Capítulo 67 - Iniciando operação! A festa de aniversário mais suspeita do mundo!

 Não demorou muito para chegarmos ao local da festa. Após descermos do ônibus e andarmos por alguns minutos chegamos à casa da Patrícia. Assim que nos aproximamos do portão tudo que pude exclamar foi "uau". E quando digo ""uau" não quero dizer "uau" apenas, quero dizer "uaaaaaaaaaaaau". A casa era grande. Muito grande. Poderia dizer que ocupava metade do quarteirão. Quando Demi disse que era um bairro nobre, imaginei que fosse algo burguês, mas não pensei que fosse tanto. Bem, se é uma festa na piscina, era de se imaginar que tivesse tanto espaço. E, cá entre nós, ela tinha dinheiro o bastante para comprar quanto espaço quiser. Tudo bem, deixe estar, quando for rico e famoso também vou ter uma casa muito maior que essa. Mas, antes disso, precisava terminar o maior pesadelo da vida de uma pessoa: a escola. E o meu só estava no começo.

- Pelo endereço...deve ser essa casa, né? - comentou Wilson, não tão admirado quanto eu - Bem grande, né?

- Ela é mesmo rica - comentou Demi - Que exagero

- Por onde entramos? - Jorjão perguntou sabiamente. Verdade. Onde ficava a campanhia.

- É...a campanhia deve estar em algum lugar por aqui... - disse Demi, procurando pelo botão da campanhia, mas antes que encontrasse qualquer coisa, ouviu barulhos de palmas e Wilson gritando.

- Ô de casa! - gritava ele. Tinha que ser daquele jeito?

- Acha mesmo que alguém vai ouvir? - questionei.

- Ah, se a gente não tá achando a campanhia...

 Mas por incrível que pareça, um homem careca (mas com poucos cabelos atrás) e roupa social abre o portão e nos saúda. Não é que ele tinha mesmo ouvido as palmas?

- Bom dia. Posso ajudá-los? - disse ele com uma expressão séria.

- Viu? Sabia que funcionaria! - falou Wilson, mas o cara continuou ali, esperando nossa resposta.

- Err...viemos para a festa de aniversário da Patrícia - respondeu Demi, mostrando seu convite. Todos nós sacamos nossos convites. Ele olhou para todos, balançou a cabeça afirmativamente e nos convidou a entrar.

- Tudo em ordem - disse ele - Por favor, entrem. A Srta. Bittencourt estava aguardando sua chegada. Sigam-me.

- Todo cuidado agora - disse Karina, baixinho, assim que passamos pela porta - Agora estamos em um terreno perigoso

- Eu sei - respondi no mesmo tom e olhando para todos os cantos, tomando cuidado para não pisar em alguma armadilha. Bem, pelo caminho, tudo que pude olhar foi a casa dela (que também era bem grande), alguns cães dobbermans grandes presos em um tipo de canil (para uma casa daquelas, era mais do que necessário), um jardim muito bem cuidado, com pequenas árvores podadas caprichosamente e, claro, barulho de uma garotada se divertindo. Podia ver claramente várias pessoas da nossa sala (olhando com curiosidade para nossa presença ali), inclusive os caras metidos como Danilo e Dimas que adoravam debochar da gente. Fora isso...ah, sim. A piscina ficava nos fundos e as lembranças de minha época de infância vieram com toda a intensidade.

- Srta. Patrícia? - disse o mordomo - Mais convidados

- Ah! Obrigada, Alfred! - disse ela - Estava mesmo esperando por eles.

 Alfred? Alguém realmente tem um mordomo chamado Alfred?

- O Alfred é uma gracinha, não é? - comentou ela, assim que se aproximou de nós.

- Ele se chama mesmo Alfred? - perguntou Demi.

- Na verdade é Alfredo, mas acho Alfred mais charmoso - respondeu ela - Que bom que vieram!

 Patrícia usava um biquini rosa (claro!) e chinelos também rosa (mas aposto que eram caros). Mesmo assim, precisava admitir que ela era linda. Patrícia sorria docemente para nós, enquanto eu observava todos os cantos para ver se não tinha nada escondido para nos afetar. Sim, eu estava bem paranoico.

- Feliz aniversário, Patrícia! - disse Wilson, no nome de todos - Trouxemos um presente!

- Sério? Não precisava! - disse ela, ainda com uma voz doce - Ao abrir, ela dá de cara com uma caixa de bombons.

- Err...bombons? - ela olhava para a caixa, ainda meio sem reação.

- A gente não sabia muito bem o que te dar - explicou Demi.

- Ah...diferente - respondeu ela, mas ela mal acaba de falar isso, um dos caras que eu já sabia ser um dos  mais folgados da escola (acho que era da sala do Jorjão), vê a cena

- Você ganhou chocolate, Paty? - disse ele, obviamente, falando alto como todo babaca que se preze.

- Ah, sim. Quer um, Rafa? - disse ela. Ah, pra quê?

- Valeu. Aí, galera! A Paty ganhou chocolate! - gritou ele. Não demora muito para um monte de gente chegar ali e querer um (inclusive Jorjão, que se aproveitou da brecha para pegar pelo menos uns dois bombons). O resultado é que não sobrou nenhum para a aniversariante.

