This Is My Gang! escrita por Metal_Will


Capítulo 127
Capítulo 127




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Capítulo 127 - Samba com confusão

  E eis a situação onde nos metemos, tudo porque um guarda-chuva voador foi cair no lugar errado na hora errada. Agora estávamos fingindo ser um grupo de samba (ou pagode, dependendo do que a ocasião exigir) para ajudar no encontro do Abelardo ali no bar que o tio do Murilo reservou para a noite. O que não fazemos para não apanhar de um delinquente punk? Mas, por falar em Abelardo, onde será que ele andava? Nós já estávamos ali, devidamente disfarçados (mal disfarçados, mas era melhor do que nada). E ele? Não era ele o cara do encontro? Só espero que ele não chegue depois da garota. Até para alguém analfabeto em encontros como eu, aquela verdade parecia óbvia: chegar no horário era fundamental.

- E o Abel, heim? Tá demorando - disse Solano, que também estava ali, ajudando nos bastidores. Ah, é verdade, os companheiros de Abel iriam operar no playback, já que tinham uma noção de som boa (para quem não lembra, eles tocaram na festa junina do ano passado. Para a Elisabeth não ter lembrado disso, era sinal de que era nova na escola mesmo).

- Pois é. Espero que ele ele não tenha amarelado por conta da timidez - falou Murilo. 

- Quem vai amarelar? - disse o próprio Abelardo ao chegar. E claro que ele teve que dar uma repaginada no visual para se mostrar apresentável à sua amada. No entanto, ver um cara todo no estilo punk colocar uma camisa listrada, tirar todas as correntes e pulseiras de espeto, usar sapato ao invés de um tênis velho e, o principal, ter raspado o cabelo, era muito estranho. Eu poderia rir, mas se tratando do Abelardo, era melhor manter a postura. Eu ainda queria viver.

- A-Abel? O que aconteceu com você, brother? - disse Murilo, quase caindo para trás ao ver o novo visual de seu amigo - O que fizeram com seu cabelo? Tu tá quase careca!

- Eu sei - falou ele - Minha intenção era deixar crescer, mas pela Elisabeth, vale a pena abrir mão de certos luxos. Por que essa cara? Acharam engraçado?

- Não, não, só que...achamos meio loucura agir desse jeito só por causa de uma garota - explicou Solano.

- Eu já falei! Ela é a mulher da minha vida! Um homem sabe quando o amor bate à sua porta, não sabe?

- Que papo é esse, Abel? - falou Murilo - Você não tem nem vinte anos ainda.

 É...isso mesmo. Ele havia repetido de ano algumas vezes. Na verdade, todos eles pareciam bem velhos para alunos de colegial.

- Se me permite dizer-  falou Wilson - Independente de seu estilo, a classe ainda permanece em sua figura, meu caro Abelardo.

- E vocês aí? - disse Abelardo, claramente ignorando a puxação de saco do Wilson - Espero que estejam preparados para agir como um verdadeiro grupo de samba!

- Opa. É com a gente mesmo - falou Demi - Quando o assunto é música, eu domino!

- Acho bom mesmo - falou ele - E esses disfarces aí. A Elisabeth já conheceu vocês, tem certeza de que ela não vai desconfiar?

- Relaxa-  falou Wilson - É só vocês sentarem um pouco mais longe. Ela não vai nem reparar.

- Olha aqui - disse Abel em tom ameaçador - Estou confiando em vocês. Acho muito bom que vocês não estraguem tudo.

- O que é isso, rapaz? - disse Wilson, muito confiante - Nós sempre temos tudo sob controle.

 Cara de pau é uma coisa que não tem limites naquele cara. Quer que eu fale por ordem alfabética todas as coisas que deram errado pra gente? De qualquer forma, não dava mais para voltar atrás. O encontro havia sido marcado para às oito da noite e, como Elisabeth conhecia bem o local do bar do tio do Murilo, ela mesma disse que iria para lá (mesmo porque, Abelardo não tinha carro). Na verdade, já eram oito e cinco, e nada da Elisabeth aparecer.

- Ai, ai, será que ela desistiu? - questionou Abel, enquanto andava de um lado para o outro. Pelo menos a camisa listrada não o fazia suar tanto quanto a roupa preta fazia.

