- O que o senhor está fazendo aqui?

- Fiquei preocupado, te vi dançando com Edward e depois sair correndo, te segui pra ver se estava bem.

- Me conte das cartas pai, é verdade?

- Sim.

Isso foi tudo o que ele disse. Levantei-me do chão onde estava sentada, me senti totalmente injustiçada.

- O senhor me viu ir dormir chorando durante meses e meses e nunca disse nada! Como pôde fazer isso?

- Eu sinto muito...

-Sente muito?

Isso era tudo o que ele tinha a me dizer?

- Sim, eu sinto muito.

-Por sua causa a minha vida inteira foi destruída!

- Esta bem eu roubei as cartas, mas, pare de fazer drama! E pelo menos assuma uma parte da responsabilidade, você sabia que um dia vocês iriam se reencontrar, sabia que isso ia acontecer!

- Ah, o senhor é inacreditável, inacreditável!

Ele me olhou por uns instantes como se estivesse me analisando.

- Vamos, vamos dar uma volta.

Ele falou já se encaminhando pro calçadão onde seu carro estava estacionado.

- Vamos dar uma volta? E por que eu iria a qualquer lugar com o senhor?

Ele virou-se e demonstrando uma confiança e tranqüilidade incrível ele disse:

- Porque talvez eu a conheça um pouco melhor do que pensa, e eu não quero que acorde um dia e pense que se soubesse de tudo teria feito algo diferente.

Essas suas palavras me desarmaram completamente, resolvi segui-lo. Ele parecia determinado a me mostrar algo extremamente importante. Entramos no seu carro e seguimos para o lado oposto em que estávamos. Paramos do outro lado da rua em frente a uma casa pequena mais bonita. Quando eu ia perguntar o que fazíamos ali, a porta se abriu e saiu de lá uma mulher gorda, com uma expressão que eu julgava ser triste, e com o lixo na mão. Ela pareceu não notar a nossa presença, olhou ao redor, e entrou de novo na casa.

- Você viu aquela mulher?

- hum hum.

- Agora não parece, mas sabe, há 25 anos, oh meu Deus ela era deslumbrante. Estávamos cegos de amor pode acreditar.

Ele falava isso com uma emoção na voz que eu nunca havia visto em minha vida. Eu tentei entender o que havia saído errado. Mas a única coisa que eu fui capaz de dizer foi:

- Uau!

- Bom, o seu avô ficou furioso, então decidimos fugir, antes de chegarmos à cidade vizinha, a polícia nos pegou.

Eu ainda o encarava incrédula, enquanto ele olhava a casa da mulher desconhecida.

- Ah, mas já faz muito tempo, sabe, às vezes eu estou por aqui por perto, e paro aqui e fico olhando pra casa esperando ver ela, tentando imaginar como minha vida teria sido diferente.

Nesse instante a emoção em sua voz aumentou e lágrimas escorriam por seus olhos. Por uns instantes pensei estar vendo coisas, eu nunca havia visto o meu pai chorar.  Eu não entendia o que aquilo significava, eu sempre pensei que Esme fosse o único amor de sua vida.

-Eu quero que saiba que eu amo a sua mãe...

-Pai, olha...

Eu tentei fazê-lo parar de falar já que aquele assunto aparentemente machucava-o tanto assim.

- Não droga, é importante, você precisa ouvir! Eu amo sim, ela é uma mulher maravilhosa, e é muito boa pra mim, e eu não a mereço. Eu amo a sua mãe Bella, mesmo, eu amo mesmo.

Ele falava desesperado, no ímpeto o abracei apertado compartilhando com ele toda a angústia daquele momento.

- Eu sei pai, eu sei que a ama.

Ficamos abraçados por uns instantes, até ele se recompor um pouco.

- Meu Deus, que vergonha! Eu sou um imbecil mesmo. Olhe pra mim um velho chorão.

Eu analisava cada reação sua tentando entender o que ele sentia naquele momento.

- É estranho, mas hoje eu nem sei quem é aquela pessoa.

