Too Close escrita por Kirara-sama


Capítulo 13
Bifrost¹


Notas iniciais do capítulo

Aí está pessoas, não me matem e espero que gostem



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Os ventos sacudiam as árvores como se fossem arrancá-las do solo. O cavaleiro permanecia ali, ajoelhado na frente da jovem. Inconformado, enraivecido, perdido. Catherine estava morta e ele fora o seu algoz. Nem Lynne, nem a Valquíria. Ele. As lágrimas que mareavam o rosto do rapaz foram escorrendo pelas bochechas e pingando no chão vermelho. O silêncio finalmente voltara à sua mente, mas nunca tão aterrador quanto agora. Olhou para as mãos, manchadas daquele líquido rubro. Sentiu a bílis subir pela garganta e virou o rosto, vomitando-a.

 

- Aukyner! – Shiroi berrou, esquivando de outro golpe da Valquíria, saltando e deslizando barranco abaixo habilmente. Chegando perto do cavaleiro, nem olhou para a sacerdotisa quase desfigurada que jazia silenciosamente no chão, apenas socou-o forte no rosto, a ponto de derrubar o moreno. – Não adianta lamentar mais...

 

- Mas eu...

 

- Você não fez nada! Não teria coragem! Ela fez...

 

O baderneiro apontou com o arco na direção da Valquíria, que estava mais ocupada com Lynne no momento para prestar atenção em qualquer outra coisa. Aukyner ergueu-se com a ajuda do outro rapaz. Tateou a cintura em busca de sua Claymore, mas não teve sucesso algum em encontrá-la.

 

- Procurando isso? – O arruaceiro estendeu todo o cinto do cavaleiro, que estava partido. O moreno apenas assentiu em silêncio, amarrou-o de qualquer maneira na cintura e tirou sua espada da bainha. Faria aquilo por Catherine, a sua Cath.

 


 

- Isso é tudo que pode fazer? – Murmurou a Valquíria, defendendo-se com facilidade de cada golpe que Lynne desferia. A mercenária já estava começando a se irritar com aqueles braços-que-não-eram-braços. Em um rápido movimento, lançou seu Stiletto na direção do ombro da oponente. A arma atravessou um monte de fumaça.

 

- Mas isso é...

 

- Impossível? Eu também achei isso quando desobedeci Odin e o maldito deixou com que meus braços fossem arrancados como palitos de dente. Não sei se aquele “deus” abençoou-me ou amaldiçoou-me. Agora sou invencível! Lembre-se bem, criança. Você não morreu para um monstro qualquer, morreu para a Valquíria Randgris! – Avançando em Lynne, a Valquíria Caída apenas aplicou uma seqüência de golpes tremendamente rápida. A mercenária nem pôde ver, mas sabia que aquilo se tratava das poderosas Lâminas Destruidoras dos mercenários. Não sabia nem como Randgris conseguira fazer aquilo, já que usava uma lança para atacar! Tombou, sentindo aquela energia nefasta aproximar de seu corpo todo machucado.

 

- Randgris! Sua luta é comigo agora! – Aukyner interveio, colocando-se entre Lynne e a loira. Shiroi apenas pegou a amiga no colo e voltou a saltar barranco abaixo, onde era mais seguro.

 

- Você é facilmente manipulável, caro cavaleiro. Infelizmente não é um adversário a minha altura. – A Valquíria encarou-o novamente nos olhos, tentando resgatar todas as memórias ruins do moreno para controlá-lo como fizera antes. Porém uma forte aura divina pairou sobre ambos.

“Não conseguirás fazê-lo teu uma segunda vez, Randgris. Eu não permito!”

 

Outra ventania abateu-se sobre o local, mas não era violenta e sinistra. Era morna e dispersava toda a neblina do lugar, cobrindo-o com os raios de sol. Agora era possível ver o lugar melhor. Era um templo completamente destruído. Estátuas quebradas para todos os lados, pontes caindo, pilastras tombadas ou quebradas, pisos de cerâmica partidos ao meio ou em estilhaços. Antigamente aquele deveria ser o mais belo templo dedicado à Odin, mas hoje não era mais do que uma marca do passado. A única parte realmente deplorável era o corpo jovem de Catherine deitado em uma poça de sangue. Mas mesmo naquele estado, ela parecia irradiar aquela aura de alegria contagiante que sempre carregara consigo, desde que a conhecera.

 

- Sozinho, realmente não sou páreo para ti. Mas não estou sozinho... Não mais. Rapidez com Duas Mãos! – Sentindo aquele frenesi no corpo, o cavaleiro avançou destemido na direção da Valquíria, golpeando-a de todas as formas possíveis. Mas a loira pareceu não ter muitos problemas para esquivar e defender, não demorando para rechaçar os ataques de Aukyner com um contra-ataque, usando um potente Brandir Lança, que arremessou-o para trás.

 

- Apenas vou precisar sujar minhas mãos para eliminar todos vocês ao invés de deixá-lo fazer meu trabalho... – Riu a mulher, aproximando-se perigosamente do rapaz, que ainda estava meio atordoado. Retendo a lança, Randgris mirou um golpe certeiro no peito do rapaz. A névoa que compunha a arma parecia girar como se quisesse perfurar e estraçalhar Aukyner. O cavaleiro fechou os olhos, esperando o golpe de misericórdia que parecia vir em câmera lenta. Mas ele não veio. A lança de Randgris ficou presa em uma espécie de escudo verde espectral. Entreabrindo os olhos, o moreno ficou tão espantado quanto a Valquíria.

