Digimon Beta - E o Domador Inicial escrita por Murilo Pitombo


Capítulo 4
Batalha Exposta




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Flávia retorna à janela e observa o céu limpo e completamente azul sobre Salvador quando um enorme besouro de cor laranja, dois pares de braços e enormes pinças sobre a mandíbula, surge voando por detrás da casa de João em direção ao horizonte. O zumbido que o inseto fazia com suas asas chama a atenção de várias pessoas que passavam pela rua naquele momento. Os digivices emitem ao mesmo instante um sinal sonoro e visual característico. Sempre que um digimon surgia no Mundo Real ele reagia daquela maneira.

Betamon acorda aos pulos com o insistente bip.

João sai do banheiro enrolado em uma toalha.

— Um digimon?

Culumon acorda meio sonolento.

— É, olha ele ali! – Indica a garota, aflita.

O garoto se aproxima da janela e vê o enorme besouro voar na direção de um helicóptero e o atingir com suas pinças, fazendo-o explodir. As pessoas gritavam, assustadas, ao verem aquela cena. Outros curiosos surgiam nas janelas e varandas dos prédios e casas para ver o que acontecia.

— João, eu quero ir!

João pega, sobre a escrivaninha, seu digivice e uma carta negra com a imagem de uma Shuriken, lâmina em forma de estrela utilizada pelos ninjas.

— Está pronto?

O digimon de grande barbatana salta pela janela.

— Evolução de Dados, já!

Ainda durante a queda, Betamon é envolvido por um tornado de folhas e lâminas e adquire a forma de um guerreiro ninja. Seus membros são chicotes verdes espiralados com shurikens substituindo mãos e pés, e outra maior presa às costas. Shurimon segue voando, impulsionado pelas lâminas presas em suas pernas, na direção do digimon invasor.

Todos olhavam abismados para o céu. Muitos lembravam e comentavam os fatos que ocorreram a quase um ano, quando a cidade foi supostamente invadida por monstros.

Shurimon alonga seus braços espiralados, prende o digimon inseto pelas pernas e o gira no ar. Após cinco giros, o guerreiro das lâminas o lança para cima e, utilizando sua lâmina maior presa às costas, ataca com a técnica conhecida como “Shuriken”. A lâmina segue girando até atingir o inimigo e retorna para o digimon ninja, que a recolhe.

Por terra, João e Flávia corriam para próximo da batalha. A cada esquina os domadores se deparavam com uma população totalmente bestificada com o que presenciavam. Um enorme congestionamento havia se formado. Motoristas e passageiros assistiam a batalha do lado de fora dos seus automóveis. Pessoas estavam nas calçadas e nas portas das lojas observando a movimentação nos céus.

— Meu Deus! Todo mundo está vendo a batalha! E agora?

— Do que menos precisávamos era de uma grande exposição dos digimons. Conseguimos conter na primeira vez. Acho que dessa vez será difícil.

— Culumon seria de grande utilidade agora, João. Ele abriria um portal e mandaríamos o besourão de volta.

— Ele está muito fraco e só iria atrapalhar. Por hora, temos que evitar qualquer contato com o Mundo Digital.

Tornou-se impossível correr. Os domadores seguiam se movimentando entre pessoas e carros o mais rápido que podiam. João acaba cruzando com um cinegrafista de uma emissora de TV que filmava tudo o que acontecia naquele exato momento. Essa simples batalha estava tomando proporções inimagináveis e deixando o domador preocupado. Ele sabia que não tardaria para os humanos simples, aqueles que não são domadores, descobrirem a existência dos digimons, só não imaginava que seria tão rápido.

Flávia rastreia informações do digimon com seu digivice.

 

Kuwagamon, um digimon no nível Adulto. Esse digimon inseto possui uma força fora do comum. Concorrente natural do Kabuterimon, suas pinças são fortes o suficiente para cortar quase todo tipo de material, inclusive o aço. Sua principal técnica é a “Guilhotina do Poder”.

 

Kuwagamon consegue desferir um chute em Shurimon, arremessando-o contra o terraço de um prédio. O digimon elemental, antes de atingir o lugar, enrosca um dos seus braços em uma antena de telefonia que estava sobre esse prédio. Após um giro completo em torno da antena, o digimon ninja se põe de pé na lateral da estrutura de ferro. Kuwagamon, sem que Shurimon percebesse, estava muito próximo e o ataca de surpresa com sua poderosa pinça. O digimon ninja consegue fazer um rodopio antena acima, fazendo com que o enorme besouro laranja cortasse a resistente estrutura de ferro com facilidade.

Lentamente, a antena tomba para a direita e desmorona prédio abaixo. As pessoas que observavam a batalha da avenida correm desesperadas. Shurimon enrosca seu braço direito e se esforça para conter a estrutura. Seus braços iam se alongando involuntariamente por causa do enorme peso.

A pinça de Kuwagamon passa a brilhar.

