Capítulo 217 - A Ansiedade Mata!

Nunca pensei que a ideia de um baile fosse contagiar tanto nossa escola. Nos dias seguintes não se falava em outras coisa nos corredores. Seriam longas semanas de preparação. Até mesmo os professores estavam ansiosos, inclusive nosso velho amigo professor Denis (puxa, faz tempo que ele não aparece, não é?).

– Olá, garotos. Como estão? - disse ele, se aproximando de nosso grupo que estava voltando para a sala na hora do intervalo.

– Professor! Há quanto tempo! - falou Wilson - Ficou sabendo do baile da escola?

Não preciso dizer que Wilson também era um dos mais empolgados. Sua ideia de aprontar algo grande no momento do baile continuava em alta.

– Sim, pois é. Nossa escola nunca teve um evento parecido. O grupo de eventos tem trabalho bastante mesmo, não é?

Eu diria que a Patrícia tem trabalhado sempre novas formas de inflar o próprio ego, mas vamos dizer que eles estão trabalhado bastante.

– O senhor já tem um par? - indagou Demi.

– Bem, ainda não pensei muito sobre isso e..

– Até parece que vai encontrar um par tão fácil - disse professora Joseane, a eterna rival do professor Denis. que, por acaso, passava pelo local ouvindo nossa conversa - Você é uma negação com mulheres, Denis. E sabe muito bem disso.

– Ora. Não fale do que não sabe! - reclamou o professor claramente irritado - Posso arranjar uma acompanhante facilmente.

– Ah, é? Quero só ver - Joseane realmente duvidava - Vê se não vai fingir que ficou doente de novo para não ir à festa sozinho, como você fez na nossa época de colégio.

– Se me lembro bem...você também não foi naquela festa - retrucou o professor.

– Tinha outras coisas para fazer - Joseane desviou o olhar.

– Admita. Você também não tem um par - disse Denis, claramente enfiando o dedo na ferida dela.

– Cale-se! Sou jovem e linda. Posso encontrar um par bem mais fácil que você.

– Veremos no baile - disse Denis.

– É. Nos veremos no baile - falou a professora, indo para o lado oposto de Denis.

– Ei, espera. Vou dar aula no segundo ano agora. Vou para o mesmo lado que você! - reclamou o professor. É, aqueles dois não mudaram muita coisa.

– E vocês? Já decidiram seus pares? - perguntou Demi. Como eu queria que ela não fizesse aquela pergunta.

– Estou mais interessado em como vamos invadir o telão da festa. Precisamos deixar nossa marca! - disse Wilson.

– Ah, mas eu também queria dançar. Mas nenhum menino da escola me interessou...

– Ei, peraí. Tá querendo dizer que você já recebeu propostas? - perguntei.

– Bem, um ou outro me chamou. Mas todos me convidaram via Facebook. Por que não vieram falar comigo diretamente? Estão com medo?

Por um lado devo ficar feliz por ter sido apenas um ou outro (desde que Demi começou a andar com a gente, o assédio em cima dela diminuiu absurdamente. Somos mesmo repelentes de popularidade). Também deveria ficar feliz por ela preferir ser convidada pessoalmente. Mas, ao mesmo tempo, fico nervoso por ter essa chance, mas ainda não ter coragem suficiente. Incrível. Somos amigos há tanto tempo e ainda não consigo mostrar o quanto gosto daquela garota. Sim, pois é, Demi é minha primeira paixão. Não sei quando isso começou, mas o fato é que queria muito dançar com ela no baile. Muita gente já suspeitava disso, menos a própria Demi. Como poderia fazer para convidá-la?

Fomos para nossas respectivas salas e tivemos aula. Mas como poderia me concentrar nos estudos com essa ansiedade? Tá, tá certo que eu não me concentrava nas aulas mesmo quanto não estava nervoso, mas naquele dia estava demais. Ainda bem que eu não tinha prova no dia ou teria ido muito mal. Assim que saí da aula, continuei matutando a melhor maneira de me aproximar da Demi para convidá-la.

* Minha imaginação *

– Demi, você gostaria de ser meu par no baile? - perguntei.

– Seu par? Claro! Estava esperando você me convidar há muito tempo! - respondeu ela.

– E você...aceita se casar comigo? - perguntei, mostrando uma caixinha com uma aliança.

– Casar? É claro que sim! - disse ela - Quando?