 

- Desde... Ah, Cath... – Aukyner murmurou meio baixo para si mesmo, fechando os olhos com força para segurar as lágrimas. Randgris ainda não conseguia se mexer, pela surpresa. Pensara que seria fácil destruir todos aqueles humanos, começando por aquela que mais lhe dava trabalho. Mas, mesmo depois de morta, a alma da sacerdotisa não lhe dava descanso algum. Por um segundo o tempo pareceu parar, mas o segundo fora o suficiente para Aukyner lembrar-se daquele dia, quando reencontrara a sacerdotisa e em seguida o dia que ganhara sua primeira missão como um membro oficial da Cavalaria de Prontera.

*~Flashback~*

- Por Frigga, onde ele estava com a cabeça ao vir para cá?

Aquilo não passara de um resmungo nervoso ao seu ouvir. O corpo todo doía e ardia ainda um pouco, mas aquilo não era nada comparado a sua dor anterior. Entreabriu os olhos e tudo ainda estava escuro e embaçado, como se tudo estivesse coberto por uma espessa neblina. Piscou uma, duas, três vezes, até conseguir focalizar o céu escuro. Inúmeros pontinhos cintilantes manchavam o véu negro, junto com uma grande esfera luminosa. A lua estava especialmente belíssima naquela noite. Remexeu-se sutilmente, para virar o rosto na direção do calor. Era uma fogueira, já meio fraca. Deveria ser de madrugada, pois o vento frio lambia-lhe o rosto com muita freqüência, farfalhando as folhas das árvores em um clima sinistro. O local estava úmido, o que denunciava água perto do local ou a aproximação de uma tempestade. Mas apesar de tudo, estava bem aquecido por uma manta cheirosa. Isso já indicava que não era dele, pois a sua sempre cheirava a mofo. Levantou devagar, gemendo baixo ao sentir uma forte dor no rosto. Levou a mão até o local que doía e constou que ali havia um gordo curativo. Olhou em volta e viu algo que simplesmente o paralisou: a mais bela sacerdotisa que ele já havia visto.

Longos cabelos loiros presos em duas marias-chiquinhas. Os olhos estavam semicerrados, como se a jovem custasse a se manter acordada. Lábios finos, corpo muito bem moldado pela batina sagrada. A expressão era de cansaço, e as olheiras embaixo dos orbes denunciavam que aquela não era a primeira noite que estivera acordada para cuidar dele. Quando finalmente conseguiu desviar sua atenção para outra coisa que não fosse à mulher à sua frente, a primeira coisa que fez foi olhar para os lados e viu seu Elmo – agora riscado – e suas Barbatanas ao seu lado. Voltou o olhar para a bela moça à sua frente e pigarreou para chamar sua atenção. A loira ergueu a cabeça devagar, ainda com os orbes semicerrados. Mas ao vê-lo já sentado, os olhos da loira arregalaram-se, mostrando-se azuis como o puro céu da manhã sem nuvens. Abrindo um sorriso radiante que fez com que o espadachim ruborizasse, avançou nele, agarrando-o em um abraço na altura do pescoço e derrubando-o no chão pelo peso extra.

- Que bom que você acordou! Estava ficando preocupada. Como se sente? Ainda dói em algum lugar? Está com febre? Fome? – A loira tinha uma voz melodiosa e gentil, apesar de falar rápido e atropelar algumas palavras com sua cômica afobação. Todo ou qualquer sinal de cansaço havia completamente desaparecido.

- Eu... Eu... Er... E-Estou bem, se-senhorita. Obrigado pela ahm... Ajuda? – Aukyner balbuciou embasbacado pelo jeito extrovertido da jovem, ruborizando ainda mais ao perceber que a loira caíra em cima de si logo após o agarrão. Retomando um pouco a compostura após engolir o seco da garganta, o moreno murmurou ainda meio constrangido. – A quem devo a minha vida agora?

- Ahn? – A sacerdotisa ficou confusa, erguendo a cabeça e ficando com o rosto muito próximo do dele. Porém, inocente, não reparou o quão perto estava.

- S-Seu nome, s-senhorita... – O espadachim gaguejou comicamente, sabendo o quão corado já estava. Pensou que iria enfartar ao ver a moça curvar os lábios em um sorriso um tanto quanto divertido.

- Ora Aukyner! Sou eu! – Gargalhou a jovem. Mas, ao vê-lo ainda mais confuso, soltou-o no abraço e ajeitou-se ajoelhada em frente ao moreno. Levando as mãos até as fitas que prendiam os cabelos, deixou-os cascatearem pelas costas e pelos ombros. Logo, abriu um sorriso infantil. – E agora?

- C-C-C-Cath?! – Berrou meio alto o rapaz, quase caindo para trás ao ver o quanto a amiga crescera! Em todos os sentidos. Ela ficara muito mais madura dentro da batina de sacerdotisa, além de ter ganhado muito mais corpo. Iria continuar falando quando a jovem loira aproximou-se rapidamente e calou-o com a mão.

- Ssssssh... Ainda estamos no mangue, então, se não quiser ter que lutar com nenhum outro Dragão Mutante, é bom ficar bem quietinho...

