No segundo mês, ocorreu o que Manabu temia e sempre tentou evitar. E enquanto ignorava a música ambiente, sua atenção se focava nos seus sapatos e, sem querer, nos sapatos lustrosos a sua direita.

Andar 15.

Descedescedesce.

Andar 14.

Andar 13.

Andar 12.

Cofcofcof.

No segundo mês, Manabu olhou pela segunda vez em sua vida para seu chefe e ouviu pela primeira vez a falsa tosse que sempre antecedia a uma conversa à toa vinda da boca do mesmo.

Andar 8.

No segundo mês, foi com surpresa e incredulidade que manteve uma conversa. Uma conversa qualquer no elevador. Uma conversa qualquer no elevador com Byou. E durante todo o tempo Manabu estava fora da realidade e prendendo a respiração e ele nem sabia direito o motivo. Byou não era um alienígena ou um Deus, era apenas seu chefe. E, pensando melhor, Manabu concluiu que esse era um bom motivo.

Nesse dia sem data precisa (porque ele já tinha perdido as contas de quanto tempo estava lá), Byou achou engraçado o jeito introvertido do garoto. Byou também achou que ele parecia anoréxico e muito pálido. Byou achava muitas coisas na verdade. Menos o que Manabu achava que ele achava: que Manabu era o fracasso na forma de um ser humano.

Andar 3.

As portas do elevador se abriram e deram passagem para uma mulher cheia de batom e saia e esmalte vermelhos fogo como seu cabelo e a conversa acabou parando com a entrada da intrusa.

As portas do elevador estavam se fechando.

Manabu voltou a fingir olhar para seus próprios sapatos quando na realidade via os sapatos à sua direita.

A intrusa voltou a pensar como voltaria pra casa com essa chuva.

E Byou voltou a encarar o moreno do seu lado discretamente.

Subsolo 1.

No segundo mês, precisamente nesse dia sem data precisa, Manabu, que costumava estacionar um andar a baixo, estacionou ali. Manabu pegou as chaves com um chaveiro idiota de polvo do seu bolso e saiu do elevador murmurando um tchau.

Byou, como de costume, estacionava sempre no subsolo 2.

E a intrusa havia saído no térreo para tentar a sorte correndo até o metrô na chuva torrencial.

Antes que as portas se fechassem, Manabu ouviu em alto e bom som um ‘Até amanhã’ e virou surpreso ao encontro da voz.

Mas o elevador já tinha  entrado em movimento novamente.

No segundo mês Manabu amaldiçoou a si mesmo por não ter estacionado no andar de baixo.