– Agora mesmo - falei, estalando os dedos e mudando o cenário para uma cerimônia ao ar livre. Demi vestida de noiva, eu com um smoking preto e nós dois juntos no altar.

– Ei ,Daniel

* Fim da imaginação *

– Hã? - olhei para o lado e quase caí para trás.

– V-Você?! N-Não, espere...eu já tenho uma pessoa em mente para o baile e..

Mas Emília apenas me olhou com uma cara estranha.

– Err...não, calma, eu só ia perguntar se você poderia devolver esse livro para a Karina. Ela me emprestou há muito tempo atrás. Nós duas participamos do grupo de literatura - disse Emília, com toda a calma do mundo. Respirei aliviado e peguei o livro.

É claro. Como pude esquecer. Emília já estava em outra, desde que descobriu o verdadeiro amor da vida dela (que, graças aos céus, não era eu e ela podia me deixar em paz).

– Mas você estava falando do baile? - perguntou ela.

– Ah...s-sim...todo mundo tá falando disso, né? - falei.

– Eu sei! - disse ela, com us olhinhos brilhando - Virei com o Eustênio. Estamos nos dando muito bem juntos. Ah, nossa, faz mais de dez minutos que não mando uma mensagem para ele. Ele já deve estar com saudades! Tchau, Daniel.

Espero que Eustênio esteja feliz com ela. Pelo menos um problema a menos na minha vida. Só que agora eu estava encrencado. Como poderia conversar direito com a Demi? Precisava de conselhos, talvez.

Procurei por Karina que, por sorte, já estava retornando para casa. Era uma oportunidade de falar a só com ela e pedir algum apoio. Ela não era exatamente normal, mas de todas as pessoas do colégio era a única em quem eu poderia confidenciar meus sentimentos sem medo de reações escandalosas. Era trataria meu problema como, sei lá, um problema de matemática ou um quebra-cabeça a ser resolvido. E, além disso, eu precisava devolver o livro que Emília havia emprestado.

– Karina - falei, alcançando a baixinha sem muita dificuldade - Precisava te devolver esse livro.

Ela apenas assentiu com a cabeça. Considerei aquilo como um agradecimento.

– E...você tem alguns minutinhos? Queria te perguntar uma coisa.

Ela apenas assentiu com a cabeça mais uma vez.

– Bom, já nos conhecemos há um tempinho.

– Quase dois anos inteiros - respondeu ela.

– Sim...e, bem, o que você diria se....eu estivesse interessado em uma pessoa do nosso grupo?

– Não seria incomum. É normal que jovens se interessem romanticamente por pessoas de seu círculo de amizades. E, se tratando de você, está interessado na Demi há muito tempo.

– Então você percebeu?

– Certos olhares e certas reações denunciam - disse Karina - Infelizmente a Demi parece ignorar o que você sente. A menos que seja claro, ela nunca irá saber.

– Achei que garotas fossem mais sensíveis a esse tipo de coisa.

– Sou mais observadora do que faladora, você deve ter percebido.

Claro. Se bem que naquela hora até que ela estava falando bastante.

– Costumo observar melhor certos aspectos da vida. Então, ou Demi desconhece o que você sente...ou ela sabe, mas finge não saber por não querer misturar uma amizade com outras coisas.

– Será?

– Nosso grupo ou gangue como Wilson gosta de chamar adquiriu uma união incomum, Daniel. Talvez Demi o veja quase como um irmão. Mudar a forma de olhar as coisas pode ser difícil para ela.

– Entendo...

– Mas...se for para escolher alguém desse colégio...talvez seja melhor ficar perto das pessoas que mais te querem bem. No caso, creio que Demi estaria em boas mãos se ficar com você.

Ela não esboçou nenhum sorriso ao proferir aquelas palavras, mas, mesmo assim, consegui perceber o sentimento no que ela disse. Karina parecia torcer para que as coisas dessem certo entre mim e Demi.

– Então...você acha que eu devo convidá-la para ir ao baile?

– Vá o quanto antes - falou Karina - Ou alguém chegará antes de você. Nesse momento, não acho que Demi iria recusar um convite seu. É um dos meninos por quem ela tem mais afeição.

– O-Obrigado - agradeci Karina - Vou fazer isso até amanhã!

Karina assentiu com a cabeça mais uma vez. Sim. Ela me deixou mais confiante. Demi queria ser convidada pessoalmente e é o que vou fazer. Espere até amanhã, Demi. Só mais um pouco, por favor.