Era verdade. O Dragão Mutante. O seu Mestre. Baixou o olhar, deprimido. Como pudera ter sido tão idiota até aquele ponto? A loira, ao vê-lo daquela maneira, apenas pousou os dedos no rosto do colega e forçou-o a levantar a cabeça, encarando-o piedosamente. Afagou a pele pálida do amigo e sorriu gentil. Logo, ergueu a outra mão e deu-lhe um cascudo forte o suficiente para fazê-lo baixar a cabeça.

- AI! O que pensa que está fazendo?! – Ergueu a cabeça um pouco depois, esbravejando com a loira. Mas a carranca logo se desfez em vergonha ao ver os olhos azulados de Catherine mareados. Sentiu uma forte onda de culpa invadi-lo, obrigando-o a desviar o olhar.

- Você prometeu que ficaria bem... Que iria fazer isso para ficar mais forte e me proteger... Mas você quase morreu! Também prometeu que viria me ver assim que os dois anos se passassem... Mas mais um se passou, e então outro... E, quando finalmente eu te vejo, você nem se lembra de mim? – A mágoa e raiva eram palpáveis na voz embargada da loira. Ao invés de passar-lhe um sermão, no entanto, jogou-se novamente nos braços de Aukyner, chorando contra o peito do rapaz. O moreno ficou sem saber o que fazer por algum tempo, mas logo a abraçou de volta para afagar os seus longos cabelos dourados. E assim ele ficou até que a colega adormecera. Essa era uma das características mais marcantes da loira: ela conseguia ser cruelmente inocente.

- Sinto muito Cath... Isso não acontecerá novamente. Por isso, prometo que irei protegê-la de agora em diante. Afinal... A minha vida sempre esteve em suas mãos... – Sussurrou gentilmente o espadachim ao pé do ouvido da sacerdotisa. Com cuidado, secou-lhe a trilha de lágrimas ainda úmida e beijou-lhe a testa com cuidado. Aquela promessa ele não quebraria.

*~Fim do Flashback~*

 

Era uma promessa. E ele, novamente, conseguira quebrá-la. Duas vezes em menos de um mês. Trocara Catherine por Lynne erroneamente e ainda foi o responsável pela morte da jovem. Grossas lágrimas agora brotaram dos olhos do moreno. Lágrimas de raiva, mágoa e culpa.

*~Flashback~*

- Isso arde! – Afastou-se um belíssimo cavaleiro das mãos de uma sacerdotisa igualmente linda.

- Se fizesse o que eu digo e ficasse longe do meio dos monstros, isso não teria acontecido. Agora vê se fique quieto ou isso pode infeccionar. – Esbravejou a moça, passando um paninho úmido em uma ferida na testa do amigo, que mordeu o lábio para não grunhir de dor novamente. Depois de algum tempo, a jovem afastou o pano, fez um curativo e olhou para seu trabalho, orgulhosa.

- Será que ás vezes você poderia ser um pouco mais feminina e cuidar do enfermo melhor? – Debochou Aukyner, recostando-se no muro do pátio de treinamento da Cavalaria de Prontera. Sorriu internamente ao ver a pele branca da colega tornar-se um vermelho tão vívido de raiva que até mesmo o Baphomet teria medo dela.

Porém, antes mesmo da jovem poder esbravejar com o cavaleiro, um dos mensageiros do Conselho interrompeu o casal.

- Com licença, Shiba-san, Aclahayr-san. O Chefe dos Cavaleiros mandou-me aqui para entregar-lhe isto. – O rapaz fez uma leve reverência, entregou um envelope e depois saiu tão rápido quanto veio.

Aukyner ficou olhando aquele envelope meio embasbacado. Aquela era a primeira missão que recebia depois que virara cavaleiro. Continuou com o olhar fixado no envelope pardo com o escudo da Cavalaria selando-o em cera vermelha. Engoliu o seco na garganta e abriu-o. Leu o conteúdo e prendeu a respiração ao terminar. Não poderia deixar Cath vê-lo.

- Glast Heim hãn? – Disse Catherine perto do ouvido dele, que pulou pelo susto. O tempo todo ela estivera espiando por cima do ombro do colega, curiosa demais para esperá-lo dizer do que se tratava.

- Por Odin! Quer me matar do coração? – Ralhou o moreno, dobrando novamente a carta e guardando-a dentro da bolsa de couro que tinha. Juntou sua espada e embainhou-a. Logo se levantou e bateu uma poeira imaginária da capa. – Eu vou... Ahn... Indo então.

- Ei, me espera! Eu vou com você. – Rapidamente a loira também se levantou, pegando o seu Atordoador para acompanhá-lo. Aukyner parou de caminhar e virou-se sério para ela.

- Você não vai a lugar algum. Eu tenho que fazer essa patrulha sozinho. É muito perigoso.

- Exatamente por isso! Você vai acabar se machucando, se bem o conheço. – Catherine cruzou os braços e bufou meio irritada com aquilo, batendo a ponta do pé no chão de maneira que demonstrasse bem sua impaciência.

- Mas Cath...

- Você prometeu! Eu não vou te deixar sozinho de novo, é bem capaz de você não voltar... – Murmurou a loira, um pouco magoada.

 

Suspirou. Não teve outro jeito. 

 


- Cath... Quero que me prometa uma coisa agora... – Murmurou o moreno com certa morbidez na voz. Ao ver a loira assentir, apenas respirou fundo, segurando as pequenas mãos quentes da colega. – Se algo acontecer, quero que abra um Portal para o mais longe que puder e entre nele. E não me conteste, por favor...