- Obrigada - nos disse Patrícia, com um sorriso amarelo, após não conseguir nada do próprio presente. Se ela não tinha nada preparado para a gente, agora com certeza iria armar alguma.

- Bem, o que vale é a intenção, não é? - disse Wilson, também sorrindo.

- Claro, querido, com certeza - respondeu ela - Err...por que não aproveitam a festa? A parte da manhã é para aproveitar a piscina!

- Parte da manhã? - repeti.

- Sim - disse ela - A tarde, bem, à tarde teremos outras atividades

 Naquela hora, o sorriso dela foi meio suspeito. Tudo bem. Estaríamos preparados. Wilson provavelmente também estava pensando o tempo todo em seu plano de saqueamento de salgadinhos no final como vingança. Cada um tinha suas armas. Só não sabíamos qual era a da Patrícia. Teríamos muito tempo para descobrir.

- Bem, bem - continuou a anfitriã - Podem usar os vestiários e aproveitem a piscina. A água está ótima.

 Vestiários? Ah, sim, Patrícia aponta duas portas (uma masculina e uma feminina) que devia ser os vestiários. Não eram muito grandes, mas poxa: que casa tem um vestiário? Aquela menina era mais rica do que todo mundo pensava. Nos separamos: Jorjão, Wilson e eu no vestiário masculino. Demi e Karina no feminino. Óbvio, né? Mas locais de vestiário nunca me traziam boas lembranças.

- Piscina, heim? Tomem cuidado lá também - disse Wilson, após nos trocarmos. Ia responder que já estava tomando cuidado desde que entrei quando olhei para a figura do garoto.

- Wilson...você...

- O que foi?

- Você não acha que isso aí tá fora do seu tamanho, não?

 Enquanto Jorjão e eu estávamos com calções mais largos, Wilson trouxe uma sunga. Só que uma sunga meio pequena.

- Bom, eu quase não vou em piscinas e essa era a única sunga que eu tinha...de uns três anos atrás

- Você já cresceu nesse tempo, sabia?

- Relaxa. Está bem amarrada. Mais importante que isso: vamos nos precaver.

 Ele tira uns três cadeados da mochila e três barbantes com chaves amarradas.

- Dei duas dessas para as meninas também - respondeu ele - Isso garante a segurança das nossas roupas. No caso de tentarem esconder nossas mochilas e nos forçarem a andar com roupa de banho a festa inteira.

- Faz sentido - disse. De fato, era uma pegadinha ridícula, mas podiam fazer.

 Depois disso, saímos do vestiário. Demi e Karina já estavam nos esperando. Karina usava um tipo de maiô e Demi um biquini preto. Desnecessário dizer que ela estava uma gracinha.

- Então...acho que dá para cair na água, né? - falou Demi.

- Bem. espero que eu lembre de como se nada - comentei.

- Relaxe. Isso aí nem deve ser muito fundo - falou Wilson.

- O problema não é a profundidade - comentou Karina - E sim a temperatura.

 Ela tira um termômetro da mochila e se aproxima da água. Após alguns instantes, como sempre, sem mudar a expressão mas alvo do olhar de todos os presentes, ela tira o termômetro da piscina e relata a temperatura.

- 10 graus Celsius - disse ela - Pode ser um pouco gelado

- Você trouxe um termômetro?! - falei pasmo - É só colocar a mão na piscina para ver se está gelada ou quente, não?

- O tato não dá uma informação precisa de temperatura, Daniel - respondeu ela, calmamente. Aquela menina nunca sorria, mas aposto que internamente é a que mais tirava sarro de tudo.

 O resto da festa estava mais estranhando do que tirando sarro, mas depois dessa cena, o alvo dos olhares passa a ser Wilson mesmo.

- Gelada ou não, vamos entrar! Quem liga para temperatura? - dizia ele, usando aquela sunga não tão básica. 

- Err..querem que eu arranje um calção para ele? - perguntou Patrícia.

- Acho que ele não vai querer - respondi.

- Mesmo? Falo isso pelo bem de todos aqui...como acompanhante da moda, essa visão é uma tortura para mim - falou ela - Bem, fiquem à vontade...vou tentar não olhar muito para ele.

- Escuta, Patrícia - chamou Demi.

- Sim? - respondeu ela, musicalmente.

- Err...obrigada por nos convidar para sua festa. Apesar das nossas....diferenças do passado

- Passado, você disse bem - respondeu a loirinha - Fiquem à vontade. É importante todo mundo da escola se dar bem, né?

- Claro

 Patrícia sorri e parte para dar atenção a outros convidados. Demi se vira para nós com uma cara séria.

- Tá mais do que na cara que ela tá armando alguma! Aquele sorriso falseta não me engana! Cuidado redobrado galera!

- Ahhhhh!!! - gritou Wilson, sequer ouvindo o que ela disse.

- Wilson! O que foi?

- Acho que 10 graus ainda é gelado para mim - respondeu ele, tremendo. Tá legal, vamos encarar a piscina. E..era impressão minha ou aqueles caras da nossa sala que estavam ali nadando tinham uma expressão..maligna? Ai, Deus nos proteja.