Eu não sabia o que faria agora. Eu estava sozinha no mundo. E tudo por causa daquele cara. Por que? Por que eu fiz isso?

Meu nome é Dani. Apenas isso, Dani. Eu moro, ou morava, em Joplin desde meus cinco anos, depois de ter me mudado de Chicago, uma cidade maravilhosa, para ir morar naquele fim de mundo maldito que se chama Joplin, no Missouri. Meus pais decidiram se mudar por causa de uma oferta de emprego. E também porque meu pai é cantor country e foi fazer um monte de show por lá e acabou ficando. É, ele é um cowboy moderno, o que me enchia de vergonha. Sempre de chapéu, botas e aqueles cintos com fivelas gigantes, meu paizinho querido tinha uma banda, The Modern Old Cowboys, com mais três velhos gordos iguais a ele. E eles faziam sucesso! Minha mãe também era louca por essas coisas de vaqueiro, tanto que ela também era back vocal dessa coisa que nem dá pra se chamar de banda.

Acho eu apenas eu e meu irmão, Jesse, éramos normais. Ele hoje tem 19 anos e é mais novo que eu por alguns minutos. Sim, somos gêmeos. Quase idênticos. Ele até que é bonito. Tem o cabelo naturalmente loiro pintado de preto com umas mechas brancas incrivelmente mal feitas, em um corte incrivelmente paga pau do Andy Sixx, olhos verde claro, mais branco que um papel e magrelo. Um pseudo-revoltado com a vida. Mas ele é legal, coitado. Me entende e eu o entendo. É coisa de irmão.

Eu? Uma pessoa que tende pro lado alternativo. Nem chego perto do quesito ‘bonitinha’. Meu cabelo é longo, mas é ruim, de um loiro palha sujo, sei lá que cor é essa, olhos verdes também, só que um pouquinho mais escuros, sou reta que nem uma tábua, magrela de ruim, pálida e ainda por cima com sardas. Isso mesmo, sardas no nariz. Minha única amiga desde os cinco anos, Gracie, diz que são um charme. Mas isso é porque ela é terrivelmente bonita e não quer me rebaixar. A menina mais gata do colégio. Ah, nem quero me lembrar dela. Fiquei muito mal depois que brigamos por causa dele.

E quem é ele? Ah, deixe eu contar a história desde o começo.

Estudei até os 16 anos em uma escola tosca lá de Joplin. Um dia, a professora mandou um trabalho de biologia em duplas sorteadas por ela.

- Gracie, você ficou com quem? – me inclinei um pouco para a frente para poder conversar com ela, que sentava na carteira em frente à minha.

- De acordo com o papel, eu fiquei com o Luke, o mongol. – ela fez uma cara de desgosto e nós rimos – E você, Dani? Pegou quem?

- Hm... Christopher. Quem é ele? – Uma bolinha de papel voou na minha cabeça, vinda do fundo da sala. Virei para saber quem fora o desgraçado que jogou e o vi.

Sentado com os pés em cima da mesa, usando uma roupa completamente estranha, tipo calça com os joelhos rasgados, uma blusa branca com uma camisa xadrez vermelha aberta por cima e all stars detonados, sorrindo pra mim, o cara colocou as mãos entrelaçadas por trás da cabeça.

- Qual é a sua? – perguntei.

- Você. – ele disse com uma voz rouca.

- É o que?

- É, presumo que você é minha dupla nessa merda.

Revirei os olhos e voltei minha atenção para Gracie.

- Que idiota.

- Ele é bem gatinho. Nós nunca reparamos nele?

- Ainda bem que não.

- Hm... – ela ainda estava encarando ele. Meu deus.

- Gracie...para de encarar o menino... – sussurrei.

- Naah, to tentando seduzi-lo. – ela sorriu e piscou para Christopher. Era sempre assim. Quando ela via um menino bonito para os padrões dela, não relaxava até levá-lo para a cama. Mesmo que ele tivesse namorada. Olhei para trás e vi que ele estava correspondendo, mandando beijinhos para ela. Que nojo.

Finalmente tocou, liberdade. Peguei minhas coisas e Gracie me cutucou.

- Vai lá pra casa hoje? – Quase toda sexta eu ia para a casa dela e saíamos no fim de semana para festas e outras coisas que ela sempre era convidada.

- Não dá, meu pai vai fazer um show hoje em um pub aí e quer que eu esteja lá.

- Saquei...mas se conseguir fugir, me encontre lá na casa do Josh, vai ter uma rave perfeita, com bebida e ecstasy, além dos gatos do colégio. Então, tchau hottie. – Ela piscou pra mim e saiu da sala.

Terminei de pegar todos os meus livros e joguei a mochila sobre o ombro. Estava andando tranquilamente quando aquele idiota do Christopher para na minha frente, bloqueando minha passagem.

- Que foi?

- O trabalho. Quando a gente vai fazer? Tem noção que é pra segunda?

- Hm. Deixa que eu faço sozinha. – empurrei seu ombro para tentar seguir meu caminho, mas ele me segurou.

- Me diz seu endereço. Eu vou fazer com você. É um trabalho de dupla.

- Eu vou fazer sozinha.

- Eu vou aparecer na sua casa, de um jeito ou de outro.

Ficamos nos encarando e, por fim, eu peguei uma caneta no bolso da frente da minha mochila e escrevi na mão dele meu endereço.

- Às duas horas.

- Estarei lá, hottie. – ele sorriu e foi embora. Como ele se atreveu a me chamar pelo apelido que era só Gracie quem me chamava?