Novamente a loira anuiu com a cabeça, um pouco a contragosto. Temia deixar o rapaz sozinho. Também sentia aquele clima pesado instalar-se na capital, mas não sabia ainda o que era. Até que o chão tremeu. Uma, duas, três, quatro, dezenas de vezes. Cada vez com mais intensidade. O céu, já nublado do lugar, ficou escuro por completo, com raios cortando e iluminando o local. Uma ventania nefasta balançava as árvores. Aukyner rapidamente sacou sua Claymore, olhando para os lados rapidamente.

- A-Auky, o que é i-isso? – Choramingou a loira, agarrando o braço livre do amigo. O cavaleiro apenas soltou-se dela e olhou-a por cima do ombro, de maneira muito séria.

- Esconda-se Cath... E apenas saia de lá se tiver que fazer o que me prometeu. Caso contrário, FI-QUE lá!

A sacerdotisa afirmou mais uma vez e correu para trás de duas estátuas tombadas entre colunas, ficando bem escondida. Porém, deixava a cabeça para fora, para poder observar o que aconteceria com Aukyner. Os próximos segundos pareceram durar horas. Até que as árvores mais próximas foram derrubadas por um ser enorme. Imponente como um edifício e tosco como uma torre de pedra. Era uma criatura musculosa e um pouco encurvada graças às suas patas de bode e o abdômen levemente humanóide. Carregava nas mãos uma imensa foice que refletia a luz dos relâmpagos. Era uma arma de lâmina mais negra que a noite e de um cabo de madeira contorcido. A mesma emanava uma aura escura de medo e morte. O enorme monstro vira-se para o céu, fazendo com que sua faceta macabra fosse revelada. O rosto também lembrava o de um bode. Tinha olhos vermelhos e um par de chifres na cabeça, que parecia carregar com orgulho, por ser um símbolo de sua força. Era o gigantesco Baphomet.

Catherine segurou-se para não gritar de pavor ao ver o gigantesco animal ali naquele lugar. Aukyner então simplesmente congelara no lugar ao ver que aquele monstro fora o responsável por matar seus pais na frente de seus olhos. A mão que segurava a espada à frente do corpo tremia violentamente e ele não conseguia se mexer. O Baphomet crispou os lábios em um sorriso ao ver a sua presa tão indefesa. Com um balido, o ser simplesmente avançou na direção do cavaleiro, que arregalou mais os olhos ao ver a foice subir sobre a cabeça do animal e em seguida descer em câmera lenta. Pensou que aquele seria o fim, mas a arma macabra apenas raspou em seu braço, derrubando-o. O motivo era óbvio: uma marca de cruz sobre o olho do Baphomet. O monstro balia e batia as patas no chão, como se sentisse muito incômodo. O moreno, mesmo sentindo uma dor lancinante no braço pela ferida, apenas olhou para o lado, vendo a loirinha tremer com as mãos juntas e os olhos arregalados. Ela havia acabado de soltar uma Luz Divina direto no olho do grande monstro. Porém a sacerdotisa logo se recuperou e correu na direção do amigo com uma Gema Azul em mãos.

A única coisa que Aukyner lembrava fora de uma luz forte e depois o som de pássaros em uma floresta mais fechada, com um corpo pesado sobre o seu. Entreabrindo os olhos, viu Catherine observá-lo ainda com a expressão retorcida em pavor. Até fechar os olhos sentindo novamente aquela dor mais do que incômoda.

- Ah! Sinto muito, Auky! – Gemeu a loira, saindo de cima do colega para ajudá-lo a sentar-se, escorando-o contra o corpo cuidadosamente para analisar a ferida que o Baphomet abrira.

- O-Onde estamos? – Murmurou o rapaz com um dos olhos fechados, não negando a ajuda da amiga. Virou então o rosto na direção dela, sentindo o nariz roçar ao dela. Instantaneamente corou, e a dor pareceu sumir. Engoliu o seco novamente, encarando-a.

- P-Payon... – Sussurrou a jovem. Ficaram por vários minutos se encarando, antes de Catherine baixar mais o rosto e dar um selinho terno e longo nos lábios de Aukyner. Não passara daquilo. A sacerdotisa pareceu finalmente perceber o que fazia e imediatamente largou-o. – S-Sinto muito! – Fechou os olhos, envergonhada demais para encará-lo, levando as mãos até o rosto e deixando o cavaleiro desabar no chão. Aquilo fora o suficiente para que ele desmaiasse de dor. Havia caído sobre o próprio braço ferido.

*~Fim do Flashback~*

 

As lembranças foram o bastante para perceber o quanto devia à Catherine. E não iria embora enquanto não cumprisse ao menos o desejo da loira: livrar Rune-Midgard das garras do rei Tristan II que apenas queria sua destruição em conjunto com as Valquírias.

 

- Eu vou levar a tua cabeça embora, Randgris! ISSO é uma promessa que manterei a fogo e ferro! – Bradou Aukyner, avançando na Valquíria com a determinação redobrada. Mas, ainda assim, a loira pareceu não ter dificuldade alguma em defender-se e esquivar-se do cavaleiro. O moreno não sabia o que estava fazendo de errado. Atacava com estocadas, saques rápidos e até movia-se em piruetas para tentar acertar aquela monstra. Mas nada parecia funcionar contra ela. Novamente, o desespero pareceu tomar conta dele. Randgris, ao perceber isso, sorriu largamente.

