Estava assustadoramente escuro, como tudo. Estávamos parados à porta, tentando iluminar o porão. Não dava para ver muita coisa.

  _Acho que já me acostumei ao escuro - disse Jason. - E às coisas assutadpras que há nele.

  _A cada momento pode haver coisa pior - eu disse.

  _Não importa. Podemos nos virar.

  Eu olhei para ele. Seus olhos analisaram cada parte que podiam do porão.

  _Vamos logo com isso - eu disse, já me adiantando pera o primeiro degrau da escada. Jason me acompanhou. Pulei de susto quando a porta bateu à nossas costas. Tentei abri-la, mas estava trancada.

  _Não há como fugir - disse Jason. Assenti e retornei minha atenção à descida.

  Havia muitos degraus, parecia com a enorme escada do jazigo. A luz da lanterna começou a falhar, então apagou de vez.

  _Que droga! - Eu disse, batendo a lanterna na palma da mão, tetando fazer ela voltar a funcionar. - Droga, droga, droga!

  _Acho que teremos que ir por nossos instintos - disse Jason. - Pegue minha mão. Sabe, para não nos perdermos.

  Eu não enxetgava nada, mas tentei procurar pela mão dele. Consegui tocar seu braço, então deslizei minha mão até chegar na sua. Tentamos descer a escada sem tropeçar, o que era uma tarefa difícil.

  Senti uma pontada no meu dedo e me peguei dizendo as palavras:

  _Eu quero enxergar no escuro.

  _O quê? - Disse Jason.

  Não respondi, apenas senti uma onde de eletricidade passar por meu braço e chegar aos meus olhos. Foi como se uma luz tivesse sido acesa bem à minha frente. Mas não era uma luz normal. Era branca, e eu enxergava como se fosse as imagens de uma câmera noturna.

  _Jason - eu disse -, a rosa me fez enxergar no escuro.

  _Legal - disse ele. - Agora, para onde vamos? Não consigo enxergar nada.

  Os degraus haviam acabado, agora estávamos em uma espécie de saça ou salão.

  _Há dois túneis - eu disse.

  _Como vamos saber qual é o certo? - Perguntou Jason.

  _Não vamos. Vai ser na sorte mesmo.

  Ele engoliu em seco, e eu não pude não ficar com medo. Poderia ser fatal escolher o errado.

  _Uni-duni-tê? - Sugeri.

  _Claro - disse Jason ironicamente. - Nosso destino nas mãos de uma brincadeira infantil. Fantástico, Corine!

  _Eu apenas queria uma solução.

  _Siga seu coração - disse Jason, depois de um minuto de silêncio.

  _Você confia em mim? - Perguntei.

  _Plenamente.

  Olhei de um túnel para o outro, mordendo o lábio inferior. Eram iguais. Cada detalhe era o mesmo. Uma coisa na entrada do da direita me fez ir lá. Soltei a mão de Jason e fui.

  _Corine - reclamou ele.

  _Não se preocupe. Estou aqui. É que achei uma coisa.

  Era uma pétala de rosa negra. Sabia que era a de Jason. Não sei como, mas sabia que era.

  _O que você achou? - Perguntou ele.

  _Uma pétala - eu disse. - Da sua rosa.

  A pétala podia estar na entrada daquele túnel, mas eu sentia que não deveríamos ir por ali. Voltei para Jason e peguei sua mão. Ele se assustou quando fiz isso.

  _Sou eu, relaxa - eu disse e ele pareceu se acalmar. Medroso, pensei. O conduzi até o túnel da esquerda, e respirando fundo, entramos.

  _Agora eu sei como um cego se sente - disse Jason. Eu ri.

  O túnel estava deserto, e parecia ser bem grande. Várias vezes viramos para a esquerda. A mão de Jason já estava suando.

  Então, chegamos no final. Havia uma porta de madeira, bem velha. Já estava até descascando.

  _Vou soltar sua mão por um instante - eu disse. - Mas estou bem ao seu lado.

  _Tudo bem.

  Quando Jason soltou minha mão, eu comecei a forçar a maçaneta da porta. Engraçado como todas as portas que tento abrir ficam travadas.

  Um choque percorreu a ponta do meu dedo e eu vi como a porta deveria ser aberta. Virei minha rosa, e enfiei a ponta do caule no buraco da fechadura. Fiquei como medo que quebrasse, mas ela começou a girar sozinha. Então houve o click da porta se abrindo. A empurrei, e uma luz forte me acertou o rosto.

  _Agora enxergo até de mais - disse Jason.

  _Vamos! - Eu disse, então o puxei para dentro. Antes que nossos pés tocassem o chão, caímos. Um grito escapou por minha garganta.

  Então, com um baque, chegamos ao chão. Eu caí de costas e Jason de bruços. A dor que me percorreu foi imensa. De lá de cima, como uma pluma, minha rosa estava vindo para mim. Ela se depositou em cima de minha barriga.

  _Deveria ter verificado se o solo era firme - disse Jason, tentando se levantar.

  _Tínhamos que vir para cá - eu disse. - De qualquer jeito tínhamos que chegar aqui.

  Peguei minha rosa e me levantei. A luz de lá de cima iluminava aqui embaixo, mas não era tão forte. Então, começou a vir uma ventania. A senti primeiro sob meus pés, mas logo depois meu cabelo já estava esvoaçando e chicoteando contra meu próprio rosto.

  Uma força subrenatural derrubou a parede à nossa frente, e pudemos ver o que havia lá fora. Um enorme redemoinho, centenas de Criaturas Negras e outros monstros. Um deles era uma ave, e trazia em seu bico nada mais nada menos que a rosa de Jason.

  _Corine - disse ele, observando o perigo -, tenho certeza de que vamos morrer. Mas não posso morrer sem fazer uma coisa.

  Eu olhei para ele. Estava quase chorando. Antes que eu pudesse perguntar o que era, ele tomou meus lábios com os seus, me fazendo esquecer das criaturas lá fora.

  Apenas ouvi seus berros enquanto elas iniciavam o ataque, e eu e Jason ainda nos beijávamos apaixonadamente.