Tamao se levantou bem cedo. Era um alívio para a garota ser a única pessoa a estar acordada. Tinha um assunto bem sério para tratar com Hana e queria ter a certeza de que ninguém prejudicasse aquela conversa. Ela sabia que a vida de todos os habitantes daquela pousada iria mudar completamente dali em diante, principalmente a dela própria e a do pequeno Hana.

Arrumou-se e não tardou a entrar no quarto do menino. Ele estava dormindo. A garota ficou parada por algum tempo admirando a face de anjo do menino, mas logo se acomodou do lado dele e chamou por seu nome, num sussurro para que ele não se assustasse.

Hana abriu os olhos lentamente e se espreguiçou. Olhou para a mulher que chamava por seu nome e, como se estranhasse a presença dela ali cedo, lhe dirigiu uma pergunta:

— O que foi, mamãe? Aconteceu alguma coisa?

— Ainda não. Respondeu Tamao. – Nós precisamos conversar, Hana. É um assunto sério.

Percebendo a seriedade na voz de Tamao, o garoto se levantou de modo a se ajeitar do lado dela e lhe lançou um olhar de preocupação.

— Hana... Tamao hesitou por um momento, procurando escolher as palavras certas para dar continuidade àquela conversa. – ... Eu tenho um segredo para te contar. Um segredo que provavelmente não irá agradá-lo... Era claramente perceptível a amargura nas palavras da garota.

— Mamãe, você está me assustando... Disse o garoto com uma certa expressão de desgosto.

— Hana, eu peço, por favor, que não me interrompa. Deixe-me contar essa história até o fim. Espero que você entenda os meus motivos e que algum dia possa me perdoar... Começou Tamao.

— O meu nome é Tamao Tamamura. Eu fui criada pela família Asakura ao lado de seu pai, Yoh Asakura. Eu devo muito aos Asakuras, por isso eu não quis que você crescesse sem uma mãe. Sua mãe e seu pai partiram numa jornada quando você ainda era um bebê. E, desde então, eu decidi fingir ser a Anna para que você tivesse o carinho de uma mãe. Todos esses anos, eu procurei ser o mais parecida possível com ela, assim você não estranharia muito quando ela voltasse. E esse dia está chegando, Hana. Seus pais logo estarão de volta aqui, na Pousada Funbari. Contou Tamao, juntando todas as suas forças para revelar esse segredo.

Hana estava sem reação. Ficou olhando atônito para a mulher que pensara ser a sua mãe. Estava confuso. Nunca imaginara que isso pudesse acontecer com ele. Nunca pensara que aquela mulher que tanto amara pudesse lhe enganar daquela forma. Sim, enganar. Era o que ela tinha feito. Ele tinha vivido uma mentira todos esses anos. O menino não sabia se poderia perdoar Tamao por todo esse fingimento.

— ... Você me enganou. Você mentiu para mim. Todos esses anos eu pensava que você fosse a minha mãe. Mas, tudo não passa de uma mentira. Uma grande mentira. Saia já daqui. Eu não quero mais ver você, Tamao... Disse Hana, com a voz nitidamente alterada.

— Pequeno Hana, tudo que eu fiz... Tudo que eu fiz foi por gostar muito de você. Eu só queria que você tivesse o carinho de uma mãe. Tamao tentava acalmar o garoto.

— Mas, você não é a minha mãe. Disse Hana, amargamente.

Tamao iria tentar novamente acalmar o menino, mas como ele lhe lançara um olhar frio, o qual lembrava muito um dos olhares assassinos de Anna, ela resolveu deixá-lo sozinho para que pudesse pensar...

A garota sentou-se à mesa da cozinha e apoiou sua cabeça em uma de suas mãos. Estava pensando se algum dia aquele menino voltaria a sorrir para ela. Seria a maior de suas decepções se ele nunca a perdoasse. Ela sentia afeição sincera por Hana e seria sofrimento demais para ela a perda do carinho do menino. Alguns passos lhe tiraram de seu devaneio. Ela virou-se rapidamente para trás, mas um Ryu preocupado frustrou as suas expectativas.

— O que houve, patroa? Parece desolada... Perguntou Ryu.

— Não me chame de patroa. Você sabe que eu não sou a senhora Asakura... Respondeu Tamao, secamente.

— Shhh... Fale baixo. O seu filho pode ouvir. Disse Ryu.

— E nem o Hana é meu filho. Disse Tamao, com grande tristeza no timbre da voz.

Ryu se espantou com a resposta de Tamao. Não sabia o que estava se passando pela cabeça da menina. Aquela atitude realmente o deixara confuso. Na realidade, já fazia uns dias que Tamao vinha agindo estranhamente. "Só se isso for por causa...", pensava Ryu.

Tamao, como se lesse os pensamentos de Ryu, falou:

— Eles estão voltando...