Shurimon estava momentaneamente indefeso e próximo de receber outro golpe do inimigo, quando João e Flávia chegam ao cruzamento da rua e observam o que estava prestes a acontecer. Se atacado sem a mínima chance de defesa, Shurimon regrediria e consequentemente a torre de telefonia cairia, vitimando muitas pessoas.

— Covarde! Vai atacar pelas costas! – Grita o garoto de barba cerrada.

— Preciso da Lunamon aqui!

— Guilhotina do Poder.

A pinça do digimon inseto brilha e uma lâmina de energia é lançada na direção de Shurimon. O digimon ninja se esforçava para se movimentar carregando aquele enorme peso e conseguir sair da rota da técnica. Todas as lâminas giravam ao mesmo tempo para impulsioná-lo, e mesmo assim todo seu esforço era em vão.

Inesperadamente, uma poderosa energia laranja cruza os céus e atinge a técnica do besouro, explodindo a metros de Shurimon.

— Essa é técnica de Angemon! – Diz Flávia, radiante.

João estava indiferente com a chegada do digimon de Murilo, um digimon humanoide em forma de anjo de estatura bem acima da média humana. Cabelo loiro que lhe chega à cintura, roupa branca com detalhes prateados, uma tanga azul e uma fita também azul que circunda toda sua perna direita e seu braço esquerdo. Utiliza um capacete, deixando apenas o nariz e a boca expostos. Possui três pares de asas e um enorme bastão laranja.

Angemon voa na direção de Kuwagamon e o golpeia na cabeça com o bastão. O besouro laranja tenta uma nova investida com suas pinças, agora seu alvo é o digimon anjo, que se desvencilha com facilidade. O besouro resistia bravamente, tentava ser hábil para enfrentar Angemon. O digimon de Murilo novamente avança em ataque quando, instantes antes de concluir seu objetivo, Kuwagamon consegue prender o bastão com seus dois pares de mãos e em seguida o chuta com os dois pés. O digimon anjo Adulto recebe o forte golpe no peito e se esbarra como um meteoro, na fachada do prédio vizinho.

Kuwagamon estava confiante da sua vitória. Shurimon ainda se esforçava para conter a pesada estrutura. Cada instante que se passava, seus braços se alongavam mais. Angemon se afasta do prédio e alguns pedaços da fachada se desprendem. O digimon anjo apenas observa o inimigo. Suas asas se movimentavam como os de uma grande ave que tentava se manter no céu. O ruído do seu movimento era abafado pelo zumbido do inseto.

— Eu não imaginava que veria um anjo com meus próprios olhos! – Comenta um senhor a uma jovem que estava ao seu lado.

— Isso tem a ver com a inauguração do novo parque de diversões. Fiquei sabendo que terá brinquedos radicais. – Um rapaz conversava com seu grupo de amigos. Todos utilizavam fardamento de um colégio.

— Por que Angemon não acaba logo com isso? – Comenta João com Flávia.

— Deve ser por causa do bastão!

Kuwagamon prende o bastão em sua pinça, estava disposto a quebrá-lo e enfraquecer o seu oponente. Angemon estrala os dedos e o bastão, como se criasse vida escorrega rapidamente pela pinça do besouro e retorna a mão do seu dono que o gira rapidamente. Kuwagamon tenta um novo ataque. Sua pinça brilhava.

— Tufão Deus.

Um enorme ciclone, na horizontal, nasce a partir do giro do bastão do digimon anjo e atinge Kuwagamon no peito. O digimon besouro se esforçava para resistir, porém a técnica atravessa seu corpo causando-lhe um enorme dano. Kuwagamon explode em dados multicoloridos, deixando todos os humanos simples estupefatos mais uma vez. João vê Angemon se aproximar de Shurimon. Os dois parecem conversar até que Shurimon larga a estrutura de metal e a mesma flutua e segue sozinha até o terraço do prédio onde estava.

O digimon ninja regride e Angemon segura Betamon nos braços. O digimon de asas pomposas fita a multidão, mais precisamente João, e mergulha, voando de ponta cabeça e desaparecendo logo em seguida, a poucos metros de distância da cabeça dos curiosos.

Com forte impacto, João e Flávia são carregados da tumultuada avenida. Os lugares e paisagens da cidade passavam como borrões de tinta. O cabelo de Flávia esvoaçava fortemente. João percebe que alguns objetos explodiam por onde passavam, mas não sabia dizer do que se tratavam. Angemon continua voando, voava alto até que pousa repentinamente sobre o terraço de um prédio.

Murilo aguardava os domadores, sorrindo.

— Angemon chegou no momento certo. – Pontua a garota loira de corpo escultural. - Só não gostei da carona. Olha a situação do meu cabelo.

Angemon regride para Patamon, um simpático digimon muito parecido com um hamster. Pelagem laranja, abdômen branco e detentor da capacidade de voar com suas longas orelhas que lembram asas de morcego.

— Ouvi o zumbido de Kuwagamon e vim até o terraço com Patamon. To passando uns dias aqui em Salvador com a minha tia.

— Só quero que saiba que não precisávamos da sua ajuda! – Diz João secamente.