 

- Não importa o quanto tentem! Tudo que usares será inútil contra mim! Entenda isso logo de uma vez, humano ridículo, e pereça ante meu poder! – A Valquíria gritou antes de avançar em cima de Aukyner. Iria novamente usar o poder das Lâminas Destruidoras, mas uma fina dor instalou-se na altura de seus olhos. Uma flecha. Aquela flecha fora rápida o suficiente para quase cegar-lhe sem que ela percebesse o seu avanço. Com um grunhido, procurou o único que sabia que podia usar flechas. Encontrou-o em cima de uma rocha, perto do barranco. Apesar da fúria em seu olhar, Shiroi pareceu não se intimidar. Muito pelo contrário, sorriu.

 

- Essa foi pela Cath. A próxima será por Lynne. A última será por ter tomado o controle de Aukyner. – O rapaz sorriu convencido, armando uma próxima flecha.

 

Aquilo fora a gota d’água para Randgris. Com um movimento do braço-lança, ela baixou o visor de seu elmo cinzento, crispando os lábios com a audácia de Shiroi. Bateu as asas algumas vezes para ficar um pouco mais alta. Ergueu então a lança sobre a cabeça, sem demonstrar toda aquela confiança que tivera até agora. As nuvens agruparam-se e vários raios cortavam os céus. Aukyner sabia do que se tratava. Sabia melhor do que ninguém O QUE viria agora. Virando-se rapidamente, tentou avisar o arruaceiro que ficou confuso com a forte mudança de tempo. Mas não fora rápido o bastante. A voz fria e cortante de Randgris foi ouvida.

 

- Ira... De THOR!! – Berrou a loira, antes de um verdadeiro pandemônio em forma de raios e explosões caísse sobre a cabeça do rapaz de cabelos grisalhos. Aukyner apenas fora atingido pelos galhos e pedaços de pedra que se desprenderam pela potência do golpe. Quando o clarão acabou, Shiroi estava de pé, olhando para cima, com os orbes semicerrados e o corpo chamuscado e ferido. Até mesmo fumaça subia. Então ele finalmente tombou para trás, rolando barranco abaixo novamente.

 

- Shiroi! – O moreno correu até a beirada do lugar, mas suspirou aliviado ao ver que Lynne amparara a queda do colega. A mercenária estava com alguns curativos mal feitos, mas daria para sobreviver. Apesar daquilo, apenas desviou o olhar, afinal, ainda eram namorados.

 

- Está tudo bem... Shiroi contou-me tudo. Detone logo essa desgraçada, pela Cath... – Sorriu a moça, arrastando o jovem de cabelos esbranquiçados para poder cuidar dele. Aukyner suspirou ainda mais aliviado. Outro peso saíra de seus ombros. Voltou seu olhar para a Valquíria tempo o suficiente para defender-se com a Claymore de uma potente investida. Randgris quase rosnou, com seus olhos vermelhos brilhando por detrás do visor.

 

- Acham que só porque fizeram uma feridinha de nada em mim quer dizer que tem chance de vencerem? Farei com que coma da terra manchada pelo sangue da sacerdotisa para ver que n... – Não conseguiu terminar.

 

- Impacto Explosivo! – Bradou o cavaleiro, afastando a Valquíria depois que uma forte onda de calor pareceu explodir ao redor dele. Os olhos esverdeados pareciam queimar apenas pelo fato de Randgris ter falado de Catherine. – Nunca... Fale da minha Cath... Com essa boca imunda, sua impostora decadente! – Aukyner gritou antes de avançar novamente em Randgris, atacando-a com uma fúria jamais vista.

 

No início, a Valquíria apenas recuou com os golpes, defendendo-se como podia. A Claymore do moreno riscava a armadura da loira e algumas vezes rasgavam a pele das pernas dela quando esta tentava voar para longe. Até que a monstra pegou o ritmo do cavaleiro e voltou a empurrá-lo com a mão em forma de garra quando ele tentou uma estocada suicida, mirando o lado direito do corpo da oponente e deixando a guarda baixa. Apenas não o matou porque a lança não iria feri-lo nem se quisesse devido à proximidade.

 

Aukyner arfava. O ódio por aquela mulher apenas crescia a cada segundo. Mas o sol voltou a raiar, junto com uma brisa quente e aconchegante. Os cabelos rebeldes do moreno mexeram-se, mas aquilo pareceu não ser o suficiente para acalmar-lhe o espírito. Pelo contrário, o calor apenas serviu para deixá-lo ainda mais eufórico. Porém aquele calor pareceu tomar forma. A carranca de Randgris simplesmente sumiu ao ver o que ali se formava. O cavaleiro pensou em atacá-la, mas algo em seu interior fez com que virasse. Ali, logo atrás dele, um espectro dourado de Catherine pairava resplandecente como a aurora após um dia de chuva, com as mãos juntas e olhos fechados, como se rezasse. Lynne e Shiroi olharam para aquela cena embasbacados, pensando estarem sob efeito alucinógeno da dor que sentiam após a batalha. Não tardou para que ela entreabrisse os olhos e sorrisse.

“A raiva sempre foi um defeito seu, Auky... E não deve deixar-se levar por ela, ou irás acabar morrendo. Eu não estou mais presente para curá-lo como antes fazia... Estarei sempre contigo, mas apenas enquanto permitir que haja luz em teu coração, e não somente as trevas que agora vejo. Não faça isso consigo mesmo...”

 

- Mas Cath... A promessa... Eu...

