Capítulo 178 - Hackers contra hacker

Wilson, Cássio, Jorjão e eu subimos imediatamente para a sala do servidor do colégio. Para quem não se lembra estudamos em um colégio técnico (esse tipo de coisa devia ser mais relevante...mas fazer o quê? O narrador dessa história não se apega muito a detalhes) e embora tivesse algumas salas de informática, o servidor oficial do colégio ficava no terceiro andar e administrado pelo nosso próprio professor de Informática, o Cerati (ô nomezinho!).

Dito e feito. Chegamos lá ofegantes pela corrida (quatro sedentários correndo...o que você queria?) e pegamos o professor devorando um potinho de gelatina.

- Boa tarde, meninos - disse ele - Gelatina?

- Não tente nos enganar! - falou Wilson, ainda recuperando o ar - O senhor é o Troll, não é?

- Eu sou quem? - o pobre professor parecia bastante confuso.

- A pessoa que está invadindo o sistema da escola e fazendo essas pegadinhas! Só o senhor tem acesso ao sistema do colégio e o software espião que Cássio colocou no servidor detectou uma invasão - disse Wilson, dizendo o que Cássio fez sem pensar duas vezes.

- Wilson, seu idiota! Não diga que fui eu! - reclamou Cássio.

- Mas não foi você?

- Você o quê? - perguntou o professor.

- Err...tenho autorização da coordenação para agir investigando o caso Troll - Cássio de defendeu.

- Na verdade, nós da NERD é que temos - disse Wilson.

- Cale-se! Quer que eu seja expulso? - reclamou Cássio, em voz baixa.

- Não importa. Os fins justificam os meios - disse Wilson - Descobrimos uma pista importantíssima. O Troll agiu no site do colégio no início dessa semana.

- Vocês tem alguma prova? - perguntou o professor.

- Sim - falou Cássio - Aqui tem um relatório do meu software. Ele detectou uma invasão na madrugada de domingo para segunda.

- Hmm...ótimo. Tenho um álibi para isso - falou Cerati.

- Álibi? - perguntou Wilson - Qual? Podemos saber?

- Posso provar, aliás - disse o professor, ligando seu notebook e mostrando a foto dele jantando com a esposa em uma festa formal - Estão vendo? A máquina marcou a data da foto: 00h20 da madrugada de domingo para segunda. E eu não tive acesso a nenhum aparelho eletrônico com acesso à rede nessa festa. Minha esposa é testemunha.

- Isso torna muito difícil ter sido ele, Wilson - comentei.

- Não elimina totalmente as suspeitas - disse nosso líder investigador, desconfiado como sempre.

- Mas o que eu ganharia aprontando com vocês? - perguntou o pobre professor.

Outro ponto: o Troll parecia ter uma rixa pessoal conosco. Até onde sei, aquele professor não tinha muito contra nós. Se fosse a Joseane, até desconfiaria..

- De qualquer forma, não deveria invadir o sistema da escola assim - reclamou Cerati - Vou ter que tomar alguma providência, Cássio.

- Espere. Ele está nos ajudando com o caso Troll. Estamos à frente dessa investigação. É só perguntar para a coordenação - falou Wilson - Até segunda ordem, temos autorização para usar os meios necessários para conseguir investigar.

Ele realmente tinha uma lábia e tanto.

- Bom, se é assim - suspirou o professor - Mas garanto que não tenho nada a ver com isso.

- Pode ser - disse Wilson - Precisamos de mais pistas...como pegar um hacker?

- Talvez...sendo hacker também.. - comentou o professor.

- Hã?

- Ora, se vocês tem um programa espião no servidor, podem pegar os dados de invasão, não? Desde que o tal Troll não saiba disso.

- É verdade! - gritou Wilson - Se o Troll foi pego pelo software do Cássio, talvez ele não saiba que foi espionado.

- Mas será que ele não sabe mesmo? - comentei - E se foi proposital?

- É...se for isso, talvez ele não entre mais no servidor - disse Jorjão.

- A menos que...utilizemos alguma isca - pensou Wilson - É...talvez dê certo. Gente! Reunião extraordinária!

Do que ele estava falando? Uma isca? Que tipo de isca? Era isso que iríamos descobrir alguns momentos depois, quando, já na companhia de Demi e Karina, estávamos na casa de Wilson, em frente ao computador dele.

- O plano é bem simples - disse ele - Com a permissão do professor Cerati e da coordenação, colocamos uma notícia no site da escola: o concurso de redação.

- Concurso de redação? E no que isso vai nos ajudar? - perguntou Demi.

- Os alunos terão cinco dias para enviar redações para o concurso. Daí, o vencedor ganhará um prêmio: uma coleção de livros - falou Wilson.

