This Is My Gang! escrita por Metal_Will


Capítulo 73
Capítulo 73




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Capítulo 73 - Os Ventos De Uma Nova Era

 Se tem uma coisa nessa vida com que eu nunca vou me acostumar é acordar cedo. É uma ofensa aos direitos humanos obrigar uma criança de doze anos levantar dez para as seis da manhã, mas, já que não tem jeito, vamos para a escola assistir aulas que começam às sete da madrugada. Após receber o inevitável beijinho de despedida da minha mãe (tá...é um preço baixo a se pagar pela carona), seguia eu pela mesmíssima rua da escola, quando me deparo com algo inédito. Bem, nada de assustador, mas nunca aconteceu. Aquela garota ali, parada, meio que de olhos fechados não era a...Karina?

- Ei, Karina! - chamei, tendo certeza de que era mesmo a baixinha.

 Ela abre os olhos lentamente, olha para trás e percebe minha presença. Ainda fica parada, enquanto eu me aproximava.

- Opa. E aí? - cumprimentei - Acho que nunca te encontrei no caminho para a escola. Que raro.

- Ah, bom dia - ela responde, obviamente, sem emitir um único sorriso.

- O que foi? Por que está aí parrada desse jeito?

- Estou parada porque não estou me mexendo.

- Err...não foi bem isso que eu quis dizer...pergunto o motivo de não estar continuando seu caminho para a escola.

- Ah, bem - ela faz uma pausa, suspira e continua - Estava sentindo o vento...

- Vento?

- O vento está forte, mas ao mesmo tempo não está com jeito de chuva.

 Olhei para o céu e não estava mesmo.

- E o que tem isso? - perguntei.

- É um sinal de mau presságio - disse ela, com uma expressão ainda mais séria do que de costume.

- Leu isso em algum lugar?

- Não, mas estou com um pressentimento estranho.

- Você não parece ser do tipo de pessoa que acredita nessas coisas.

- É. Não sou. Mas, por alguma razão, sinto que alguma coisa está para acontecer.

- Nem brinca. Quero ter um dia de paz nessa escola para variar.

- Espero estar errada.

 Era mesmo novidade ver um lado místico na Karina, mas não tocamos mais no assunto assim que entramos na escola. Tinha chegado mesmo cedo aquele dia, o pátio ainda estava bem vazio. Procuramos o nosso canto desconfortável do pátio e ficamos ali, esperando o tempo passar. Karina abre um livro (parecia ser "As Avneturas de Huckleberry Finn" ou algo assim...bem, o livro estava em inglês e, claro, ela conseguia ler fluentemente). Já eu, fico apenas olhando os alunos chegando no pátio. Olho para o relógio: ainda tinha uma boa meia-hora antes do início das aulas. Logo, logo deveria chegar alguém. É que quando a Karina começa a ler, pode esquecer: ela não vai puxar assunto nenhum. E eu ainda estava com muito sono para ficar batendo papo. Tudo bem. Não demoraria muito para chegar aquele que nunca sente sono.

- Fala, galera! - é. Era o Wilson. A única pessoa que conheço capaz de manter o bom humor naquela hora da manhã. E, sim, eu sei que já repeti várias vezes essa rotina da manhã, mas o que posso fazer se a cada manhã ele tem uma ideia diferente?

- Bom dia, Wilson - falei sonolento.

- E aí, Daniel? O que conta de novo?

- Consegui terminar um jogo que estava travado ontem - respondi. Apesar de que deveria mesmo era ter começado meu trabalho de História, mas como não era urgente, tinha coisas mais interessantes para fazer.

- Oh. Legal. Ontem estava realmente pensando em como organizar um evento de video-games

 Opa. Finalmente uma ideia interessante. Esperava ele falar mais sobre isso, quando Jorjão chegou, comendo um lanchinho básico entre o café da manhã e o lanche entre as aulas.

- E aí, gente?

- Ah, Jorjão. E aí? - cumprimentou Wilson.

- E aí? - ele fala, meio que com a boca cheia de salgadinhos (é, daqueles farelentos, que vem em pacotinhos e quando você abre só tem metade do saco cheio).

- Lanchinho da manhã, heim? - disse Wilson, observando o pacote na mão dele.

- É. Fase de crescimento, sabe como é..

 Fase de crescimento? Para os lados, não é? Mas antes que ele terminasse de falar, parece que tinha mordido algo que não era salgadinho.

- Bée..o que é isso? - falou ele, tirando da boca um pequeno disquinho, um pouco maior do que os salgadinhos que estava comendo.

- O que foi? Tem um prego no seu pacote de salgadinhos? Podemos pedir uma indenização por isso, sabia? Já pensou a grana que poderíamos ganhar e...

- Espera, Wilson! - bronqueie - Deixa ele ver o que é.

- Não é salgadinho - disse Jorjão - Mas também parece não servir pra nada.

