À meia-noite, Miranda e Jeffrey levaram eu e Jason até o jardim de rosas negras. Estava tudo escuro, a não ser pela lua e uma lanterna que Jeffrey levava.

  Havia rosas negras por todos os lados. Estava começando a ficar sufocante. Todos nós andávamos em silêncio, e adentrávamos mais e mais o jardim, até que Miranda falou.

  _É exatamente aqui. - Ela olhou ao redor, e com um sorrisinho continuou. - Estamos no meio do jardim. Vamos, temos que nos dar as mãos e fazermos um círculo. Vamos, vamos! Mais rápido.

  Nos demos as mãos. Eu segurava a de Miranda na direita e a de Jason na esquerda. Jason segurava a de Jeffrey, e este segurava a de Miranda.

  Miranda fechou os olhos, tombou a cabeça para trás, e começou a murmurar algumas palavras. Não era inglês. Era a mesma língua que Jeffrey havia falado antes. Acho que é latim.

  Enquanto Miranda falava, folhas secas começaram a voar ao nosso redor. Meu cabelo voava, e o vento estava cada vez mais forte. Parecia que chicoteava o meu corpo, que me dava tapas no rosto. Miranda levantou um pouco mais o volume de sua voz e um clarão começou a aparecer no meio do círculo.

  Percebi que meus olhos estavam arregalados, então os voltei ao normal. Quanto mais Miranda falava, mais o clarão crescia. Os ventos estavam mais fortes. Parecia que iam me levar se eu soltasse a mão de alguém.

  Miranda terminou sua oração, feitiço, ou seja lá o que for, com um grito. Ainda segurando minha mão, ela abriu os olhos e olhou para nós.

  _Este é o portal - disse ela - para a Dimensão Negra. Corine... Jason... Quero que tenham muito cuidado, e, por favor, não morram. Pelo menos até a missão estar cumprida.

  Engoli em seco. Ela se importa mesmo conosco.

  Soltamos as mãos um do outro, e no mesmo instante em que minha rosa aparecia na minha mão, a de Jason apareceu na dele.

  _Hora de ir - disse Miranda.

  Olhei para Jason e depois para Jeffrey.

  _Não posso ir com vocês - disse Jeffrey. - Mas estarei torcendo.

  Eu mirei o clarão à minha frente. A morte me espera, pensei.

  _Vamos, Corine - disse Jason, pegando minha mão.

  Jason atravessou o portal primeiro, e quando eu fui atravessar, Miranda disse:

  _Talavez eu aparece em seus sonhos, Corine. E sempre acredite na voz de seu pai.

  Eu assenti, então atravessei.

  Era uma colina. Ao longe, pude ver algumas luzes. Era noite. Jason estava parado, na beiada. Fui até ele.

  _Como vamos descer? - Disse ele.

  Olhei para baixo. Não havia escada. Era reto. Percebi uma coisa bem lá embaixo. Brilhava à luz da lua.

  _Vamos pular - eu disse.

  _O quê? Ficou maluca? - Protestou Jason.

  _É um rio - eu disse. - Vem, vamos pular.

  _Na altura em que estamos, a única coisa que vamos conseguir é uma morte repentina. Corine, eu sei que vamos morrer aqui, mas não queroq que seja agora.

  _Não vamos morrer, seu idiota - eu disse. - Temos proteção.

  Então ele se lembrou da rosa.

  _E se não funcionar? - Disse ele.

  _Vai funcionar - eu disse. - No três. Um... Dois... Três.

  Então pulamos. Meu corpo foi tomado por adrenalina, emoção... E depois houve um baque. Todo meu corpo foi tomado por água. Afundei... Afundei... Afundei... Depois me lembrei que tinha de reagir. Nadei de volta à superfície. Repirei um pouco, depois olhei em volta. Onde estava Jason?

  _Jason?! - Eu disse baixinho. Depois gritei. - Jason! Jason!

  Comecei a nadar em volta, procurando por ele. Mergulhei de novo. Procurei. Voltei à superfície.

  _Jason! - Gritei novamente. Então uma mão tocou meu ombro. Olhei para trás rapidamente.

  _Jason! - Eu disse, o abraçando.

  _Vem, vamos sair daqui - disse ele.

  Nadamos até a margem, e nos deitamos, cançados, quando chegamos à terra firme.

  _Foi... emocionante - disse ele, ofegante. - E você ficou... preocupada comigo.

  _Claro. Você sumiu. Eu tinha que ficar preocupada. Além do mais, não queroa ficar sozinha neste lugar.

  _Sei - disse ele.

  _Tô falando sério - eu disse, lhe dando um tapa no braço. Ele riu.

  Eu respirei fundo e olhei para o céu. Aqui poderia ser a Dimensão Negra, mas pelo menos o céu tinha estrelas.

  _Reparou que não sabemos nada um do outro, e estamos correndo perigo juntos? - Eu disse.

  _Verdade - concordou ele. - Apenas sabemos que nossos pais são dois caras bem sinistros.

  Eu ri. Jason era engraçado.

  _Não é momento para isso, mas vamos começar - eu disse. - Qual é o nome do seu pai? O Protetor da Rosa.

  _Bradley Sullivan - respondeu Jason. - E meu nome completo é Jason Bradley Sullivan, tenho 17 anos e uma namorada chata.

  _Chata? - Então por que não termina com ela?

  _Não tenho coragem. E você?

  _Não, não tenho namorado - respondi. - Meu nome é Corine Samantha Bandlech, tenho 16 anos e nenhuma amiga. Na verdade tinha uma, mas ela passou para o lado negro da vida escolar. O lado das líderes-de-torcida.

  Jason riu, e ficamos em silêncio por um tempo.

  _Vamos logo com isso - eu disse me levantando. - O que tiver de acontecer, quero que aconteça rápido para esse pesadelo acabar.

  Jason concordou, e juntos seguimos para uma cidadezinha completamente escura.