- Parece interessante. Mas por que você acha que o Troll iria agir numa situações dessas? - Demi perguntou novamente.

- Desde que os ataques do Troll começaram, não tivemos um evento desse tipo. Se eu fosse o Troll, não resistiria em armar alguma coisa nesse concurso, ainda mais que as redações podem ser enviadas por e-mail e a escolhida será colocada no ar.

- Então é quase certo que ele ataque, né? - falou Jorjão.

- Sim. E quando isso acontecer, um software irá detectar o IP do invasor e, imediatamente, dizer a origem dele - falou Wilson, em tom confiante.

- Uau! É que nem o programa que o Cássio falou? - perguntou Jorjão.

- Não, não. Depois que ele disse aquilo, fiz questão de pensar num algoritmo para criar o meu próprio. Lembrem-se que estamos competindo com o Cássio!

- Mas isso não vai demorar? - perguntei.

- Nada. Até amanhã já tenho o programa pronto.

Bom, para superdotados como o Wilson isso não seria problema. Mas isso demoraria um pouco e nesses cinco dias o Troll ainda poderia agir. Estranhamente, não tivemos notícias de anormalidades naquele período de cinco dias. Será que ele estava mesmo aguardando o evento das redações? Wilson acompanhou o software de detecção o tempo todo e, pelo que parecia, nenhuma invasão havia ocorrido. Até o dia da decisão da redação. Wilson escolheu uma redação aleatória para escolher como vencedora e, naquela mesma madrugada, exatamente às 01h45 da manhã, ocorreu uma invasão. O Troll colocou um arquivo de texto dele mesmo. Mas o software também pegou o IP. No dia seguinte, ele parecia de muito bom humor.

- É isso aí, gente! Conseguimos! - disse ele com seu costumeiro sorriso de orelha a orelha - O software detectou invasão ao sistema e mais: o Troll deixou o próprio arquivo dele como a redação campeã.

- E o que diz a redação dele? - perguntou Demi.

- Não é bem uma redação...o arquivo só tem pontos de interrogação - falou Wilson, mostrando uma impressão do texto enviado pelo Troll.

- Outro código..ninguém merece - comentei.

- Quatro - falou Karina - Vejam...os pontos de interrogação formam IV se você virar a folha de cabeça para baixo. IV é quatro em algarismos romanos.

- Como consegue decifrar essas coisas tão rápido? - perguntei.

- Li muitos livros de detetive - respondeu ela.

- Hmm...Quatro, é? Então faz sentido - falou Wilson - Relacionando isso com a próxima pista que eu descobri, já faz a gente avançar muito.

- E qual pista você conseguiu? - perguntou Demi.

- A origem do IP! Eu joguei em alguns programas espiões mais ferrados e descobri que o IP, naquela noite, vinha de uma casa da nossa cidade. Consegui o endereço: Rua das Envergaduras, número 800.

- Sério?! Então é lá que o Troll mora! Já descobrimos! - comemorou Demi.

- Bom, não é tão simples assim - disse Wilson - Nessa casa..moram seis pessoas...os pais e os quatro filhos.

Ele mostrou uma lista com o nome dos quatro. Uma menina e três meninos. Danila, Henrique, Celso e Sérgio. Não, não conhecia nenhum deles pessoalmente.

- E os quatro estudam nesse colégio, em salas diferentes - continuou Wilson - Apenas a menina é do Ensino Médio.

- Então ela deve ser a principal suspeita, não? - disse Jorjão.

- Pode ser. Mas pelo que eu investiguei, ela não tem nenhum contato com o Jonathan ou outras pessoas do Ensino Médio que vivem atormentando a gente - falou ele - Eu diria que todos são igualmente suspeitos. Na minha opinião, esse Henrique é o mais suspeito.

- Mas o garoto está no jardim de infância - comentei.

- É...bem suspeito, não acha? De qualquer forma, pode ser qualquer um deles - disse Wilson - Mas agora, nossa lista de suspeitos se reduziu bastante. O Troll...é um desses quatro irmãos.

- Beleza, então é só investigar um por um - falou Jorjão - Agora tudo ficou bem mais fácil.

- Heh! Ótimo! Vamos pegar esse Troll hoje mesmo! Bora enquadrar os quatro! - Wilson estava empolgado, mas Karina parecia ser a mais fria.

- Esperem...talvez a gente não precise investigar os quatro - disse Karina - Wilson...podemos marcar uma reunião hoje?

- Reunião? Por mim beleza, mas o que você quer fazer? - perguntou ele.

- Estou com uma intuição..se for verdade, talvez a gente já consiga saber quem é o Troll sem precisar entrevistar nenhum deles.

No que será que ela está pensando? Seja como for, nossa investigação finalmente saiu do lugar. Qual daqueles quatro irmãos seria o Troll?