 Eu até queria ver direito que tipo de figura tinha no disquinho, mas Jorjão lança de longe o objeto no cesto de lixo mais próximo. Teria ficado por isso mesmo se um garoto não chegasse correndo, praticamente se jogando no cesto para pegar o disquinho.

- Caraca, consegui pegar! - disse o garoto, provavelmente de uma sala mais nova que a nossa - Não acredito que ele ia jogar fora! E...nossa! É um Mil Tentáculos de Prata! 

 Ele olha para os dois lados, quando dá de cara com nós três olhando para ele (Karina continuava a leitura). O moleque fica meio perturbado.

- Vocês...não vão querer isso, vão? Se jogaram fora...

- Err...o que é isso? - perguntou Wilson.

- Nada, nada. Hehe. Se não se importam, então...eu fico com ele. Tchau!

 E ele vai embora, tão rápido quanto apareceu. Suspeito..muito suspeito.

- Eu, heim? - estranhou Jorjão - Para que tanto desespero? Nem era comida! Sem contar que tava meio babado.

 Nojento, mas era verdade.

- Sei lá, mas acho que aquilo que você jogou fora não era tão inutil assim... - falei.

 Nisso, Demi chegou, simpática como sempre. Ah, sim, nada como a presença dela para animar o dia de qualquer um.

- Bom dia! - cumprimentou ela, dando uma olhada de relance no pacote de salgadinhos de Jorjão - Também está colecionando Tazis, Jorjão?

- Tazi? - perguntou Wilson.

- Ué? Vocês não estão sabendo? - ela mexe na mochila e tira um disquinho semelhante ao que Jorjão encontrou nos salgadinhos. A diferença é que dessa vez conseguíamos ver o desenho. No caso, Demi tinha um que mostrava a figura de uma criatura em forma de coração num fundo rosa. Estava escrito, logo abaixo, algo como "Heartpuffy"

- O que é isso?

- É um Tazi, a febre do momento. Em todo pacote de salgadinhos vem um desses e cada um tem a figura de um personagem alienígena dos Alien Adventures.

- Aquele desenho americano de quinta onde o molequinho captura alienígenas? - observei - Achei que pouca gente assistia.

- Pois é, mas parece que tá todo mundo colecionando os Tazi. Eu mesma não gosto desse desenho, mas achei esse aqui bonitinho. Comprei um salgadinho esse fim de semana só por curiosidade e veio esse. É de bronze, mas já estou feliz.

- Como assim de bronze?

- Os Tazi possuem um tipo de hierarquia - continuou Demi - Parece que os de bronze são mais comuns, os de prata são incomuns e os de ouro são raros. 

- Bah! Besteira! - falou Wilson - Que graça tem colecionar isso aí?

 Nisso, ouvimos um grito no pátio. Algo como "Ganhei!"

- Ganhei, patão! Pode ir passando aí! - dizia um moleque, comemorando algum tipo de vitória.

- Você deve ter roubado

- Para de reclamar. Foi um jogo justo. Seus Tazis são meus. Hehe!

- Droga!

 Parece que os Tazi podiam ser disputados como em um jogo de bafo. Demi tinha melhores explicações.

- Você pode bater seus Tazi como em um jogo de bafo. A diferença é que você não bate com a mão e lança um dos seus próprios Tazi na pilha e fica com os que viraram.

- Muito tosco - falei. Não pensei que concordaria com o Wilson, mas aquilo não parecia ter graça.

- Tenha um priminho de oito anos que vá te visitar em casa e vai ficar ouvindo isso o tempo todo - falou Demi.

- Meus pêsames - falei.

- Sim, tosco, mas... - Wilson estava fazendo mais uma cara de quem teria uma ideia insana - ...apesar disso, é uma febre. E...é algo que pode ser útil para nós.

- Espera aí...no que você está pensando?

- Heh! Por enquanto nada...mas vou pesquisar um pouco mais sobre esses Tazi.

 Aquilo não estava cheirando bem. Acho que comecei a entender o mau presságio que Karina estava sentindo. Falando nela, estava mais quieta do que de costume. Parecia estar concentrada no seu livro, mas olha de relance para nossa conversa. Quando toca o sinal, ela me puxa de lado, falando baixinho:

- Acho que esses Tazi...são o mau presságio que estava sentindo - disse ela.

- Hã? Por quê?

- Não sei bem, mas...as coisas vão ficar complicadas...

  Complicadas? Bem, as ideias do Wilson sempre dão problema, mas se até a  Karina estava dizendo isso...é porque realmente as coisas eram sérias. O que será que ela estava prevendo?


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Notas finais do capítulo

Tazi é uma paródia para Tazo. Você já deve ter ouvido falar desses disquinhos, não? Na minha infância foi uma verdadeira febre e achei que o universo de This Is My Gang! seria ideal para retratar uma saga sobre eles.

Continue a acompanhar essa turminha do barulho. Até o próximo! ^^