A viagem de volta para Izumo fora silenciosa e sombria. Os amigos de Yoh ficaram sabendo do ocorrido por intermédio de Kino. Um grande sentimento de preocupação preenchia o coração da família Asakura e dos amigos de Yoh. Nenhuma palavra fora trocada. Todos permaneceram quietos apenas lançando olhares preocupados na direção de Yoh. Parecia que o garoto não estava ali; ele nem se mexia. Parecia estar em outra dimensão.

Kino e Yohmei acabaram convencendo os amigos de Yoh a irem para suas casas, após horas e horas de discussão. Eles alegaram que o ocorrido era um problema familiar e que a presença deles ali não faria Yoh se recuperar, pelo contrário, seria angustiante para o garoto ver a preocupação de seus amigos estampada em cada olhar, em cada gesto, e não conseguir corresponder às suas expectativas.

Como já era tarde da noite, os shamans permaneceram alojados na mansão Asakura até o dia seguinte. Partiram bem cedo, mas não sem antes "exigir" que a família Asakura os mantivessem informados sobre a situação de Yoh. Não conseguiram se despedir do amigo, pois o mesmo se trancara em seu quarto desde que chegara em sua casa.

Kino, Yohmei, Keiko e Mikihisa se prepararam para uma reunião familiar. Tinham que decidir o que fariam para contornar essa situação. Não poderiam deixar o sucessor da família continuar preso nas trevas. Também tinham que decidir o que fariam com Anna. A itako, apesar de tudo, ainda era considerada parte da família.

- O Yoh está me preocupando muito. Eu nunca vi o meu filho assim... Lamentava-se Keiko, com uma visível preocupação no olhar.

- Nós temos que fazer alguma coisa. Não podemos deixar essa situação continuar. Nós estamos perdendo o Yoh. Eu estou perdendo o meu filho... Complementava Mikihisa.

- Fiquem calmos. Disse Yohmei. – Se continuarem nervosos assim, não poderão fazer nada pelo Yoh. Temos que pensar... Em alguma maneira...

- Não temos nada para pensar. Interrompeu Kino. – O problema do Yoh chama-se Anna.

- Então temos que arranjar algum jeito de trazê-la de volta. Kino, você pode descobrir onde ela se encontra facilmente. Disse Yohmei.

- É. É isso! Daí nós vamos até ela e a trazemos de volta. E o Yoh volta a ficar feliz como sempre. Disse Mikihisa, radiante.

- Não adianta. A Anna não vai voltar se formos buscá-la. Disse Kino.

- Então o que faremos? Perguntou Yohmei.

- Nós não faremos nada. Respondeu Kino, friamente.

- O Yoh... É ele quem tem que buscar a Anna. Eu vou falar com o meu filho. Mas, antes, eu quero te pedir um favor, mamãe. Disse Keiko.

- Osorezan... Respondeu Kino, mesmo sem ouvir o pedido de sua filha.

- Obrigada. Disse Keiko abandonando o recinto com um sorriso nos lábios.

A imagem daquela cena não saía da mente de Yoh. Anna dizendo adeus e partindo. Partindo para sempre. E ele, ele apenas pôde ficar observando ela partir. O seu desejo era de correr até ela, abraçá-la forte, e pedir para que ficasse com ele. Não conseguiu. Nenhuma palavra saíra de sua boca. Nenhum passo fora dado por suas pernas. Nenhum movimento fora feito por seu corpo. Ele ficara imóvel.

Seu coração estava tão apertado. Ele tinha perdido a pessoa que mais amava nesse mundo. Tinha descoberto seus verdadeiros sentimentos pela itako tarde demais. Agora ela já estava longe. Longe demais para ser alcançada. Yoh nunca imaginara que sentiria tanta saudade de Anna. Aquela saudade o estava matando. Matando por dentro. Saudade é um sentimento que dói bem no fundo da alma. E era isso que ele estava sentindo. Uma dor forte e constante bem no fundo de seu coração.

Tudo que sobrara para ele foram lembranças. Lembranças dos momentos preciosos que teve ao lado da itako. Precisos, sim. Precisos porque agora que nunca mais os teria, eles eram o seu maior tesouro. Yoh sempre os guardaria em seu coração. Se tivesse se tornado o Rei Shaman naquele momento, seu sonho a realizar não seria mais ter uma vida tranqüila. Seu sonho seria poder reviver seus momentos ao lado de Anna.

Fora interrompido de seus pensamentos por batidas na porta de seu quarto. Sua mãe chamava por seu nome. Yoh resolveu que já era hora de sair do "exílio" e abriu a porta para que Keiko pudesse entrar. Ela entrou e se sentou do lado do filho, olhou bem nos olhos deles e ficou em silêncio por alguns minutos. Doía ver a grande tristeza refletida nos olhos de seu filho...

- Nós precisamos conversar, Yoh...

- Tá... Foi a resposta do shaman. Seca, fria e direta.

- Yoh, você me decepciona. Disse Keiko, seriamente.

Aquela afirmação surpreendeu o garoto. Ele não esperava que sua mãe falasse isso. Ficou sem reação. Não tinha resposta para aquela afirmação. Apenas abaixou a cabeça.

- Não foi isso que eu ensinei para o meu filho durante toda uma vida. Abaixar a cabeça diante dos problemas é decepcionante. Eu não esperava isso de você, Yoh. E ficou em silêncio, para que seu filho pudesse refletir sobre suas palavras.

- ... E o que você quer que eu faça, mamãe? Perguntou Yoh após alguns minutos de reflexão.

- Que você lute por seus sonhos. Foi a resposta de Keiko.

Lutar pelos sonhos. Yoh, por um momento, tinha esquecido o que era lutar por algum sonho. Tinha esquecido sua própria força de vontade. Tinha se tornado um covarde. Alguém que se deixa vencer pelos obstáculos da vida. Lágrimas. Lágrimas rolaram pela face de Yoh. Sua mãe tinha reacendido sua vontade de viver. Ele se sentia morto até então. Mas, as palavras de Keiko o reviveram. Agora, ele tinha vontade de lutar. Lutar por seus sonhos...

Keiko limpou as lágrimas de seu filho e lhe sorriu ternamente. Após dar um abraço apertado em Yoh, lhe disse:

- Osorezan. Ela está em Osorezan...

Yoh se levantou e partiu para Osorezan imediatamente, sem perder nenhum segundo. Tinha que ser rápido. Tinha que chegar a tempo de encontrá-la. A felicidade de duas pessoas dependia desse encontro.

"Anna, espere por mim...".