Rascunhos de Um primeiro Amor. escrita por villarino


Capítulo 5
Capítulo 5 - Can't Take My Eyes Of You.


Notas iniciais do capítulo

Foi o melhor capítulo que eu já escrevi, puta que pariu. E, desculpem a demora! :D



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Capítulo 5 - Can’t Take My Eyes Off You.

 

Assim que ela virou o olhar para o outro lado, onde eu estava, meus olhos brilharam. E, pela primeira vez, Nathalie abriu aquele sorriso. O sorriso que eu precisava ver. Era mais bonito do que eu havia imaginado. Era... Encantador. Desta vez, eu sorri do jeito antigo que ela sorria. Torto. Eu estava com um olhar diferente, eu sentia isso.

Meu coração batia tão forte, que sempre achava que iria pular para fora. Eu sinceramente achava... Fofinho. Fui até onde estava, não desgrudando os olhos dos dela e ainda com o mesmo sorriso. Ela conseguia tirar todo o meu ar.

- Oi. 

- Oi. E então, como foi sua noite de sono? -perguntou.

- Boa. Mas ainda assim, preferia ter a sua companhia. 

- Hoje terá. Não está feliz?

- Por falar nisso, onde arranjou uma vespa? 

- Ponha o capacete e suba. -disse, subindo na lambreta e ligando-a.

Fiz o que mandara e subi. A abracei por trás, encostando minha cabeça em sua pele quente, pela roupa ainda assim fina e pelo sol. Acelerando, aos poucos, meus cabelos voavam em ritmo ao vento que traçávamos e ríamos das pessoas que olhavam para nossa cara se perguntando se éramos loucas. Sim, éramos. 

Passamos pelas ruas estreitas de Chios e por feiras e mais feiras. Por casas pintadas de branco com janelas azuis... Até que tivemos que dar uma parada. Nos sentamos no chão do final de uma rua completamente vazia, e Nathalie me ofereceu uvas que ela havia trago num potinho. 

- Não, obrigada. -respondi.

Como eu havia trago o caderno, comecei a desenhar. Aliás, a terminar de desenhar. Numa das noites sem sono imaginei seu rosto em minha mente e o fiz. Estava praticamente igual. 

-Você me desenhou? -perguntou.

- Não! -menti, tampando o caderno em meu peito.

- Vamos, deixe me ver.

Balancei a cabeça em sinal de negação e continuei tampando-o. Nathalie puxava e fazia de tudo para tentar tirá-lo de mim. Até que com cócegas, conseguiu. Eu não agüentava cócegas na minha barriga. Era automático só rir.

- Você desenha muito bem. -elogiou.

- Não, não desenho.- Cale essa boca. Você desenha bem sim! Mas... Porque me desenhou?

- Porque... Porque... -respirei fundo e falei- Porque quando eu voltar ao Brasil, talvez eu nunca mais lhe veja. -admiti.

Ela ficou com um olhar baixo, fitando apenas o desenho em suas mãos. Eu havia falado a verdade. Logo logo nossas férias acabariam, Nathalie iria para a França novamente e eu, ao Brasil. Senti uma certa culpa ou um certo arrependimento, Culpa, por falar isso à ela. Arrependimento, por ter falado isso à ela. Agora, arrependimento ou culpa de tê-la conhecido? Nunca.

Nathalie era uma das melhores coisas que havia acontecido na minha vida. É a melhor coisa que já aconteceu na minha vida. Nas minhas férias de verão. Na Grécia. Há coisa melhor para uma menina judia? A ouvi respirar bem fundo, como se quisesse engolir um nó em sua garganta. Eu fazia o mesmo, segurando ao máximo para não chorar em sua frente. Eu não podia chorar. Chorar em pleno segundo dia com ela. Em plenas trinta e alguma coisa de horas.

Até que, senti seu abraço desengonçado. Tun-tun, tun-tun. Rapidamente, estupidamente forte. Não entendia como eu não tive um ataque cardíaco ainda. Enfim, retribuí o abraço e como estava carente também, aproveitei. 

- Está me dando uma vontade louca de chorar. -admitiu.

- Em mim também, mas vou agüentar. Olha, as férias ainda não acabaram. Ainda temos um bom tempo para ficarmos juntas. -tentei consolá-la.

