sim, mas era um carinha legal... Pelo menos o único que eu aturava. Max. Sempre odiei esse nome: Max. Ficamos muito amigos; um dia descobri que ele era gay, e que tinha uma atração quase louca por mim. Certa vez me agarrou e me beijou; estranhei, mas pouco me importei em afastá-lo. "É só uma porra de um beijo", pensei. Para mim, pelo menos, mas para ele, era como se estivessemos casados. Pensou que com isso eu o estava "amando". Pfft! Foda-se ele. Foda-se os sentimentos. Pra que eles servem, afinal? Para que Max servia, afinal!? Ele não era ELE, e isso bastava para que ninguém servisse para mais nada.