Após uma longa batalha chega ao final a luta entre os dois irmãos. Fora uma batalha emocionante, que decidiria o futuro de cada um deles e também o futuro de todas as pessoas do mundo, pois o vitorioso viria a se tornar o Rei Shaman, que teria a honra de receber o Grande Espírito e assim ganharia o poder de realizar seus sonhos, quaisquer que fossem. E isso causaria mudanças no mundo todo – os sonhos do Rei Shaman refletiriam no futuro de todas as pessoas.

O resultado não fora inesperado, pois o shaman vencedor era tido como favorito desde o começo. Porém, um sentimento de frustração tomou conta de todas as pessoas que tinham uma esperança que o resultado seria o contrário. Até os oficiantes do Shaman Fight compartilhavam desse sentimento, principalmente Silver, que desejava a vitória do outro garoto.

Hao Asakura tinha conseguido o que tanto desejava. Tinha esperado 500 longos anos por esse momento. Agora seus sonhos poderiam se realizar. Sua vingança poderia se concretizar. O seu reino poderia se erguer. A eliminação de tudo que não presta no mundo, era esse o seu maior sonho – construir um reino de shamans e eliminar a humanidade.

Yoh Asakura se levantou com uma certa dificuldade – estava exausto, havia gastado toda sua força oracular nessa luta – e caminhou lentamente até seus companheiros. Estava de cabeça baixa, mas seu olhar era de derrota. Todos sabiam o que Yoh estava sentindo naquele momento, pois todos compartilhavam do mesmo sentimento. Yoh olhou para cada um de seus amigos e disse, como um desabafo:

— Eu perdi...

Tao Ren se aproximou do rapaz e deu um leve tapa nas suas costas, consolando o amigo:

— Você fez o melhor que pôde. E como você mesmo sempre diz, para tudo se há um jeito.

Yoh se animou com as palavras de seu amigo. Era como se elas tivessem lhe dado forças para se erguer, para reagir e continuar a empreitada. Agora seu olhar era de confiança e determinação. Abriu seu costumeiro sorriso para seus companheiros e virou-se para encarar seu irmão gêmeo, lhe dizendo:

— Isso ainda não terminou, Hao.

Hao deu uma risada diabólica e perguntou para Yoh:

— E o que você pretende fazer, irmãozinho?

Yoh apenas lhe respondeu sorrindo:

— Para tudo se tem um jeito.

Hao Asakura percorreu o olhar em todos os amigos de Yoh, mas em uma pessoa em especial se manteve fixo, olhando nos olhos, em silêncio. Hao se aproximou dessa pessoa e lhe estendeu uma mão:

— Chegou a hora de reinarmos juntos. Venha comigo e farei de você a minha rainha.

Anna Kyouyama ficou um tempo em silêncio olhando para o rapaz a sua frente. Seu olhar lhe lembrava uma pessoa, um sentimento que há muito havia esquecido. Foi no encontro desse olhar que ela compreendeu o que se passava com Hao. E, nesse momento, ela percebeu a única coisa que tinha a fazer.

Anna caminhou lentamente até Hao e segurou em sua mão. O shaman abriu um lindo sorriso pra itako de cabelos dourados. Ele não sabia o motivo, mas se sentia realmente feliz perto da garota.

Yoh sentiu uma verdadeira confusão de emoções na sua cabeça. Ele não esperava que a sua noiva aceitasse a proposta de seu irmão. Isso era a única coisa que ele tinha certeza que a garota não faria. Ficou parado, sem reação, por um certo período de tempo tentando entender o que estava acontecendo. Quando ele se recuperou do choque, olhou para Anna com o olhar mais decepcionado que já tivera e lhe perguntou:

— Por que, Anna? Por quê?

A itako não olhava diretamente para Yoh, ela sabia que se olhasse nos olhos do rapaz não suportaria manter as suas camadas de gelo. Ela sabia exatamente o olhar que o shaman tinha na face, por isso desviava o seu olhar – para manter a sua pose, porque o olhar de Yoh a derrubaria, ela não suportaria encarar aquele olhar. A única coisa que fez foi responder a pergunta do rapaz, mais friamente do que nunca:

No momento em que Anna respondeu a sua pergunta, foi como se os céus desabassem em cima de Yoh. Ele não a reconhecia mais. A mulher que estava agora ao lado de Hao não era a mulher que um dia fora a sua noiva. Aquela mulher ele já não considerava mais como sua noiva. Ela não era a Anna que ele amava. Yoh só foi perceber o que realmente sentia por Anna tarde demais. Agora ele já a tinha perdido. Não, não a tinha perdido. Ele não pode perder uma pessoa que nunca teve. A única coisa que podia fazer era esquecer. E ele o faria, pois a Anna tinha deixado cair sua máscara. Yoh agora a considerava como uma pessoa ambiciosa, capaz de passar por cima de tudo e de todos para realizar seus desejos.

"Eles se merecem...", foi o pensamento de Yoh.

Yoh olhou para seu irmão com um olhar totalmente diferente do habitual, era como se todo o seu ser tivesse se transformado em questões de minutos, como da água para o vinho.

— Ainda nos encontraremos, Hao Asakura. Foram as últimas palavras de Yoh antes de partir, seguido por seus amigos, que estavam realmente preocupados com ele.

Anna ficou observando o rapaz partir, em silêncio, o acompanhando com o olhar até que ele sumisse no horizonte. Seu coração estava pesado, apertado. Ela estava chorando, mas nenhuma lágrima saía de seus olhos. Suas lágrimas eram mais profundas, do fundo de sua alma. Por fora, permanecia como a Rainha de Gelo que quase sempre fora, mas por dentro, todas as suas camadas de gelo se tinham derretido.