“Eu não o culpo, Auky. Agora, não seja oponente de si mesmo. Faça com que ela seja oponente de si mesma. Boa sorte, Auky...”

 

- E-Espera, Cath! – Gritou o moreno, estendendo uma das mãos para tentar alcançar o espectro da amiga. Mas a única que conseguiu tocar foi o vento quente. Baixou o braço, derrotado. Não entendera absolutamente nada do que a sacerdotisa falara. Apenas que a raiva iria consumi-lo e que ela não o culpava. Mesmo não compreendendo as palavras da jovem, ele sentiu-se extremamente leve. Voltou-se para Randgris, que parecia estar voltando a si aos poucos.

 

- Hum... Pelo visto subestimei a garota. Mesmo morta, traz-me muitas complicações. Pronto para morrer agora, sem interrupções? – Resmungou a Valquíria, voltando a entrar em uma posição ofensiva. O cavaleiro encarou-a longamente.

 

Não deveria fazer de si o próprio oponente, e sim dela a sua oponente. Que diabos aquilo queria dizer? O tempo pareceu correr mais devagar do que o normal enquanto pensava naquela pequenina charada. Mas não pôde pensar por muito tempo. Randgris voltou a avançar violentamente para cima dele. Ela erguera a lança. A guarda ficara baixa. Era isso!

 

No primeiro golpe, foi obrigado a rolar para o lado para não ser atingido. Assim que se recompôs, pode ver a Valquíria avançar novamente. Ele esperou, tomando uma posição defensiva daquela vez. Não teria escapatória, iria defender-se como podia. Um segundo. Aquela era a margem de acerto. Nem um milésimo a mais ou a menos. Randgris veio, tentando estocá-lo dessa vez. Aukyner amparou o braço-lança da loira com a espada e sorriu. Era agora.

 

- Contra-Ataque! – Bradou o cavaleiro, deslizando o fio da arma perigosamente por toda a sua extensão, atingindo em cheio o peito da Valquíria. O golpe fora potente, mas não a ponto de varar o corpo de Randgris, que caiu para trás com falta de ar. Aukyner não esperou mais e literalmente montou sobre o corpo caído da loira, apontando a Claymore para seu pescoço. Ela sabia que era poderosa, mas qualquer movimento faria com que aquela lâmina simplesmente fosse enterrada em seu pescoço.

 

Ali os dois ficaram, ele por cima dela, ambos encarando-se. Randgris suava frio, engolindo em seco. Porém, Aukyner encarava-a com certa indiferença. Não tremia mais de raiva ou de medo. Continuava ali, firme. Quando a Valquíria tentou mexer-se para levantar-se, o moreno apenas pressionou a Claymore contra a traquéia da mulher. Aquilo foi o suficiente para acalmá-la. Os minutos ali foram longos e silenciosos. Apenas o respirar de ambos podia ser ouvido. Um arfante e descompassado. O outro calmo e pausado. Não demorou para Lynne subir o barranco com Shiroi escorado em seu corpo. Ambos ficaram embasbacados ao verem aquela cena. Mas não falaram nada.

 

- Ressuscite-a... – Murmurou Aukyner com a voz embargada, deixando que os olhos se enchessem de lágrimas. Mas nenhuma escorreu até aquele momento.

 

- Quem pensa que sou? Uma sacerdotisa de Odin? Eu não tenho esse poder, rapaz. – Randgris estreitou os olhos ao ouvir o pedido absurdo do cavaleiro acima de si que tinha a sua vida na ponta da espada. – Além do mais, muito tempo passou-se, ela já deve estar em Valh...

 

- RESSUSCITE-A! – Berrou o moreno, fechando os olhos e deixando as lágrimas escorrerem livres pelo rosto agora. Novamente a mulher tentou levantar-se, mas a lâmina continuou pressionando o seu pescoço, fazendo com que um filete de sangue descesse dali. Ela enfim desistiu. Até que uma mão pousou no ombro do cavaleiro. Ele ergueu a cabeça.

 

Era Lynne, que apenas balançou negativamente a cabeça. Aukyner voltou a baixar a cabeça e gritou com raiva, erguendo a espada. Baixou-a na direção da Valquíria, mas esta se fincou ao lado da cabeça da mulher, que olhou a lâmina assustada. O arruaceiro e a mercenária olharam para o rapaz com pena, até que um ruflar suave de asas foi ouvido junto a um relincho. Todos, até Randgris, voltaram seus olhares para cima.

 

Ali, montada em um belíssimo corcel branco alado, vinha Hildr. A armadura, outrora destroçada, estava tão polida e adornada que até mesmo o mais meticuloso dos Paladinos teria inveja das vestes daquela mulher. Um elmo azulado muito parecido com o de Randgris segurava os cabelos rebeldes que esvoaçavam com o vento. Em uma das mãos carregava um belíssimo tridente, enquanto a outra estava desocupada, mas brilhando levemente. Assim que o eqüino pousou, Hildr apontou para Randgris deitada e esta logo foi completamente amarrada como um animal recém caçado. A Valquíria Caída grunhiu de raiva e se debateu, chegando a derrubar até mesmo Aukyner de cima de si, mas não foi capaz de soltar-se.

 

- O que fez comigo, Hildr?! – Esganiçou a mulher presa, sem parar de se debater.