- Pelo sim ou pelo não, Murilo e eu já vamos para os bastidores organizar o som - falou Solano - Boa sorte, Abel!

- Valeu. Tô ansiosaço!

- Essa Beterraba tá demorando pra chegar, heim? - comentou Jorjão.

- Nem pense em chamar ela de Beterraba! Ela não pode nem sonhar quem são vocês! - exclamou Abel.

 Ele nem se recuperou dessa explosão e logo a Beterrada, ou melhor, a Elisabeth, surgiu na porta. Estava usando jeans, uma camiseta de alcinha e sandálias de plataforma. Nada de muito anormal. Abel engoliu seco, tomou coragem e recepcionou sua convidada.

- B-Boa noite - disse ele.

- Oi. Boa noite - disse ela, cumprimentando-a com um beijinho - Você é mesmo parecido com as fotos que eu vi. Só cortou um pouco o cabelo, né?

- Ah, sim, você reparou, é? Hehe!

- Você tem um certo estilo. Devia tirar mais fotos. O seu perfil não tem quase nenhuma.

- Pois é. Hehe - e ele continuava a sorrir amarelo.

 Deduza disso que Abel tirou fotos dele com aquele visual para que Elisabeth tivesse uma ideia de como ele era. Você sabe, uma imagem vale mais que mil palavras. E toda a encrenca deve ter começado daí.

- De qualquer forma - continuou Abel - Seja bem-vinda. Logo, logo, chega mais gente.

- Tá.

O bar havia sido reformado há pouco tempo e estava até bem ajeitadinho. Claro que usamos a manhã e a tarde de sábado inteiras para arrumar o estabelecimento e deixá-lo semelhante a um restaurante ou ao menos parecido com uma lanchonete. Deixar o tio do Murilo um pouco mais apresentável é que foi difícil. E era justamente ele que chegou ali, fazendo o papel de garçom.

- Oh, você deve ser a tal Elisa... ai! - foi o discreto chute de Abel na canela dele - Digo...bem-vinda ao nosso estabelecimento. Não é muito luxuoso, mas tem seu conforto.

- Nossa. Pra mim tá ótimo.

- Fique à vontade - falou o dono do bar, tio de Murilo, saindo de cena falando algo como não ser pago o suficiente para passar por essas situações. Na verdade, ele até achou a ideia divertida no começo. Divertida para ele que não corria o risco de apanhar. E...sou só eu que tenho a impressão de que isso não vai dar certo? Não demorou muito para Elisabeth colocar os olhos no nosso grupo. Demi abriu um sorriso enorme que a garota correspondeu. Parece que ela não nos reconheceu, pelo menos não de cara.

- Esse é o grupo que você falou que teria? - perguntou Elisabeth.

- Ah, sim, vocês são o...o...

- Somos os Sambamasters - falou Wilson com uma voz alterada.

- Ele quis dizer Mestres do Samba! - falou Demi, disfarçando com um sorriso aberto - Hehe...é que ele tá treinando o inglês dele.

- Nunca ouvi falar.

- Ah, é que estamos começando agora - Demi assumia todas as desculpas - Você sabe...carreira musical é sempre difícil no início.

- Sei...mas...reparando bem, parece que eu conheço vocês de algum lugar...

- Deve ser de algum show de calouros ou de algum vídeo da internet, né? - Abelardo tratou logo de afastá-la da gente - Vem, vamos sentar ali na mesa do canto.

- Ah, mas eu quero ouvir o som deles de pertinho - falou Elisabeth. Claro que eu amaldiçoava muito essa decisão mentalmente, mas só podia manter meu sorriso disfarçado para tentar entretê-la.

- Bom, você que sabe - falou Abel - Então...pode ser aqui?

- Nossa, Abel. Não tem ninguém aqui, olha esse tanto de mesa vazia. Vamos sentar logo na frente deles! - sugeriu Elisabeth. Ô, desgraçada! Mas é verdade que o lugar estava vazio demais. Vazio o suficiente para levantar suspeitas - E aliás...cadê o público desse show? Não teve divulgação, nem nada?