— Fizemos isso porque sabíamos que você faria o mesmo.

João respira fundo.

— Certo, Murilo. Acredito em você. Agora eu quero ir embora.

— João, precisamos conversar...

João interrompe Murilo:

— Eu não quero conversar sobre seu beijo com Verônica. Já disse que não temos mais nada. Ela é livre para fazer o que bem entender. Sejam felizes.

— Você fala como se estivéssemos namorando. Aquilo foi um momento de fraqueza. Não tivemos a intenção de trair sua confiança.

— É como acabei de dizer: ela é livre pra fazer o que quiser. Eu não tenho nada a ver com ela e você não me deve explicação alguma.

Ambos se encaram por longos instantes. João havia mudado. Conversou civilizadamente sem ao menos alterar o tom de voz.

— Quero ir embora. – João interrompe o silêncio.

— S-sim, claro! – Gagueja, Murilo. - Angemon te leva.

— Não precisa, cara. Vou andando.

João vai até Betamon, que brincava com Patamon, e o pega no colo.

— Agradeça ele, beta.

— Obrigado, Patamon. Você foi fantástico!

Patamon sorri como retribuição.

— Vem comigo, Fafá?

— Vou!

 

 João continuava com Betamon nos braços e seguia pelas ruas movimentavas da cidade conversando com sua amiga e também domadora. Durante o trajeto, ouviam muitos comentários sobre o que ocorreu há pouco. E como toda conversa que segue se passando de pessoa em pessoa, havia exageros.

Flávia é o tipo de garota que todo homem gostaria de ter, mesmo que fosse apenas como amiga. Bonita, divertida, corpo escultural como resultado de horas de academia e boa alimentação, é vocalista da banda Cais do Porto, que conta com ela e mais cinco integrantes. Com sua voz rouca e seu jeito moleca de ser, faziam muitos apostarem que seria uma das futuras revelações do carnaval baiano.

— Ainda tem clima para praia? – Pergunta Flávia.

— Clima nenhum, Fafá. To com fome.

— Já? Você acabou de acordar!

— Acordei e não comi nada!

— Eu também não, João – Intervém Betamon.

— Você merece um cascudo! Como pode esqueceu que Shurimon controla o metal?

— Mas eu esqueci, João! Se não fosse Angemon para me lembrar...

Flávia gargalha.

— Dois loucos: Domador e Digimon.

— Louca é você! – Retruca João.

— É – Confirma Betamon.

Os três sorriem até que João muda o tom da conversa.

— Isso me preocupa.

— A mim também, João. – Diz o digimon réptil.

— Tenho que convocar todos os domadores o mais rápido possível. Precisamos destruir Calamon. Tenho medo de que consiga dominar mais alguém, assim como fez com Bento.

— Ele disse que, agora que conseguiu desvendar o mecanismo dos nossos digivices, montará uma equipe semelhante a nossa.

— “Os Imperadores”. – Diz Betamon.

— Alex e Blaze também merecem nossa atenção. Guilmon consegue atingir a Extremidade e seu domador quer nos destruir a qualquer custo.

 

Alex e Blaze caminhavam pelo Mundo Digital com seus digimons, mais precisamente na Floresta do Farol, um lugar de clima agradável com bela vegetação e árvores de troncos largos. Alex possui um digimon com a mesma estatura de Angemon, corpo de homem e cabeça de leão. O digimon carrega consigo uma espada e possui o corpo extremamente forte, usando apenas uma calça jeans preta. Já Blaze doma um dinossauro que lhe chega à cintura. Calda longa, pele vermelha e olhos amarelos.

— Quero meu digivice!

— Relaxa, guri. – Diz Alex. – Ele tá bem guardado.

— Por que é que tu teima em ficar com meu aparelho?

— Porque você vai se voltar contra mim. Ou pensa que nasci ontem?

— Devolve o digivice de Blaze, Alex. Você não tem o direito de ficar com ele.

— Cala tua boca, Guilmon! Devolverei quando achar que devo. Enquanto viermos juntos para cá não há necessidade.

Durante a caminhada, Leomon, o digimon de Alex, fareja algo no ar e para de andar, levando todos a parar também.

— O que houve? – Pergunta.

— Sinto o cheiro de alguém se aproximando pelo céu.

Guilmon ergue o focinho e também consegue farejar. O digimon começa a rosnar. Sua pupila havia desaparecido, deixando seu olho completamente amarelo.

— Eu também sinto, Blaze.

Rapidamente um ser negro pousa metros à frente dos dois domadores. Possui uma enorme asa negra e lembra um lobisomem bípede, com argolas, calça rasgada, ataduras em volta das mãos. Guilmon e Leomon tomam a frente dos seus domadores. O digimon leão empunhava sua espada na horizontal. O lobo negro sorri e dá um salto seguido para trás seguido de uma cambalhota. Com o movimento, muda sua forma física e se transforma em um pequeno digimon semelhante ao Culumon, de cor negra e olhos amarelos.

— O que tu quer, Calamon? – Questiona Blaze.

— Apenas conversar.

 

Continua...


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