 

- Presente de Odin por desobedecê-lo mais uma vez. – A outra loira murmurou indiferente, descendo do corcel. Correu os olhos por cima de cada um dos presentes, parando-os principalmente em Lynne e Shiroi. Aproximando-se do casal, Hildr apenas estendeu a mão sobre eles. Uma aura esverdeada pairou sobre o corpo de ambos, curando-lhes as feridas. Em seguida, voltou seu olhar para Aukyner. – Onde está a sacerdotisa?

 

O moreno apenas baixou a cabeça, fechando os olhos com força. Retirou a Claymore cravada no chão e arrastou-se custosamente sobre os pés até o barranco. Quando chegou lá, nem teve coragem de olhar para o próprio trabalho. Virou o rosto e apontou o corpo que jazia solitário na grama pintada de vermelho. A Valquíria exclamou e iria abrir a boca para perguntar, mas ao perceber a maneira com que o cavaleiro agia, já imaginou a resposta. Em silêncio, pulou barranco abaixo e pousou a mão sobre o corpo de Catherine, fechando-lhe as feridas. Puro capricho. Não havia mais salvação para a garota. Subiu o pequeno morro novamente e estendeu o corpo inerte da sacerdotisa para Aukyner. O cavaleiro não teve coragem de segurá-la.

 

- Eu não...

 

- O mínimo que pode fazer por ela é levá-la de volta para Prontera e sepultá-la na catedral. Esses serão os últimos dias em que a verá. Tem certeza que poderá conviver com isso? – Cortou-lhe Hildr, encarando-o seriamente. O moreno ergueu o olhar até a Valquíria e, em seguida, pousou os olhos no corpo agora apenas sujo de sangue de Catherine. O resto estava impecável.

 

- Não pode... Fazer nada para trazê-la de volta? – Murmurou Shiroi, aproximando-se deles. Ao seu lado vinha Lynne que, mesmo sem querer admitir, sentia-se triste pela morte da garota.

 

- Isso já não está mais em minhas mãos. Apenas Odin ou Frigga podem fazer algo quanto a isso. E acreditem, não é sempre que os deuses estão benevolentes para ouvirdes, caros mortais. – Resmungou a jovem, depositando o corpo da sacerdotisa nos braços de Aukyner que, naquele momento, não negou em momento algum. Muito pelo contrário, segurou-a como se esta fosse uma boneca de porcelana. – Agora é melhor partirem... De Randgris e do rei cuido eu, podem deixar...

 

- Ao menos isso... Um problema a menos... – Sussurrou Lynne, sendo abraçada pelos ombros por Shiroi. Aconchegou-se contra o corpo quente do arruaceiro. – Como... Voltaremos?

 

- Vocês nunca deveriam ter vindo, pequenos seres efêmeros... E que Hugin e Munin¹ estejam sempre vigiando-os. – Disse Hildr antes dos quatro serem simplesmente engolidos por um portal de cores brancas. Lembrava muito os Portais que os sacerdotes usavam, mas aquele parecia causar aquela sensação de borboletas no estômago, quando se sente muito feliz ou apaixonada. Ou simplesmente mais leve, livre de preocupações.

*~Um ano depois~*

 

- Makoto! O que já disse sobre isso? – Gritou, correndo atrás do garoto. Algumas coisas simplesmente não mudavam. – Ah! Assim vou me atrasar! Ande Makoto, seja um bom menino! – Implorou.

 

- Bleh! Assim é muito sem graça, sabia? – Resmungou o menino, devolvendo-lhe o objeto.

 

- Estou devendo-lhe essa, Makoto! – Disse, antes de sair correndo em meio a tropeços. Mas nenhum deles tirou-lhe o equilíbrio, nem quando topou no meio-fio que separava a calçada da entrada da Igreja. Não demorou para encontrar Shiroi no meio do caminho, esperando escorado em uma árvore com sua Flor Romântica nos lábios.

 

- Cheguei muito tarde? – Perguntou, curvando-se sobre os joelhos para recuperar o fôlego perdido. Percebeu que o atual desordeiro estava analisando a sua posição com um sorriso, mas não deu muita bola.

 

- Nem tanto. A Lyn-chan já foi à frente porque cansou de esperar por você. É assim desde criança ou ganhou com o tempo? – Riu o rapaz de cabelos grisalhos, ficando ainda mais alegre ao ver as bochechas já vermelhas pela corrida ficarem ainda mais avermelhadas de raiva.

 

- Ora seu...

 

- Vamos, você sabe que a minha Lyn não gosta de esperar tanto assim. – Riu Shiroi, andando sem esperar por uma resposta ou um xingamento que provavelmente viria mais tarde.

 

Bufou. Mas não teve outra escolha a não ser segui-lo. Caminharam pela grama fresca por alguns minutos, no mais profundo silêncio. Logo a viram. A mercenária segurava alguns lírios brancos e sorriu animada na direção das duas pessoas. Muita coisa acontecera naquele ano. Shiroi ajeitou-se e tomou vergonha na cara, tudo para agradar sua amada ciumenta, além de passar no teste de admissão da Guilda dos Desordeiros. Noivaram e dentro de pouco tempo iriam casar-se. A jovem de cabelos róseos, sempre que podia, exibia sua aliança cravejada com um discreto diamante. Já Shiroi preocupava-se mais em NÃO olhar para as outras garotas, para não perder a oportunidade de continuar vendo aquela aliança na mão da noiva.

 

- Já imagino o motivo de tanta demora, não precisam se explicar. – Disse Lynne, erguendo uma das mãos ao ver o desordeiro abrir a boca para falar alguma coisa.