- Não interessa o tempo, o que me interessou mesmo foi que, uma hora, esse sonho todo irá acabar. Porque sinceramente, Alana, eu estou vivendo um sonho.Eu nunca tinha visto esse jeito meloso de Nathalie, era... Medroso. Sim, ela tinha medo do dia em que fossemos embora chegasse. E isso para mim era uma verdadeira surpresa. Nathalie era um pouco... Tímida com seus sentimentos, demorava para entendê-los. Se passava por fria. Agora, ela era como eu. Uma garota carente com medo do que o mundo pode fazer. Do que as coisas podem ferir. Medo de me perder. Naquele momento, nunca havia me sentido tão importante. 

- Nah... Vamos andar mais um pouco de vespa? Assim nos divertimos e depois vamos à praia, que tal? -sugeri.

- É, pode ser... -disse ela, desanimada.

Levantei-me com raiva daquela desanimação dela e comecei reclamar, perguntando se era assim mesmo que ela queria me encontrar e tudo mais. Ela pegou minha mão e me puxou para seu lado novamente. Comecei a fitá-la e ela queria por seus lábios em meu ouvido. 

- Você é mais do que importante para mim, Alana. Eu... Eu... -sussurrou, travando.

- Você...

Ela se levantou e sacudiu os bolsos de trás da calça. Levantei-me também e peguei meu capacete. O vesti e subi no garupa como antes. A abracei por trás e encostei a cabeça em suas costas. Apesar da Nathalie ser magra como eu, onde alguns ossos se realçavam, seu abraço era confortável. Me dava um certo sono, me dopava completamente. Eu estava aconchegada ali mesmo. Eu poderia dormir em qualquer lugar que fosse, se estivesse com ela. 

Meus cabelos e a velocidade que íamos cortava o vento e brincava conosco fazendo cócegas em nossos rostos. Eu não conseguia abrir os olhos e não sabia como Nathalie conseguia dirigir com tanto vento que fazíamos e a natureza ajudava.

Voltamos todas as ruas que havíamos passado antes, até chegarmos na praia. Não havia risadas dessa vez. Eu havia falado besteira? Não, eu havia falado a verdade. Eu havia a alertado. Eu estraguei o sonho que ela entrara. 

Me senti um monstro. Feri quem eu... Quem eu... MERDA! QUEM EU O QUÊ, DEUS? Quem eu era atraída inexplicavelmente. Mais uma vez, aquele nó ficara preso em minha garganta. Eu queria engoli-lo, mas ele tinha que sair. De alguma forma. E essa forma, era o choro. Eu tinha que chorar ao lado dela, eu tinha que contar à ela que eu não sabia qual era esse sentimento, que eu tinha medo de perdê-la, que eu a queria do meu lado, eu queria chamá-la de minha.

Quando chegamos à beira da areia, descemos da vespa e, desta vez, não corremos. Andamos bem devagar, com uma das nossas mãos entrelaçadas, como se quiséssemos aquele momento só para nós duas. Como se aquele fosse o nosso último dia juntas. Mas não era, e eu agradecia por isso toda noite. 

Sentamos perto da água, mas a areia ainda estava seca, não úmida quando a água ia e vinha. Eu tinha que falar alguma coisa. Aquele silêncio era o que me matava agora, e com certeza, não à ela.

- Me desculpe.

- Você só me disse a verdade. Com certeza eu irei antes de você, Alana. Minhas aulas começam antes. Daqui a uma semana. E eu ainda não comprei nada de novo. Você só me alertou.

- Te machuquei. Te acordei do sonho que você entrou. Eu sinceramente não queria fazer isso, me desculpe, Nathalie. - a partir daí, comecei a chorar, inevitavelmente- Sério. Eu preciso te dizer uma coisa... Eu não consigo mais parar de pensar em você, nos sonhos, é você quem aparece, meus dias estão mais alegres com você, você é alguém para mim. Alguém que eu... Quero chamar de minha. Quero te abraçar sem você rejeitar. Quero... Quero poder te beijar sem você se assustar. Quero ter você para mim, só para mim. Eu sei, é um ciúmes inexplicável. E é também inexplicável como eu posso sentir isso em dois ou três dias. Mas eu precisava desabafar tudo que estava preso na minha garganta. Eu precisava te dizer que...

- Eu te amo. -completou e interrompeu. 


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Notas finais do capítulo

ps.: Chios é uma cidade na Grécia.



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