Ele disse olhando mais uma vez para aquela casa. Enquanto enxugava o restante das lágrimas em seu rosto.

Agora eu o entendia um pouco, ele queria o melhor pra mim isso era óbvio, porém ele agiu sem se dar conta de que estava cometendo o meso erro que seu pai, me forçando a tomar decisões das quais eu poderia me arrepender pelo resto da minha vida. Agora ele entendia que eu realmente amava seu filho, de todo o coração. E isso o fez acordar a tempo de fazer mais alguma besteira.

Ele ligou o carro e me levou pra casa. Meu pai me deu um forte abraço. Quando estava descendo do carro, ele me chamou, foi até o porta malas do carro e tirou de lá um bolo de cartas, eram as cartas de Edward.

                    Cartas do Ed

Peguei-as e entrei em casa indo direto pro meu quarto. Chegando lá retirei meus sapatos que estavam me matando e peguei a última carta que Edward havia me mandado.

Querida Bella,

jamais pensei que eu fosse te escrever estas palavras, porque o meu peito sempre esteve repleto de amor por você e, ainda hoje, nesta madrugada em que me sinto tão sozinho, é ele que me move a dizer que te amo e, infelizmente, também, é ele que me diz que chegamos ao fim.
Sim, minha querida, chegamos ao fim porque talvez não tenhamos tido a paciência suficiente para superarmos alguns pequenos problemas... chegamos ao fim porque talvez não tenhamos sabido lidar com a sensibilidade do outro e, porque, talvez, não tenhamos acreditado naquele sábio verso do Fernando Pessoa, que diz assim: "...há distância entre intenção e gesto..."
É... é verdade! Há distância entre intenção e gesto porque eu sei que sempre quis te fazer feliz, do mesmo modo que eu sei que esta também era a sua intenção. No entanto, não fomos capazes de realizar isto... Hoje, o meu peito ainda guarda a sua marca. Nele ainda está inscrito o seu nome, mas o meu esforço é para que o meu coração passe a bater em outro ritmo, sem o doce tom da sua voz a embalá-lo.
Querida Bella tudo o que eu desejo é que você seja muito feliz, que consiga continuar esta vida de bons projetos e infinitos sucessos. Mas, Bella, nunca se esqueça de que o AMOR é a coisa mais bela e rara que existe e que, às vezes, é preciso um pouco de paciência e dor para alcançá-lo.

Um beijo do,
Edward Culllen

Nesse momento meu peito se encheu de dor, ao pensar no que poderíamos ter feito, no que eu principalmente poderia ter feito pra que se evitassem tantos desencontros. Neste momento eu me decidi: iria correr atrás da minha felicidade, e a minha felicidade era Edward.

Vesti uma roupa mais confortável e desci as escadas quase correndo, meu pai estava na sala.

- Grand Hotel, quarto 502. Vá minha filha e faça a escolha certa.

- Obrigada pai.

Peguei o endereço dando um beijo em seu rosto, e corri rezando pra encontrar um Edward disposto a me ouvir.

Estacionei o carro respirando fundo, meu baby estava tão agitado quanto eu, não parava de chutar a minha barriga. Subi em direção ao quarto do Edward, a cada minuto a ansiedade dobrava de tamanho. Ansiosa bati na porta do seu quarto, minhas mãos suavam e tremiam, e meu coração batia no ritmo de uma escola de samba.

A porta se abriu e atrás dela estava Emily me olhando surpresa, olhei pra dentro e vi Edward sentado no sofá apenas com a camisa e calça do terno. Ele estava com um copo que parecia ser de uísque nas mãos.

- Edward eu vou indo pro meu quarto, depois a gente se vê.

Avisou Emily saindo em direção ao quarto ao lado. Só assim ele olhou pra porta e arregalou os olhos ao me ver ali. Provavelmente ele estava esperando que eu dissesse impropérios sobre ele a tal de Emily, mas, hoje não, hoje eu queria ouvir todas as explicações que ele tinha pra me dar. Entrei e fechei a porta. Era agora a hora de colocarmos tudo em pratos limpos.