 

- Ora... E se eu quisesse dizer que te amo? – Emburrou o rapaz, fazendo um biquinho amuado diante da noiva e cruzando os braços de maneira meio infantil. A mercenária apenas riu e deu um selinho naquele biquinho.

 

- Ah! Sem melação por aqui. – Exclamou, pegando os lírios das mãos da jovem de cabelos rosados. – Como está?

 

- Bem, mas acho que você poderia dizer isso com mais precisão do que eu. – Lynne revirou os olhos, aconchegando-se nos braços de seu amado.

 

- É isso então. Vamos, Shiroi? – Perguntou, observando o rapaz abraçando a mercenária por trás gentilmente. Ruborizara levemente ao ver os atos de carinho entre os dois.

 

- Ah, pode ir. Você demorou tanto, para variar, que eu e Lyn já fomos. Deixamos a melhor parte para você. – Sorriu gentil o desordeiro. – Vemo-nos mais tarde então. – Disse antes de partir, levando consigo a noiva em um abraço pela cintura. Ao vê-lo ir embora, apenas suspirou. É, novamente era hora de encarar aquilo.

 

Continuou caminhando, sentindo o suor frio escorrer-lhe a testa. Era visível seu nervosismo, mas nada poderia fazer naquela hora além de respirar fundo. Calma nunca fora uma virtude sua. Finalmente encontrou o seu alvo e baixou a cabeça. Dessa vez seus passos eram meio incertos, talvez até demais. Inspirou novamente e ajoelhou-se em sua frente, olhando para o lado, esperando escolher as palavras certas para aquela ocasião. Abriu e fechou a boca diversas vezes. Primeiramente pousou os lírios ao seu lado e passou a mão pelos cabelos, tentando pensar ou formular uma frase concreta.

 

- Ahn... Bem... – Começou. Bem dito, apenas gaguejou. – Sabe... Er... Eles parecem bem felizes juntos, não acha? – Sorriu sem jeito, falando de Shiroi e Lynne. Recebeu silêncio. Mas achou melhor continuar. – É, ela fica bem melhor com ele, de qualquer maneira, hehe... – Coçou a cabeça, ainda sem saber ao certo como continuar. O silêncio novamente.

 

Baixou mais o olhar sem saber como continuar ao certo. Aquele silêncio era incômodo e não tinha direito algum de pedir que ele acabasse. Respirou fundo mais uma vez e ergueu o olhar para o céu, tentando acalmar-se. As palavras agora pareciam sair com mais naturalidade do que antes.

 

- Já faz um ano hãn? Um ano que nos metemos naquela encrenca por minha causa... Passamos por bons e maus bocados naquele tempo hein? Nunca tive chance de me desculpar desde aquela vez em Al de Baran, não é? Apenas... Não sei, só agora que venho me lembrar dessas coisas. – Ruborizara novamente, semicerrando os olhos. – Na verdade, acho que desde que nos conhecemos eu só tenho que me desculpar. Pergunto-me o que viu em mim para ficar sempre ao meu lado, apesar de todas as besteiras e toda a parte atrapalhada. – Silêncio. Deveria continuar. – Então... Hmm... Acho que, mesmo depois de todo esse tempo, nunca realmente vim pedir desculpas por isso, e, se pedi, fiquei sem uma resposta que saciasse a minha vontade de fazer-te feliz. Ah... Como me arrependo de cada palavra que disse contra ti. Nunca havia realmente pensado antes de dizer-te qualquer coisa e agora estamos nessa situação. É meio embaraçoso, até mesmo pra mim que nunca liguei muito pra isso...

 

Nada mais do que o silêncio. Este fora quebrado segundos depois por dois passarinhos que pousaram ali na árvore próxima. Começaram ambos a cantar uma melodia alegre para aquele dia de sol. Voltou a baixar a cabeça. Até agora não tivera coragem de fitar-lhe diretamente. Ficou ali só Odin sabe por quantos minutos, pensando em tudo o que acabara de falar naquele momento. Fechou os olhos com força e então ergueu a cabeça, encarando o seu ouvinte. Enfim, sorriu o mais gentil sorriso que já lhe dançara pelos lábios.

 

- Lynne pegou isso para você, mas fui eu que escolhi. Sei que são suas preferidas, então trouxe para tentar me redimir. – Com mais ânimo, depositou os lírios entre eles, sorrindo meio sem jeito. – Estão um pouco amassados, de certo de tanto Lynne amassá-los de nervosismo pelo meu atraso, hehe... Espero que os aceite como o início dos meus pedidos de desculpas... Sei que muito pisei na bola, mas acho que pior do que está não vai ficar não é? Só... Gostaria que me perdoasse... Meu anjo. – O sorriso aos poucos foi dando lugar para um mais triste. Levantou-se, passando a mão na lápide à sua frente. Fechou os olhos. Não se daria ao luxo de chorar, não na frente dela. Não na frente da sua Cath.

“Já o perdoei, não lembra?”


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Notas finais do capítulo

FIM! ^-^

Ou não... Quem sabe?

Esclarecimentos básicos das marcações:

¹ Na mitologia nórdica, Bifrost é a ligação entre o domínio dos deuses, Asgard, e a Terra, Midgard, terra dos mortais.

² Hugin e Munin são os corvos de Odin que o deixam atualizado sobre o que acontece no mundo. O primeiro é o pensamento e o segundo, memória.

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