- Relaxa. Daqui a pouco chega alguém - falou Abel, começando a conversar com Elisabeth. Pelo menos a conversa tiraria a concentração dela da gente. Pelo menos alguns curiosos começaram a chegar. Eu não gostava muito de plateia, então estava começando a ficar mais nervoso. Mas pelo menos tínhamos a desculpa de sermos um grupo iniciante, então se tocássemos mal, a culpa não seria nossa. Não demorou muito para o relógio chegar às oito e meia. Nisso, metade do bar já havia sido ocupado. Tudo bem que metade daquele bar ocupado significava umas quatro mesas, mas do meu ponto de vista nossa plateia tinha aumentado consideravelmente.

- Ei, ei, Daniel - Wilson me chamou baixinho - Se essa história der certo, podemos investir na carreira de grupo de pagode.

- E usar esses disfarces para o resto da vida? - respondi no mesmo tom - Eu tô com cara de Hannah Montana por acaso?

- Gente - chamou Demi - É melhor a gente começar...

 Jorjão fez um sinal com as mãos que indicaria quando se deveria tocar o playback. Demi iniciou então uma canção melodiosa, falando algo a ver com amor não correspondido ou algo assim.

- Achei que eles começassem com uma música mais animada, né? - falou Elisabeth.

- Ah, já, já eles cantam - falou Abel, em uma voz alta proposital (e com uma cara de "vou acabar com vocês se continuarem cantando essas fossas"). Tá legal. Pelo cronograma, a terceira música seria mais alegre e, bem ou mal, estávamos enganando bem com nossos instrumentos. Na verdade, Karina nem precisava fingir, já que tinha noção de música. Pelo que parecia, as coisas estavam dando certo. Tínhamos músicas o suficiente para enganar aquele público o resto da noite. Tudo daria certo, se os caras do playback fossem competentes o bastante.

- Aê! Até que os pirralhos tão mandando bem, Solano - falou Murilo.

- Ééé! E o papo do Abel também parece tá engrenando - disse Solano, depois de uma espiadela dos bastidores - Acho que ele conquista a gatinha!

- É. Acho bom esse sacrifício todo ter valido a pena e... - infelizmente, Murilo estava tão empolgado que acabou tropeçando em um dos fios. E também era uma pena que esse fio era um ingrediente fundamental do aparelho fonte do nosso playback. Você pode imaginar o quanto foi estranho a música parar de tocar do nada e, no lugar dela, surgir um grunhido indefinível de nossos instrumentos.

- Uuuuh! - as vaias foram inevitáveis. Elisabeth começou a estranhar.

- Ei, o que tá havendo? - perguntou ela.

- Err...estamos tendo alguns leves problemas técnicos - disse Demi, mas a fraude já havia sido descoberta. Principalmente quando Wilson tentou consertar a situação.

- Qual é, gente? É só uma brincadeirinha. Vocês sabem que o show-business é cheio de surpresas, não sabem?

 Mas a desculpa dele não colou muito. E a cara de furioso do Abel não estava ajudando em nada disso.

- Ei...essa voz - disse Eisabeth, uma vez que Wilson esqueceu de mudar a voz naquela última frase - Não conheço ela de algum lugar?

- Não, não, Beterraba...você nunca viu a gente. Nem na escola, nem em lugar nenhum e... - mas Wilson só se complicava mais. Principalmente por ter falado isso no microfone.

- Como é que é? Beterraba? - falou um dos caras do bar.

- Que apelido é esse? Huahuaha! - riu outro.

 Elisabeth ficou vermelha (com razão). Além de vermelha pelo constrangimento, ficou vermelha de raiva.

- O que é que tem?! Todo mundo tem um apelido carinhoso, tá? - retrucou Elisabeth para os outros caras (o pior de tudo era ela gostar do apelido! Quando eu verei situações normais na minha vida?) - E vocês..vocês são os meninos que vieram me procurar essa semana.

- Err...como você adivinhou? - perguntou Wilson, mas não dava mais para disfarçar.

- Abel! - a essa altura ele não sabia nem onde enfiar a cara - Como você explica isso?

- Bom, bem, é que, eu... - ele não achava as palavras.

- Você mentiu pra mim! O que mais é mentira, heim?

- Abel! Abel! Deu um problema aqui! - disse Murilo, saindo de trás dos bastidores junto com Solano.

