"Era uma tarde tranquila de outono. O tempo começava a esfriar, dando os primeiros sinais de que o inverno chegaria logo. As folhas das árvores deixavam para trás o verde característico e ganhavam a tonalidade ocre que a estação pedia.

Terminei meus estudos na escola Juban e resolvi caminhar um pouco. Juban pode não ser um lugar muito desenvolvido, mas ainda assim conseguia despertar em cada pessoa encantos desconhecidos. Pode ser também por sempre acontecer tantas coisas estranhas por aqui, talvez isso contribua, de certa forma. Mas ainda assim, esses encantos sempre nos cercavam.

Resolvi apenas caminhar, sem pretensão de chegar a lugar nenhum.

Cruzei as ruas cheias de pessoas que iam e vinham; lugares que frequentava com Usagi e Umino nas poucas horas de folga entre os estudos. Sim, se eu quisesse me tornar Design de Jóias, como minha mãe, devia estudar bastante. Pode parecer fácil para as pessoas que apenas usam as jóias, fazer uma. Mas garanto que não é. É preciso concentração e perícia, além, é claro, de matemática.

Mas não vou me ater as minhas ocupações. Claro que por ser uma estudante do colegial, estudar é a principal delas. Mas hoje eu queria apenas aproveitar o dia, da forma mais normal possível.

Andei mais um pouco até encontrar o parque, lá eu sempre tinha ótimas idéias para as coleções de jóias que minha mãe fazia. Sentei em um dos bancos de madeiras pintados de branco e aguardei um pouco à sombra de uma árvore ali perto. Era um bom lugar aquele, um pouco melancólico quando se está sozinha, mas bom de qualquer forma.

Tirei as sandálias dos pés e os coloquei sobre a terra fofa do parque. Bom. Essa era a sensação, como se vida pudesse entrar pelos meus pés, só por eles entrarem em contato com a terra. Estava assim, relaxada, apenas curtindo esse momento de descanso. Não precisava de mais nada. Ou talvez sim...

– Naru?? - Apenas o som da voz dele era capaz de me tirar do meu momento de relaxamento. - O que você faz... aqui...? - Pude perceber pelo seu olhar que a pergunta tinha continuidade, do tipo: "O que você faz aqui, largada e descalça?". Melhor não divagar mais.

– Nephrite, eu achei que você estaria na faculdade agora. - Sim, ele devia estar na faculdade. - Falando nisso, porque você não está lá? - Perguntei estranhando sua presença ali. Afinal ele vivia reclamando que o curso de Direito e o estágio lhe tiravam todo o tempo e por isso nunca podíamos aproveitar decentemente nossos momentos juntos.

– Ah, isso... - Ele mecheu nos longos cabelos castanhos ondulados e sentou ao meu lado, me puxando pra perto dele. - Na verdade o professor que daria aula agora a tarde faltou, então...

– E como sabia que eu estava aqui? - Fiquei curiosa, queria saber.

– Não sabia. Estava indo a sua casa e resolvi passar por esse caminho. Foi sorte, eu acho. - Me olhou tão profundamente que eu simplesmente me perdi naquele olhar. Ele era a perfeição em forma humana, todo ele. Desde que o vi, e até agora, meu coração bate descompassado quando estou perto dele.

Tudo bem ele ser ocupado demais. Eu o amo demais pra reclamar da "falta de atenção" a nossa relação. Nunca acreditei que ele fizesse algo pra me afastar; na verdade acho que ele faz tudo isso pensando em um futuro para nós.

E quando estávamos assim, juntos, tudo isso era esquecido pois não existia mais o "eu" ou o "ele". Existia o Nós. E foi com esse pensamento ainda em minha mente que ele tomou de meus lábios o beijo que tanto queria. Devagar, como se precisasse ter certeza que sorte não teve influencia em nosso encontro. Nem no primeiro e nem nos outros que vieram depois deste. O abracei com força, sentindo suas mãos ganharem espaço e repousarem gentis em minha cintura.

Por um momento deixou meus lábios para trás e percorreu com seus lábios meu pescoço. Injusto, ele sabe que é meu ponto fraco.

– Mesmo assim... ainda não desculpo a sua falta no nosso último encontro. - Falei enquanto pousava minha cabeça na curva de seu ombro.

– Você é tão cruel, Naru. - Disse, enquanto anelava os fios cacheados do meu cabelo - Certo, vou compensá-la por esse pequeno deslize. O que quer fazer?

– Quero Sundae. De chocolate.

– Mas está frio, vai ficar doente. Escolhe outra coisa. Cinema. Motel... qualquer coisa. - Motel? Tá, Nephrite.

– Não, eu já disse, e era isso que iríamos fazer no encontro que você não foi. Vai ser isso.

– Certo. Acho que fui vencido... "

–--

Frio. O outono chegou outra vez a pacata cidade de Juban. Talvez não tão pacata assim, mas tranquila, de qualquer forma. Olhar pela janela e ver o sol nascer nesse dia me deixa um pouco nostálgica. Resolvi então caminhar pelas ruas, refrescar a mente com o ar da estação.

Era interessante, tudo parecia tão igual...

Avistei ao longe o parque e sentei sob a sombra da árvore que se sobressaltava dentre as outras.

– Nephrite, nessa última semana, tive o mesmo sonho, repetidas vezes. Um sonho bom, onde nossas vidas seguiam para a normalidade e nada estranho acontecia. Sinto por você não ter podido viver comigo essa vida que acredito ter sido mais um sonho seu que meu. Mas lembre-se que, mesmo tendo partido de uma forma tão dolorosa, dentro de meu coração sempre vai existir um espaço para o amor que senti por você.

Pode não ter sido como nos sonhos, mas sei que nos encontraremos. E dessa vez você não será um General do Dark Kingdom. Será apenas Nephrite.

My love.