- Quem são esses caras? - perguntou Elisabeth.

- Ah, são os amigos rockeiros do Abel - falou Jorjão.

- Jorjão! Não! - todos gritamos, mas ele já havia falado. Elisabeth voltou os olhos para Abelardo, querendo uma resposta.

- Amigos...rockeiros?

- Err...você sabe...tenho amigos de várias tribos e..

- Desculpa, mas...rock me lembra meu ex...e se você é amigo de rockeiros...vai acabar me lembrando dele.

- Quer dizer que...eu não tenho chances com você?

- Ora, Abel. Depois de ter armado esse circo todo e ainda andar com esse pessoal do rock, você quer o quê? Desculpa. Não posso encarar um relacionamento desses!

- Mas, mas, mas... - Abel gaguejava. Wilson tentou animá-lo, mas não deu certo.

- Olhe pelo lado bom, Abel. Pelo menos agora você poderá voltar a curtir rock! - disse ele (de novo, se esquecendo que estava segurando o microfone), mas Elisabeth ainda estava ouvindo.

- Oh, cara...- lamentei. Dizer que a situação não estava nada boa seria óbvio demais.

- O quê?! - ela se virou imediatamente - Então você gostava de rock o tempo todo?!

- Bom...digamos que...eu...

- E quando pretendia me contar isso?

- Err....talvez depois do casamento...ou do primeiro filho.

- É mentira demais pra mim. Talvez eu até desse uma chance pra você se fosse sincero desde o começo, mas essa imaturidade toda. Ainda precisa crescer muito.

- Crescer mais? Mas eu já tenho quase vinte anos! - retrucou ele, embora estar com quase vinte anos ainda no ensino médio não é lá muito motivo de orgulho.

- Espera, Beterraba! Ele tá arrependido! - gritou Wilson.

- Haha! Beterraba! - zombou um cliente aleatório. É. Aquela ali não daria as caras tão cedo. O tio de Murilo achou que tudo foi bem rápido.

- Ela já foi? Você vai pagar a conta dela, né, Abel? - lembrou o tio.

- Oh, droga - reclamou ele - Lá se vai minha baixa mesada...

- Sentimos muito, Abel - disse Murilo.

- Tudo bem. Acho que não seria feliz sem meu ouvir meu rock ou meu heavy metal todo dia - disse ele.

- Nós também sentimos muito - falou Wilson - E...olha a hora...já tá bem tarde, né? Melhor ligar para o meu pai vir buscar a gente e...

 Nós até tentamos sair de fininho na ponta do pé, mas é claro que iria sobrar alguma coisa pra gente.

- Vocês não vão para lugar nenhum! - disse Abel com uma cara não muito boa. Não é difícil de imaginar que teríamos um castigo por tudo aquilo.

- Calma, galera. Olhem pelo lado bom...pelo menos o tio do Murilo já ligou para o meu pai vir buscar a gente - disse Wilson, sem perder o bom humor.

- Lado bom? Pode me dizer qual o lado bom de ficar amarrado aqui nessa coluna com o cabelo cheio de catchup? - retruquei inconformado. É. A gangue do Abel nos amarrou na coluna do centro do bar com uma corda ultra-forte e ainda encheu nosso cabelo de molho. Eu sabia que aquela história não iria acabar bem.

- Acho que a primavera do Abelardo já passou - comentou Karina - Bem, mas pelo menos ele não vai mais contar com a gente quando se apaixonar de novo.

- E nossa ideia do grupo de pagode furou, né? - continuou Wilson, mantendo o bom humor irritante mesmo em uma situação humilhante daquelas - Poderíamos ter feito tanto sucesso. E se tentássemos forró da próxima vez? Não, não, eletroforró! Aí sim!

- O único lugar que eu gostaria de cantar agora é debaixo do chuveiro!- reclamei.

- E eu queria tanto ir ao banheiro - disse Jorjão - Os efeitos daquela porção que eu comi antes do show...já estão começando a aparecer...

 É. A gente podia sentir. Oh, vida, por que és assim comigo?


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo, um novo arco começa.
Agradeça ao feriado de Independência por ter três capítulos de bônus essa semana.
Até! ^^/



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